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1950-1951 Boxe profissional
Grazziano influenciou Stallone pelo seu jeito selvagem e não só...
Rocky, o original
Não foram longos os anos do seu reinado. Antes pelo contrário. Mas nem isso impede que seja figura mítica do boxe. Ou do desporto. Sobretudo por causa do cinema a cruzar-lhe a vida, a tecer-lhe a lenda. Tendo nascido a 1 de Janeiro de 1921 em Nova Iorque, com o nome de Thomas Rocca Barbella, em 1942 desertou do serviço militar ao declarar falsa data de nascimento: 7 de Junho de 1922. Vinte anos depois entrava, meteórico, no mundo profissional do boxe, deixando para trás uma série de combates como amador e o lastro atribulado de vida entre os marginais que então grassavam na zona de East Side, em Nova Iorque. Competindo na categoria de pesos médios, o seu grande adversário para a conquista do título mundial era então Tony Zale, com quem perderia a primeira peleja, em 1946. Em Julho do ano seguinte sagrar-se-ia, finalmente, campeão do Mundo, deixando o rival KO no sexto assalto. Em 1948 vingança de Zale: Rocky knocked out ao terceiro round, cinturão recuperado. Sempre envolvido em polémicas, foi-lhe confiscada licença para combater em Nova Iorque durante um ano, regresso às lides ao fim da quarentena e ponto final na carreira em 1953, com 67 vitórias, 10 derrotas, 6 empates. A popularidade avassaladora devia--se ao modo quase selvagem como combatia: sem grandes tácticas de defesa, como se estivesse sistematicamente a ferver de ódio. Por isso Rocky tornou-se sinónimo de coragem e heroísmo, com alguns novatos a colocar o apodo no nome. Anos depois serviria igualmente de fonte de inspiração para série de filmes protagonizados por Sylvester Stallone. Quando pendurou as luvas Graz-ziano publicou autobiografia denominada Somebody Up There Like Me, mais tarde adaptada ao cinema com Paul Newman no papel de Rocky. E, ao invés de outros boxeurs tão famosos como ele, haveria de passar o resto da vida sem problemas financeiros, construindo lucrativa carreira de actor, morrendo em 1990.
Sugar Ray Robinson campeão de médios
Massacre no dia de São Valentim
Açúcar em fogo! Era assim Ray Robinson. Aliás, Walker Smith, assim o baptizaram quando nasceu, em Detroit, a 3 de Maio de 1921. O nome artístico surgiria de um capricho do destino. Contratado à última hora para substituir pugilista doente assim chamado, como não tinha licença o organizador do combate entregou-lhe a primeira que encontrou no escritório, passada em nome de Ray Robinson. Tinha 16 anos e assim ficou, 36 meses passados já era profissional. Sugar passaria a ser também quando durante uma reportagem no ginásio onde se treinava, em Nova Iorque, o seu treinador, George Gainsford, afirmou ter um lutador «doce como o açúcar». Eficaz, elegante, rápido, espectacular, um bailarino de ringues, arrancou assim para carreira imparável 175 vitórias, 110 por KO. Entre 1943 e 1951 venceu 91 (!) combates consecutivos. Nas 19 vezes que perdeu nunca ninguém conseguiu colocá-lo no tapete. Por isso dele se fala como um dos maiores boxeurs de toda a história. Averbou o primeiro título mundial, como meio-médio, em 1946, defendendo-o com sucesso por mais quatro anos. Sem rivais à altura devido sobretudo ao trabalho de pés e à velocidade e potência do seu soco , lançou-se na categoria de pesos médios para que não lhe faltasse o cheiro doce da adrenalina. Fulgurante se manteve, sagrando-se campeão do Mundo pela primeira vez em 1951 e reeditando (separadamente) o título por quatro vezes. A primeira conquista de médios foi frente a Jake LaMotta único homem que o derrotara entre 1939 e 1951 e é uma das legendas do século, designado como o massacre do dia de S. Valentim e imortalizado no filme Raging Bull Touro Enraivecido.
«Music-hall», doença de alzheimer
Em 1968, depois de três anos desaparecido de circulação, surgiu meteoricamente no Tonight Show, cantou e dançou como vedeta de music-hall e entrou também num episódio da série Missão Impossível. Atacado pela doença de Alzheimer, consequência sobretudo dos golpes sofridos na cabeça ao longo de quase 30 anos de combates, morreu a 14 de Abril de 1989 num modesto apartamento de Los Angeles. O elogio fúnebre do anjo negro foi feito, emocionadamente, pelo reverendo Jesse Jackson, o mais famoso político negro dos Estados Unidos.
Jogos Olímpicos de Helsínquia sob ameaça de nova guerra
Perigo nuclear contra... Mao?
Helsínquia foi escolhida para sede dos Jogos de 1952, em detrimento de Detroit, Chicago, Los Angeles e Amesterdão. Com a presença de quase 5000 atletas de 59 países, os Jogos abriram em ambiente de quase insustentável tensão. A RDA boicotou-os pura e simplesmente. Quando a China comunista, que acabaria por não comparecer, foi aceite a Formosa bateu em retirada. Foi a estreia da URSS nos Jogos Olímpicos mas os seus dirigentes avisaram que não ficariam alojados em espaço onde estivessem «os americanos e os seus lacaios capitalistas»! Construiu-se então, em frenesim, uma aldeia alternativa, em Otaniemi, a oito quilómetros de Helsínquia, onde se instalaram todos os países da cortina de ferro. Este claríssimo desrespeito pelo espírito olímpico foi, com alguma surpresa, sancionado pelo COI. Nas semanas que antecederam a abertura dos Jogos da XV Olimpíada, viveu-se a angústia da iminência de guerra nuclear. O truculento general MacArthur, esse mesmo que chefiara a equipa americana aos Jogos Olímpicos de Amesterdão mandara arrombar as portas do estádio para permitir que os seus atletas se treinassem na nova e bem guardada pista de atletismo, ameaçara despejar o seu arsenal atómico sobre a China, face ao apoio cada vez mais declarado de Mao Tsé Tung à Coreia do Norte. Assim se chegou a 19 de Julho de 1952. O dia por que Erik von Frenckel esperara pacientemente havia tanto tempo. Depois de ter visto o Estádio Olímpico que prepara para 1940 ser destruído pela invasão soviética. A escassos minutos do iníco da cerimónia de abertura jogou o último trunfo. Que guardara ciosamente. Chuviscava ao de leve... Após o desfile das equipas apareceu em cena, de facho na mão, um cinquentão já a atirar para o gordinho, um pouco careca até. Era Paavo Nurmi. A apoteose.
Nem um móvel para o troféu
Saltando de uma categoria para outra, entre 1946 e 1965 Sugar Ray Robinson dominou as lides a bel-prazer, foi sempre detentor de pelo menos um dos dois títulos médio ou meio-médio. Só falhou uma aposta quando, em 1952, combateu pelo título de meios-pesados, baqueando ante Joey Maxim. E foi então que, perante público em lágrimas, anunciou a reforma... Três anos depois regressou à liça, precisava de dinheiro, foi perdendo e recuperando coroas, 10 das suas derrotas são dessa época em perda de fulgor, apenas em 1965 de despediria em definitivo. Quando o Madison Square Garden, em Nova Iorque, se encheu para a cerimónia do adeus Sugar Ray já não tinha sequer um móvel onde colocar o troféu que lhe depositaram em mãos. Arruinara-se, os bens perdidos, hipotecados, sem hipótese de resgate.
Cadillac rosa, anão de mascote
Envolvera-se em múltiplos negócios, fatalmente sem sucesso, um clube nocturno em Harlem, chamado Sugar Ray\'s, uma lavandaria, uma barbearia, uma loja de lingerie. Mas, como o seu lema era «o dinheiro fez-se para gastar e para nos dar da vida apenas bons bocados», deu no que deu. Nos tempos áureos prazeres de sibarita e outras bizarrias esfanicaram-lhe a fortuna. Por exemplo, passeava-se pelas ruas de Nova Iorque ao volante de um Cadillac rosa-flamingo, nas diversas digressões, sobretudo à Europa, fazia-se sempre acompanhar pelo velho treinador Gainford, a família quase em peso, um criado, um barbeiro e um anão (de carne e osso) que era sua mascote.
Grazziano influenciou Stallone pelo seu jeito selvagem e não só...
Rocky, o original
Não foram longos os anos do seu reinado. Antes pelo contrário. Mas nem isso impede que seja figura mítica do boxe. Ou do desporto. Sobretudo por causa do cinema a cruzar-lhe a vida, a tecer-lhe a lenda. Tendo nascido a 1 de Janeiro de 1921 em Nova Iorque, com o nome de Thomas Rocca Barbella, em 1942 desertou do serviço militar ao declarar falsa data de nascimento: 7 de Junho de 1922. Vinte anos depois entrava, meteórico, no mundo profissional do boxe, deixando para trás uma série de combates como amador e o lastro atribulado de vida entre os marginais que então grassavam na zona de East Side, em Nova Iorque. Competindo na categoria de pesos médios, o seu grande adversário para a conquista do título mundial era então Tony Zale, com quem perderia a primeira peleja, em 1946. Em Julho do ano seguinte sagrar-se-ia, finalmente, campeão do Mundo, deixando o rival KO no sexto assalto. Em 1948 vingança de Zale: Rocky knocked out ao terceiro round, cinturão recuperado. Sempre envolvido em polémicas, foi-lhe confiscada licença para combater em Nova Iorque durante um ano, regresso às lides ao fim da quarentena e ponto final na carreira em 1953, com 67 vitórias, 10 derrotas, 6 empates. A popularidade avassaladora devia--se ao modo quase selvagem como combatia: sem grandes tácticas de defesa, como se estivesse sistematicamente a ferver de ódio. Por isso Rocky tornou-se sinónimo de coragem e heroísmo, com alguns novatos a colocar o apodo no nome. Anos depois serviria igualmente de fonte de inspiração para série de filmes protagonizados por Sylvester Stallone. Quando pendurou as luvas Graz-ziano publicou autobiografia denominada Somebody Up There Like Me, mais tarde adaptada ao cinema com Paul Newman no papel de Rocky. E, ao invés de outros boxeurs tão famosos como ele, haveria de passar o resto da vida sem problemas financeiros, construindo lucrativa carreira de actor, morrendo em 1990.
Sugar Ray Robinson campeão de médios
Massacre no dia de São Valentim
Açúcar em fogo! Era assim Ray Robinson. Aliás, Walker Smith, assim o baptizaram quando nasceu, em Detroit, a 3 de Maio de 1921. O nome artístico surgiria de um capricho do destino. Contratado à última hora para substituir pugilista doente assim chamado, como não tinha licença o organizador do combate entregou-lhe a primeira que encontrou no escritório, passada em nome de Ray Robinson. Tinha 16 anos e assim ficou, 36 meses passados já era profissional. Sugar passaria a ser também quando durante uma reportagem no ginásio onde se treinava, em Nova Iorque, o seu treinador, George Gainsford, afirmou ter um lutador «doce como o açúcar». Eficaz, elegante, rápido, espectacular, um bailarino de ringues, arrancou assim para carreira imparável 175 vitórias, 110 por KO. Entre 1943 e 1951 venceu 91 (!) combates consecutivos. Nas 19 vezes que perdeu nunca ninguém conseguiu colocá-lo no tapete. Por isso dele se fala como um dos maiores boxeurs de toda a história. Averbou o primeiro título mundial, como meio-médio, em 1946, defendendo-o com sucesso por mais quatro anos. Sem rivais à altura devido sobretudo ao trabalho de pés e à velocidade e potência do seu soco , lançou-se na categoria de pesos médios para que não lhe faltasse o cheiro doce da adrenalina. Fulgurante se manteve, sagrando-se campeão do Mundo pela primeira vez em 1951 e reeditando (separadamente) o título por quatro vezes. A primeira conquista de médios foi frente a Jake LaMotta único homem que o derrotara entre 1939 e 1951 e é uma das legendas do século, designado como o massacre do dia de S. Valentim e imortalizado no filme Raging Bull Touro Enraivecido.
«Music-hall», doença de alzheimer
Em 1968, depois de três anos desaparecido de circulação, surgiu meteoricamente no Tonight Show, cantou e dançou como vedeta de music-hall e entrou também num episódio da série Missão Impossível. Atacado pela doença de Alzheimer, consequência sobretudo dos golpes sofridos na cabeça ao longo de quase 30 anos de combates, morreu a 14 de Abril de 1989 num modesto apartamento de Los Angeles. O elogio fúnebre do anjo negro foi feito, emocionadamente, pelo reverendo Jesse Jackson, o mais famoso político negro dos Estados Unidos.
Jogos Olímpicos de Helsínquia sob ameaça de nova guerra
Perigo nuclear contra... Mao?
Helsínquia foi escolhida para sede dos Jogos de 1952, em detrimento de Detroit, Chicago, Los Angeles e Amesterdão. Com a presença de quase 5000 atletas de 59 países, os Jogos abriram em ambiente de quase insustentável tensão. A RDA boicotou-os pura e simplesmente. Quando a China comunista, que acabaria por não comparecer, foi aceite a Formosa bateu em retirada. Foi a estreia da URSS nos Jogos Olímpicos mas os seus dirigentes avisaram que não ficariam alojados em espaço onde estivessem «os americanos e os seus lacaios capitalistas»! Construiu-se então, em frenesim, uma aldeia alternativa, em Otaniemi, a oito quilómetros de Helsínquia, onde se instalaram todos os países da cortina de ferro. Este claríssimo desrespeito pelo espírito olímpico foi, com alguma surpresa, sancionado pelo COI. Nas semanas que antecederam a abertura dos Jogos da XV Olimpíada, viveu-se a angústia da iminência de guerra nuclear. O truculento general MacArthur, esse mesmo que chefiara a equipa americana aos Jogos Olímpicos de Amesterdão mandara arrombar as portas do estádio para permitir que os seus atletas se treinassem na nova e bem guardada pista de atletismo, ameaçara despejar o seu arsenal atómico sobre a China, face ao apoio cada vez mais declarado de Mao Tsé Tung à Coreia do Norte. Assim se chegou a 19 de Julho de 1952. O dia por que Erik von Frenckel esperara pacientemente havia tanto tempo. Depois de ter visto o Estádio Olímpico que prepara para 1940 ser destruído pela invasão soviética. A escassos minutos do iníco da cerimónia de abertura jogou o último trunfo. Que guardara ciosamente. Chuviscava ao de leve... Após o desfile das equipas apareceu em cena, de facho na mão, um cinquentão já a atirar para o gordinho, um pouco careca até. Era Paavo Nurmi. A apoteose.
Nem um móvel para o troféu
Saltando de uma categoria para outra, entre 1946 e 1965 Sugar Ray Robinson dominou as lides a bel-prazer, foi sempre detentor de pelo menos um dos dois títulos médio ou meio-médio. Só falhou uma aposta quando, em 1952, combateu pelo título de meios-pesados, baqueando ante Joey Maxim. E foi então que, perante público em lágrimas, anunciou a reforma... Três anos depois regressou à liça, precisava de dinheiro, foi perdendo e recuperando coroas, 10 das suas derrotas são dessa época em perda de fulgor, apenas em 1965 de despediria em definitivo. Quando o Madison Square Garden, em Nova Iorque, se encheu para a cerimónia do adeus Sugar Ray já não tinha sequer um móvel onde colocar o troféu que lhe depositaram em mãos. Arruinara-se, os bens perdidos, hipotecados, sem hipótese de resgate.
Cadillac rosa, anão de mascote
Envolvera-se em múltiplos negócios, fatalmente sem sucesso, um clube nocturno em Harlem, chamado Sugar Ray\'s, uma lavandaria, uma barbearia, uma loja de lingerie. Mas, como o seu lema era «o dinheiro fez-se para gastar e para nos dar da vida apenas bons bocados», deu no que deu. Nos tempos áureos prazeres de sibarita e outras bizarrias esfanicaram-lhe a fortuna. Por exemplo, passeava-se pelas ruas de Nova Iorque ao volante de um Cadillac rosa-flamingo, nas diversas digressões, sobretudo à Europa, fazia-se sempre acompanhar pelo velho treinador Gainford, a família quase em peso, um criado, um barbeiro e um anão (de carne e osso) que era sua mascote.