Pinto da Costa fez muito bem (mais do que muito e mais do que bem) ao clube durante muitos anos.
Nunca foi um homem recomendável, nem um dirigente impoluto, mas era o nosso homem ("he's a son of a bitch, but he's our son of a bitch").
E as alturas a que elevou o clube são inimagináveis. Basta dizer que temos mais do dobro dos troféus internacionais dos outros clubes to-dos, e não foi no tempo da televisão a preto e branco - mais de metade são já neste século(!).
Nos últimos largos anos, contudo, como se demonstrou na auditoria, delapidou fortemente o clube, permitiu que este fosse parasitado por terceiros e colocou-o (quase) na falência.
O mais grave, quanto a mim, nem sequer é isto: é que quando apareceu um candidato notável (seu ex-treinador de sucesso), jovem, cheio de sangue na guelra, respeitador, em vez de pensar "finalmente isto está bem entregue", decidiu rebentar de vez com o clube - fazer política de terra queimada, lançar o ódio contra o outro candidato e os sócios que apoiavam, tentar forçar mudanças de estatutos pela violência física contra sócios (!), assinar contratos ruinosos a dias, semanas ou meses das eleições.
Eu, que rezo todos os dias ao altar de São Castigo, o impulso que tenho é fazer sangue. Expulsão, processo, cadeia. Ponto.
Mas AVB tem imensa fleuma e sentido de Estado, e percebe que o homem é e foi por duas gerações o nosso rosto. Que tem 87 anos, que está a morrer de cancro e que se perderia infinitamente mais em atirá-lo aos lobos (como merece) nesta altura, que em deixá-lo expirar em paz.
É uma situação como a dos planos de reconciliação de certos países do 3º mundo após guerras civis (África do Sul, Moçambique, Ruanda).
Temos de engolir o ódio e olhar em frente.
Para mim não serve, mas é por isso que não ocupo aquela cadeira...