Creio que PNS esteve consideravelmente melhor que Ventura, não obstante a combatividade habitual do segundo. Mesmo na imigração, falou para o centro, proferiu coisas razoáveis e mostrou moderação. Não se furtou a declarar divergências de opinião com António Costa nem teve receio de rejeitar soluções anteriores, incluindo do próprio partido. Parece-me que deixou boa imagem. Até por isso a sua prestação sai realçada: Ventura igual a si mesmo, e com mais do mesmo; PNS, contra algumas expectativas, profundamente sóbrio, racional e institucional.
Ventura não soube pressionar verdadeiramente PNS em alguns pontos, como a TAP. Trocou argumentos mais incisivos e compreensíveis por soundbites. Podia ter feito melhor, mas o vício do estilo prejudica o conteúdo. Ainda na imigração, é certo que Ventura ataca, e ataca, e ataca... e depois resume-se a dizer quotas. PNS, mesmo com embaraços, consegue articular um discurso equilibrado. Uma vez mais, a surpresa funciona a seu favor. Não respondeu a todos os reptos de Ventura, aceitou alguns socos, replicou noutros golpes... o normal para quem já pertenceu a um governo e presidiu a pastas ministeriais. E que tem os seus fracassos na bagagem.
Ventura não teve um debacle, porém não fez o que se lhe exige neste momento. Ou não trouxe nada de novo. Tem na AD uma coligação que se apropriou e adaptou alguns temas característicos do Chega, e agora tem também, no PS, um líder com um discurso centrista sobre o mesmo assunto. Não lhe será fácil conquistar novo eleitorado.