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1914 Sporting-Benfica com cenas lamentáveis nas barbas do Presidente da República
Bolas para fora, risotas, invasão e carga policial
Talvez tenha sido o primeiro grande escândalo do futebol português. O Sporting sagrara-se campeão de Lisboa em 1914 e no ano seguinte juntaria ao título (que tinha então o valor simbólico de um campeão de Portugal por se considerar que a hegemonia do futebol se centrava na capital) a segunda edição na Taça de Honra da Associação de Futebol de Lisboa. Na final, marcada para 4 de Junho no Estádio de Lisboa, propriedade de José Alvalade (e já não do Sporting, com quem estava em rota de colisão), o Benfica. A Direcção da AFL procurou dar-lhe ambiente de jornada grandiosa, espectacular, extraordinária. Por isso convidou o Chefe de Estado e alguns ministros, que compareceram, solicitando também ao Carcavelos que convencesse o seu mítico jogador Henry Frood a arbitrar a partida. O Sporting, tendo beneficiado da vantagem de um vento fortíssimo em toda a primeira parte, chegou ao intervalo a vencer por 1-0, decidindo no segundo tempo defender o resultado com recurso ao lançamento de bolas para fora. Na crónica do Sport de Lisboa, para além de se verberar o comportamento de Boaventura da Silva e Artur José Pereira (dois dos dissidentes do Benfica) por «utilizarem o sistema sem rebuço, rindo de si próprios e da sua proeza, voltando-se para fora do terreno de jogo e mandando a bola para cima do público que os apupava», censura-se Jorge Vieira, «um dos seus defesas, que fazia ainda pior: corria sobre a bola já saída do campo e, em vez de a amparar para a restituir ao juiz de linha, que a reclamava de bandeira erguida ao alto, chutava-a para o horizonte distante, por sobre esse público escarnecido, que silvava de indignação». E, amargurado, o cronista rematou: «É evidente que o público que pagou não podia assistir, sem violento protesto, a semelhante burla e acabou por invadir o campo, incitando os jogadores do Sport Lisboa e Benfica a abandonar o campo. Deu-se, então, a única nota consoladora dessa tarde de ruína para o futebol nacional: os jogadores do Sport Lisboa e Benfica ficaram no seu lugar, cumprindo o seu dever desportivo até ao fim e utilizando o prestígio da sua popularidade para restabelecer a ordem, o que só se conseguiu depois de várias cargas de cavalaria. Só um homem do Benfica teve a fraqueza de sair aquele que mais imperioso tinha o dever de ficar, o velho Henrique Costa, seu capitão actual. Como ele deve estar, a esta hora, repeso do seu mau impulso! Ele que tão bem sabe que as primeiras qualidades de um capitão são a serenidade e a calma.» Henrique Costa foi suspenso por dois meses e destituído das funções de capitão pela Direcção do Benfica, a AFL puniu-o com cinco meses de castigo, mas pouco depois a Direcção do Benfica amnistiá-lo-ia, restituindo-lhe o cargo de capitão. A Associação é que não...
Bolas para fora, risotas, invasão e carga policial
Talvez tenha sido o primeiro grande escândalo do futebol português. O Sporting sagrara-se campeão de Lisboa em 1914 e no ano seguinte juntaria ao título (que tinha então o valor simbólico de um campeão de Portugal por se considerar que a hegemonia do futebol se centrava na capital) a segunda edição na Taça de Honra da Associação de Futebol de Lisboa. Na final, marcada para 4 de Junho no Estádio de Lisboa, propriedade de José Alvalade (e já não do Sporting, com quem estava em rota de colisão), o Benfica. A Direcção da AFL procurou dar-lhe ambiente de jornada grandiosa, espectacular, extraordinária. Por isso convidou o Chefe de Estado e alguns ministros, que compareceram, solicitando também ao Carcavelos que convencesse o seu mítico jogador Henry Frood a arbitrar a partida. O Sporting, tendo beneficiado da vantagem de um vento fortíssimo em toda a primeira parte, chegou ao intervalo a vencer por 1-0, decidindo no segundo tempo defender o resultado com recurso ao lançamento de bolas para fora. Na crónica do Sport de Lisboa, para além de se verberar o comportamento de Boaventura da Silva e Artur José Pereira (dois dos dissidentes do Benfica) por «utilizarem o sistema sem rebuço, rindo de si próprios e da sua proeza, voltando-se para fora do terreno de jogo e mandando a bola para cima do público que os apupava», censura-se Jorge Vieira, «um dos seus defesas, que fazia ainda pior: corria sobre a bola já saída do campo e, em vez de a amparar para a restituir ao juiz de linha, que a reclamava de bandeira erguida ao alto, chutava-a para o horizonte distante, por sobre esse público escarnecido, que silvava de indignação». E, amargurado, o cronista rematou: «É evidente que o público que pagou não podia assistir, sem violento protesto, a semelhante burla e acabou por invadir o campo, incitando os jogadores do Sport Lisboa e Benfica a abandonar o campo. Deu-se, então, a única nota consoladora dessa tarde de ruína para o futebol nacional: os jogadores do Sport Lisboa e Benfica ficaram no seu lugar, cumprindo o seu dever desportivo até ao fim e utilizando o prestígio da sua popularidade para restabelecer a ordem, o que só se conseguiu depois de várias cargas de cavalaria. Só um homem do Benfica teve a fraqueza de sair aquele que mais imperioso tinha o dever de ficar, o velho Henrique Costa, seu capitão actual. Como ele deve estar, a esta hora, repeso do seu mau impulso! Ele que tão bem sabe que as primeiras qualidades de um capitão são a serenidade e a calma.» Henrique Costa foi suspenso por dois meses e destituído das funções de capitão pela Direcção do Benfica, a AFL puniu-o com cinco meses de castigo, mas pouco depois a Direcção do Benfica amnistiá-lo-ia, restituindo-lhe o cargo de capitão. A Associação é que não...