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1961 - Peyroteo seleccionador e derrota no Luxemburgo
A estreia de Eusébio na Selecção Nacional é, naturalmente, um momento importante para o futebol português por marcar o início de uma relação duradoura e que marca a inversão da tendência derrotista herdada dos anos 50. Curiosamente, o primeiro jogo de Eusébio na Selecção constituiu um dos mais desesperantes resultados de Portugal, uma surpreendente derrota no Luxemburgo, por 2-4, em partida a contar para as eliminatórias do Campeonato do Mundo de 1962. Para a partida disputada no dia 8 de Outubro de 1961 Fernando Peyroteo, na sua estreia como seleccionador nacional, escalou a seguinte formação: Costa Pereira (Benfica); Mário Lino (Sporting), Lúcio (Sporting), Morato (Sporting) e Hilário (Spor-ting); Pérides (Sporting) e Coluna (Benfica); Yaúca (Belenenses), Eusébio (Benfica), José Águas (Benfica) e Cavém (Benfica). Eusébio cumpriu o destino dos grandes, marcou na estreia (o outro golo foi de Yaúca), mas de nada valeu. Portugal ficava praticamente afastado do Mundial do Chile, isso porque já tinha empatado, em Lisboa, com a Inglaterra (1-1) e ganhara ao Luxemburgo por 6-0. Faltava a visita a Wembley. Peyroteo respondeu às críticas com a promessa de vitória na grande catedral do futebol europeu, única forma de salvar a honra do convento e até de garantir a presença na fase final do Campeonato do Mundo. Até 25 de Outubro, data da partida em Londres, que Portugal perdeu por 0-2, por pouco o futebol português não vivia um momento histórico, o único em que teria sido possível ver em acção lado a lado, na mesma equipa, Eusébio e... Matateu. O avançado belenense, na curva descendente da carreira, estava convocado mas não actuou por lesão. Teria sido mágico, teria sido simbólico: numa Selecção orientada por Fernando Peyroteo uma frente de ataque composta por José Águas, Matateu e Eusébio. Falamos dos maiores pontas-de-lança portugueses de sempre, alguns desencontrados no tempo, todos unidos pela arte de marcar golos. Distante estava ainda a entrada em cena de Fernando Gomes. Foi em 1974/75. Se Eusébio não foi a tempo de encontrar Matateu na Selecção, Gomes atrasar-se-ia ligeiramente para o encontro com Eusébio.
Com PEDROTO vitória no torneio internacional de juniores
Em 1961 Portugal conseguiu importante vitória, ao vencer indiscutivelmente o Torneio Internacional de Futebol de Juniores, prova organizada pela UEFA que mais não era que uma espécie de Campeonato da Europa da categoria, disputada desde 1948. David Sequerra foi o seleccionador de uma equipa treinada por José Maria Pedroto, que deixara de jogar um ano antes e então orientava as escolas do F. C. Porto. Pedroto tinha 32 anos e o enorme êxito que foi o triunfo nessa prova constituiu o primeiro dos muitos com que iria chegar ao fim da carreira. Se o triunfo pode ser considerado em si mesmo surpreendente, a forma como foi obtido é mais ainda. No dia 30 de Março, nas Antas, Portugal empatou a zero com a Itália, numa estreia pouco auspiciosa. Mas a partir de então iniciou empolgante cavalgada até ao triunfo final: vitórias sobre Inglaterra (4-0), França (3-1) e Espanha (4-1), três potências do futebol europeu. Na partida derradeira Portugal encontrava a Polónia a 8 de Abril, no Estádio José Alvalade. Novo triunfo retumbante, por 4-0, com a particularidade de os quatro golos terem sido apontados por Serafim, jogador do F. C. Porto que viria a transferir-se para o Benfica em 1963. Era um avançado com qualidades extraordinárias, um goleador nato, mas que acabaria por não confirmar na Luz as promessas com que deixara as Antas. Terminou na Académica e viria a falecer cedo, aos 49 anos de idade. Da Selecção Nacional que obteve essa conquista faziam parte dois jogadores que haviam de ser magriços em 1966: António Simões e Fernando Peres. O primeiro tornava visível pela primeira vez o talento que o conduziu pouco depois ao estatuto de um dos melhores extremos-esquerdos da Europa e um dos mais brilhantes de sempre do futebol português. Vejamos agora quem integrava a equipa base comandada por José Maria Pedroto: Rui (F. C. Porto); Amândio (Benfica), Manuel Moreira (Leixões) e Nogueira (Benfica); Carriço (V. Setúbal) e Oliveira Duarte (Sporting); Crispim (Académica), Mário Nunes (Benfica), Serafim (F. C. Porto), Fernando Peres (Belenenses) e António Simões (Benfica). O guarda-redes João Melo (Benfica), Rodrigues (Belenenses) que se lesionou no jogo com a Itália , Luís Mira (Barreirense), Jorge (Benfica) e Faria (F. C. Porto) foram os suplentes.
Feitiço e chazinho
Béla Guttmann
Veio para o F. C. Porto e foi campeão em 1958/59. A cada pedido de renovação do contrato feito pelos dirigentes portistas respondeu que havia tempo. Já todos sabiam que estava comprometido com o Benfica. Béla Guttmann assinou contrato com os encarnados no dia 25 de Agosto de 1959. As negociações não foram difíceis. Quando tudo estava acertado acrescentou uma alínea aos 400 contos anuais, 150 pela conquista do Campeonato e 50 pela vitória na Taça de Portugal: 200 contos pela vitória na Taça dos Campeões. Sorrisos prolongados, palmadas nas costas e dirigente houve que não só aceitou como acrescentou 100 contos à verba. Chamaram-lhe feiticeiro. Bem vistas as coisas, a esta distância, se não era andava lá perto. Como treinador era o espelho fiel do homem especial que sempre foi. Ao pegar numa equipa estruturada pelos quatro anos de trabalho de Otto Glória as preocupações de Guttmann concentraram- -se na disciplina de ferro, no controlo quase total dos jogadores e da sua vida pessoal da vida íntima, pode dizer-se, pois chegava a ter pesadelos só de pensar que tinham práticas sexuais antes dos jogos. Na época de estreia (1959/60) foi campeão nacional e garantiu o acesso à Taça dos Campeões de 1960/61. A 31 de Maio de 1961, em Berna, chegava ao topo da Europa. Ganhou ao Barcelona na final. Com sorte mas ganhou. Na época seguinte voltou a ganhar e dessa vez sem outra explicação que não fosse a maior capacidade da equipa e o talento superior dos jogadores. Glorificado como criador da maior potência europeia do futebol à entrada para a década de 60, decidiu regressar a casa. Não consta que tivesse saído zangado. Sussurrava apenas que «o terceiro ano é quase sempre mortal para um treinador». Nada que explique a maldição lançada na hora do adeus: «Nem daqui por 100 anos uma equipa portuguesa será bicampeã europeia e o Benfica jamais ganhará uma Taça dos Campeões sem mim.» Regressou três anos depois. Assinou contrato no dia 28 de Agosto de 1965 mas não seria feliz. Antes de um jogo em Manchéster, em Fevereiro de 1966, para os quartos-de-final da Taça dos Campeões, prestou declarações contundentes para com os seus jogadores, que estavam velhos, ricos e sem ambição. Explicou depois que tudo aquilo era para desorientar Matt Busby. Perdeu por 2-3. Um mês depois o Manchester United veio à Luz e ganhou por 5-1. Caiu em desgraça. As relações com os dirigentes deterioraram-se aos poucos, até à humilhação suprema de ter sido proibido de prestar declarações públicas. No dia 25 de Abril de 1965 pediu dispensa, lamentando que nunca tal lhe tinha acontecido. Partiu a 2 de Maio para Viena. Voltaria a Portugal em 1973, quase com 70 anos (nascera a 26 de Janeiro de 1905), para treinar o F. C. Porto. Seria a última aventura do treinador Béla Guttmann, marcada pela tragédia de Pavão, que caiu fulminado em pleno relvado das Antas, frente ao V. Setúbal. Quando morreu, a 28 de Agosto de 1981, levou consigo uma vida de excessos, glória e alguns mistérios, o principal dos quais a verdade ou não dos efeitos de uma das mais famosas bebidas do seu tempo, o chazinho de Guttmann.
A estreia de Eusébio na Selecção Nacional é, naturalmente, um momento importante para o futebol português por marcar o início de uma relação duradoura e que marca a inversão da tendência derrotista herdada dos anos 50. Curiosamente, o primeiro jogo de Eusébio na Selecção constituiu um dos mais desesperantes resultados de Portugal, uma surpreendente derrota no Luxemburgo, por 2-4, em partida a contar para as eliminatórias do Campeonato do Mundo de 1962. Para a partida disputada no dia 8 de Outubro de 1961 Fernando Peyroteo, na sua estreia como seleccionador nacional, escalou a seguinte formação: Costa Pereira (Benfica); Mário Lino (Sporting), Lúcio (Sporting), Morato (Sporting) e Hilário (Spor-ting); Pérides (Sporting) e Coluna (Benfica); Yaúca (Belenenses), Eusébio (Benfica), José Águas (Benfica) e Cavém (Benfica). Eusébio cumpriu o destino dos grandes, marcou na estreia (o outro golo foi de Yaúca), mas de nada valeu. Portugal ficava praticamente afastado do Mundial do Chile, isso porque já tinha empatado, em Lisboa, com a Inglaterra (1-1) e ganhara ao Luxemburgo por 6-0. Faltava a visita a Wembley. Peyroteo respondeu às críticas com a promessa de vitória na grande catedral do futebol europeu, única forma de salvar a honra do convento e até de garantir a presença na fase final do Campeonato do Mundo. Até 25 de Outubro, data da partida em Londres, que Portugal perdeu por 0-2, por pouco o futebol português não vivia um momento histórico, o único em que teria sido possível ver em acção lado a lado, na mesma equipa, Eusébio e... Matateu. O avançado belenense, na curva descendente da carreira, estava convocado mas não actuou por lesão. Teria sido mágico, teria sido simbólico: numa Selecção orientada por Fernando Peyroteo uma frente de ataque composta por José Águas, Matateu e Eusébio. Falamos dos maiores pontas-de-lança portugueses de sempre, alguns desencontrados no tempo, todos unidos pela arte de marcar golos. Distante estava ainda a entrada em cena de Fernando Gomes. Foi em 1974/75. Se Eusébio não foi a tempo de encontrar Matateu na Selecção, Gomes atrasar-se-ia ligeiramente para o encontro com Eusébio.
Com PEDROTO vitória no torneio internacional de juniores
Em 1961 Portugal conseguiu importante vitória, ao vencer indiscutivelmente o Torneio Internacional de Futebol de Juniores, prova organizada pela UEFA que mais não era que uma espécie de Campeonato da Europa da categoria, disputada desde 1948. David Sequerra foi o seleccionador de uma equipa treinada por José Maria Pedroto, que deixara de jogar um ano antes e então orientava as escolas do F. C. Porto. Pedroto tinha 32 anos e o enorme êxito que foi o triunfo nessa prova constituiu o primeiro dos muitos com que iria chegar ao fim da carreira. Se o triunfo pode ser considerado em si mesmo surpreendente, a forma como foi obtido é mais ainda. No dia 30 de Março, nas Antas, Portugal empatou a zero com a Itália, numa estreia pouco auspiciosa. Mas a partir de então iniciou empolgante cavalgada até ao triunfo final: vitórias sobre Inglaterra (4-0), França (3-1) e Espanha (4-1), três potências do futebol europeu. Na partida derradeira Portugal encontrava a Polónia a 8 de Abril, no Estádio José Alvalade. Novo triunfo retumbante, por 4-0, com a particularidade de os quatro golos terem sido apontados por Serafim, jogador do F. C. Porto que viria a transferir-se para o Benfica em 1963. Era um avançado com qualidades extraordinárias, um goleador nato, mas que acabaria por não confirmar na Luz as promessas com que deixara as Antas. Terminou na Académica e viria a falecer cedo, aos 49 anos de idade. Da Selecção Nacional que obteve essa conquista faziam parte dois jogadores que haviam de ser magriços em 1966: António Simões e Fernando Peres. O primeiro tornava visível pela primeira vez o talento que o conduziu pouco depois ao estatuto de um dos melhores extremos-esquerdos da Europa e um dos mais brilhantes de sempre do futebol português. Vejamos agora quem integrava a equipa base comandada por José Maria Pedroto: Rui (F. C. Porto); Amândio (Benfica), Manuel Moreira (Leixões) e Nogueira (Benfica); Carriço (V. Setúbal) e Oliveira Duarte (Sporting); Crispim (Académica), Mário Nunes (Benfica), Serafim (F. C. Porto), Fernando Peres (Belenenses) e António Simões (Benfica). O guarda-redes João Melo (Benfica), Rodrigues (Belenenses) que se lesionou no jogo com a Itália , Luís Mira (Barreirense), Jorge (Benfica) e Faria (F. C. Porto) foram os suplentes.
Feitiço e chazinho
Béla Guttmann
Veio para o F. C. Porto e foi campeão em 1958/59. A cada pedido de renovação do contrato feito pelos dirigentes portistas respondeu que havia tempo. Já todos sabiam que estava comprometido com o Benfica. Béla Guttmann assinou contrato com os encarnados no dia 25 de Agosto de 1959. As negociações não foram difíceis. Quando tudo estava acertado acrescentou uma alínea aos 400 contos anuais, 150 pela conquista do Campeonato e 50 pela vitória na Taça de Portugal: 200 contos pela vitória na Taça dos Campeões. Sorrisos prolongados, palmadas nas costas e dirigente houve que não só aceitou como acrescentou 100 contos à verba. Chamaram-lhe feiticeiro. Bem vistas as coisas, a esta distância, se não era andava lá perto. Como treinador era o espelho fiel do homem especial que sempre foi. Ao pegar numa equipa estruturada pelos quatro anos de trabalho de Otto Glória as preocupações de Guttmann concentraram- -se na disciplina de ferro, no controlo quase total dos jogadores e da sua vida pessoal da vida íntima, pode dizer-se, pois chegava a ter pesadelos só de pensar que tinham práticas sexuais antes dos jogos. Na época de estreia (1959/60) foi campeão nacional e garantiu o acesso à Taça dos Campeões de 1960/61. A 31 de Maio de 1961, em Berna, chegava ao topo da Europa. Ganhou ao Barcelona na final. Com sorte mas ganhou. Na época seguinte voltou a ganhar e dessa vez sem outra explicação que não fosse a maior capacidade da equipa e o talento superior dos jogadores. Glorificado como criador da maior potência europeia do futebol à entrada para a década de 60, decidiu regressar a casa. Não consta que tivesse saído zangado. Sussurrava apenas que «o terceiro ano é quase sempre mortal para um treinador». Nada que explique a maldição lançada na hora do adeus: «Nem daqui por 100 anos uma equipa portuguesa será bicampeã europeia e o Benfica jamais ganhará uma Taça dos Campeões sem mim.» Regressou três anos depois. Assinou contrato no dia 28 de Agosto de 1965 mas não seria feliz. Antes de um jogo em Manchéster, em Fevereiro de 1966, para os quartos-de-final da Taça dos Campeões, prestou declarações contundentes para com os seus jogadores, que estavam velhos, ricos e sem ambição. Explicou depois que tudo aquilo era para desorientar Matt Busby. Perdeu por 2-3. Um mês depois o Manchester United veio à Luz e ganhou por 5-1. Caiu em desgraça. As relações com os dirigentes deterioraram-se aos poucos, até à humilhação suprema de ter sido proibido de prestar declarações públicas. No dia 25 de Abril de 1965 pediu dispensa, lamentando que nunca tal lhe tinha acontecido. Partiu a 2 de Maio para Viena. Voltaria a Portugal em 1973, quase com 70 anos (nascera a 26 de Janeiro de 1905), para treinar o F. C. Porto. Seria a última aventura do treinador Béla Guttmann, marcada pela tragédia de Pavão, que caiu fulminado em pleno relvado das Antas, frente ao V. Setúbal. Quando morreu, a 28 de Agosto de 1981, levou consigo uma vida de excessos, glória e alguns mistérios, o principal dos quais a verdade ou não dos efeitos de uma das mais famosas bebidas do seu tempo, o chazinho de Guttmann.