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1988 slm derrotado na final da Taça dos Campeões Europeus
Estugarda e Viena sem glória
Em Estugarda, Toni levou o slm até onde era humanamente possível, isto é, até à marca das grandes penalidades. A infelicidade de Veloso e a inteligência de Van Breukelen ditaram a vitória do PSV Eindhoven.
Dois anos depois, em 1989/90, já com Eriksson à frente da nau, e com uma equipa totalmente remodelada, o slm foi uma vez mais derrotado. Nas meias-finais encontrou o maior obstáculo, o grande Marselha de Bernard Tapie, que já nessa altura preparava o assalto ao ceptro europeu. Os franceses não cumpriram devidamente a tarefa no Velódromo. Ganharam, sim, mas permitiram um golo aos encarnados (marcado pelo brasileiro Lima). Na segunda mão, o slm tinha 90 minutos para dar a volta a um resultado de 1-2. O Marselha não foi uma equipa ameaçadora mas revelou enorme consistência defensiva. Até que nos minutos finais, na sequência de lance confuso na grande área, a mão de Vata empurrou a bola para o fundo da baliza. Era o delírio nas bancadas e a revolta entre os franceses.
Em Viena o slm encontrava o Milan de Arrigo Sacchi. Também de Rijkaard, Gullit e Van Basten. E de Baresi, Maldini e Donadoni. Era a melhor equipa da Europa e a máxima referência do futebol dos anos 80. Eriksson, como Toni em Estugarda, sabia até onde podia ir a sua intervenção. Tapou bem os caminhos de acesso à baliza de Silvino mas não evitou o golo de Rijkaard.
Pete Sampras Robot com magia
Também conhecido como pistol Pete ou shotgun Sampras não corre vertiginosamente para o título de tenista do século, levando a palma a Rod Laver, o seu ídolo, a Bjorn Borg ou a John McEnroe, porque há uma falha incontornável no seu palmarès: vitória na terra dos deuses de Roland-Garros. Ele próprio o reconhece: «Só depois disso terei tudo.» Mas vários críticos lhe apontam outra falta grave: o carisma dos grandes senhores o fogo da polémica, o instinto da rebeldia, o arrojo da aventura. Em si, tudo parece ter o efeito do robot o génio sem alma, industrialmente programado. No entanto, Boris Becker haveria de abrir o elogio em leque: «Todas as pessoas vivem na busca do modelo ideal. Para um tenista, não é preciso ir muito longe, ninguém encontrará melhor do que Pete Sampras». Filho de emigrantes gregos, foi o pai que o inscreveu, aos oito anos, numa academia de ténis de Potomac, onde nasceu, no distrito de Columbia, a 12 de Agosto de 1971 mas, por receio de ser traído pelos nervos, nunca conseguiu assistir a qualquer grande desafio de Pete. Com apenas 19 anos e 28 dias tornou-se o jogador mais jovem a vencer o US Open de 1990 voltaria a ganhá-lo em 1993, 1995 e 1996. Em Wimbledon ultrapassou Borg, com seis vitórias, em 1993, 1994, 1995, 1997, 1998 e 1999 triunfando na Austrália em 1994 e 1997. Em 1993 chegou, enfim, ao topo do Mundo assumindo o primeiro lugar no ranking ATP, por lá se manteve para além das 270 semanas, ultrapassando Ivan Lendl (270) e Jimmy Connors (268). Ao longo do seu reinado contestado sobretudo em situações mais ou menos dramáticas, quer pela morte trágica do treinador quer pelas sucessivas lesões nas costas os seus prémios oficiais já ultrapassaram os 40 milhões de dólares.
1989 Portugal bicampeão Mundial de juniores em Lisboa
Queirós e a geração de ouro
De um dia para o outro o País deu-se conta da possibilidade de um feito absolutamente impensável em toda a história do futebol português: a Selecção de sub-20 estava à beira de sagrar-se campeã do Mundo. Foi assim em Riade, em fins de Fevereiro, princípios de Março de 1989.
Quando Portugal bateu a Nigéria na final de Riade o país passou a ter olhos para Carlos Queirós, para o seu trabalho, entusiasmando-se com as proezas que, de repente, passaram a surgir com alguma naturalidade. Mas foi em 1991 que a bola de neve atingiu a máxima dimensão, no Mundial organizado por Portugal e para o qual partia com fortes probabilidades de êxito. Na memória de todos os adeptos do futebol está a final no Estádio da Luz, com lotação esgotada, partida em que o nome do adversário assustava só de pensar nele: Brasil. A vitória, garantida nos pontapés da marca de grande penalidade, através de remate vitorioso de Rui Costa, deu cor ao triunfo garantido antes mesmo da partida se iniciar: estavam lançadas as bases de uma Selecção como o futebol português nunca conhecera. Da junção do melhor de Riade Vítor Baía (que acabou por não estar presente na fase final), Fernando Couto, Paulo Madeira, Paulo Sousa, Jorge Couto e João Pinto com os mais representativos nomes da vitória de Lisboa Jorge Costa, Rui Bento, Peixe, Figo, Capucho e Rui Costa Portugal tinha condições para pensar que o tempo corria a seu favor. A caminhada não foi fácil, até porque a imposição desses jogadores conheceu obstáculos. Não foi imediata a titularidade nas equipas principais e à Selecção chegaram a conta-gotas, processo iniciado por Artur Jorge. Em 1991, altura a partir da qual não se melhorou nem aperfeiçoou na formação os métodos seguidos até aí, o futebol português ficava nas mãos de um grupo de jogadores extraordinários, uniformizados sob a sigla de geração de ouro. Ficava-lhes bem e por isso ficou. Ultrapassadas todas as dúvidas, levantados todos os entraves à sua afirmação plena, eles aí estavam a mostrar talento que os havia de conduzir a extraordinárias carreiras, na maior parte dos casos expressas no estrangeiro, em grandes clubes. O tempo passa depressa. Agora que o século se aproxima do fim e os meninos de ouro não tarda são todos ilustres trintões alguns deles já lá chegaram mesmo Portugal continua à espera da terra prometida.
Dionísio Castro recordista mundial de 20 km
Dionísio Castro foi convidado para lebre no ataque ao record do Mundo dos 20 quilómetros em La Fléche. Aceitou e a 31 de Março de 1990 foi o relumbre 57.18,4 minutos, deixando o inglês Carl Thackiery a mais de 10 segundos. «Puxava, puxava e o cansaço não aparecia. A certa altura comecei a dar palmadinhas nas costas dos adversários, para os incentivar a correr mais rapidamente. Até que me decidi a não parar e deu no que deu. Máximo de segunda categoria? Não me venham com larachas, que o Lopes e o Mamede também o tentaram e não o conseguiram.» E em vez de um, poderiam ter sido dois. «Não sei se não me roubaram dois metros para eu não bater o record da hora. É que, assim, teriam de me pagar mais 1600 contos. Acho estranho que, com o tempo aos 20 quilómetros, só se eu acabasse de rastos e como até acelerei ainda mais.»
Na lista de recordistas de 20 quilómetros surgiam, antes de Dionísio, fulgentes heróis como Taavetti Kolehmainen, Paavo Nurmi, Emil Zatopek, Ron Clark, Gaston Roelants e Jos Hermans. Um ano depois o mexicano Arturo Barrios, que também destronaria Fernando Mamede como recordista dos 10 mil metros, perfaria a distância em 56.55,6 minutos mas no ano 2000 Dionísio entrará ainda com o record da Europa.
Pouca magia, Mathäus e menos... Maradona, no Mundial de futebol
Alemanha tricampeã
Para esquecer. É a conclusão global do Campeonato do Mundo de Itália, em 1990, que não apresentou uma grande selecção e no qual a figura maior foi Lothar Mathäus, facto em si mesmo indiciador da pouca qualidade da prova. O alemão, que não possui o talento dos predestinados, potenciou o seu futebol à custa de muito trabalho físico, dedicação ao jogo e inteligência na forma como assimilou os ensinamentos dos vários mestres que o orientaram desde a primeira hora. Foi, muito provavelmente, a primeira grande figura de um Mundial que não obedecia a requisitos estéticos, à magia e ao génio dos artistas mais brilhantes. Nada contra o eterno Mathäus, que muito trabalhou para chegar ao topo do Mundo, que atinge o fim do século com 38 anos tendo boas razões para pensar que pode estar no Europeu de 2000, que foi grande à sua custa, que conseguiu tudo pelo trabalho. Mas a concepção do que é um jogador para a lenda obriga a maior exigência de classe natural, daquela arte que nasce incorporada.
O Mundial de Itália marca um retrocesso evidente: menos golos, menos magia, mais equipas a jogar para não perder e até esse pormenor de ter mostrado menos Maradona. O astro que iluminara o México-86 estava com mais quatro anos e dava sinais de menor frescura, apesar de manter o estatuto de maior esperança e ponto de referência intocável da selecção argentina, que em 1990, por sua vez, tinha ainda menos qualidade que quatro anos antes.
Apesar de tudo, Maradona ainda deixou as suas marcas. Nos oitavos-de-final foi dele o rasgo que permitiu a Caniggia eliminar o Brasil. Um jogo paradigmático do certame: domínio total dos brasileiros, ataque contínuo, três vezes a bola no ferro da baliza de Goycoechea e vitória argentina na única investida digna desse nome à baliza de Taffarel.
Os italianos foram cumprindo a obrigação, jogando bom futebol a espaços. A certa altura descobriram o goleador inesperado, Salvatore Schillaci, que havia de tornar-se paixão do povo. O percurso dos organizadores da prova permitiu-lhes atingir as meias-finais. O adversário era a Argentina, o local do jogo era a Nápoles dos amores de Diego Armando. Um jogo intenso decidido a favor dos sul-americanos na marcação de grandes penalidades Goycoechea decisivo como já tinha sido com a Jugoslávia.
Excelente o percurso da Inglaterra de Bobby Robson. Ousado na forma como estruturou a equipa o quase sacrilégio de jogar com três centrais , o técnico que havia de ser campeão pelo F. C. Porto orientou uma selecção que foi responsável por alguns dos melhores jogos da prova. Frente aos Camarões, nos quartos-de-final nunca África chegou tão longe num Mundial, muito à custa do fenómeno Roger Milla , só no prolongamento garantiu a vitória. A Inglaterra, que ficaria afastada da final ao perder com a Alemanha nos penalties, forneceu ainda uma grande figura à competição: o fabuloso e excêntrico Paul Gascoigne.
A final entre alemães e argentinos (os mesmos finalistas do México) foi penosa. Má de mais para ser verdadeira. Foi ao mesmo tempo a imagem perfeita da prova: mau futebol e decisão numa grande penalidade altamente discutível. A Alemanha juntava-se ao Brasil e à Itália no restrito clube dos tricampeões do Mundo. Campeões do Mundo
Illgner, Brehme, Khöler, Augenthaler, Buchwald, Berthold, Reuter, Littbarsky, Hässler, Mathäus, Völler e Klinsmann
Depois de Campos, Ana Oliveira
Em 1985, João Campos sagrou-se campeão mundial de 3000 metros em pista coberta. No ano seguinte, conquistou a medalha de bronze nos europeus. Quatro anos depois, mais uma surpresa portuguesa, Ana Oliveira também tatuada a bronze no triplo salto, com 13,44 metros, atrás da russa Galina Chistyakova, que chegaria a recordista mundial (14,14) e da alemã Helga Radtke. «Só no último ensaio perdi a medalha de prata, mas a alegria do bronze nem sequer me fez pensar nisso. Só tenho pena de não poder ter, em Portugal, um décimo das condições de trabalho e dos apoios que têm algumas das atletas que comigo perderam.» Nem os 500 contos de bolsa o governo lhe deu. No ano seguinte, em 1991, nos Campeonatos do Mundo, em Sevilha, quinto lugar, a apenas 40 centímetros do pódio.
Abandonou a pista a chorar. «Não, não estou assim por pieguice, estou a chorar de revolta. Estou farta de mendigar. Desamparada continuou. E, sem possibilidade de dedicar-se a tempo inteiro ao atletismo, resignou-se. Em dor funda e em revolta surda voltou a dar aulas de educação física.
Estugarda e Viena sem glória
Em Estugarda, Toni levou o slm até onde era humanamente possível, isto é, até à marca das grandes penalidades. A infelicidade de Veloso e a inteligência de Van Breukelen ditaram a vitória do PSV Eindhoven.
Dois anos depois, em 1989/90, já com Eriksson à frente da nau, e com uma equipa totalmente remodelada, o slm foi uma vez mais derrotado. Nas meias-finais encontrou o maior obstáculo, o grande Marselha de Bernard Tapie, que já nessa altura preparava o assalto ao ceptro europeu. Os franceses não cumpriram devidamente a tarefa no Velódromo. Ganharam, sim, mas permitiram um golo aos encarnados (marcado pelo brasileiro Lima). Na segunda mão, o slm tinha 90 minutos para dar a volta a um resultado de 1-2. O Marselha não foi uma equipa ameaçadora mas revelou enorme consistência defensiva. Até que nos minutos finais, na sequência de lance confuso na grande área, a mão de Vata empurrou a bola para o fundo da baliza. Era o delírio nas bancadas e a revolta entre os franceses.
Em Viena o slm encontrava o Milan de Arrigo Sacchi. Também de Rijkaard, Gullit e Van Basten. E de Baresi, Maldini e Donadoni. Era a melhor equipa da Europa e a máxima referência do futebol dos anos 80. Eriksson, como Toni em Estugarda, sabia até onde podia ir a sua intervenção. Tapou bem os caminhos de acesso à baliza de Silvino mas não evitou o golo de Rijkaard.
Pete Sampras Robot com magia
Também conhecido como pistol Pete ou shotgun Sampras não corre vertiginosamente para o título de tenista do século, levando a palma a Rod Laver, o seu ídolo, a Bjorn Borg ou a John McEnroe, porque há uma falha incontornável no seu palmarès: vitória na terra dos deuses de Roland-Garros. Ele próprio o reconhece: «Só depois disso terei tudo.» Mas vários críticos lhe apontam outra falta grave: o carisma dos grandes senhores o fogo da polémica, o instinto da rebeldia, o arrojo da aventura. Em si, tudo parece ter o efeito do robot o génio sem alma, industrialmente programado. No entanto, Boris Becker haveria de abrir o elogio em leque: «Todas as pessoas vivem na busca do modelo ideal. Para um tenista, não é preciso ir muito longe, ninguém encontrará melhor do que Pete Sampras». Filho de emigrantes gregos, foi o pai que o inscreveu, aos oito anos, numa academia de ténis de Potomac, onde nasceu, no distrito de Columbia, a 12 de Agosto de 1971 mas, por receio de ser traído pelos nervos, nunca conseguiu assistir a qualquer grande desafio de Pete. Com apenas 19 anos e 28 dias tornou-se o jogador mais jovem a vencer o US Open de 1990 voltaria a ganhá-lo em 1993, 1995 e 1996. Em Wimbledon ultrapassou Borg, com seis vitórias, em 1993, 1994, 1995, 1997, 1998 e 1999 triunfando na Austrália em 1994 e 1997. Em 1993 chegou, enfim, ao topo do Mundo assumindo o primeiro lugar no ranking ATP, por lá se manteve para além das 270 semanas, ultrapassando Ivan Lendl (270) e Jimmy Connors (268). Ao longo do seu reinado contestado sobretudo em situações mais ou menos dramáticas, quer pela morte trágica do treinador quer pelas sucessivas lesões nas costas os seus prémios oficiais já ultrapassaram os 40 milhões de dólares.
1989 Portugal bicampeão Mundial de juniores em Lisboa
Queirós e a geração de ouro
De um dia para o outro o País deu-se conta da possibilidade de um feito absolutamente impensável em toda a história do futebol português: a Selecção de sub-20 estava à beira de sagrar-se campeã do Mundo. Foi assim em Riade, em fins de Fevereiro, princípios de Março de 1989.
Quando Portugal bateu a Nigéria na final de Riade o país passou a ter olhos para Carlos Queirós, para o seu trabalho, entusiasmando-se com as proezas que, de repente, passaram a surgir com alguma naturalidade. Mas foi em 1991 que a bola de neve atingiu a máxima dimensão, no Mundial organizado por Portugal e para o qual partia com fortes probabilidades de êxito. Na memória de todos os adeptos do futebol está a final no Estádio da Luz, com lotação esgotada, partida em que o nome do adversário assustava só de pensar nele: Brasil. A vitória, garantida nos pontapés da marca de grande penalidade, através de remate vitorioso de Rui Costa, deu cor ao triunfo garantido antes mesmo da partida se iniciar: estavam lançadas as bases de uma Selecção como o futebol português nunca conhecera. Da junção do melhor de Riade Vítor Baía (que acabou por não estar presente na fase final), Fernando Couto, Paulo Madeira, Paulo Sousa, Jorge Couto e João Pinto com os mais representativos nomes da vitória de Lisboa Jorge Costa, Rui Bento, Peixe, Figo, Capucho e Rui Costa Portugal tinha condições para pensar que o tempo corria a seu favor. A caminhada não foi fácil, até porque a imposição desses jogadores conheceu obstáculos. Não foi imediata a titularidade nas equipas principais e à Selecção chegaram a conta-gotas, processo iniciado por Artur Jorge. Em 1991, altura a partir da qual não se melhorou nem aperfeiçoou na formação os métodos seguidos até aí, o futebol português ficava nas mãos de um grupo de jogadores extraordinários, uniformizados sob a sigla de geração de ouro. Ficava-lhes bem e por isso ficou. Ultrapassadas todas as dúvidas, levantados todos os entraves à sua afirmação plena, eles aí estavam a mostrar talento que os havia de conduzir a extraordinárias carreiras, na maior parte dos casos expressas no estrangeiro, em grandes clubes. O tempo passa depressa. Agora que o século se aproxima do fim e os meninos de ouro não tarda são todos ilustres trintões alguns deles já lá chegaram mesmo Portugal continua à espera da terra prometida.
Dionísio Castro recordista mundial de 20 km
Dionísio Castro foi convidado para lebre no ataque ao record do Mundo dos 20 quilómetros em La Fléche. Aceitou e a 31 de Março de 1990 foi o relumbre 57.18,4 minutos, deixando o inglês Carl Thackiery a mais de 10 segundos. «Puxava, puxava e o cansaço não aparecia. A certa altura comecei a dar palmadinhas nas costas dos adversários, para os incentivar a correr mais rapidamente. Até que me decidi a não parar e deu no que deu. Máximo de segunda categoria? Não me venham com larachas, que o Lopes e o Mamede também o tentaram e não o conseguiram.» E em vez de um, poderiam ter sido dois. «Não sei se não me roubaram dois metros para eu não bater o record da hora. É que, assim, teriam de me pagar mais 1600 contos. Acho estranho que, com o tempo aos 20 quilómetros, só se eu acabasse de rastos e como até acelerei ainda mais.»
Na lista de recordistas de 20 quilómetros surgiam, antes de Dionísio, fulgentes heróis como Taavetti Kolehmainen, Paavo Nurmi, Emil Zatopek, Ron Clark, Gaston Roelants e Jos Hermans. Um ano depois o mexicano Arturo Barrios, que também destronaria Fernando Mamede como recordista dos 10 mil metros, perfaria a distância em 56.55,6 minutos mas no ano 2000 Dionísio entrará ainda com o record da Europa.
Pouca magia, Mathäus e menos... Maradona, no Mundial de futebol
Alemanha tricampeã
Para esquecer. É a conclusão global do Campeonato do Mundo de Itália, em 1990, que não apresentou uma grande selecção e no qual a figura maior foi Lothar Mathäus, facto em si mesmo indiciador da pouca qualidade da prova. O alemão, que não possui o talento dos predestinados, potenciou o seu futebol à custa de muito trabalho físico, dedicação ao jogo e inteligência na forma como assimilou os ensinamentos dos vários mestres que o orientaram desde a primeira hora. Foi, muito provavelmente, a primeira grande figura de um Mundial que não obedecia a requisitos estéticos, à magia e ao génio dos artistas mais brilhantes. Nada contra o eterno Mathäus, que muito trabalhou para chegar ao topo do Mundo, que atinge o fim do século com 38 anos tendo boas razões para pensar que pode estar no Europeu de 2000, que foi grande à sua custa, que conseguiu tudo pelo trabalho. Mas a concepção do que é um jogador para a lenda obriga a maior exigência de classe natural, daquela arte que nasce incorporada.
O Mundial de Itália marca um retrocesso evidente: menos golos, menos magia, mais equipas a jogar para não perder e até esse pormenor de ter mostrado menos Maradona. O astro que iluminara o México-86 estava com mais quatro anos e dava sinais de menor frescura, apesar de manter o estatuto de maior esperança e ponto de referência intocável da selecção argentina, que em 1990, por sua vez, tinha ainda menos qualidade que quatro anos antes.
Apesar de tudo, Maradona ainda deixou as suas marcas. Nos oitavos-de-final foi dele o rasgo que permitiu a Caniggia eliminar o Brasil. Um jogo paradigmático do certame: domínio total dos brasileiros, ataque contínuo, três vezes a bola no ferro da baliza de Goycoechea e vitória argentina na única investida digna desse nome à baliza de Taffarel.
Os italianos foram cumprindo a obrigação, jogando bom futebol a espaços. A certa altura descobriram o goleador inesperado, Salvatore Schillaci, que havia de tornar-se paixão do povo. O percurso dos organizadores da prova permitiu-lhes atingir as meias-finais. O adversário era a Argentina, o local do jogo era a Nápoles dos amores de Diego Armando. Um jogo intenso decidido a favor dos sul-americanos na marcação de grandes penalidades Goycoechea decisivo como já tinha sido com a Jugoslávia.
Excelente o percurso da Inglaterra de Bobby Robson. Ousado na forma como estruturou a equipa o quase sacrilégio de jogar com três centrais , o técnico que havia de ser campeão pelo F. C. Porto orientou uma selecção que foi responsável por alguns dos melhores jogos da prova. Frente aos Camarões, nos quartos-de-final nunca África chegou tão longe num Mundial, muito à custa do fenómeno Roger Milla , só no prolongamento garantiu a vitória. A Inglaterra, que ficaria afastada da final ao perder com a Alemanha nos penalties, forneceu ainda uma grande figura à competição: o fabuloso e excêntrico Paul Gascoigne.
A final entre alemães e argentinos (os mesmos finalistas do México) foi penosa. Má de mais para ser verdadeira. Foi ao mesmo tempo a imagem perfeita da prova: mau futebol e decisão numa grande penalidade altamente discutível. A Alemanha juntava-se ao Brasil e à Itália no restrito clube dos tricampeões do Mundo. Campeões do Mundo
Illgner, Brehme, Khöler, Augenthaler, Buchwald, Berthold, Reuter, Littbarsky, Hässler, Mathäus, Völler e Klinsmann
Depois de Campos, Ana Oliveira
Em 1985, João Campos sagrou-se campeão mundial de 3000 metros em pista coberta. No ano seguinte, conquistou a medalha de bronze nos europeus. Quatro anos depois, mais uma surpresa portuguesa, Ana Oliveira também tatuada a bronze no triplo salto, com 13,44 metros, atrás da russa Galina Chistyakova, que chegaria a recordista mundial (14,14) e da alemã Helga Radtke. «Só no último ensaio perdi a medalha de prata, mas a alegria do bronze nem sequer me fez pensar nisso. Só tenho pena de não poder ter, em Portugal, um décimo das condições de trabalho e dos apoios que têm algumas das atletas que comigo perderam.» Nem os 500 contos de bolsa o governo lhe deu. No ano seguinte, em 1991, nos Campeonatos do Mundo, em Sevilha, quinto lugar, a apenas 40 centímetros do pódio.
Abandonou a pista a chorar. «Não, não estou assim por pieguice, estou a chorar de revolta. Estou farta de mendigar. Desamparada continuou. E, sem possibilidade de dedicar-se a tempo inteiro ao atletismo, resignou-se. Em dor funda e em revolta surda voltou a dar aulas de educação física.