Fico um bocado estupefacto com o quão longe vão as análises aos acontecimentos de ontem.
Não é preciso ir muito longe.
O meltdown do Ronaldo explica-se essencialmente pela falta de liderança no comando técnico da seleção de Portugal. Toda a gente sabe como é o Ronaldo, o seu egocentrismo, a necessidade de bater recordes, a obsessão pelo golo, etc. Após o último Mundial, o papel do novo selecionador nacional era conversar com o Ronaldo e explicar o que deveria ser o seu novo papel na seleção. Um jogador importante por tudo o que representa, mas com quase 40 anos e a jogar na Arábia. O problema é que chegamos a este Europeu e o Martinez abdicou de exercer qualquer tipo de liderança, está ali para massajar os egos aos jogadores e não para tomar as decisões que são necessárias.
O Ronaldo tomou conta do cenário e a equipa passou para um plano secundário. Voltamos a ter os jogadores constantemente a procurar o Ronaldo e o Ronaldo a procurar rematar de todo o lado sem qualquer tipo de critério e completamente obcecado em se tornar o jogador mais velho de sempre a marcar.
Um selecionador que exercesse o mínimo de liderança teria a função de tornar este Europeu mais leve e natural para o Ronaldo. E isso deveria passar por fazer descansar o jogador contra a Geórgia, mesmo que ficasse contrariado até porque como se costuma dizer, incha, desincha e passa.
E depois há os casos do Bruno Fernandes e do Bernardo Silva que se tornaram numa espécie de mini Ronaldos nesta seleção. Ambos estão a fazer um Europeu deplorável e não há como os tirar nenhum de campo. Podemos dizer que o selecionador não sabe como tirar o melhor de cada um e coloca-os a jogar em funções que não são as mais adequadas, mas há também um responsabilidade clara dos próprios jogadores e uma falta de comprometimento com o coletivo, pois ambos fazem o mínimo esforço para participar no momento sem bola do jogo de Portugal.
Por final, o show tático de Roberto Martinez foi um espetáculo à parte do qual não vale a pena falar porque toda a gente viu.