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Didrikson pôs atletismo feminino (e não só) no mapa das paixões avassaladoras
Babe no grito dos rufias
Tinha no corpo sempre a arder o prazer do desafio, língua de fogo da alma ainda mais gigante que todos os desejos, todos os sonhos. Mildred Ella Didrikson era nome de baptismo. Nascera no seio de uma família de emigrantes da Noruega a 26 de Junho de 1914, em Port Arthur, no Texas. Uma das mais incríveis e fabulosas desportistas do século, sem qualquer ponta de dúvida. Durante a adolescência, escabreada e fogosa, apenas se sentia feliz na companhia dos rapazes mais rufias das ruas de Beaumont, vilarejo esconso onde quase toda a gente (sobre)vivia no limiar da pobreza, em bairros de lata e desgraça. Foi nesse cenário que descobriu o talento para o basebol, que aprendeu os truques do jogo, as tácticas para desconcentrar e arreliar adversários, assim como arrastar multidões. E foi lá também que ganhou o epíteto que haveria de fazer história, em voo largo de eternidade: Babe. Babe como Ruth, porque uma vez, ao somar 13 home runs numa partida contra rapazes as raparigas não lhe davam luta... , o garotio se pôs aos gritos: «parece Babe, parece Babe.» Assim ficou.
«Soutien?» «pensam que sou mariquinhas?!»
Aos 15 anos Didrikson era já considerada a melhor jogadora de basquetebol da Escola Maior de Beaumont, não que fosse mais alta que as outras mas porque as suas velocidade e impulsão lhe permitiam contra-ataques fulgurantes, cestos espectaculares até afundanços! Assim, sem surpresa, a Employers Casualty Company of Dallas, a mais prestigiada seguradora do Texas, lançou-lhe convite para a sua equipa de basquetebol a troco de um ordenado mensal de 75 dólares. Para manter incólume o estatuto de amadora o contrato foi assinado como... mecanógrafa mas o que lhe exigiam era simplesmente que jogasse. Uma vez falhou três lançamentos livres, a equipa perdeu o campeonato por um ponto. Atirou um fio de lágrimas para fora do corpo que fraquejara nas mãos que lhe roubaram o sonho e na torrente só não veio o coração de lutadora perfeccionista. Em vez de ir dormir, regressou, sorrateira, ao pavilhão e lá ficou várias horas a treinar arremessos. No dia seguinte montou uma tabela no jardim da sua casa e antes do pequeno-almoço repetia o ritual: lançamentos, lançamentos, lançamentos... Acertou a mão de tal forma que um mês depois, na pior das hipóteses, convertia 490 em 500 tentativas! Em torno de si foram-se criando outras lendas, como essa de ter marcado 100 pontos numa partida só. Nenhum registo oficial o confirmaria, ela nunca o desmentiu. Aliás, os seus biógrafos foram escrevendo que adorava alimentar esses mitos, assim sempre havia mais gente nos pavilhões para a ver jogar, os bilhetes poderiam ser mais caros. E eram. Entre 1930 e 1932 foi considerada, sem oposição, a melhor jogadora americana. Atirava-se à luta num espírito diletante, buliçosa, provocante. Sabia que tinha os olhos todos postos em si. No seu fulgor. E desconcertava. Quando, já depois de se ter sagrado campeã olímpica, em Los Angeles, os dirigentes da equipa de basquetebol lhe pediram que usasse soutien em todas as suas partidas, porque «em algumas fotografias se insinuava alguma falta de pudor» (!), Babe, muito galhofeira, replicou: «Estão loucos?! Pensam que sou mariquinhas?!»
Vitórias nos 80 metros barreiras e dardo.
Na altura anulação polémica
Rainha apesar de medalha espoliada
Foi durante o defeso do basquetebol que descobriu o atletismo. Começou por ser complemento de treino. Num fósforo se tornou suplemento de glória. Com 16 anos ainda, aceitou desafio de um técnico e foi ao campeonato dos Estados Unidos lançar o dardo. Deitou o engenho a 40,625 metros. Bruá de espanto, record do Mundo. Babe, espantadíssima, murmurou para as outras: «Foi fácil, foi só pôr o dardo a fugir-me das mãos!» Assim, sem surpresa, em edulcorada súplica, os dirigentes da American Athletic Union (AAU) disseram-lhe que não poderia deixar de alinhar nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, os americanos precisavam de mostrá-la ao Mundo como a sua maior preciosidade. Sorriu e aceitou. No trajecto sagrou-se campeã dos Estados Unidos dos 80 metros barreiras, do salto em altura, do lançamento do peso e do lançamento do dardo. Nesse mesmo ano outro record mundial, atirando uma bola de basebol a 90,22 metros! No dia 1 de Agosto de 1932 entrou pela primeira vez em acção nos Jogos Olímpicos. Olhos incandescentes, pose altiva no corredor de lançamento. E nem uma palavra às adversárias. Nervosismo? Chegara, enfim, a hora de ter medo? A essa questão responderia: «Não, nervosa porquê?! Medrosa?! Nem dos rapazes com quem eu me habituei a competir tinha medo quanto mais de rapariguinhas como aquelas, algumas com ar de quem acabara de sair do colégio.» Venceu o dardo com 43,68 metros mais um record do Mundo. Três dias depois vitória nos 80 metros barreiras, após luta faiscante com a compatriota Evelyne Hall. O cronómetro parou aos 11,7 segundos outro record do Mundo. Nesse mesmo dia saltou em altura 1,65 metros também record do Mundo Jean Shiley igualou-lhe a marca, bateu-a no desempate, teve pois de contentar-se com a medalha de prata depois de polémica aberta na pista. É que saltara 1,68 metros mas um juiz decidiu anular o salto por... «deficiência técnica no acto do rolamento ventral». Ninguém percebeu muito bem porquê, ela também não se importou com a escatima: «Ainda se isso me desse mais dinheiro!» parece que foi o seu único desabafo. Duas medalhas de ouro e uma de prata foram o bastante para que se consagrasse rainha incontestável de Los Angeles.
Anúncios, milhões e excomunhão
A torrente da fama que se abriu com as suas vitórias olímpicas arrastou-a, meses seguidos, pelos Estados Unidos em espectáculos de vaudeville, empolgando multidões que a incensavam ofertas de chorudos contratos publicitários, de milhares de dólares para se dedicar mais ao basquetebol. E ela calada, expectante era o receio do crocitar dos abutres que se aproveitassem da mais pequenina falha para lhe escarvoar o futuro. Estava ainda a viver as emoções olímpicas e por toda a América espalhou-se publicidade a automóvel com a imagem de Didrikson. A AAU não esteve com meias-medidas e irradiou-a sem sequer lhe instaurar inquérito, apesar de Babe jurar que não dera ordem para o anúncio, que nada recebera por ele. E nunca mais pôde voltar às pistas, era profissional.
Babe Didrikson só deixou competição quando já estava condenada à morte
Golfe popular e o cancro fatal
Não podendo voltar a competir no atletismo, Didrikson escolheu o ténis. Fecharam-lhe as portas. Apostou no golfe e em 1935 ganhou o campeonato do estado do Texas. O seu nome arrastava uma horda de fãs como nunca se vira em competições femininas. Nesse dia claques estridentes inundaram o campo, destroçaram o aristocrático ambiente dos torneios, houve assobios às adversárias, gritos ululantes à heroína, cânticos e até esboço de distúrbios. Com receio de que os «excessos popularuchos» se espalhassem Babe foi proibida de jogar golfe nos anos que se seguiram. Voltou a pegar nos tacos para uma tournée exibicional com Gene Sarazen, que lhe rendeu 1000 dólares por semana. Nunca o escondeu: «Tudo o que faço é pelo prazer de pôr o corpo em desafio, ganhando dinheiro com isso.» Nesse sentido, participou em exibições de bilhar, de pingue-pongue e até num combate de boxe com Babe Ruth! Em 1943 reabriram-lhe as portas dos campos de golfe, por um dirigente visionário ter percebido que Didrikson poderia ser o balão de oxigénio ou, mais que isso, a rota para a modernidade do profissionalismo no feminino. Estava certo, três anos depois sagrou-se vencedora do Open dos Estados Unidos. Nunca a modalidade vivera com tanta popularidade, tanto mediatismo. Em 1947 ganhou os 17 torneios em que participou, coroando a série com vitória no Open de Inglaterra. «Foi no golfe que percebi melhor o meu espírito. Não tolerava perder com nenhuma mulher. Quem me batesse duas vezes passava a ser tratada por mim como... inimiga, não descansava enquanto não a humilhasse.» Apoderou-se dos milhões e dos troféus do U. S. Open de 1948, 1950 e 1954. Havia largo tempo que já sabia que também lutava contra uma neoplasia num seio. Doente, não sentia ainda os sonhos cansados. Em 1955, depois de três delicadas operações cirúrgicas, os médicos já não lhe permitiram que voltasse a jogar. O cancro acabou de matá-la no dia 27 de Setembro de 1956. Tinha 42 anos. E os americanos, que por ela choraram algumas vezes de felicidade, nesse dia perceberam que afinal Babe também podia fazê-los chorar de saudade. Partia dramaticamente mas deixava, sublime, a chama quente de um nome eterno a maior atleta dos primeiros 50 anos do século XX em todos os inquéritos que se foram fazendo na América e não só.
Mulher de lutador
Quando decidiu abandonar o atletismo, após a excomunhão de 1933, vários jornalistas americanos consideraram-na mercenária e... estúpida, «por não aproveitar o seu filão nas pistas». A um deles justificou-se, pragmática: «Fui pobre, sei o que custa ser pobre. Gosto tanto de desporto que quero fazer disso a minha profissão. Se há quem o considere crime a culpa não é minha. Estúpida seria se deitasse fora todos os milhares de dólares que me querem dar em troca do espectáculo que dou...» Em 1938 casou com o lutador profissional George Zaharias e foi como Mildred Zaharias que se lançou no golfe. Por essa altura havia quem, à boca pequenina, insinuasse que talvez fosse um... homem. Também se escarrinharam suspeitas de homossexualidade. Tudo falso.
Babe no grito dos rufias
Tinha no corpo sempre a arder o prazer do desafio, língua de fogo da alma ainda mais gigante que todos os desejos, todos os sonhos. Mildred Ella Didrikson era nome de baptismo. Nascera no seio de uma família de emigrantes da Noruega a 26 de Junho de 1914, em Port Arthur, no Texas. Uma das mais incríveis e fabulosas desportistas do século, sem qualquer ponta de dúvida. Durante a adolescência, escabreada e fogosa, apenas se sentia feliz na companhia dos rapazes mais rufias das ruas de Beaumont, vilarejo esconso onde quase toda a gente (sobre)vivia no limiar da pobreza, em bairros de lata e desgraça. Foi nesse cenário que descobriu o talento para o basebol, que aprendeu os truques do jogo, as tácticas para desconcentrar e arreliar adversários, assim como arrastar multidões. E foi lá também que ganhou o epíteto que haveria de fazer história, em voo largo de eternidade: Babe. Babe como Ruth, porque uma vez, ao somar 13 home runs numa partida contra rapazes as raparigas não lhe davam luta... , o garotio se pôs aos gritos: «parece Babe, parece Babe.» Assim ficou.
«Soutien?» «pensam que sou mariquinhas?!»
Aos 15 anos Didrikson era já considerada a melhor jogadora de basquetebol da Escola Maior de Beaumont, não que fosse mais alta que as outras mas porque as suas velocidade e impulsão lhe permitiam contra-ataques fulgurantes, cestos espectaculares até afundanços! Assim, sem surpresa, a Employers Casualty Company of Dallas, a mais prestigiada seguradora do Texas, lançou-lhe convite para a sua equipa de basquetebol a troco de um ordenado mensal de 75 dólares. Para manter incólume o estatuto de amadora o contrato foi assinado como... mecanógrafa mas o que lhe exigiam era simplesmente que jogasse. Uma vez falhou três lançamentos livres, a equipa perdeu o campeonato por um ponto. Atirou um fio de lágrimas para fora do corpo que fraquejara nas mãos que lhe roubaram o sonho e na torrente só não veio o coração de lutadora perfeccionista. Em vez de ir dormir, regressou, sorrateira, ao pavilhão e lá ficou várias horas a treinar arremessos. No dia seguinte montou uma tabela no jardim da sua casa e antes do pequeno-almoço repetia o ritual: lançamentos, lançamentos, lançamentos... Acertou a mão de tal forma que um mês depois, na pior das hipóteses, convertia 490 em 500 tentativas! Em torno de si foram-se criando outras lendas, como essa de ter marcado 100 pontos numa partida só. Nenhum registo oficial o confirmaria, ela nunca o desmentiu. Aliás, os seus biógrafos foram escrevendo que adorava alimentar esses mitos, assim sempre havia mais gente nos pavilhões para a ver jogar, os bilhetes poderiam ser mais caros. E eram. Entre 1930 e 1932 foi considerada, sem oposição, a melhor jogadora americana. Atirava-se à luta num espírito diletante, buliçosa, provocante. Sabia que tinha os olhos todos postos em si. No seu fulgor. E desconcertava. Quando, já depois de se ter sagrado campeã olímpica, em Los Angeles, os dirigentes da equipa de basquetebol lhe pediram que usasse soutien em todas as suas partidas, porque «em algumas fotografias se insinuava alguma falta de pudor» (!), Babe, muito galhofeira, replicou: «Estão loucos?! Pensam que sou mariquinhas?!»
Vitórias nos 80 metros barreiras e dardo.
Na altura anulação polémica
Rainha apesar de medalha espoliada
Foi durante o defeso do basquetebol que descobriu o atletismo. Começou por ser complemento de treino. Num fósforo se tornou suplemento de glória. Com 16 anos ainda, aceitou desafio de um técnico e foi ao campeonato dos Estados Unidos lançar o dardo. Deitou o engenho a 40,625 metros. Bruá de espanto, record do Mundo. Babe, espantadíssima, murmurou para as outras: «Foi fácil, foi só pôr o dardo a fugir-me das mãos!» Assim, sem surpresa, em edulcorada súplica, os dirigentes da American Athletic Union (AAU) disseram-lhe que não poderia deixar de alinhar nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, os americanos precisavam de mostrá-la ao Mundo como a sua maior preciosidade. Sorriu e aceitou. No trajecto sagrou-se campeã dos Estados Unidos dos 80 metros barreiras, do salto em altura, do lançamento do peso e do lançamento do dardo. Nesse mesmo ano outro record mundial, atirando uma bola de basebol a 90,22 metros! No dia 1 de Agosto de 1932 entrou pela primeira vez em acção nos Jogos Olímpicos. Olhos incandescentes, pose altiva no corredor de lançamento. E nem uma palavra às adversárias. Nervosismo? Chegara, enfim, a hora de ter medo? A essa questão responderia: «Não, nervosa porquê?! Medrosa?! Nem dos rapazes com quem eu me habituei a competir tinha medo quanto mais de rapariguinhas como aquelas, algumas com ar de quem acabara de sair do colégio.» Venceu o dardo com 43,68 metros mais um record do Mundo. Três dias depois vitória nos 80 metros barreiras, após luta faiscante com a compatriota Evelyne Hall. O cronómetro parou aos 11,7 segundos outro record do Mundo. Nesse mesmo dia saltou em altura 1,65 metros também record do Mundo Jean Shiley igualou-lhe a marca, bateu-a no desempate, teve pois de contentar-se com a medalha de prata depois de polémica aberta na pista. É que saltara 1,68 metros mas um juiz decidiu anular o salto por... «deficiência técnica no acto do rolamento ventral». Ninguém percebeu muito bem porquê, ela também não se importou com a escatima: «Ainda se isso me desse mais dinheiro!» parece que foi o seu único desabafo. Duas medalhas de ouro e uma de prata foram o bastante para que se consagrasse rainha incontestável de Los Angeles.
Anúncios, milhões e excomunhão
A torrente da fama que se abriu com as suas vitórias olímpicas arrastou-a, meses seguidos, pelos Estados Unidos em espectáculos de vaudeville, empolgando multidões que a incensavam ofertas de chorudos contratos publicitários, de milhares de dólares para se dedicar mais ao basquetebol. E ela calada, expectante era o receio do crocitar dos abutres que se aproveitassem da mais pequenina falha para lhe escarvoar o futuro. Estava ainda a viver as emoções olímpicas e por toda a América espalhou-se publicidade a automóvel com a imagem de Didrikson. A AAU não esteve com meias-medidas e irradiou-a sem sequer lhe instaurar inquérito, apesar de Babe jurar que não dera ordem para o anúncio, que nada recebera por ele. E nunca mais pôde voltar às pistas, era profissional.
Babe Didrikson só deixou competição quando já estava condenada à morte
Golfe popular e o cancro fatal
Não podendo voltar a competir no atletismo, Didrikson escolheu o ténis. Fecharam-lhe as portas. Apostou no golfe e em 1935 ganhou o campeonato do estado do Texas. O seu nome arrastava uma horda de fãs como nunca se vira em competições femininas. Nesse dia claques estridentes inundaram o campo, destroçaram o aristocrático ambiente dos torneios, houve assobios às adversárias, gritos ululantes à heroína, cânticos e até esboço de distúrbios. Com receio de que os «excessos popularuchos» se espalhassem Babe foi proibida de jogar golfe nos anos que se seguiram. Voltou a pegar nos tacos para uma tournée exibicional com Gene Sarazen, que lhe rendeu 1000 dólares por semana. Nunca o escondeu: «Tudo o que faço é pelo prazer de pôr o corpo em desafio, ganhando dinheiro com isso.» Nesse sentido, participou em exibições de bilhar, de pingue-pongue e até num combate de boxe com Babe Ruth! Em 1943 reabriram-lhe as portas dos campos de golfe, por um dirigente visionário ter percebido que Didrikson poderia ser o balão de oxigénio ou, mais que isso, a rota para a modernidade do profissionalismo no feminino. Estava certo, três anos depois sagrou-se vencedora do Open dos Estados Unidos. Nunca a modalidade vivera com tanta popularidade, tanto mediatismo. Em 1947 ganhou os 17 torneios em que participou, coroando a série com vitória no Open de Inglaterra. «Foi no golfe que percebi melhor o meu espírito. Não tolerava perder com nenhuma mulher. Quem me batesse duas vezes passava a ser tratada por mim como... inimiga, não descansava enquanto não a humilhasse.» Apoderou-se dos milhões e dos troféus do U. S. Open de 1948, 1950 e 1954. Havia largo tempo que já sabia que também lutava contra uma neoplasia num seio. Doente, não sentia ainda os sonhos cansados. Em 1955, depois de três delicadas operações cirúrgicas, os médicos já não lhe permitiram que voltasse a jogar. O cancro acabou de matá-la no dia 27 de Setembro de 1956. Tinha 42 anos. E os americanos, que por ela choraram algumas vezes de felicidade, nesse dia perceberam que afinal Babe também podia fazê-los chorar de saudade. Partia dramaticamente mas deixava, sublime, a chama quente de um nome eterno a maior atleta dos primeiros 50 anos do século XX em todos os inquéritos que se foram fazendo na América e não só.
Mulher de lutador
Quando decidiu abandonar o atletismo, após a excomunhão de 1933, vários jornalistas americanos consideraram-na mercenária e... estúpida, «por não aproveitar o seu filão nas pistas». A um deles justificou-se, pragmática: «Fui pobre, sei o que custa ser pobre. Gosto tanto de desporto que quero fazer disso a minha profissão. Se há quem o considere crime a culpa não é minha. Estúpida seria se deitasse fora todos os milhares de dólares que me querem dar em troca do espectáculo que dou...» Em 1938 casou com o lutador profissional George Zaharias e foi como Mildred Zaharias que se lançou no golfe. Por essa altura havia quem, à boca pequenina, insinuasse que talvez fosse um... homem. Também se escarrinharam suspeitas de homossexualidade. Tudo falso.