Estórias da nossa história

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
3,319
16
A geração de 50 foi uma geração notável que foi odiada por Lisboa! Os dois títulos de 55-56 e de 58-59 foram arrancados a ferros com o último a protagonizar as famosas cenas do Inclassificável Calabote! É bom que se recordem os jogadores mais importantes dessas gestas a que se juntaram duas taças de Portugal!
Pinho, Acúrcio,Virgílio, Barbosa, Miguel Arcanjo, Monteiro da Costa, Pedroto, Hernâni, Carlos Duarte, Jaburu, Perdigão, Noé, Teixeira, Cambalacho entre outros. De destacar os nomes de Hernâni um dos maiores de sempre, Pedroto, Virgílio e o grande Jaburu tão esquecido das hostes portistas!Como disse foram estes herois entre outros que terminaram com a hegemonia BSB (Benfica, Sporting, Belenenses).Claro que no ciclismo também marcamos pontos com o Fernando Moreira, Dias dos Santos, o Fernando Moreira de Sá, o Luciano Sá, o Mário Sá, o Carlos Carvalho e o Sousa Santos!
 
H

hast

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Caro jsm, tenho o prazer de conhecer pessoalmente o Fernando Moreira de Sá. O homem tem histórias que nunca mais acabam.
 
H

hast

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Tonelada de sabão e muitas mágoas

Quando um portista entrava em campo levava 500 escudos em equipamento, mas entrava quase condenado os insucesso. Só no andebol não...

Luís Ferreira Alves, presidente eleito do F. C. Porto em Setembro de 1943, tentou reacender a chama. Renovando a equipa de futebol e abrindo campanha de captação de sócios. Com sucesso. Assim, apenas durante o mês de Janeiro de 1944, o F. C. Porto conseguiu passar o seu quadro de associados de 1800 para mais de 4000! O F. C. Porto revalidou o Campeonato do Porto, no Campeonato da I Divisão apenas alguns lampejos, mas já não a humilhação do ano anterior: quarto lugar, com 22 pontos, a um do Atlético, a três do Benfica, a oito do Sporting (que, assim, logrou a maior diferença de sempre até em relação ao segundo classificado). Os portistas averbaram 10 vitórias, 3 empates e 5 derrotas — com o Sporting (1-3 na Constituição e 0-2 no Lumiar), com o Benfica (3-6), com o Olhanense (2-4) e com o Belenenses (0-4).
Um sinal de esperança: a eliminação do Sporting, para os oitavos-de-final da Taça de Portugal — depois de vitória por 2-0, no Lima, empate a três no Lumiar. Mas a decepção logo de seguida: no Lima, contra o Estoril, campeão da II Divisão, cuja «estrela» era... Petrak, derrota por 2-3. Na Amoreira, nova derrota: 1-2. Muitas queixas do árbitro (para não variar...) e da falta de sorte. Para compensar as agruras do futebol, o andebol seguia de vento em popa. E batendo o Sporting, em Lisboa, por 4-2, o F. C. Porto sagrava-se, pela sexta vez consecutiva, campeão nacional de andebol... E, em 1945, mais um título conquistado por Teixeira, Miguel, Raul, Teófilo Tuna, Pichel, Reis, Albano, Guerra, Prazeres, Henrique Fabião e Gomes da Costa. Os andebolistas eram o orgulho do F. C. Porto. A secção gastava pouco mais de 10 contos por ano, numa altura em que o futebol andava já por mais de 700. E as receitas do andebol ultrapassavam os cinco contos... Por essa altura, o F. C. Porto gastava cerca de 1000 quilos de sabão por ano e mais de cinco milhões de litros de água. Pinga, por exemplo, quando entrava em campo levava equipamento de valor aproximado a 500 escudos: camisola de 80 escudos, calção de 35, trousse de 55, caneleiras de 40, meias de 30, peúgas de 10, ligaduras de 32 e botas de 200 escudos! E Barrigana, por exemplo, guarda-redes que o Sporting cedera ao F. C. Porto, depois de o ter contratado aos Onze Unidos do Montijo, para além disso, levava mais joelheiras de 220 escudos, cotoveleiras de 40 e boné de igual valor.
Ou seja: assim, o guarda-roupa desportivo do F. C. Porto estava, por essa altura, avaliado em cerca de 100 contos.
Mais uma nota: anualmente, as despesas com assistência médica aos atletas (médico, massagista, medicamentos, fortificantes, injecções, radiografias...) montava a cerca de 60 contos.
E a crise financeira continuava a deixar os jogadores e os adeptos do F. C. Porto escabujando de angústia, sentindo que o fulgor dos anos anteriores se esvaíra. E esvaíra-se, de facto...
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
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Acredito caro hast acredito! O meu pai conheceu o Fernando Moreira e também me conta coisas do arco da velha...Quando estiveres com o Moreira de Sá dá-lhe um abraço da minha parte embora não o conheça pessoalmente!
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
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O Pinho foi posto a titular pelo Yustrich. Era um guarda-redes baixo e não parecia dotado para grandes aventuras mas foi campeão duas vezes. Tirou o lugar ao Barrigana na famosa limpeza de balneário que o Yustrich fez na altura. Outros que caíram foram o Porcel e o Carvalho. Estes três jogadores acabaríam no Salgueiros. De facto o regresso do Flávio Costa não muito auspicioso e a época do 65-66 para não variar nada trouxe de novo a não ser o grande Pavão. A geração de 60/70 foi muito causticada pela falta de títulos e no entanto havia jogadores de valia na equipa. Para além do Pavão, o Rolando, o Pinto, o Nóbrega, o Djalma, mais tarde o Flávio, o Abel e ainda o Cubillas pouco depois do mundial de 70.
 
H

hast

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Yustrich e Hernâni em combate de boxe



Era tarde fria e cinzenta de Janeiro. O F. C. Porto acabara de golear o Oriental, por 5-0. Yustrich mandou os seus pupilos agradecer ao público o apoio que este lhes tinha dado. Todos cumpriram a ordem menos Hernâni, que, se calhar por sentir que não haveria razão para tal, teria dito que não estava para alimentar as palhaçadas do treinador, com quem mantinha relações frias e fricções ardentes havia muito. E, só, encaminhou-se para o túnel de acesso aos balneários. Yustrich, furibundo, foi em seu encalço. Altercação! E, de súbito, houve quem se apercebesse de que, daquela vez, entre Hernâni e Yustrich havia mais que uma azeda troca de palavras. O mineiro segurava o avançado pelo pescoço, com o braço esquerdo, socando-o com o punho direito. Tentava Hernâni desenvencilhar-se da prisão, distribuindo caneladas, e quando conseguiu, enfim, libertar-se da tenaz do braço esquerdo de Yustrich vibrou-lhe um soco, ferindo-o no sobrolho! Já na cabina, o treinador pegou numa balança, tentando dar com ela no jogador que se rebelara contra o seu nepotismo. O dirigente Dias Leite mandou-o sair. Yustrich foi suspenso das suas funções, sendo de imediato substituído por José Valle, treinador adjunto. E, surpreendentemente, gerou-se solidariedade brasileira no plantel: Osvaldo Silva, Zuca e Lito passeavam-se pelas ruas do Porto à hora em que decorria o primeiro treino depois do incidente. Só Gastão lá fora. Arrepiariam caminho, depois, pedindo desculpa...

Mas Yustrich tinha adeptos vários no Porto, que chegaram mesmo a arregimentar-se no sentido de se manifestarem nas Antas, com cartazes e tarjas e tarjetas com as letras do seu apoio: «Queremos Yustrich.»

...E começou a decorrer o inquérito aos incidentes, sob a responsabilidade de Tamagnini Barbosa. E, de surpresa em surpresa, a 6 de Fevereiro, 15 dias após os incidentes do túnel, a Direcção do F. C. Porto, presidida por Paulo Pombo, levantou a suspensão de Yustrich e de Hernâni, para mês e meio depois, já na posse dos dados do inquiridor, afastar, definitivamente, Yustrich do cargo de treinador e multar Hernâni em dois meses de subsídio. No final do desafio com o Sporting de Braga, o seu último jogo como técnico do F. C. Porto, estranhamente ou talvez não, Yustrich percorreu a pista, acenando ao público com um lenço, ante palmas que estrugiam!

E ficaria a saber-se que entre Agosto de 1957 e 31 de Março de 1958 o clube gastara com o ferrabrás mineiro 717 contos, cerca de 90 contos por mês, estando incluídos nesse montante 135 contos de dívidas contraídas por Yustrich quando da sua primeira estada nas Antas.
 
H

hast

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Polícia a cavalo e treinador morto

Em 1945, a Taça poderia ter sido salvação de época, mas os portistas acabaram vítimas de treinador que pouco depois seria misteriosamente assassinado

As agruras não se venciam nos campos de futebol que outrora tinham sido de sucesso. Os dirigentes do F. C. Porto, com os sobrolhos sempre carrancudos de mágoa e revolta, insistiam em culpar os árbitros e os «poderes perversos de Lisboa», com as suas jigajogas de bastidores, do transe por que estavam passando. Quando, em Janeiro de 1945, Cesário Bonito foi eleito presidente do F. C. Porto o ambiente mantinha-se assim. Lazarento. E para o pustular mais, de uma assentada, duas pesadas derrotas: 2-6 com o Belenenses, no Lima, 4-5 com o Sporting, no Lumiar. Mas, porque a desgraça humaniza, foi de sorriso nos lábios que os portistas se deslocaram a Braga, em lance de solidariedade — para jogo a favor das crianças francesas vítimas da II Grande Guerra. O F. C. Porto venceu o Sporting de Braga por 3-2 e arrecadaram-se pouco menos de 100 contos...
Seguiu a farândola. Em contrapé. Outra vez para o «Nacional» da I Divisão, derrota com o Guimarães (0-3) e empate, no Lima, com o Estoril. Pelo que, sem espanto, em Março José Szabo assumiu o comando técnico do F. C. Porto. Era o regresso de um mito, quiçá a tentativa desesperada de salvar a época através da Taça de Portugal, que no Campeonato a desgraça era já irremediável. Na última jornada o sinal do que fora, afinal, a campanha toda: derrota com o Benfica, por... 2-7, 4.º lugar, a 10 pontos dos campeões, que fizeram de mais euforia a sua festa com essa histórica goleada no Campo Grande.
...Mas ainda havia a Taça de Portugal para disputar. E a ilusão de que pudesse ser a salvação da época. Mais se aqueceu o sonho quando, a 15 de Abril, o F. C. Porto empatou, no Lumiar, com o Sporting. Foi apenas um efémero rastilho de esperança, já que, uma semana volvida, os sportinguistas, treinados por Cândido de Oliveira, venceram, no Lima, por 4-1.


A polícia a cavalo e o fair play do Sporting

As desilusões descontrolam. E escaramuçam. Por isso, quando os sportinguistas já faziam a festa, antes sequer do apito final do árbitro, adeptos portistas, em zumbideira infernal, invadiram o campo, a polícia a cavalo só a custo conseguiu evitar que a granada explodisse e o sangue escorresse. Debandaram os «arruaceiros», clamou-se, nos jornais, pela necessidade de colocação de grades à volta do campo, a DGD decidiu interditar o Campo do Lima a jogos do F. C. Porto e abriu inquérito. Houve logo quem, em Lisboa, sorrisse cinicamente do «castigo exemplar» que se esperava. Afinal, acabou por provar-se que o clube não tivera (antes pelo contrário) qualquer acção ou qualquer responsabilidade na desordem e propôs-se, através de... Salazar Carreira, então inspector-geral dos Desportos, à FPF o levantamento de todas as sanções ao F. C. Porto.
A talho de foice, não deixou de ser sintomática uma nótula publicada no «Boletim do Sporting» a respeito dos incidentes do Lima e, sobretudo, da relevação do castigo: «Foi levantada a interdição do campo de jogos do F. C. Porto. Nenhum ressentimento ficou no Sporting para com o F. C. Porto dos lamentáveis factos ocorridos no segundo jogo com aquele clube. Não teve o F. C. Porto culpa alguma desses factos e não estava na sua mão evitá-los. Por isso o Sporting se regozija com a decisão tomada pela FPF e que vem facilitar ao F. C. Porto o problema das suas práticas desportivas. Isso porém não nos impede de recordar com mágoa a atitude de uma grande parte da população desportiva da cidade do Porto que, sem ter hostilizado a equipa do Sporting, a obrigou, no entanto, a permanecer por largo tempo no meio campo, por lhe ter vedado a saída numa atitude vexatória e imprópria de desportistas, como imprópria de desportistas foi a atitude dessa gente que os cercava. Atirados esses factos para o rol dos esquecidos, só desejamos que de futuro os desportistas portuenses saibam receber a equipa do Sporting como a do F. C. Porto costuma ser recebida no seu campo.»


Szabo recebia menos 300$00 que o treinador assassinado

E assim arrancou o Sporting, treinado por Joaquim Ferreira, para a final ante o Olhanense, que ganharia através de um golo muito polémico de Jesus Correia. Seria, desgraçadamente, o último momento de glória de Joaquim Ferreira, que substituíra Szabo no comando técnico dos sportinguistas a troco de 1800 escudos por mês, mais 300 escudos do que Szabo recebia, então, no F. C. Porto. Alguns dias depois da final, Joaquim Ferreira seria barbaramente assassinado, pela caligem da noite, no Parque Eduardo VII, em Lisboa.
 
H

hast

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\"Joaquim Ferreira seria barbaramente assassinado, pela caligem da noite, no Parque Eduardo VII, em Lisboa.\"

Naqueles tempos, já não se «brincava em serviço». Já em 1925 o Velez tinha sido assassinado com 4 tiros.
 
H

hast

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Szabo, insultos, mulheres, cigarros...

Szabo aceitou 1500 escudos por mês para treinar o F. C. Porto. Manteve os métodos insólitos, os insultos, o charuto havano – e, sobretudo, a doentia obsessão das «mulieres»

Como Szabo fora contratado em assumida aposta de futuro e não em jeito de desesperada procura de santo milagreiro, os dirigentes do F. C. Porto não se preocuparam muito com a desilusão (mais uma...) da Taça de Portugal. Exigiram-lhe, apenas, que tentasse recolocar o clube em rota de sucesso, apesar das limitações monetárias para contratar grandes jogadores, já que sobrevivia a crise. Um exemplo: os gastos com a Secção de Futebol do Sporting, por essa época, tinham já ultrapassado os 1000 contos; os portistas tinham o orçamento de despesas com um plafond de 800 — e ultrapassá-lo poderia ser a... bancarrota. Por isso, as contratações foram parcas: José Szabo Jr. — guarda-redes, filho do treinador, cujo destino seria tragicamente cortado: era uma promessa, mas um atropelamento deixá-lo-ia inutilizado — Armando e Joaquim Machado. Mantinham- -se no plantel Barrigana, Guilhar, Correia Dias, Pinga, Catolino, Pocas, Araújo, Lourenço, Falcão, Francisco, Andrade, Alvarenga, Álvaro, Faria, Toninho, Diógenes Boavida, Zeca, Cereja, Camilo, Romão, Falcão... A Direcção portista, presidida por Cesário Bonito, aquiescera ao treinador a utilização dos seus reconhecidos métodos cesarianos de acção, que impusera no Sporting com sucesso... Era uma autêntico polícia de costumes. Não permitia que os jogadores solteiros... fumassem, obrigando-os a tratar os casados por... senhores. Cinco minutos de atraso na chegada aos treinos, que se faziam logo de manhãzinha, equivaliam a 10 por cento de multa sobre o ordenado mensal. Szabo, que nunca largava de mão um cronómetro suíço que era para si amuleto e, amiúde, orientava treinos e jogos baforejando fumaças de charuto havano, proibia os seus pupilos que gargarejassem água durante a função, aventando, vezes sem conta: «Sinhores, não beber água fria porque garaganta estar quente e fazer inginhas. Sinhor massagista trazer chá quente para sinhores...»
Mantinha a fama de insultar os jogadores e ofendê-los, amiúde com uma insuportável insolência, incendiando conflitos por vezes insanáveis. Szabo tinha, de facto, um vocabulário... agreste, havendo quem garantisse que, muitas vezes, não sabia o verdadeiro significado das palavras que utilizava e por isso mesmo insultava o próprio filho... indignificando a mulher sem o saber!

«Mandar Bêrnardo às compras»

Utilizava ainda bonecos de madeira para exemplificar as tácticas. A expressão que o caracterizava, que o empolgava, continuava a ser «mandar Bêrnardo às compras» — que significava chutar ao golo...
Antes de se deitar passava por casa de todos os jogadores (quer os solteiros quer os casados), para garantir que não prevaricavam na «malandrice do noite». E passava, como que numa obsessão invencível, a vida a dizer-lhes que a maior praga dos jogadores de futebol eram as «mulieres» — exortando os jogadores casados a entrar em abstinência à quinta-feira, zangando-se com as mulheres!
Fernando Peyroteo, nas suas «Memórias», desvendaria, deliciosamente, essa obsessão de Szabo: «Sexta-feira banho quente e massagem, sábado dê tarde, na sede, têoria-táctica dê jogo sobre tabuleiro, com bonecas e, mais importante, sinhores, ficharem torneira dê nêmoros dê mininas. Atenção, fazer muito mal e precisar canetas para jogo... E casados fazer este: chigar a casa quinta-feira para jantar e dizer suas mulieres quê sopa estar um sucata, arranjar-se uma discussão, fazer zaragata, ir-se deitar zangado com ela, voltar-se lado contrária e só fazer-se pazes sêgundo-feira.»
Isto mesmo disse, vezes sem conta, aos jogadores do F. C. Porto. Era o seu jeito...
in «abola»
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
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A eterna promessa de ocupar com êxito a baliza do grande Américo foi o Rui. Um jogador capaz do melhor e do pior. Foram os anos 60 e 70. Já no fim da sua carreira chegou a campeão nacional quando o dono da baliza era o Fonseca! Hoje o Rui dos anos de chumbo é treinador dos gaurda-redes da formação. Um dos onze antigos jogadores que continuam no clube a transmitir a mística e ela é bem precisa, pois se os anos de glória são importantes serem conhecidos os de chumbo são igulamente fundamentais para que não se esqueça de onde partimos e onde chegamos!
 

fcporto56

Tribuna Presidencial
26 Julho 2006
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Sacramento
> jsm Comentou:

> A eterna promessa de ocupar com êxito a baliza do grande Américo foi o Rui. Um jogador capaz do melhor e do pior. Foram os anos 60 e 70. Já no fim da sua carreira chegou a campeão nacional quando o dono da baliza era o Fonseca! Hoje o Rui dos anos de chumbo é treinador dos gaurda-redes da formação. Um dos onze antigos jogadores que continuam no clube a transmitir a mística e ela é bem precisa, pois se os anos de glória são importantes serem conhecidos os de chumbo são igulamente fundamentais para que não se esqueça de onde partimos e onde chegamos!

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O Rui foi campeao europeu de juniores com o Pedroto a treinador.O Serafim foi a grande estrela dessa equipa.
 
H

hast

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O último diabo do meio-dia.

Pinga despediu-se do futebol, tragicamente, em 1946. Despois de uma operação ao menisco – processo então revolucionário em Portugal.

Era opinião quase unânime: Pinga tornara o futebol um manancial riquíssimo de atitudes cheias de beleza e com a sua classe acendera labaredas de entusiasmo nos campos de Portugal. Só que nem os diamantes são eternos. Em Outubro de 1945, Pinga teve de sujeitar-se a uma (então) complicadíssima operação a um menisco, sendo dos primeiros (senão o primeiro...) futebolistas portugueses a fazê--la, colocando, a caminho da banca do cirurgião, a hipótese de não mais voltar a jogar futebol. E já com saudades no futuro lamentou que o futebol estivesse a perder o encanto do malabarismo que fora sempre o seu trunfo principal, considerando que havia até «internacionais» que mal sabiam dar um pontapé numa bola. Mas o mito criara--se e desenvolvera-se. Nostalgicamente, portistas que ainda rezavam pelo seu regresso defendiam que o futuro estádio do F. C. Porto deveria chamar-se Artur de Sousa (Pinga).
Ingressara no F. C. Porto 15 anos antes, através de um processo súcio que meteu até... falsificação de documentos. Entrou em guerra aberta com o Marítimo, passou cinco meses em trânsito no União Micaelense, de onde saltou para o F. C. Porto, a troco de... 500 escudos por mês, pagos secretamente, por baixo da mesa. Foi esse dinheiro grande que venceu o único empeço — que era do coração: as saudades da mãe. Uma vez apertaram tanto que foi preciso os directores portistas travarem-no já a caminho do Funchal. E com mais alguns escudos, esfriaram-lhe o sentimento.

Pinga sob vigilância médica.

Algum tempo passado, em Janeiro de 1946, Vítor Guilhar, que se tornara esteio da defesa portista, mantendo para além de jogador a sua função de profissional de seguros, dizia num misto de mágoa e ternura: «Pinga fez a operação ao joelho. Quase todos os dias o vou ver. Encontro--o com admirável disposição. Grande jogador este! Cada vez que me lembro... que irá despedir-se daqui por algum tempo. Artur de Sousa é um jogador histórico da vida do meu clube e não pode ser esquecido — nem pelo F. C. Porto nem pelo futebol nacional».
Pinga, então como 36 anos, regressaria, sob apertada vigilância médica, aos campos, em Maio, mas o destino ser-lhe-ia traiçoeiro: vítima de carga maldosa de um adversário, acabaria por despedir-se, inabalavelmente, do futebol, em Julho de 1946.
Nesse dia, emocionado, afirmou: «Creia que dou por bem passados estes 15 anos de jogador da bola no F. C. Porto. Nunca me arrependi. Hoje, chegado o dia de abandonar os campos de jogo, é para mim consolador este ambiente de amizade. Sim, porque não haverá ninguém que sinceramente não goste de se tornar simpático. E digo-lhe com verdade: acostumei-me a estas saudações — chamam-lhe popularidade, não é? — sem vaidade, recebendo--as simplesmente como o prémio à dedicação e entusiasmo que sempre desenvolvi no futebol. Mereço toda esta simpatia do Porto e da sua gente, mereço a amizade dos desportistas da capital, de todo o País, as referências que o estrangeiro me dedicou? É porque cumpri o meu dever de homem e de desportista, atravessando esta vida de desporto com o melhor desejo de comportamento, quer quando enverguei a camisola do meu clube ou simplesmente cá fora, na vida profissional.»

O último Diabo do meio-dia, o futebol-maravilha e a cirrose.

Era o adeus de um dos «três diabos do meio-dia», apodo que ficara do tempo em que o F. C. Porto, jogando contra o First de Viena, então considerada uma das equipas-maravilha da Europa, à hora do almoço, por conveniências (?!) de organização, Pinga, Valdemar e Acácio Mesquita maravilharam o público, destroçando o adversário austríaco, ganhando-lhe. Diabólicos aqueles «internacionais» do F. C. Porto! A bola brincava entre os três de campo a campo e logo Rodrigues Teles, notável jornalista, sentenciaria, na revista «Sporting»: «Foram os três diabos do meio-dia.» Foram. Sobre isso e sobre a maravilhosa tríade disse Pinga: «Nós os três... Aquilo é que era jogar... Que desculpem a vaidade, mas parece-me que nunca mais se arranjam três rapazes da bola tão intimamente ligados a acertarem na borracha. Se até nós, às vezes, nem sabíamos como aquilo era...»
Logo após a despedida, Pinga tornou-se treinador do Tirsense — e não muito depois viveria um momento de glória como nos seus tempos de jogador, ao eliminar da Taça de Portugal o Sporting dos violinos. Passaria ainda, como técnico, pela Sanjoanense e pelo Gouveia, morrendo em 1963, vítima de cirrose
in«abola»
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
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Boa pergunta fcporto 56. Talvez o hast saiba responder...eu pessoalmente não tenho referência a esse facto...
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
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O Américo terá sido com o Siska, o Barrigana, o Mly e o Baía um dos grandes guada redes do nosso clube. No mundial de 66 ele era claramente o melhor dos três guarda redes presentes. Os outros eram o José Pereira do Belenenses e o Carvalho do Sporting. Este último jogou contra a Hungria e não esteve particularente bem. O José Pereira também não parece que tenha sido muito feliz com a Coreia. Assim tudo undicava que o Américo fizesse os restantes jogos. Facto que aliás lhe foi prometido, sabe-se hoje pelo seleccionador Manuel da Luz Afonso e pelo Otto Glória. Mas Lisboa uma vez mais se impôs e foi o José Pereira que terminou os dois jogos, o das meias finais com o Inglaterra e o do 3 e 4 lugares com a URSS. Também nunca se percebeu porque é que com o meio campo tão desgastado o Pinto não solução assim como continua a ser um mistério a não convocatória do Rolando no lugar do José Carlos que se veio a verificar um buraco com a Inglaterra! Coisas da capital do império...
 
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hast

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> fcporto56 comentou: Na altura da morte do Pinga ele era empregado do FCPorto.Nao?

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É verdade fcporto56, quando o Pinga morreu era treinador das camadas jovens do FC PORTO.

http://pfutebol.com/Legends/Artur%20Pinga.htm
 
H

hast

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Boatos, bofetadas, minutos por jogar...

O F. C. Porto entrou no Campeonato de 1945/46 batendo o Atlético por 11-0. Os alcantarenses haveriam de vingar-se na Taça. Mas os portistas tiveram razões de queixa

A tradição cumpriu-se: o F. C. Porto entrou no Campeonato Nacional de 1945/46 fulgurantemente. Duas vitórias de uma assentada e, à terceira jornada, um resultado inimaginável: 11-0 ao Atlético, que no Campeonato de Lisboa lutara de igual para igual com Sporting, Benfica e Belenenses. Correia Dias apontou quatro golos, Araújo três, Lourenço outros três e Antonino um. Era, de novo, a euforia a fervilhar, a crença de que a amargura dos anos que passaram talvez fosse apenas uma variante da felicidade que se advinhava outra vez.
O desfecho desconcertou e foi como que fogo em estopa para especulações várias e boatos. Por exemplo, em Lisboa corria o rumor de que os 11 golos sofridos pelos alcantarenses deveram-se ao facto de o seu guarda-redes, Correia, ter sido preso antes do jogo.
Mas não. E, desfeitos boatos e rumores, ficou a saber-se apenas que acontecera... futebol, mas nem isso impediu que, à chegada a Lisboa, os jogadores do Atlético tivessem ululante recepção para os apequenar e apupar...
Quatro dias depois o F. C. Porto perdeu a invencibilidade, baqueando no Campo Grande ante o Benfica: 0-4. Uma vitória que, de certo modo, serviu para amainar os ventos de tempestade que fustigavam o Campo Grande. Mas foi, sobretudo, a revolta de um homem contra o destino, contra desfeitas que ainda lhe doíam na alma: Teixeira, o famoso... «Gasógeneo», foi a grande figura do Benfica. Vivera um defeso turbulento. Vicente de Melo, que fora tesoureiro do Benfica, para além de... fundador de «A Bola», tentara transferi-lo para o Sporting de Braga, por não admitir que o seu apoderado, que o trouxera dos Açores para brilhar de águia ao peito, tivesse sido esbofeteado pelo treinador Janos Biri. A Direcção do Benfica apenas repreendeu o técnico, o jogador sentiu-se injustiçado, recalcitrou, tomou-se isso à conta de rebeldia a merecer castigo exemplar — e como escarmento os directores deixaram-no sem dinheiro para a comida e quarto — justificando o não pagamento do subsídio com o peregrino argumento de que Teixeira não sabia assinar os recibos!
Vicente de Melo apresentou queixa na DGD. O Benfica ripostou, acusando-o de, em tempo, ter deixado o seu protegido igualmente a pão e água. Defendeu-se o ex-tesoureiro ao ataque: «De facto, há três anos multei Teixeira em mil escudos, por ter faltado às aulas de um professor que arranjara para ensinar os jogadores do Benfica a ler e a escrever. Mas esses mil escudos não incidiam, como agora, sobre os salários, mas no prémio de vitória na Taça de Portugal...»
No Campo Grande como que se abriu boceta de Padora para infernizar os portistas, que já em 1946 permitiram a primeira vitória da Académica no Campeonato. Como se não bastasse, o Olhanense foi ganhar ao Porto por 3-4 e Vítor Guilhar, o bastião da defesa, fracturou um pé.

Os estudos de Gomes da Costa

Gomes da Costa era messianicamente desejado. Não jogava porque estava na universidade. Primeiro estavam os estudos... O Benfica oferecera-lhe «contrato milionário», Disse não. A jogar futebol, só o faria no F. C. Porto...
Da conjugação de todas essas mais ou menos pequenas misérias resultou a angústia ainda mais cruciante no seio dos portistas, os quais, depois de nas primeiras jornadas terem dado indícios de poder voltar a lutar pelo título, se afundaram no sexto lugar, com 20 pontos, os mesmos do Atlético, menos sete (!) que o Olhanense, menos 12 que o Sporting, menos 17 que o Benfica e menos 18 (em 22 jornadas!) que o Belenenses.
Não admirou o lamento de Araújo na hora do balanço, quase em jeito de catarse: «No princípio do Campeonato aguardávamos mais confiadamente o trabalho do meu grupo. Mas vieram as baixas: Catolino, Barrigana, eu próprio, com um pulso partido, Vítor Guilhar, com o pé fracturado, Gomes da Costa regressou tarde e sem preparação... Claro que tudo isso perturbou. Foi uma lástima... Ainda se pudéssemos contar com Pinga. Era um mestre. Quando vinha de Paredes assistir aos jogos do F. C. Porto e nem sequer pensava jogar ao seu lado — estonteava-me com as suas fintas e os seus passes aos extremos. E os seus remates?!»

O costume: protesto em vão!

A Taça de Portugal voltava a ser a hipótese de os portistas se erguerem sobre si próprios — e fulgurarem. Nas meias-finais, F. C. Porto-Atlético. Empolgante ainda a memória dos 11-0. Só que, por vezes, a vingança serve-se fria...
Os alcantarenses acabaram por eliminar os portistas, em terceiro jogo, disputado em Coimbra, ganhando por 2-1.
Cesário Bonito apresentou protesto, mas em vão. Alegaram que o guarda-redes Correia se conservou «magoado» durante oito minutos, mas o árbitro, Augusto Pacheco, descontou apenas quatro...
Em Lisboa, o julgamento do costume: o F. C. Porto não tinha razão...
In «abola»
 
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hast

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Travassos raptado mas em vão .

O F. C. Porto escondeu Travassos numa desconhecida aldeia minhota. De pouco serviria, já que o então serralheiro da Cuf acabou traído pelo seu «coração de leão»...

A pretexto da viagem do F. C. Porto a Lisboa, para defrontar o Atlético para as meias-finais da Taça de Portugal, os seus dirigentes ensaiaram o canto de sereia na ânsia de contratarem um jovem talento que despontara na equipa da Cuf, que disputara o Campeonato da II Divisão. Travassos se chamava. Nascera à beira do Estádio do Lumiar. Quentes sonhos o enleavam. Gostaria muito de jogar de leão ao peito, mas estranhava que do Sporting só tivesse recebido convite definitivo para o atletismo, depois de ter corrido os 100 metros em 11 segundos, a apenas quatro décimos de Tomás Paquete, que, nessa mesma competição, estabelecera novo recorde ibérico...

20 contos, casa montada e o maldito «coração de leão»

José Travassos, depois de ter passado pela dura labuta dos estaleiros, trabalhava, então, nas oficinas da Cuf como aprendiz de serralheiro. Foi à saída da oficina que os emissários portistas entabularam conversa. Pouco demorou. Pediu 20 contos de luvas e casa montada no Porto. O ordenado mensal poderia rondar os 500 escudos. Que sim, que sim, lhe disseram, ufanos. A pérola parecia conquistada...
Rumor do acordo chegou aos dirigentes do Sporting, que para cortarem o cerco portista a Travassos o levaram para Torres Vedras, onde permaneceu, quase em clausura, durante 15 dias. Libertaram-no apenas para participar numa prova de atletismo e, para espanto e desilusão deles, desapareceu, quase misteriosamente.
Um director portista descobrira-o no estádio, levara-o de imediato para o Porto, hospedando-o num hotel, com direito a tratamento «VIP». E, ao aperceberem-se de que o Sporting jogaria em Coimbra, não fosse o Diabo tecê-las, acharam ainda mais prudente escondê-lo em Escaramão, aldeia minhota que nem no mapa se vislumbrava. Duas semanas lá esteve em dourado sequestro.
Mas, de súbito, ardeu-lhe o «coração de leão» e escreveu a um dos irmãos a dizer onde estava e a pedir que de combinação com dirigentes do Sporting arranjassem forma de ludibriar os «raptores» nortenhos.
Um telegrama lhe enviara, solicitando-lhe que se deslocasse urgentemente a Lisboa para se sujeitar a inspecção militar. A caminho, o portista de Escaramão levou-o à Constituição, onde directores do F. C. Porto lhe colocaram à frente papéis para assinatura imediata. Travassos disse que não poderia fazê-lo, que só com autorização dos pais...
Para Lisboa partiu, mas com escolta de dirigente portista, com menção de só o largar na sua própria casa. Os pais não perderam tempo, dizendo ao homem que não largava nem a sombra do filho que a Cuf ameaçara já castigar Travassos pela «fuga» e, mais que isso, processar judicialmente os seus raptores, autorizando apenas a sua transferência para o Sporting.
No dia seguinte, na presença de Ribeiro Ferreira e de Guilherme Correia César, José Travassos assinou a ficha pelo Sporting, a troco de 20 contos e promessa de um ordenado mensal de 700 escudos. A Cuf, apesar de autorizar a transferência, despediu-o dos seus quadros. O Sporting arranjou-lhe emprego na Frigidaire...
In «abola»
 

admin

Tribuna Presidencial
14 Julho 2006
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Cascais, 1966
> jsm Comentou:

Mas Lisboa uma vez mais se impôs e foi o José Pereira que terminou os dois jogos, o das meias finais com o Inglaterra e o do 3 e 4 lugares com a URSS. Também nunca se percebeu porque é que com o meio campo tão desgastado o Pinto não solução assim como continua a ser um mistério a não convocatória do Rolando no lugar do José Carlos que se veio a verificar um buraco com a Inglaterra! Coisas da capital do império...

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A história repete-se, vezes sem conta.
 
H

hast

Guest
Grito de raiva de futuro ministro.

Diógenes Boavida, então estudante de Medicina, que haveria de ir a ministro de Agostinho Neto, era a voz do estímulo entre os portistas cada vez mais descoroçoados...

Ainda em 1946, em Setembro, o F. C. Porto venceu o Salgueiros, para o Campeonato do Porto, por 18-0! Comentário da «Stadium»: «A vitória do F. C. Porto, embora expressiva, não pode tomar--se como denúncia de comprovado valor. A equipa do Salgueiros nunca existiu, o seu guarda-redes foi fraquinho e o ataque nem por momentos embaraçou a defesa contrária. O gato a brincar com o rato... Os campeões portuenses principiaram em velocidade — mas abrandaram à medida que o tempo passava e os tentos foram aparecendo com a maior das naturalidades. Brilharam, entretanto, alguns jogadores do F. C. Porto, muito especialmente Araújo, Sanfins, Lourenço e Romão. No posto de interior-esquerdo reapareceu o pequeno Falcão. Preenche o lugar. Catolino ainda não tem o pé afinado, Alfredo está a adaptar-se muito bem, Anjos conhece o lugar e o trio defensivo... assistiu ao jogo.»
E, com o arranque assim fulgurante, o F. C. Porto venceu o Campeonato do Porto pela 30.ª vez no seu historial. Ao longo de 33 anos, apenas duas derrotas, uma administrativa outra por falta de equipa — por muitos dos seus desportistas, sobretudo os ingleses da colónia do vinho do Porto, terem sido incorporados no exército que combateu na I Grande Guerra — e uma ausência, por ter sido suspenso pela AFP. Era o ponto final nos campeonatos regionais. Uma vitória de Ribeiro dos Reis e Cândido de Oliveira, que conseguiram que vingasse a tese de que eram mais um dos empeços ao futebol português. E eram. Com resultados assim — e só em Lisboa sem campeão crónico...

O ciclista... goleador.

Apesar da farândola de golos ao Salgueiros, não muito tempo depois o F. C. Porto assumiu crise de avançados, de tal forma que o seu ciclista Fernando Moreira, então o maior ídolo do Norte nas corridas de bicicletas, treinou-se como avançado-centro na Constituição, tendo mesmo ficha à frente para assinar.
No arranque para o Campeonato 1946/47, no Estádio do Lima, vitória sobre o Benfica, por 3-2, e só passou para situação de vencedor quando o guarda-redes lisboeta, Pinto Machado, se lesionou, indo Corona para a baliza...
A lesão surgiu de um despique com Correia Dias, que a imprensa de Lisboa quase crucificou. Os jornalistas do Porto tomaram o incidente à conta do peso do avançado portista, que continuava sem se treinar — e que todos os dias ameaçava deixar de jogar...
O F. C. Porto alinhou com Barrigana; Alfredo e Guilhar; Joaquim, Romão e Carvalho; Lourenço, Araújo, Correia Dias, Sanfins e Octaviano...
Nas Salésias, regresso de Catolino a extremo-esquerdo. E vitória sobre o Belenenses por 2-0. Já se falava, outra vez, da magia de Szabo
Antes do Natal, portistas à beira de ataque de nervos. Em jogo particular, no Lima, o F. C. Porto perdeu com o Oriental por... 1-6! Os críticos acusaram os jogadores de não se empenharem, exortando Szabo a agir e a castigar. Doesse a quem doesse...
E, oito dias depois, a primeira derrota no Campeonato. No Lumiar, frente ao Sporting, 2-3. Os portistas estiveram a vencer por 2-1, acabando por sofrer o golo da derrota à beira dos 90 minutos...
Já em Março, o FCP, em incontrolável derrapagem, empatou na 11.ª jornada do «Nacional» da I Divisão, com o Famalicão, no Lima, a três golos, descendo para o terceiro lugar, a um ponto do Benfica e a... sete do Sporting. No final do mês a queda para o 4.º lugar, após derrota, no Campo Grande, por 4-0, frente ao Benfica, em partida em que a estrela da tarde foi... Barrigana.

Uns velhos, outros desinteressados.

Por essa altura escrevia-se na «Stadium»: «Na verdade, desde que o F. C. Porto, de um só golpe, se viu abandonado por uma série de bons jogadores, há anos, nunca mais conquistou lugares distintos no futebol. As gerências que depois disto foram chamadas a orientar os destinos do primeiro clube portuense não tiveram ainda a sorte por si, de modo que as suas equipas de futebol têm baixado de categoria, a despeito de no princípio da época se haver julgado o contrário... O desgaste foi terrível: Carlos Pereira, Acácio Mesquita, Costuras, Bela Andrasik, Carlos Nunes, Pereira, Kordrnya, Petrack — todos de enfiada. Depois, o grande Pinga. Ainda Manuel dos Anjos (Pocas), que atingiu o limite das suas forças. E, por último, o abandono ou o desinteresse de Correia Dias e Gomes da Costa. Tudo junto, em poucos anos, contribuiu para eliminar a força do team, criando à sua volta uma atmosfera de aborrecimento e descrença inevitáveis. Assim... — o que acontece? Castiga-se por tudo e por nada a Direcção. E esta, de lanterna na mão, como Diógenes (a propósito, o que é feito de Boavida?) desespera-se à procura de um team capaz...»
Diógenes Boavida, angolano que estudava Medicina no Porto — e haveria de tornar-se ministro da Justiça no primeiro governo de Angola, presidido por Agostinho Neto —, não conseguia, para espanto de muita gente, lugar na equipa, mas lutava e incitava os colegas a lutar. De quando em vez fazia das suas: como por exemplo em partida com o Vitória de Setúbal, que o F. C. Porto venceu por 5-0 e Boavida marcou... cinco golos! Mais por percalço do Belenenses, o F. C. Porto acabaria por ficar em terceiro lugar, com os mesmos pontos do Belenenses e do Estoril (33), a oito do Benfica e a 14 do Sporting! Mas foi preciso protesto para que o 3.º lugar fosse atribuído ao F. C. Porto, já que, inicialmente, fazendo tábua rasa do goal-average entre os três, os portistas foram relegados para o quinto lugar, atrás do Belenenses e do Estoril. Era assim...
In «abola»