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Cinco medalhas aos 15 anos e o abandono imediato
Shane Ouro
Apesar de já se saber dos seus prodígios antes ainda de começar a nadar, a australiana Shane Gould tornou-se atracção especial nos Jogos Olímpicos de Munique. Tinha 15 anos e nunca largava um canguru de pelúcia que era sua mascote. E sorria, sorria, sorria. Passara a infância subindo às palmeiras das ilhas Fiji, onde nascera, e fora isso que, segundo o seu treinador, Forbs Carlisle, lhe dera corpo de nadadora. Entre Julho de 1971 e Janeiro de 1972 estabelecera records mundiais em todas as provas de estilo livre, dos 100 aos 1500 metros. Em Munique nadaria 12 vezes em oito dias apenas. Abriu a saga com os 200 metros estilos medalha de ouro e record do Mundo: 2.23,07. Algumas horas depois a primeira derrota da sua vida, nos 100 metros, a consolação do bronze, depois de uma provocação que não foi capaz de vingar: as americanas, Sandra Neilson e Shirley Babashoff, que lhe ganharam, surgiram na piscina com camisolas onde estamparam a frase choque: «Nem tudo o que reluz é Gould», trocadilho entre o seu nome e a palavra ouro em inglês gold. Nos 200 e 400 metros mais duas tatuagens a ouro, mais dois máximos mundiais: 2.03,56 e 4.19,44 minutos, respectivamente. Por fim prata nos 800 metros, com Keena Rothammer a tornar-se recordista do Mundo. Shane haveria de confessar que, numa das vezes em que saltou à cumeeira do pódio, ao escutar os acordes do hino australiano tocado por uma banda alemã desatou a chorar e não era de emoção, era de mágoa: «Já sabia que o meu sucesso afastara todos os outros nadadores de mim, tratavam-me com frieza, com desprezo e com despeito. Nesse momento deixei de ser menina...» Um ano mais tarde, com 16 anos e 9 meses, com uma bruma de desânimo e revolta a cair sobre si, anunciou a retirada para fugir à inveja, à caturrice de quem não suportava que a menina se transformasse em supermulher com a sua braçada em jeito de mó de moinho. «Sim, agora que a poeira assentou, tenho de admitir que a minha fuga foi sobretudo um fiasco para mim, um fiasco colorido de vergonha, culpa e confusão uma estupidez...» O que se seguiu foram vários anos num rodopio, saraivada de emoções e prazeres toda a vida a girar à volta do surf, de Deus e do casamento. «Foi o meu lado beat, a vida nas ondas para fugir do mundo ou o outro lado da fuga através de retiros espirituais completamente alucinantes.» Entre os 21 e os 26 anos nasceram-lhe quatro filhos. Em 1997 decidiu colocar ponto final no modo alternativo de viver. «Não tinha emprego nem endereço fixos, não tinha meios de subsistência, não poderia deixar os meus filhos assim entregues ao destino. Dei novamente uma viragem à vida e redescobri o futuro.» A sua paixão, agora, é o Shane Gould Life Skills que oferece bolsas a jovens promessas da natação e aborda vários outros aspectos como o planeamento de carreiras, gestão de dinheiro e estratégias de comunicação.
Vela, Grilo, Lopes e Mamede
O sexto lugar dos velejadores António Mardel Correia e Henrique Anjos, na classe star, e o nono lugar de Luís Grilo em luta greco-romana (57 kg) foram as únicas classificações com alguma honra nuns Jogos que mostraram mais uma vez como regredia o desporto português. No hipismo, no Prémio das Nações, Carlos Campos, Vasco Ramires e Francisco Caldeira alcançaram colectivamente o 13.º lugar. O atletismo começava a preparar o futuro. Carlos Lopes e Fernando Mamede não passaram das eliminatórias de 5000 e 10 mil metros e de 800 e 1500 metros, respectivamente, mas Moniz Pereira não deixou de dizer que ficara maravilhado com os sinais que lhe deram.
Mark Spitz juntou sete medalhas de ouro às quatro (angustiantes) do México
Insuportável fanfarrão
Crescera a brincar nas ondas do Havai. Nascera sob o signo de Peixes a 10 de Fevereiro de 1950, em Modesto, na Califórnia mas de modesto pouco tinha. Influências do pai, que lhe empolava a fanfarronice e acendia de hora a hora fogos de ambição desmedida. Quando a família se mudou para Santa Clara, levada unicamente pela ideia fixa de fazer de Mark Andrew campeão olímpico, vulgares se tornaram as cenas caricatas dos Spitz nas piscinas do Swim Club. Arnold, alto executivo de uma empresa de aço, para além de exuberâncias, vaidades, jactâncias e megalomanias escarrinhadas a cada frase, bradava sentenças de jaez assim: «Nadar não é importante, importante é unicamente ganhar.» Ou então: «Vão estar oito rapazes na piscina, só um será o vencedor, os outros não interessam para nada, são escumalha» e virando-se, escabreado, para Mike rematava: «Escumalha, rapaz, escumalha!» E Spitz cresceu entralhado nessa obsessão de que só vencendo, vencendo a qualquer preço, poderia ter amor, adulação, fama. Tornou-se, sem surpresa, superdotado, irritante e irritadiço. Aos 16 e 17 anos as suas marcas eram já melhores que as de Don Schollander por essa altura mas o pai tratou logo de avisar que «records de idades eram porcarias, o que devia ter era records mundiais». No ano seguinte, já trirrecordista do Mundo, Mark partiu para os Jogos do México sob jura solene: «Fazer melhor que Schollander, que em Tóquio ganhara quatro medalhas de ouro hei-de trazer seis...» Teve de contentar-se apenas com a medalha de prata dos 100 metros mariposa e a de bronze nos 100 livres se ouro teve foi nas duas estafetas. Mas a humilhação mais cortante foi na final dos 200 metros mariposa os colegas de equipa pontearam com aplausos e urros o facto de ter chegado em último lugar! Regressou à Universidade de Indiana com a alma aos solavancos. James Counsilman, que já fora técnico de Schollander, empenhou-se na restauração da sua auto-estima que mais parecia pote em cacos.
Ouro por dois milésimos
Sim, Mark Spitz ofuscou tudo. Mas, mesmo assim, em Munique dois nomes fulgiram. Ambos ganharam duas medalhas de ouro: Roland Matthes, primeiro produto de sucesso da indústria do doping da RDA, que haveria de casar com Kornélia Ender, dominou os 100 e os 200 metros costas em Montreal haveria de ganhar ainda mais uma medalha de bronze; o sueco Gunnar Larsson, que se treinava em Long Beach com técnico americano, venceu os 200 e 400 metros estilos e na prova mais longa foi protagonista do duelo mais emotivo e apertado dos Jogos com o americano Alexandre McKee, a quem já ganhara na distância curta. O photo finish haveria de mostrar que Larsson tocara na borda da piscina dois milésimos (!) à frente ambos acabaram por ser considerados recordistas mundiais, com 4.31,89 minutos, o nível foi tão fantástico que os quatro primeiros classificados melhoraram o anterior máximo.
Depois de Munique, Spitz Filme, roupas e desvairo
FBI em operação relâmpago
Para Munique partiu Mark Spitz ao jeito de herói californiano: atlético, musculado, bronzeado, olhos azuis a lucilar, bigodes dançantes. Estava apenas um pouquinho mais comedido: «Quero ganhar os Jogos Olímpicos para desistir desta vida. Não, nunca ganhei pela glória de ganhar, nadei apenas pela satisfação de ser reconhecido como o melhor do Mundo. É isso que quero, nada mais.» Não, na Alemanha não falhou. Antes pelo contrário. Foi o homem das Olimpíadas dando vazão a toda a agressividade, a toda a ambição, a todo o topete. Apesar de um esfriamento, tratado a antibióticos o primeiro sinal de eternidade nos 200 metros mariposa, batendo recorde do Mundo por mais de dois segundos. O tufão passou depois pelos 100 metros mariposa, 100 livres e pelas estafetas de 4x100 metros livres, 4x200 livres e 4x100 estilos sempre com o ouro acrescentado a máximos mundiais. A única vitória complicada foi nos 200 metros estilos, só nos últimos metros conseguiria ultrapassar o compatriota Steve Genter no pódio surgiu jubilante, acenando com os sapatos às câmaras de televisão, os jornalistas arrasaram-no, sublinhando que a hora era de luto, havia atletas israelitas mortos e Spitz até tinha sangue judeu a correr-lhe nas veias... Pouco depois caterva de agentes do FBI surgiu-lhe, de supetão, no quarto da Aldeia Olímpica, transportando-o de imediato para a Califórnia. Suspeitavam que pudesse ser vítima de mais um atentado palestiniano. Com 25 recordes mundiais batidos, nove medalhas olímpicas de ouro, uma de prata e uma de bronze abandonou as lides logo depois de Munique. Fez passagens esporádicas pelo cinema e pela televisão, inundou a América com a sua imagem em anúncios de publicidade fartou-se depressa, dizendo que não tinha jeito para actor ou para homem-propaganda, também não se satisfez como dentista decidiu, então, dedicar-se ao desenho de roupas para crianças. Casado com Suzy Weiner em 1973, vive em Los Angeles numa mansão com um imenso jardim e uma... piscina. Em 1989 tentou um desvairado regresso à competição com uma meta claríssima: nadar nos Jogos Olímpicos de Barcelona, aos 42 anos. Falhou a aposta e após a última competição de 100 metros mariposa afirmou: «Quando me atirei à água senti-me com 21 anos, aos 50 metros já tinha 31, aos 75 andava pelos 41 e na meta já tinha ultrapassado os 101 anos. Deu para ganhar juízo e gastar o meu tempo livre a fazer outras coisas com mais prazer na vida...» Encontrou outro caminho. E outro hobby. É treinador da equipa de futebol (não, não é futebol americano é soccer mesmo!) do seu filho Matthew.
Demont traído por medicamento para a asma!
O americano Rick DeMont foi o primeiro nadador a estilhaçar a barreira dos quatro minutos nos 400 metros livres mas para a história ficou por ter sido o primeiro desportista a perder medalha por causa de uma análise positiva de doping. Em Munique, com 16 anos apenas, tornara-se o mais jovem campeão olímpico de 400 metros ao bater, num duelo emocionante, o australiano Brad Cooper. Semanas antes colocara o máximo mundial dos 1500 metros em 15.52,91 minutos outra barreira histórica esfanicada e o favoritismo todo concentrado em si. Estava já na piscina, em operação de aquecimento, quando dirigentes do COI o foram buscar, dizendo-lhe que não poderia voltar a nadar, fora apanhado no doping. Era asmático, tomara medicamento com efedrina, discriminara, inclusivamente, a droga na ficha médica, de nada lhe valeu, não houve contemplação. Um deslize fatal, pois. Mas que não lhe afundou a alma haveria de bater mais três recordes mundiais, colocando o dos 400 metros em 3.58,18 minutos, conquistando uma mão-cheia de medalhas em Campeonatos do Mundo. Só não conseguiria voltar ao pódio nos Jogos Olímpicos. Melhor sorte que DeMont, tiveram os homens do pentatlo moderno. Mais de 40 foram apanhados com excesso de Valium no controlo anti-doping. Não foram desclassificados porque os tranquilizantes ainda não estavam na lista proibida.
Shane Ouro
Apesar de já se saber dos seus prodígios antes ainda de começar a nadar, a australiana Shane Gould tornou-se atracção especial nos Jogos Olímpicos de Munique. Tinha 15 anos e nunca largava um canguru de pelúcia que era sua mascote. E sorria, sorria, sorria. Passara a infância subindo às palmeiras das ilhas Fiji, onde nascera, e fora isso que, segundo o seu treinador, Forbs Carlisle, lhe dera corpo de nadadora. Entre Julho de 1971 e Janeiro de 1972 estabelecera records mundiais em todas as provas de estilo livre, dos 100 aos 1500 metros. Em Munique nadaria 12 vezes em oito dias apenas. Abriu a saga com os 200 metros estilos medalha de ouro e record do Mundo: 2.23,07. Algumas horas depois a primeira derrota da sua vida, nos 100 metros, a consolação do bronze, depois de uma provocação que não foi capaz de vingar: as americanas, Sandra Neilson e Shirley Babashoff, que lhe ganharam, surgiram na piscina com camisolas onde estamparam a frase choque: «Nem tudo o que reluz é Gould», trocadilho entre o seu nome e a palavra ouro em inglês gold. Nos 200 e 400 metros mais duas tatuagens a ouro, mais dois máximos mundiais: 2.03,56 e 4.19,44 minutos, respectivamente. Por fim prata nos 800 metros, com Keena Rothammer a tornar-se recordista do Mundo. Shane haveria de confessar que, numa das vezes em que saltou à cumeeira do pódio, ao escutar os acordes do hino australiano tocado por uma banda alemã desatou a chorar e não era de emoção, era de mágoa: «Já sabia que o meu sucesso afastara todos os outros nadadores de mim, tratavam-me com frieza, com desprezo e com despeito. Nesse momento deixei de ser menina...» Um ano mais tarde, com 16 anos e 9 meses, com uma bruma de desânimo e revolta a cair sobre si, anunciou a retirada para fugir à inveja, à caturrice de quem não suportava que a menina se transformasse em supermulher com a sua braçada em jeito de mó de moinho. «Sim, agora que a poeira assentou, tenho de admitir que a minha fuga foi sobretudo um fiasco para mim, um fiasco colorido de vergonha, culpa e confusão uma estupidez...» O que se seguiu foram vários anos num rodopio, saraivada de emoções e prazeres toda a vida a girar à volta do surf, de Deus e do casamento. «Foi o meu lado beat, a vida nas ondas para fugir do mundo ou o outro lado da fuga através de retiros espirituais completamente alucinantes.» Entre os 21 e os 26 anos nasceram-lhe quatro filhos. Em 1997 decidiu colocar ponto final no modo alternativo de viver. «Não tinha emprego nem endereço fixos, não tinha meios de subsistência, não poderia deixar os meus filhos assim entregues ao destino. Dei novamente uma viragem à vida e redescobri o futuro.» A sua paixão, agora, é o Shane Gould Life Skills que oferece bolsas a jovens promessas da natação e aborda vários outros aspectos como o planeamento de carreiras, gestão de dinheiro e estratégias de comunicação.
Vela, Grilo, Lopes e Mamede
O sexto lugar dos velejadores António Mardel Correia e Henrique Anjos, na classe star, e o nono lugar de Luís Grilo em luta greco-romana (57 kg) foram as únicas classificações com alguma honra nuns Jogos que mostraram mais uma vez como regredia o desporto português. No hipismo, no Prémio das Nações, Carlos Campos, Vasco Ramires e Francisco Caldeira alcançaram colectivamente o 13.º lugar. O atletismo começava a preparar o futuro. Carlos Lopes e Fernando Mamede não passaram das eliminatórias de 5000 e 10 mil metros e de 800 e 1500 metros, respectivamente, mas Moniz Pereira não deixou de dizer que ficara maravilhado com os sinais que lhe deram.
Mark Spitz juntou sete medalhas de ouro às quatro (angustiantes) do México
Insuportável fanfarrão
Crescera a brincar nas ondas do Havai. Nascera sob o signo de Peixes a 10 de Fevereiro de 1950, em Modesto, na Califórnia mas de modesto pouco tinha. Influências do pai, que lhe empolava a fanfarronice e acendia de hora a hora fogos de ambição desmedida. Quando a família se mudou para Santa Clara, levada unicamente pela ideia fixa de fazer de Mark Andrew campeão olímpico, vulgares se tornaram as cenas caricatas dos Spitz nas piscinas do Swim Club. Arnold, alto executivo de uma empresa de aço, para além de exuberâncias, vaidades, jactâncias e megalomanias escarrinhadas a cada frase, bradava sentenças de jaez assim: «Nadar não é importante, importante é unicamente ganhar.» Ou então: «Vão estar oito rapazes na piscina, só um será o vencedor, os outros não interessam para nada, são escumalha» e virando-se, escabreado, para Mike rematava: «Escumalha, rapaz, escumalha!» E Spitz cresceu entralhado nessa obsessão de que só vencendo, vencendo a qualquer preço, poderia ter amor, adulação, fama. Tornou-se, sem surpresa, superdotado, irritante e irritadiço. Aos 16 e 17 anos as suas marcas eram já melhores que as de Don Schollander por essa altura mas o pai tratou logo de avisar que «records de idades eram porcarias, o que devia ter era records mundiais». No ano seguinte, já trirrecordista do Mundo, Mark partiu para os Jogos do México sob jura solene: «Fazer melhor que Schollander, que em Tóquio ganhara quatro medalhas de ouro hei-de trazer seis...» Teve de contentar-se apenas com a medalha de prata dos 100 metros mariposa e a de bronze nos 100 livres se ouro teve foi nas duas estafetas. Mas a humilhação mais cortante foi na final dos 200 metros mariposa os colegas de equipa pontearam com aplausos e urros o facto de ter chegado em último lugar! Regressou à Universidade de Indiana com a alma aos solavancos. James Counsilman, que já fora técnico de Schollander, empenhou-se na restauração da sua auto-estima que mais parecia pote em cacos.
Ouro por dois milésimos
Sim, Mark Spitz ofuscou tudo. Mas, mesmo assim, em Munique dois nomes fulgiram. Ambos ganharam duas medalhas de ouro: Roland Matthes, primeiro produto de sucesso da indústria do doping da RDA, que haveria de casar com Kornélia Ender, dominou os 100 e os 200 metros costas em Montreal haveria de ganhar ainda mais uma medalha de bronze; o sueco Gunnar Larsson, que se treinava em Long Beach com técnico americano, venceu os 200 e 400 metros estilos e na prova mais longa foi protagonista do duelo mais emotivo e apertado dos Jogos com o americano Alexandre McKee, a quem já ganhara na distância curta. O photo finish haveria de mostrar que Larsson tocara na borda da piscina dois milésimos (!) à frente ambos acabaram por ser considerados recordistas mundiais, com 4.31,89 minutos, o nível foi tão fantástico que os quatro primeiros classificados melhoraram o anterior máximo.
Depois de Munique, Spitz Filme, roupas e desvairo
FBI em operação relâmpago
Para Munique partiu Mark Spitz ao jeito de herói californiano: atlético, musculado, bronzeado, olhos azuis a lucilar, bigodes dançantes. Estava apenas um pouquinho mais comedido: «Quero ganhar os Jogos Olímpicos para desistir desta vida. Não, nunca ganhei pela glória de ganhar, nadei apenas pela satisfação de ser reconhecido como o melhor do Mundo. É isso que quero, nada mais.» Não, na Alemanha não falhou. Antes pelo contrário. Foi o homem das Olimpíadas dando vazão a toda a agressividade, a toda a ambição, a todo o topete. Apesar de um esfriamento, tratado a antibióticos o primeiro sinal de eternidade nos 200 metros mariposa, batendo recorde do Mundo por mais de dois segundos. O tufão passou depois pelos 100 metros mariposa, 100 livres e pelas estafetas de 4x100 metros livres, 4x200 livres e 4x100 estilos sempre com o ouro acrescentado a máximos mundiais. A única vitória complicada foi nos 200 metros estilos, só nos últimos metros conseguiria ultrapassar o compatriota Steve Genter no pódio surgiu jubilante, acenando com os sapatos às câmaras de televisão, os jornalistas arrasaram-no, sublinhando que a hora era de luto, havia atletas israelitas mortos e Spitz até tinha sangue judeu a correr-lhe nas veias... Pouco depois caterva de agentes do FBI surgiu-lhe, de supetão, no quarto da Aldeia Olímpica, transportando-o de imediato para a Califórnia. Suspeitavam que pudesse ser vítima de mais um atentado palestiniano. Com 25 recordes mundiais batidos, nove medalhas olímpicas de ouro, uma de prata e uma de bronze abandonou as lides logo depois de Munique. Fez passagens esporádicas pelo cinema e pela televisão, inundou a América com a sua imagem em anúncios de publicidade fartou-se depressa, dizendo que não tinha jeito para actor ou para homem-propaganda, também não se satisfez como dentista decidiu, então, dedicar-se ao desenho de roupas para crianças. Casado com Suzy Weiner em 1973, vive em Los Angeles numa mansão com um imenso jardim e uma... piscina. Em 1989 tentou um desvairado regresso à competição com uma meta claríssima: nadar nos Jogos Olímpicos de Barcelona, aos 42 anos. Falhou a aposta e após a última competição de 100 metros mariposa afirmou: «Quando me atirei à água senti-me com 21 anos, aos 50 metros já tinha 31, aos 75 andava pelos 41 e na meta já tinha ultrapassado os 101 anos. Deu para ganhar juízo e gastar o meu tempo livre a fazer outras coisas com mais prazer na vida...» Encontrou outro caminho. E outro hobby. É treinador da equipa de futebol (não, não é futebol americano é soccer mesmo!) do seu filho Matthew.
Demont traído por medicamento para a asma!
O americano Rick DeMont foi o primeiro nadador a estilhaçar a barreira dos quatro minutos nos 400 metros livres mas para a história ficou por ter sido o primeiro desportista a perder medalha por causa de uma análise positiva de doping. Em Munique, com 16 anos apenas, tornara-se o mais jovem campeão olímpico de 400 metros ao bater, num duelo emocionante, o australiano Brad Cooper. Semanas antes colocara o máximo mundial dos 1500 metros em 15.52,91 minutos outra barreira histórica esfanicada e o favoritismo todo concentrado em si. Estava já na piscina, em operação de aquecimento, quando dirigentes do COI o foram buscar, dizendo-lhe que não poderia voltar a nadar, fora apanhado no doping. Era asmático, tomara medicamento com efedrina, discriminara, inclusivamente, a droga na ficha médica, de nada lhe valeu, não houve contemplação. Um deslize fatal, pois. Mas que não lhe afundou a alma haveria de bater mais três recordes mundiais, colocando o dos 400 metros em 3.58,18 minutos, conquistando uma mão-cheia de medalhas em Campeonatos do Mundo. Só não conseguiria voltar ao pódio nos Jogos Olímpicos. Melhor sorte que DeMont, tiveram os homens do pentatlo moderno. Mais de 40 foram apanhados com excesso de Valium no controlo anti-doping. Não foram desclassificados porque os tranquilizantes ainda não estavam na lista proibida.