H
hast
Guest
1908 Jogos Olímpicos de Londres
Dorothea Lambert Chambers na defesa do corpo tapado
Dura de olhar gélido
Foi a grande dominadora do ténis feminino antes da I Guerra Mundial. E do advento fulgurante de Suzanne Lenglen. Dorothea Lambert Chambers nasceu em 1878 e ganhou Wimbledon por sete vezes entre 1903 e 1914 mais não foram porque, entretanto, estoirou a guerra. Era mulher de olhar gélido e personalidade dura que contestava todos aqueles que pretendiam já fazer dos courts espaços de atmosfera festiva. Por isso jogava sempre de branco vestido comprido e botas altas, para que do «corpo só se visse o rosto, as mãos e pouco mais». O seu grande trunfo era a precisão de jogo de fundo de court e uma concentração de cientista. «Para se ganhar no ténis é preciso mergulhar a cabeça no jogo. Olhos, mente e mãos tudo isso tem de trabalhar em conjunto, numa perfeita sintonia» era, repetida vezes sem conta, a receita do seu sucesso. Há casos assim: tendo ganho tudo o que tinha para ganhar, o seu jogo (mais) histórico acabou por ser um dos poucos que perdeu. Era a final de Wembley de 1919, Dorothea estava já a caminho dos 41 anos, mãe de dois filhos, e coube-lhe enfrentar a francesa Suzanne Lenglen, tão ousada nas roupas e nas maquilhagens como nos golpes. Ao terceiro set já Suzanne se mostrava extenuada, milagrosamente salvou-se dos match points e acabou por ganhar. Dizem historiadores vários que dificilmente haverá outro dia assim, os espectadores de pé, as palmas incessantes quer para uma quer para outra. Mais sete anos jogaria Chambers. Despediu-se do ténis de competição em 1926, falecendo 34 anos depois, com 82.
Os triplos campeões
Triplos campeões olímpicos apenas dois. Melvin Sheppard no atletismo (800, 1500 e estafeta olímpica) e Henry Taylor na natação. Reginald Edgar Walker tornou-se, em representação da África do Sul, o primeiro africano a ganhar medalha de ouro, graças à sua vitória nos 100 metros...
Patinagem unissexo
Londres marcou abertura mais acentuada às mulheres. Para além de se manter o tiro com arco, reintroduziu-se o ténis, cabendo a vitória a Dorothea Lambert Chambers e abriu-se reduto à patinagem artística, cabendo a medalha de ouro a Florence Syers (Grã-Bretanha). Nos homens a vitória pertenceu ao sueco Ulrich Salchow.
Feminista, Eduardo VII e... Salchow
Em Londres houve patinagem artística para homens e mulheres. O campeão foi o sueco Ulrich Salchow, que criou um salto que rasgaria toda a história com o seu nome: em duas ou três voltas a rodopiar pelo ar. Para além da medalha de ouro, dez títulos mundiais e oito europeus. Em Antuérpia, tinha ele 43 anos, com a especialidade outra vez integrada no programa olímpico, Ulrich, que se aposentara havia muito, tentou de novo a sorte e ainda foi quarto classificado. A campeã olímpica individual foi Madge Syers-Cave, autêntica feminista antes da explosão delas. Em 1902 o Campeonato Mundial de patinagem artística disputou-se em Londres; como descobriu que nada nos regulamentos a impedia de competir entre homens, fê-lo e só Ulrich Salchow lhe ganhou. O rei Eduardo VII ficou tão deslumbrado com a sua actuação que não calou o desabafo, truculento: «Só não venceu por ser mulher.» E disponibilizou-se a ajudar Madge na luta pela introdução imediata de provas femininas nos programas de patinagem. O primeiro Mundial foi em 1906, arrebatou-o, revalidou o título no ano seguinte, ganhou a medalha de ouro em Londres e, formando dupla com o próprio marido, a de bronze em pares.
Conde de Penha Garcia teve de fugir de Portugal
À espada com Afonso Costa
O conde de Penha Garcia foi o primeiro grande dirigente desportivo de Portugal. Ou aquele que depressa assegurou projecção internacional incontornável. Em 1892 frequentou, em Paris, a École Livre des Sciences Politiques, exactamente a mesma que, uma década antes, formara Coubertin. Mal regressou a Lisboa ajudou a fundar a União Velocipédica de Portugal, primeira federação desportiva a erguer-se no plano nacional. Foi presidente do Centro Nacional de Esgrima e mais tarde da Federação Portuguesa de Esgrima. Em 1909 tornou- -se presidente da Sociedade Promotora de Educação Física Nacional, que entretanto fundara, lançando no ano seguinte a ideia da organização dos Jogos Olímpicos Nacionais. Como servidor convicto da casa real chegou a bater-se em duelo (e verdadeiramente à espada!) com o dr. Afonso Costa para defender a honra do rei D. Carlos, ultrajada por um dos mais renomados membros do Partido Republicano. Com a revolução de 5 de Outubro foi obrigado a exilar-se e, apesar do seu passado de monárquico fanático, ninguém ousou, mesmo quando o COP foi fundado, já durante a república, afastá-lo do cargo que manteve até 25 de Abril de 1940, quando morreu: representante de Portugal no COI. É que, para além do mais, o conde era um dos grandes amigos e conselheiros de Coubertin...
Lázaro, a primeira maratona.
Estas sim, foi a primeira maratona, de facto, disputada em Portugal. Antes houve corridas assim denominadas mas de distâncias bem inferiores a 42 quilómetros. Organizada pelo jornal Tiro e Sport em 1910, teve como vencedor Francisco Lázaro, com o tempo de 2.57.35 horas, deixando o segundo classificado, Matias de Carvalho, a mais de 35 minutos! Para além da maratona também o crosse dera os primeiros passos. A primeira prova foi levada a efeito pela Liga Sportiva de Trabalhos Atléticos a 7 de Maio de 1911, no campo do Lumiar, tendo participado oito equipas.
Os Jogos Olímpicos... Nacionais
A organização em Junho de 1910 dos Jogos Olímpicos Nacionais, sob a égide da Sociedade Promotora de Educação Física Nacional (SPEFN), por sugestão do seu presidente, conde de Penha Garcia, foi uma autêntica pedrada no charco da mediocridade do desporto nacional. Constituíram para algumas modalidades, entre as quais o atletismo de pista, o verdadeiro big bang! ou o início da contagem do tempo! , passando até a homologar-se marcas, criar-se listas de records e campeões. Seis meses depois a monarquia caía e a SPEFN, apesar de perder o presidente, que teve de exilar-se, ficando o vice Mauperrin dos Santos a dirigi-la até à sua morte, em 1913, conseguiu manter o ritmo de funcionamento.
Dorothea Lambert Chambers na defesa do corpo tapado
Dura de olhar gélido
Foi a grande dominadora do ténis feminino antes da I Guerra Mundial. E do advento fulgurante de Suzanne Lenglen. Dorothea Lambert Chambers nasceu em 1878 e ganhou Wimbledon por sete vezes entre 1903 e 1914 mais não foram porque, entretanto, estoirou a guerra. Era mulher de olhar gélido e personalidade dura que contestava todos aqueles que pretendiam já fazer dos courts espaços de atmosfera festiva. Por isso jogava sempre de branco vestido comprido e botas altas, para que do «corpo só se visse o rosto, as mãos e pouco mais». O seu grande trunfo era a precisão de jogo de fundo de court e uma concentração de cientista. «Para se ganhar no ténis é preciso mergulhar a cabeça no jogo. Olhos, mente e mãos tudo isso tem de trabalhar em conjunto, numa perfeita sintonia» era, repetida vezes sem conta, a receita do seu sucesso. Há casos assim: tendo ganho tudo o que tinha para ganhar, o seu jogo (mais) histórico acabou por ser um dos poucos que perdeu. Era a final de Wembley de 1919, Dorothea estava já a caminho dos 41 anos, mãe de dois filhos, e coube-lhe enfrentar a francesa Suzanne Lenglen, tão ousada nas roupas e nas maquilhagens como nos golpes. Ao terceiro set já Suzanne se mostrava extenuada, milagrosamente salvou-se dos match points e acabou por ganhar. Dizem historiadores vários que dificilmente haverá outro dia assim, os espectadores de pé, as palmas incessantes quer para uma quer para outra. Mais sete anos jogaria Chambers. Despediu-se do ténis de competição em 1926, falecendo 34 anos depois, com 82.
Os triplos campeões
Triplos campeões olímpicos apenas dois. Melvin Sheppard no atletismo (800, 1500 e estafeta olímpica) e Henry Taylor na natação. Reginald Edgar Walker tornou-se, em representação da África do Sul, o primeiro africano a ganhar medalha de ouro, graças à sua vitória nos 100 metros...
Patinagem unissexo
Londres marcou abertura mais acentuada às mulheres. Para além de se manter o tiro com arco, reintroduziu-se o ténis, cabendo a vitória a Dorothea Lambert Chambers e abriu-se reduto à patinagem artística, cabendo a medalha de ouro a Florence Syers (Grã-Bretanha). Nos homens a vitória pertenceu ao sueco Ulrich Salchow.
Feminista, Eduardo VII e... Salchow
Em Londres houve patinagem artística para homens e mulheres. O campeão foi o sueco Ulrich Salchow, que criou um salto que rasgaria toda a história com o seu nome: em duas ou três voltas a rodopiar pelo ar. Para além da medalha de ouro, dez títulos mundiais e oito europeus. Em Antuérpia, tinha ele 43 anos, com a especialidade outra vez integrada no programa olímpico, Ulrich, que se aposentara havia muito, tentou de novo a sorte e ainda foi quarto classificado. A campeã olímpica individual foi Madge Syers-Cave, autêntica feminista antes da explosão delas. Em 1902 o Campeonato Mundial de patinagem artística disputou-se em Londres; como descobriu que nada nos regulamentos a impedia de competir entre homens, fê-lo e só Ulrich Salchow lhe ganhou. O rei Eduardo VII ficou tão deslumbrado com a sua actuação que não calou o desabafo, truculento: «Só não venceu por ser mulher.» E disponibilizou-se a ajudar Madge na luta pela introdução imediata de provas femininas nos programas de patinagem. O primeiro Mundial foi em 1906, arrebatou-o, revalidou o título no ano seguinte, ganhou a medalha de ouro em Londres e, formando dupla com o próprio marido, a de bronze em pares.
Conde de Penha Garcia teve de fugir de Portugal
À espada com Afonso Costa
O conde de Penha Garcia foi o primeiro grande dirigente desportivo de Portugal. Ou aquele que depressa assegurou projecção internacional incontornável. Em 1892 frequentou, em Paris, a École Livre des Sciences Politiques, exactamente a mesma que, uma década antes, formara Coubertin. Mal regressou a Lisboa ajudou a fundar a União Velocipédica de Portugal, primeira federação desportiva a erguer-se no plano nacional. Foi presidente do Centro Nacional de Esgrima e mais tarde da Federação Portuguesa de Esgrima. Em 1909 tornou- -se presidente da Sociedade Promotora de Educação Física Nacional, que entretanto fundara, lançando no ano seguinte a ideia da organização dos Jogos Olímpicos Nacionais. Como servidor convicto da casa real chegou a bater-se em duelo (e verdadeiramente à espada!) com o dr. Afonso Costa para defender a honra do rei D. Carlos, ultrajada por um dos mais renomados membros do Partido Republicano. Com a revolução de 5 de Outubro foi obrigado a exilar-se e, apesar do seu passado de monárquico fanático, ninguém ousou, mesmo quando o COP foi fundado, já durante a república, afastá-lo do cargo que manteve até 25 de Abril de 1940, quando morreu: representante de Portugal no COI. É que, para além do mais, o conde era um dos grandes amigos e conselheiros de Coubertin...
Lázaro, a primeira maratona.
Estas sim, foi a primeira maratona, de facto, disputada em Portugal. Antes houve corridas assim denominadas mas de distâncias bem inferiores a 42 quilómetros. Organizada pelo jornal Tiro e Sport em 1910, teve como vencedor Francisco Lázaro, com o tempo de 2.57.35 horas, deixando o segundo classificado, Matias de Carvalho, a mais de 35 minutos! Para além da maratona também o crosse dera os primeiros passos. A primeira prova foi levada a efeito pela Liga Sportiva de Trabalhos Atléticos a 7 de Maio de 1911, no campo do Lumiar, tendo participado oito equipas.
Os Jogos Olímpicos... Nacionais
A organização em Junho de 1910 dos Jogos Olímpicos Nacionais, sob a égide da Sociedade Promotora de Educação Física Nacional (SPEFN), por sugestão do seu presidente, conde de Penha Garcia, foi uma autêntica pedrada no charco da mediocridade do desporto nacional. Constituíram para algumas modalidades, entre as quais o atletismo de pista, o verdadeiro big bang! ou o início da contagem do tempo! , passando até a homologar-se marcas, criar-se listas de records e campeões. Seis meses depois a monarquia caía e a SPEFN, apesar de perder o presidente, que teve de exilar-se, ficando o vice Mauperrin dos Santos a dirigi-la até à sua morte, em 1913, conseguiu manter o ritmo de funcionamento.