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1939 Académica venceu primeira Taça de Portugal
Benfica era super favorito nas Salésias mas perdeu por 3-4
Briosíssima
A 25 de Junho de 1939, nas Salésias, no que já era o Estádio José Manuel Soares Pepe, disputou-se a primeira final da Taça de Portugal. Entre Académica e Benfica. No Rossio, a caminho de Belém, os alfacinhas foram surpreendidos por danças e cantares, numa miscelânea de fogueiras de Coimbra e marchas lisboetas. A grande surpresa foi a superioridade técnica dos conimbricenses «até para os jogadores do Benfica», como escreveria no dia seguinte Ribeiro dos Reis. Ricardo Ornelas afinaria pelo mesmo diapasão: «Aparentemente a final de 1939 era para o Benfica. Os encarnados tinham mais experiência, mais jogadores habituados à relva, capacidade técnica para ganhar, vontade forte, público dedicado, inclinação para as grandes dificuldades... As dúvidas opondo-se à aparência da vitória do Benfica tinham afinal razão de ser. A Académica conquistou a vitória da maneira mais brilhante. Os nervos pouco duraram, a relva não prejudicou o ataque e na defesa com pouca frequência apoquentou os jogadores pela táctica de proximidade do adversário que a equipa inteligentemente adoptou; e a experiência dos encarnados foi derrotada desde os primeiros minutos pela autoridade de jogo dos estudantes na zona central do terreno.» Após o derradeiro apito do árbitro, António Palhinhas, 4 a 3 e a festa a negro. O Diário de Coimbra, em metade da sua primeira página, noticiava à volta do emblema da Associação Académica: «Coimbra, desportista e profana, está em festa pela vitória alcançada ontem, em Lisboa, pelo seu campeão de futebol a valorosa turma da Associação Académica. Os estudantes, na própria terra do seu contendor o não menos valoroso grupo do Sport Lisboa e Benfica , souberam anular a desvantagem do ambiente e especialmente a do terreno e marcaram de forma superior o seu saber no meio futebolístico português, ganhando com absoluto mérito o título de campeão de Portugal do dilatado império.»
Faustino a dormir debaixo de bilhar
Carlos Faustino haveria de chegar a coronel. Mas por causa da tropa não pôde fazer a festa que ajudara a incendiar. «Era aspirante da Escola do Exército e tive apenas dispensa de pernoita de sábado para domingo. Nesse domingo, após a final, regressei de autocarro para Mafra. Como até já cheguei tarde tive de esperar pelo toque da alvorada e entretanto passei a noite a dormir debaixo de uma mesa de bilhar para ninguém me ver no quartel. Fui o único da equipa a perder a grande noite de folia, aquela apoteose de Coimbra, todos os outros em carrinhas abertas como heróis, numa imensa coluna a partir de Pombal, coisa que nunca antes se vira na cidade e não sei se se voltará a ver...»
Campeões da Taça de Portugal
Tibério Antunes, José Maria Antunes, César Machado, A. Portugal, Carlos Faustino, Octaviano, Manuel da Costa, Alberto Gomes, Arnaldo Carneiro, A. Conceição Nini e Bernardo Pimenta
Peripécias dos jogadores-estudantes da primeira taça
Banco de pau, castigo desfeito
Bernardo Pimenta marcou o primeiro golo da Académica. Professor, saíra de Coimbra de comboio na manhã do jogo em... terceira classe e assentos de madeira! Colocado em Bobadela, concelho de Oliveira do Hospital, durante esse ano escolar, treinava-se com a equipa do vilarejo e só ao sábado se juntava aos colegas de facto! «Depois de cinco horas na estafa da viagem, esperava-me um táxi que me conduziu ao hotel Bragança, no Cais do Sodré, onde a equipa se hospedara para estágio. Almocei muito pouco pois o jogo realizava-se pelas 17 horas.» César Machado, para não faltar às aulas, também não seguira na quinta-feira para Lisboa. Determinação que esteve para lhe ser fatal. «Resolvi dizer peremptoriamente ao dr. Albano Paulo que não faltaria às aulas. Furioso, garantiu-me que então não jogaria a final. Como não era profissional senti-me enfurecido, nervoso, e chorando fui para o ACM, onde dali a pouco estavam o capitão Pina Cabral, o dr. Fausto, o dr. Freitas, etc., que me foram injectar um calmante. Por não ter dinheiro para o comboio da claque fui à boleia com o capitão Pina Cabral. Chegados a Lisboa procurámos modesto hotel, na Rua do Alecrim. De manhã levantei-me, almocei e segui para as Salésias... Como não tinha mais ninguém para pôr a jogar o dr. Albano Paulo chamou-me e aquele foi o momento mais fabuloso da minha vida, da vida de todos nós, certamente. Ganhar ao Benfica, ganhar a primeira Taça de Portugal.»
Alexander Alekhine Escrever contra judeus e morrer no estoril
Tendo aprendido a jogar xadrez com a mãe, pequenino ainda, Alexander Eleksandrovich Alekhine foi mestre dos mestres ao longo de quase duas décadas. Nascido a 31 de Outubro de 1892, o primeiro grande triunfo surgiu em Estocolmo, tinha 20 anos apenas, era estudante de direito na Universidade de Moscovo, sua terra natal. Depois de conquistar mais alguns títulos internacionais sentiu a turbulência da revolução que Lenine incendiara e em 1921 evadiu-se para a Suíça. Casou-se com uma helvética, pouco depois divorciou-se e em 1925 adquiriu a nacionalidade... francesa. Dois anos volvidos apoderou-se do primeiro título mundial, derrotando o cubano José Capablanca, esquivando-se dele nos anos seguintes através de álibis vários. Assim, só em 1935 perderia a coroa, batido pelo holandês Machgielis Euwe. Dois anos se passaram e a vingança surgiu, campeão mundial voltou a ser. Incontrolável consumidor de bebidas alcoólicas, durante a II Guerra Mundial a sua reputação escureceu-se sobretudo pelos artigos anti-semitas que foi espalhando por vários jornais europeus. Por essa altura já vivia no Estoril, tinha paixão louca por Salazar, continuava a afundar-se em uísque e vinhos nobres, morrendo a 24 de Março de 1946, com 54 anos e a saúde destroçada pelo vício da bebida.
Benfica era super favorito nas Salésias mas perdeu por 3-4
Briosíssima
A 25 de Junho de 1939, nas Salésias, no que já era o Estádio José Manuel Soares Pepe, disputou-se a primeira final da Taça de Portugal. Entre Académica e Benfica. No Rossio, a caminho de Belém, os alfacinhas foram surpreendidos por danças e cantares, numa miscelânea de fogueiras de Coimbra e marchas lisboetas. A grande surpresa foi a superioridade técnica dos conimbricenses «até para os jogadores do Benfica», como escreveria no dia seguinte Ribeiro dos Reis. Ricardo Ornelas afinaria pelo mesmo diapasão: «Aparentemente a final de 1939 era para o Benfica. Os encarnados tinham mais experiência, mais jogadores habituados à relva, capacidade técnica para ganhar, vontade forte, público dedicado, inclinação para as grandes dificuldades... As dúvidas opondo-se à aparência da vitória do Benfica tinham afinal razão de ser. A Académica conquistou a vitória da maneira mais brilhante. Os nervos pouco duraram, a relva não prejudicou o ataque e na defesa com pouca frequência apoquentou os jogadores pela táctica de proximidade do adversário que a equipa inteligentemente adoptou; e a experiência dos encarnados foi derrotada desde os primeiros minutos pela autoridade de jogo dos estudantes na zona central do terreno.» Após o derradeiro apito do árbitro, António Palhinhas, 4 a 3 e a festa a negro. O Diário de Coimbra, em metade da sua primeira página, noticiava à volta do emblema da Associação Académica: «Coimbra, desportista e profana, está em festa pela vitória alcançada ontem, em Lisboa, pelo seu campeão de futebol a valorosa turma da Associação Académica. Os estudantes, na própria terra do seu contendor o não menos valoroso grupo do Sport Lisboa e Benfica , souberam anular a desvantagem do ambiente e especialmente a do terreno e marcaram de forma superior o seu saber no meio futebolístico português, ganhando com absoluto mérito o título de campeão de Portugal do dilatado império.»
Faustino a dormir debaixo de bilhar
Carlos Faustino haveria de chegar a coronel. Mas por causa da tropa não pôde fazer a festa que ajudara a incendiar. «Era aspirante da Escola do Exército e tive apenas dispensa de pernoita de sábado para domingo. Nesse domingo, após a final, regressei de autocarro para Mafra. Como até já cheguei tarde tive de esperar pelo toque da alvorada e entretanto passei a noite a dormir debaixo de uma mesa de bilhar para ninguém me ver no quartel. Fui o único da equipa a perder a grande noite de folia, aquela apoteose de Coimbra, todos os outros em carrinhas abertas como heróis, numa imensa coluna a partir de Pombal, coisa que nunca antes se vira na cidade e não sei se se voltará a ver...»
Campeões da Taça de Portugal
Tibério Antunes, José Maria Antunes, César Machado, A. Portugal, Carlos Faustino, Octaviano, Manuel da Costa, Alberto Gomes, Arnaldo Carneiro, A. Conceição Nini e Bernardo Pimenta
Peripécias dos jogadores-estudantes da primeira taça
Banco de pau, castigo desfeito
Bernardo Pimenta marcou o primeiro golo da Académica. Professor, saíra de Coimbra de comboio na manhã do jogo em... terceira classe e assentos de madeira! Colocado em Bobadela, concelho de Oliveira do Hospital, durante esse ano escolar, treinava-se com a equipa do vilarejo e só ao sábado se juntava aos colegas de facto! «Depois de cinco horas na estafa da viagem, esperava-me um táxi que me conduziu ao hotel Bragança, no Cais do Sodré, onde a equipa se hospedara para estágio. Almocei muito pouco pois o jogo realizava-se pelas 17 horas.» César Machado, para não faltar às aulas, também não seguira na quinta-feira para Lisboa. Determinação que esteve para lhe ser fatal. «Resolvi dizer peremptoriamente ao dr. Albano Paulo que não faltaria às aulas. Furioso, garantiu-me que então não jogaria a final. Como não era profissional senti-me enfurecido, nervoso, e chorando fui para o ACM, onde dali a pouco estavam o capitão Pina Cabral, o dr. Fausto, o dr. Freitas, etc., que me foram injectar um calmante. Por não ter dinheiro para o comboio da claque fui à boleia com o capitão Pina Cabral. Chegados a Lisboa procurámos modesto hotel, na Rua do Alecrim. De manhã levantei-me, almocei e segui para as Salésias... Como não tinha mais ninguém para pôr a jogar o dr. Albano Paulo chamou-me e aquele foi o momento mais fabuloso da minha vida, da vida de todos nós, certamente. Ganhar ao Benfica, ganhar a primeira Taça de Portugal.»
Alexander Alekhine Escrever contra judeus e morrer no estoril
Tendo aprendido a jogar xadrez com a mãe, pequenino ainda, Alexander Eleksandrovich Alekhine foi mestre dos mestres ao longo de quase duas décadas. Nascido a 31 de Outubro de 1892, o primeiro grande triunfo surgiu em Estocolmo, tinha 20 anos apenas, era estudante de direito na Universidade de Moscovo, sua terra natal. Depois de conquistar mais alguns títulos internacionais sentiu a turbulência da revolução que Lenine incendiara e em 1921 evadiu-se para a Suíça. Casou-se com uma helvética, pouco depois divorciou-se e em 1925 adquiriu a nacionalidade... francesa. Dois anos volvidos apoderou-se do primeiro título mundial, derrotando o cubano José Capablanca, esquivando-se dele nos anos seguintes através de álibis vários. Assim, só em 1935 perderia a coroa, batido pelo holandês Machgielis Euwe. Dois anos se passaram e a vingança surgiu, campeão mundial voltou a ser. Incontrolável consumidor de bebidas alcoólicas, durante a II Guerra Mundial a sua reputação escureceu-se sobretudo pelos artigos anti-semitas que foi espalhando por vários jornais europeus. Por essa altura já vivia no Estoril, tinha paixão louca por Salazar, continuava a afundar-se em uísque e vinhos nobres, morrendo a 24 de Março de 1946, com 54 anos e a saúde destroçada pelo vício da bebida.