Estórias da nossa história

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Campeões no último minuto!

O F. C. Porto cumpriu a tradição. E venceu a primeira edição do Campeonato da I Divisão. Com decisão dramática, no último minuto – e mais achas para a fogueira.

Em Janeiro de 1939, afastadas algumas das negras nuvens que se encastelaram no horizonte portista, Miguel Siska propôs à Direcção a contratação do espanhol Quincoces, considerado, então, um dos melhores jogadores europeus. Fizeram-se contactos. Leu-se na imprensa: «É inegável que a presença de Quincoces rodearia a equipa de um ambiente de confiança muito particular e constituiria motivo de atracção para o público, mas tudo isso tem de ceder terreno ante a parte material do assunto.»
O F. C. Porto ofereceu-lhe apenas uma subvenção de 7500 escudos e 1500 escudos de ordenado mensal. Quincoces exigia o dobro, por isso...
Os dias sucediam-se em seu dobar — e a revolução de mentalidades e a raspagem das enxúndias dos abusos também. Por isso, o clube, que, com Carlos Costa, chegara a pagar prémios por... derrota (!!!) decidiu, seguindo o exemplo do Salgueiros, estabelecer o seguinte esquema de prémios: 20 escudos por vitória, 10 por empate. Os jogadores passaram a chamar--lhe a santa...
Essa nova ordem entrou em vigor no Campeonato Nacional da I Divisão, que o F. C. Porto abriu, defrontando o Sporting, no velhinho Campo da Constituição, que o Ameal tinha já, estupidamente, destruídas as bancadas e o aluguer do Lima começava a ser luxo de sibarita...
Construíram-se à pressa bancadas capazes de albergar três mil pessoas — e, nessa partida, as restantes 10 mil ficaram de pé, em volta do ground ou sentadas dentro dele!
Carlos Nunes entrou em campo, para aquele que seria o primeiro desafio do Campeonato Nacional da I Divisão, com um fétiche enfeitado, um boneco de celulóide negro. Deu resultado. O F. C. Porto venceu por 2-1, o Sporting queixou-se da falta de Peyroteo. Os portistas (percebe-se bem porquê) não se queixaram da doença de Pinga. E, ao contrário dos últimos jogos com o Benfica, não houve casos.
Sinal do que o F. C. Porto valia foi dado nas Salésias. Vitória por 3-1. «Para grandes males, grandes remédios, ou as decisões audazes fizeram os grandes homens.» Qualquer destas expressões é aplicável. O F. C. Porto ainda há um mês sem saber como havia de preencher o lugar de defesa-direito e, de um instante para o outro, consegue-o indo buscar um ás de categoria autêntica ao seu próprio grupo! Carlos Pereira, utilizado como recurso, conquistou o lugar absolutamente. Na baliza manteve-se Soares dos Reis. Sacadura era o defesa-esquerdo. No centro, Anjos, Reboredo e Baptista (o homem que substituiu Carlos Pereira). Na dianteira, Lopes Carneiro, António Santos, Costuras, Pinga e Carlos Nunes...
E, de vento em popa, invencível foi andando o F. C. Porto. Até deparar com o... Benfica, nas Amoreiras, em Março de 1939. Os portistas não conseguiram torpedear a tradição. E perderam a invencibilidade, mas ainda não a liderança. A derrota (1-3) deixou mágoa em Siska, que deu sinais de descrer. «A nós tudo corria torto — a eles tudo bem. Tiveram também muita sorte e nós não, que para mais só tivemos Costuras e Pinga a trabalhar na linha dianteira... Há necessidade de um defesa, mas onde ir buscá-lo? O Carlos Pereira faz muita falta à sua linha. E eu não tenho ninguém para o substituir. Se eu apanhasse outra vez o Francisco Ferreira...» Mas o sonho não se envolvera em nuvens pesadas. Antes pelo contrário...

A ajudinha do Sporting.

No regresso a Lisboa, 4-4 com o Sporting, no Lumiar. «O F. C. Porto foi para o terreno com vontade de vencer, mas sem firmeza de convicção. Os primeiros minutos deixaram transparecer o estado de alma. O tento \'leonino\' a iniciar a contagem mais carregou o ambiente das bancadas nortenhas. Sem se afundar, a turma portuense não parecia disposta a romper as linhas defensivas contrárias... Na primeira avançada do F. C. Porto a bola entrou. E são só mais duas linhas: em outros tantos ataques, surgem mais tentos. Três tentos oferecidos de mão beijada e um só indefensável. O F. C. Porto parecia correr para uma goleada histórica, a ganhar por 4-1.» O Sporting descobriu a alma «leonina» e conseguiu chegar ao empate. Emocionantemente.
Uma semana volvida, o F. C. Porto ficou mais descansado com a vitória do Sporting sobre o Benfica, por 4-1. Mas os sportinguistas poderiam tornar-se nova ameaça na corrida para o título. Os ventos de tempestade pareciam, enfim, amainados — e havia terceiros a jogar pelo F. C. Porto. Vencendo folgadamente o Belenenses (5-2), com golos de Costuras (2), Pinga, António Santos e Carlos Nunes, e beneficiando do empate do Sporting, no Lumiar, com a Académica, desvancecendo-se, assim, a última esperança «leonina», o F. C. Porto tinha o caminho mais livre. A esperança dos benfiquistas era o Barreireinse. O empate a zero serviu mais os portistas que os benfiquistas, que bateram o Belenenses por 3-2. O Benfica ainda podia ser campeão. Desde que, na última jornada, ganhasse na Constituição...

A loucura da candonga!

Era o jogo do título. Em corrupio, dirigentes do F. C. Porto decidiram introduzir ainda mais melhoramentos no seu acanhado campo atlético — um campo atlético nada de harmonia com a importância do grémio. Construíram-se camarotes sobre os lugares de peão, foi ampliada a geral e construída uma bancada descoberta sobre os courts de ténis, condenando a modalidade no clube. Duas horas antes do início do jogo, fecharam--se os portões. Não cabia mais ninguém. Fora, filas compactas de gente, muita dela com... bilhete comprado. Bilhetes de cinco escudos foram vendidos, na candonga, por... 20, num tempo em que uma bicicleta de corrida, que era artigo de luxo, custava... 50!
Com o empate a três golos, o F. C. Porto juntou à vitória no primeiro Campeonato de Portugal e à vitória no primeiro Campeonato da Liga, a vitória no primeiro Campeonato Nacional da I Divisão. Mas, para os lisboetas, foi título alcançado por caminhos espúrios. Comentário de Correia Duarte, na «Stadium»: «Não obstante o senão ditado pelo último minuto de jogo, no qual os encarnados bateram pela quarta vez as redes de Soares dos Reis e que o árbitro (Henrique Rosa) anulou sem que possamos descortinar o motivo, devemos dizer, em abono da verdade, que o 1.º Campeonato Nacional de futebol foi bem entregue. O F. C. Porto foi, sem dúvida, o melhor agrupamento que disputou o torneio. Começou hesitante, mas de jornada para jornada veio subindo gradualmente e podemos dizer que atingiu a craveira de — o melhor.»
Carlos Nunes, «capitão» do F. C. Porto, afiançou: «Quando Henrique Rosa viu Sacadura agarrado, apitou imediatamente, sem curar saber se a bola iria cair perto ou longe das balizas. Aquilo não foi golo, mas a nós não nos importa nada voltar a jogar com o Benfica.»
Alexandre Brito, acusado de agarrar Sacadura: «Não sou mais santo que os outros, mas naqueles segundos finais não agarrei ninguém. Estava perto do árbitro e só depois de a bola entrar é que ouvi apitar. O que mais me chocou foi ele não justificar imediatamente a marcação do livre. Perdemos a cabeça ante aquela injustiça. Barafustámos a torto e a direito, não queríamos ouvir ninguém. Os rapazes do Porto até nos disseram que não nos voltássemos contra eles, que não tinham culpa do que se passava, que isso era com o árbitro...»
Soares dos Reis, guarda-redes do F. C. Porto: «Depois do corner as jogadas seguiram e no momento em que a bola foi atirada às redes havia um tão grande aglomerado de jogadores sobre as minhas balizas que ninguém — quer do F. C. Porto quer do Benfica — pode ter visto se houve ou não irregularidade. De resto, nessa jogada não intervim: nem interceptando nem saindo das balizas. Estou até convencido de que foi o Brito quem meteu o golo que o árbitro anulou...»
Para surpresa de todos, dois dias depois a revista «Stadium» publicava a foto do lance, pretendendo, assim, mostrar que Rosa se enganara. Jornalistas do Norte clamaram contra a heresia — e contra os «inimigos da ‘Stadium’». Houve mesmo quem escrevesse que a foto não se referia ao lance em causa. E o «Norte Desportivo» chegou ao desplante de pedir castigo para os delinquentes que tinham forjado tão apócrifo documento. A guerra seguiu por momentos. Em jeito de alecrim e manjerona.
E, beneficiando ou não do erro do árbitro — e se beneficiou também já era tempo de beneficiar... —, unanimidade se gerou em relação a um facto: que o F. C. Porto fora justo e incontestável campeão nacional da I Divisão. O primeiro...
O F. C. Porto foi também o campeão das receitas, arrecadando 157.039$40 na distribuição das receitas líquidas efectuadas pela FPF, relativamente ao Campeonato Nacional, tendo o Benfica recebido 129.156$60. Os jogos no seu campo renderam ao F. C. Porto 232 contos, no do Benfica 131, no do Sporting 95, no do Belenenses 66, no da Académica 55, no do Académico 51, no do Barreirense 33 e no da Casa Pia 15.
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Campo de problemas e jogos baixos.

O F. C. Porto continuava sem campo de futebol condigno, jogando em recinto alugado. Por via disso, fizeram-se jogos de bastidores, denunciaram-se indignidades...

Mais que estranho, indigno era que clube com a grandeza do F. C. Porto não possuísse campo de futebol decente no seu património. O Campo da Constituição estava virtualmente condenado como espaço para grandes jogos, dada a sua exiguidade e a impossibilidade de alargamento.
Por isso, como que reacendendo sonho antigo, em 1937, a Direcção presidida por Carlos Costa levou a Assembleia-geral proposta de um empréstimo por obrigações para construção de um novo estádio. Nas suas bases gerais garantia-se que o empréstimo seria constituído por 15 mil obrigações de 30$00 cada, vencendo o juro de cinco por cento ao ano. A subscrição inicial seria constituída por 10 mil obrigações no valor de 300 contos, podendo a subscrição das restantes 5000 obrigações ser feita logo que a Comissão encarregada da administração do empréstimo a julgasse oportuna e necessária.
Detentor de 150 obrigações teria direito a entrada livre no estádio e ocupação da bancada central, em sector reservado, sem qualquer obrigação, mesmo que se tratasse de desafio oficial. Quem subscrevesse 75 teria direito a ocupar lugar determinado na bancada lateral e a garantia de entrada livre para o peão para todos os subscritores de 40 obrigações...
A Comissão Pró-Campo ficou constituída pelos presidentes da Direcção, Assembleia Geral e Conselho Fiscal e pelos associados Sebastião Ferreira Mendes, Domingos Ferreira, Carlos Lelo e António Martins. A 4 de Agosto, após posse da comissão, Abel Garção, presidente da Assembleia Geral do F. C. Porto, clamou: «Agora, meus senhores, vamos para a guerra!»

F. C. Porto em tribunal por causa de 7000 escudos.

Mas outras seriam as guerras em que se ensarilharam portistas — e não só.
Em Outubro de 1937 o Progresso chamou o F. C. Porto a pagamento judicial de 7000 escudos, que lhe devia de arrendamentos. E, não muito depois, os portistas trocavam o Ameal pelo Estádio do Lima, propriedade do Académico do Porto — e único campo relvado do Norte, considerado, então, dos melhores da Península Ibérica.
A subscrição das obrigações andava pachorenta. Num sinal de desvitalização do F. C. Porto. Ou das guerrilhas intestinas que lhe consumiam energias — e encantos.

As negociações do Lima e os jogos subterrâneos.

Em Janeiro de 1938 a revista «Stadium» publicou uma entrevista com Manuel da Silva Reis, então secretário do F. C. Porto, na qual se pretendia levantar o véu de bruma que cobria o mistério da fuga do Ameal. Ou das razões da sua troca pelo Lima. «Actuando com a maior boa-fé, e visto que nos interessava inteiramente, fizemos com o Progresso, por intermédio dos seus delegados, um contrato para jogar duas épocas no Ameal, mediante compensações estabelecidas de comum acordo, as quais compreendiam a quitação, por parte do meu clube, de duas letras accionadas em tribunal civil, dinheiro emprestado para obras e o encontro de contas em que se regularizava um delito antigo que, por interesses óbvios, não tínhamos saldado. Devo aclarar que as letras a que me refiro se encontravam em regime de suspensão, sem ordem para executar. Devia ainda o F. C. Porto, pagando as rendas combinadas entre as duas Direcções, ceder o seu campo da Constituição ao Progresso sempre que este tivesse jogos a realizar quando funcionasse no Ameal o team do meu clube. Ora, assinado que foi este acordo pelas duas Direcções, a Comissão Pró- -Campo tomou conhecimento dele e, avistando-se imediatamente com a sua Direcção, fez várias objecções que aduziu algumas razões de peso, que nos convenceram dos prejuízos morais e materiais que desse facto poderiam resultar, visto que os seus trabalhos para a construção de um campo iam por de mais adiantados. Convencidos dessa verdade, fomos junto do Progresso dar conta desses inesperados casos, pedindo para, considerando razões fortes, ser modificado esse contrato só para uma época, cabendo dizer aqui que os delegados em acção connosco foram de uma correcção extrema, consentindo nas alterações a introduzir no contrato a renovar. Assim, passando a ser apenas por uma época, evidentemente que a remuneração seria menor. Em tudo se chegou a acordo; porém, a fixação de uma cláusula foi óbice tremendo: segundo afirmavam os delegados do Progresso, um dos três senhorios do Ameal havia passado uma declaração ao Porto, ou a alguém do Porto, na qual exarara a condição de não alugar a sua cota-parte de terreno a não ser ao F. C. Porto. E o Progresso exigia que no contrato a efectuar se afirmasse que o F. C. Porto renunciava a esse direito. Nós contestávamos, declarando que esse caso era novo para nós, pois desconhecíamos por completo semelhante documento que não existe nos arquivos da secretaria. Mostrada, por fim, a impossibilidade desse pseudo-documento, o Progresso conformou-se, deixando, nas subsequentes reuniões, de se referir a ele. E ainda bem.»
Fez-se, então, novo contrato nas bases do primeiro, circunscrito apenas a uma época, ficando claro e reconhecido que, a despeito de tudo, se o Progresso exigisse o cumprimento do primeiro os directores do F. C. Porto não tergiversavam e iam para ele. «Houve, claro, que reduzir-se as compensações; porém o Progresso ainda ficava a lucrar bem com a operação. E, a não surgir nova exigência quanto ao célebre documento do terceiro senhorio, o contrato seria assinado sem delongas. Mais uma nova faceta da interminável série. Redigido o contrato e aceite de comum acordo, quando se ia proceder à assinatura dele e fazer-se a troca de documentos, o Progresso, com espanto nosso, aparece a fazer nova exigência: pretendia a quitação, pura e simples, de uma das letras — aquela que era agora resgatada, pois a outra sê-lo-ia se se renovasse o contrato por outra época —, inclusive as despesas de custas, selos, etc., facto estranho, nunca versado em anteriores conferências, porquanto, tendo essas despesas sido pagas oportunamente, ninguém delas se lembrava. Vimos nós, então, um propósito de protelar e desorientar e aborrecemo-nos com isso, pois levou o caso quatro horas em estéril discussão — para nada. Todavia, um dos delegados do próprio Progresso propôs que esse caso das despesas do processo, que nem se sabia a quanto montavam, ficasse em suspenso para solução mediata — isso é quando se tratasse da quitação da segunda letra. Pois ficando assim resolvido, em ulterior reunião, como se viu, nem as propostas dos colegas foram respeitadas, mudando-se de opinião com uma facilidade de espantar. O que resolvemos então? O que há de mais simples e racional: abeirámo-nos da gente do Lima e com as primeiras démarches o caso ficou absolutamente arrumado, pois em duas horas fizemos o que com o Progresso levou cerca de 15 dias. Foi logo entregue à Federação o documento necessário para legalizar a nossa situação com inscrição de campo, o que se fez por intermédio da Associação.»

1000 escudos por jogo ou 1000 escudos por ano?!

O contrato de aluguer do Lima depressa se mostrou sobremaneira oneroso para o F. C. Porto. E muitos dos seus associados correram a contestá-lo. E, para além da hipótese da denúncia do contrato com o Académico, outra se levantou: a compra do Ameal ao Progresso, aproveitando-se verba já recolhida pelo empréstimo por obrigações entretanto aberto. Mas em Julho começam a deflagar petardos no seio da Direcção portista. Manuel Reis demitiu-se por divergências com o presidente Carlos Costa — e, ao ataque, acusou-o de estar a desbaratar fundos em tempo de crise, mantendo o aluguer do Lima. E, mais que isso, sem embaraços disfarçados por nuvens atabalhoadas de palavras turvas, denunciou manobras, tramas e solércias no seio da própria Direcção portista!: «Não fizemos qualquer contrato com o Lima; não estávamos, mesmo verbalmente, amarrados a compromissos que, agora, desonrássemos! mesmo durante o Campeonato das Ligas poderíamos ter desistido daquele estádio! Aproveitávamo-lo apenas enquanto nos conviesse. Desde que o Ameal veio até nós, a oferecer-nos vantagens económicas, ponderando bem a situação do F. C. Porto, que precisa de retrair despesas, acolhemos favoravelmente a sua sugestão, ponderadas previamente todas as eventualidades. Despendíamos por desafio, no Académico, cerca de 1000 escudos. No Ameal apenas desembolsaríamos 1000 escudos por todos os jogos. Já vê que não era de desperdiçar. Foi resolvido por 5 contra 1; este era o presidente; todavia, depois de um toque do dr. Carlos Costa ao ouvido do sr. Machado Pereira — embora altissonante — este votou ao contrário — e o caso ficou em... 4-2. O sr. presidente deixou, nesse momento, a Direcção, a pretexto de falta de tempo; porém, manobrando-se o caso, aliás resolvido, para se tornar sem efeito aquela resolução, voltou depois, resolvendo a maioria, em uma sessão, dar o dito por não dito, indo continuar no Lima, porque o clube é rico e pode gastar.»

A destruição do Ameal e o incêndio da Constituição!

Em Julho de 38 começou a falar-se com insistência na destruição da bancada do Campo do Ameal. O Progresso tentou derradeiro acordo com o F. C. Porto no sentido de novo aluguer do Ameal, mas debalde. Dois dias depois do falhanço das negociações foram parcialmente destruídas por um incêndio as bancadas do Campo da Constituição. «Até deu impressão de que se tratava de sabotagem» — escreveria, num tom que confundia ironia com amargura, Rodrigues Teles... E, por via de tudo isso, o F. C. Porto arrancaria para a edição de estreia do Campeonato Nacional da I Divisão utilizando o acanhadíssimo Campo da Constituição. As guerras de interesses entre o F. C. Porto, o Progresso e o Académico do Porto tiveram, como bem se sabe, trágico desfecho para o Ameal, destruindo-se as bancadas, perdendo-se assim, pela insensibilidade dos homens, um dos campos que eram ex-líbris do futebol nortenho. E, sem o Ameal, o F. C. Porto ficou, obviamente, sem mais de duas alternativas: ou jogava futebol no Lima ou na Constituição. Os seus dirigentes ficaram à beira de um ataque de nervos quando o Académico pediu 25 contos para aluguer do Lima, para os seus jogos, colocando a possibilidade de condescender — e reduzir a maquia para 20 contos. E nem menos um centavo. Por isso... Em corrida contra o tempo, antes do arranque do Campeonato, o F. C. Porto fez erguer uma bancada de madeira num dos topos do Campo da Constituição, mas mesmo assim alguns milhares de pessoas não puderam assistir ao encontro com o Sporting, por falta de lugar. Houve quem tivesse de se aboletar mesmo... dentro do campo — e, mais caricato ainda, os jogadores do Sporting tiveram de esperar pelos seus companheiros durante alguns minutos, até que eles, envolvidos pela turba, conseguissem, enfim, romper dos balneários ao pelado!
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Polícias, agressões, sangue e... Benfica

Os tristes espectáculos mantiveram-se nos jogos com o Benfica. Os jogadores perdiam a cabeça, agrediam-se em campo. Os apupos hipnotizavam os portistas...

...E para o Campeonato de Portugal de 1938, outra vez o Benfica no caminho do F. C. Porto. Primeira «mão», no Lima. Infindável caudal de gente, como um mar de azul e branco, correndo, grosso e compacto, atrás do sonho. Ao assomo dos benfiquistas, a chusma em chinfrineira. Gritos estridentes, em matraquear constante, apupos, insultos. Esse ambiente de guerrilha espalhou-se pelo campo. Houve meia hora de jogo limpo, o F. C. Porto esteve a ganhar por 1-0 e por 2-1, o Benfica voltou a empatar e, após o 2-2, as hostilidades romperam fragorosamente. Jogadores de faca na liga e, segundo crónica de então... «houve vítimas»! Vítimas porque alguns ficaram fora de combate e, assim, impossibilitados de jogar durante semanas, outros, apesar de abandonarem o terreno, acusavam contusões, pernas escalavradas, fios de sangue correndo-lhe pelo corpo, como se, em vez de futebol, tivessem saído, esfalfados, de um campo de luta livre. Uma vergonha! Na «Stadium», Domingos Lança Moreira escreveu: «A arbitragem do conimbricense Álvaro Santos foi irregular no critério aplicado em faltas idênticas. A expulsão de Rogério teve o carácter duma explicação dada ao público, que não se calava. E a de António Santos e Gaspar Pinto talvez para acalmar uns nervos já por completo destemperados, foi inoportuna. A de Costuras mais aceitável, porque a agressão a Albino existiu, de facto. Teve uma virtude importantíssima: a de no meio daquela algazarra toda, nunca dar a impressão de estar desorientado. Embora intimamente o pudesse estar.»
Para Lisboa partiram os portistas sem Gomes da Costa, António Santos e Costuras, todos eles ainda a contas com mazelas da guerra em que se envolveram com os benfiquistas. E outra vez a «Stadium»: «Lamentavelmente, em Lisboa houve a ideia da revindicta, mas à face da verdade o público desportivo da capital estava sob a influência dos ‘hinos guerreiros’ que uma parte da imprensa nortenha tem cantado altissonamente! Desse desvario, dessa mania de perseguição, resultaram vítimas os jogadores, precisamente os que, normalmente, menos culpa têm, vivendo à margem das discussões. E como consequência de toda a excitação provocada, assistiu-se nas Amoreiras à maior orquestração de assobios e pateada que temos presenciado em Lisboa.»

Polícia a rodos e a imagem indigna do futebol

Polícia a rodos, guardando balizas, tomando as portas dos balneários, estabelecendo caminhos, que mal comparados faziam lembrar paralelas, pois, por estranhas artes, nunca se encontravam, respirando-se uma atmosfera de ordens severas e rigorosas por todos os lados — tudo isto dava um aspecto belicoso e de desconfiança, que não fica bem a um campo de desporto, que arrepiava e indignava!
Ao intervalo, os portistas já perdiam por 5-0. E, durante cinco quartos de hora, resfolegando de fadiga, de rostos esfarrapados pela angústia, como frangalhos da vida, foram (ao menos isso!) mantendo intocável olímpica postura, mas, de súbito, a cólera ou a angústia da desfeita ressoaram em si — e perderam a cabeça. «A parte que escureceu o encontro foi devida ao nervosismo que se apoderou de alguns jogadores do Norte, que parece terem pensado no rifão: perdido por um, perdido por mil, e como já nada lhes restava, resolveram deixar triste recordação, contundido os benfiquistas. Ângelo e Nunes foram expulsos, mas se houve qualquer exagero quanto ao primeiro, foi justíssima a expulsão do segundo, que, como \'capitão\' do grupo, maior responsabilidade tem, e que passou quase todo o encontro a protestar, por tudo e por nada, e a implicar com os adversários. Do lado do Benfica, também Alcobia seguiu o rumo daqueles, por ter respondido a Nunes.»

Os sete golos da recuperação do Benfica!

O Benfica chegaria aos sete golos, os portistas, no desespero das agonias, corpos doridos e orgulho ferido, deixaram o campo como se saíssem de uma câmara de tortura. Suspirando de alívio. Na cabina, um silêncio tumular. Em revolta surda, fúrias impotentes, dores que lhes roíam nas entranhas, os portistas continuaram a escutar os gritos estridentes dos adeptos benfiquistas — para os quais aquele fora dia histórico, inesquecível... Mas doíam mais os ralhos e os remoques dos seus próprios dirigentes que os apostrofavam completamente histéricos, prometendo castigos, dispensas, enfim...
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Castigos quixotescos

A Direcção do F. C. Porto lançou castigos... rídiculos aos jogadores. Arrepiaria caminho ao desvendarem-se segredos que só os indignificavam

No rescaldo fumegante da partida, a Direcção do F. C. Porto, presidida por Carlos Costa, quando todos ainda se carpiam da jornada de Lisboa lhes ter estatelado os seus projectos, desfeito os seus sonhos, decidiu castigar jogadores, como se esse assomo de brio de última hora se redimisse a si própria, através da descoberta de dois ou três bodes expiatórios!
Poderiam, de facto, os futebolistas ser os culpados maiores da humilhação das Amoreiras, por se lançarem à faina aturdidos, como se as suas insolências resultassem de almas pequeninas, encolhidas de medo? Que não, pensaram quase todos os adeptos portistas, que não, bradaram quase todos os jornalistas. E Silva Petiz assumiu, mesmo, o confronto com os directores que quiseram vestir a pele de justiceiros, zurzindo: «A Direcção do F. C. Porto, que, pelos sucessos dos jogos da Liga, esgrime deselegantemente com o Benfica, fomentando discórdias, dando incremento ao mau ambiente que já alastra, que por nítida falta de percepção do perigo, consente e fomenta campanhas de ódio, talvez para agradar a uma determinada falange sempre descontente; descurando ao máximo o poder técnico e moral do grupo, vem cominar alguns jogadores porque estes deixaram perder o desafio, traindo o seu clube! Porquê esse arremedo quixotesco que só ridiculariza? O grupo perdeu, senhores, porque soube e pôde jogar menos; porque ficou vencido desde o encontro do Lima, onde foram repetidas as cenas antidesportivas, dos apupos e dos assobios que esmaltaram os desafios das Ligas, visto ser mais que certo que esse capital seria pago em data e lugar próprios; foi um vencimento de um saque sobre a capital, a oito dias de data, com juros caros! Só os cegos e os tolos não viram o que iria passar-se! E a atitude fúnebre dos rapazes do Porto, quer no hotel quer nas ruas de Lisboa, antes do match, denunciavam o seu estado de alma! Eles, mais práticos, visionaram a tragédia! E não houve, contudo, quem os encorajasse, quem os animasse!!!
Derrotados antes do jogo, por falta de moral, viram-se desfalecidos ante a incorrecta, assanhada, desumana assistência, que ofendida no Lima, na pessoa dos seus jogadores, ali foi prestar a devida retribuição aos players do Porto, que também em nada concorreram para tão grande ferocidade! Souberam-se pagar os lisboetas! Pouco animosos, os tripeiros baquearam: foi obra dos seus conterrâneos que produziu esses funestos acontecimentos.»
Pouco depois, as deliberações da Direcção do F. C. Porto em castigar e dispensar alguns dos seus jogadores, por via do jogo com o Benfica, ficaram em águas de bacalhau. Possivelmente, efeitos do coro que a esmagadora maioria de associados e a imprensa levantaram verberando a excentricidade de tal decisão.
Um dos futebolistas que se diziam dispensados era o defesa-direito Marims Vieira — afirmando-se mesmo que partiria imediatamente para o Brasil, seu país. Partiu, de facto, no «Highland Schieften», depois de assinar novo contrato com o F. C. Porto. Prometeu voltar, mas... acabaria por ficar no Internacional de Porto Alegre. Mandou dizer por um amigo que tinha o coração ferido. E o Sporting piscou-lhe o olho...
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Uma insólita taça de ódios .

O F. C. Porto bateu o Benfica por 6-1, nas meias-finais da primeira Taça de Portugal. Nas Amoreiras, quando perdiam por 0-6, os portistas abandonaram o campo...

O golo anulado ao Benfica, que acabaria por ser decisivo para a conquista do título de primeiro campeão nacional da I Divisão pelo F. C. Porto, rebentou a postema em que se tinham transformado as relações entre ambos. Nesse ano de 1939 disputava-se também a edição de estreia da Taça de Portugal. Acabaria, tragicamente, por marcar o fim da tradição criada de os portistas ganharem as edições de arranque das competições nacionais de futebol...
F. C. Porto e Benfica reencontraram-se no Lima para as meias-finais da Taça. Segundo o «Sporting», jornal que se assumia orgulhosamente tripeiro, mas que nem sempre se aconchavava aos portistas — antes pelo contrário... —, «na bancada o elemento feminino, que não pôde estar presente na Constituição, achava-se em número elevado». «Uma boa desforra», concluiu o repórter, para ajuntar: «Só na geral se viam algumas bandeiras do Benfica a contrastar com alguns centos do F. C. Porto que se achavam pelos vários sectores. A meia hora do encontro já o campo se apresentava cheio. A bancada à cunha e o peão quase cheio. Pela primeira vez, e com certa justiça, foi dada ordem para que os militares fardados e o Asilo do Terço entrassem gratuitamente. Quer dizer que o Lima, além de ter campo para um F. C. Porto-Benfica, tem ainda espaço para caserna e asilo.»

Palmas para o árbitro com casaco... azul!

Apesar dos ódios que referviam, da guerra de palavras dos dirigentes que espumavam injúrias, a equipa do Benfica foi, fazendo fé, outra vez, no repórter do «Sporting», recebida com «aplausos regulares». Palmas, também, para o árbitro, Santos Rosa, que se apresentou de calção e paletó... azuis. Mas quando o F. C. Porto — que fez alinhar Soares dos Reis; Sacadura e Guilhar; Pocas, Carlos Pereira e Reboredo; Lopes Carneiro, António Santos, Costuras, Pinga e Nunes — entrou em campo ressoaram ovações, estrondearam aplausos.
Os benfiquistas sairiam do Lima esbandalhados, com os rostos embaçados pela angústia de uma derrota humilhante, que parecia ter desfeito todas as suas esperanças — 6-1 foi o resultado final. Na lisboetíssima «Stadium» escreveu Carlos Silveira: «Enquanto a linha média do F. C. Porto trabalhou como parte de um team desejoso de ganhar, a do Benfica actuou sempre como a de um grupo que duvida pouco da superioridade do adversário. Os médios do Norte jogaram para vencer, valorizando os esforços pessoais com sentido de conjunto e de ligação com o ataque. Os médios do Sul jogaram para perder, inutilizando os esforços pessoais com uma exagerada e mal aplicada preocupação de defesa.» E, assim, Carlos Silveira traçou a diferença do jogo, acentuando: «O F. C. Porto, não tendo actuado como nos seus dias mais magistrais, jogou sabendo o que fazia. O Benfica não jogou como sabe. Foi traído, talvez, com a ideia de defender um resultado pouco carregado e deixou que o F. C. Porto defendesse estrondosamente, atacando a fundo, um resultado que o tornará, pela certa, finalista.»

O turbulento regresso ao Porto do filho do guarda do campo.

Ao Porto regressou Francisco Ferreira, filho do guarda do Campo da Constituição, que, havia não ainda um ano, trocara o F. C. Porto pelo Benfica. Em Lisboa se mantivera «desempregado», «passeando, indo ao café, jogando uma partida de bilhar». Deixou de exercer a profissão de cortador, que já não o encantava. «Aspiro, evidentemente, a outra coisa melhor.» Eram assim os amadores do futebol português de então...
Mais que a derrota, a Francisco Ferreira excruciaram-no outros gestos, sobretudo de amigos de outrora, companheiros de aventuras antigas: «Não compreendo a atitude do público para comigo, mas o que mais me choca é a dos meus antigos companheiros. Principalmente dos que se diziam meus amigos e que comigo privavam mais de perto, como o Anjos [Pocas] e o Lopes Carneiro. Não deixei de ser portuense, mudei simplesmente de clube, facto vulgar em desporto e mais ainda se atendermos a que cada um tem de cuidar de si... Não cometi nenhum crime, parece--me. É justo que recorde Nunes, um excelente rapaz, meu amigo e que em nada modificou a sua atitude para comigo. Apreendeu com inteligência o meu caso, o que sucedeu a poucos mais! O que vale é que o tempo tudo apaga... Sobre o 1-6, é um resultado triste. O marcador foi demasiadamente injusto para o Benfica. Ao F. C. Porto tudo saía bem. Cada pontapé à baliza quase que era golo!» E o prognóstico: «Muito difícil a recuperação nas Amoreiras. A margem é grande. Mas não é verdade que no futebol tudo é admissível?!»

...E o incrível acontece!!!

Pois é. E, nas Amoreiras, o incrível aconteceu. O futebol tem coisas assim. Desconcerta. Os portistas, a quem bastava apenas segurar a vantagem de cinco golos, foram recebidos por um público ululante, que espumejava fel, remoques e insultos — e, estranhamente, esse ambiente de animosidade acabou por ilaquear os jogadores do F. C. Porto numa teia de desgraça que foi a sua perdição.
Pasme-se: apesar de sofrer seis golos em cerca de 75 minutos, Soares dos Reis, guarda-redes que gostava de se treinar... apanhando coelhos, foi, segundo a revista «Stadium», a figura da tarde. O seu director, Carlos Silveira, retratou assim a partida: «O Benfica venceu o jogo — era natural. Mas venceu também a meia-final: o que foi fantástico! Porque venceu limpamente. Porque foi a vitória de onze contra onze, servidos de armas iguais. Apenas que as armas dos lisboetas tiveram outra vibração. Tiveram nervos, entusiasmo, fé clubista, resoluta decisão de sacrifício. Naturalmente que isto nem sempre basta. Mas é indispensável para justificar, muitas vezes, um prémio de sorte. E o Benfica alinhou para merecer a sorte. E mereceu. Jogo por jogo a vitória era sua. Mas anular, apagar completamente 1-6... Não: era pedir de mais. Só com sorte, muita sorte por cima de todas as qualidades... E afinal... A história dos seis goals é breve. Custou a começar — mas completou-se num instante. Depois de, ao quarto de hora, ter somado três ocasiões seguidas de goal feito, o Benfica mostrava-se francamente favorito ao triunfo. Soares dos Reis tinha de multiplicar-se e ser autenticamente de elástico para atender ao bombardeio. Defendeu quanto pôde. Até defendeu um penalty. Mas as bolas que entraram foram limpas, resultado de onde a bola partia fulminante. Todavia o penalty defendido, é certo, mas permitindo a recarga do segundo goal, marcou o momento psicológico do jogo. Estimulou uns e abalou outros. Já não eram necessárias tantas bolas... Depois, vieram as três bolas necessárias quase seguidas. A terceira (por Barbosa), a quarta (por Rogério), a quinta (de uma entrada fulminante de Espírito Santo) e a sexta (por Valadas).»

...E os portistas abandonaram o campo

Nessa altura o F. C. Porto já não intimidava. Entrevecera e caíra no marasmo. No fado triste da ilusão esfrangalhada. Apenas o nervosismo dava movimento aos azuis-e-brancos. Assim, quando Palhinhas deu ordem de expulsão a Reboredo a desorientação explodiu. Sobretudo nos dirigentes do F. C. Porto que estavam nas bancadas, que acabaram por ser os indigitadores do abandono de campo por toda a equipa. Outra vez a «Stadium»: «É certo que o jogo teve dureza. No entanto, foi aquela dureza que domina os jogos desta natureza. Que se passam quer no Norte quer no Sul — e que de maneira nenhuma correspondeu ao outro péssimo serviço prestado ao F. C. Porto pelos seus dirigentes responsáveis, formando o pior ambiente possível do encontro entre benfiquistas e portistas, impróprio até para levantar o moral dos valorosos rapazes do Norte. E os dirigentes do F. C. Porto, ao aplaudirem a retirada de campo da sua equipa 15 minutos antes de findar o desafio das Amoreiras, deitaram a perder toda a percentagem da receita que lhes caberia na segunda mão.» E que seria de pouco mais de 15 contos.
 
H

hast

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8 de Setembro de 1952. O jogo da despedida do capitão do Benfica, Francisco Ferreira, um homem nascido em Guimarães mas criado no recinto do FC Porto. Aos 11 anos deixou a Cidade-Berço para acompanhar o pai, que tinha encontrado trabalho como guarda do Campo da Constituição. Francisco Ferreira começou então a jogar futebol e cedo se revelou um prodígio precoce. Ao ponto de aos 17 anos já ser uma das figuras do clube. Foi então que, embalado pelos altos salários que o FC Porto já pagava, pediu um aumento que até era humilde: 300 escudos por mês. Como resposta, os dirigentes chamaram-lhe malandro. Francisco Frederico sentiu-se traído e mudou-se para o Benfica. Onde rapidamente ganhou um espaço especial, tornando-se até capitão durante nove anos. Depois da vitória na inauguração do novo Estádio das Antas, por 8-2, disse que para ele chegava e que deixava naquela altura o futebol. Por pressão dos colegas, ainda aceitou jogar a final da Taça de Portugal e ajudar o Benfica a ganhar mais um título. Depois arrumou mesmo as chuteiras. Na festa da despedida, marcada para o Jamor, convidou o FC Porto e reconciliou-se com o clube por quem sempre torcera.

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Caro fcporto56, não sei quais os valores envolvidos na transferência do Francisco Ferreira para o Benfica, mas pelos vistos foi um mau negócio.
 
H

hast

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Estado de choque, fantasmas, castigos...

Um marechal portista anteviu a desgraça das Amoreiras, que deixou o Porto em estado de choque e o presidente do F. C. Porto em bolandas

No Porto, um tufão de angústia varreu toda a cidade. Os adeptos do F. C. Porto, incrédulos, lívidos, com essa embaçadela que é a imagem das derrotas mais inesperadas, davam aos cafés e às ruas imagem de tragédia. Silva Petiz escreveria na «Stadium»: «O povo aglomerado na Avenida dos Aliados, frente ao ‘Jornal de Notícias’, ia recebendo as informações telegráficas do goal-a-goal e só se apercebeu do desastre — da derrota do F. C. Porto — quando o nosso camarada anunciou o quinto goal de Espírito Santo. Desde aí até ao sexto de Valadas, o xeque-mate foi trágico: aguardava-se ainda um ponto do F. C. Porto, que também andava em campo a disputar a bola, para que a diferença de um goal desse, já agora e pelo menos, a confirmação do título ao F. C. Porto — o primeiro que não pôde reivindicar, do 1.º Campeonato da Taça de Portugal! Debandou tudo desalentado; a Brasileira, quartel-general dos rapazes do F. C. Porto, coalhada estava também de crepes! Toda a massa lamentava a derrota do seu clube e o caso não era para menos! Nunca, desde que se disputa uma prova, houve tanta esperança, como nesta emergência, para a consecução de um título; a margem de cinco pontos dava, sem favor, a certeza de uma retumbante vitória! Portanto, a decepção foi extraordinária e apenas se indagava: o que foi? O que haveria? Porque só se admite a derrota ante circunstâncias fortes! E o ambiente criado à volta deste jogo; e a saída prematura, do rectângulo, do grupo, sem que se conheçam pormenores, enerva, excita, irrita!... E houve alguém que vaticinou, com o seis a zero, a negação do score! Alguém, que é alguém adentro do clube, um dos marechais do F. C. Porto, seu antigo director: foi Marcelino Ferreira, que correu a apostar que o F. C. Porto perderia por 6-0, dadas as condições especiais do encontro!»

A chinfrineira das Amoreiras

Acertou. O Benfica correra a jogar numa manobra de diversão, cortando relações com o F. C. Porto antes do jogo das Amoreiras — e, assim, obteve, incontinenti, a solidariedade do povo lisboeta, que se agarrou ao pretexto para cerrar fileiras e, dominado pelo único desejo de ver vencidos os jogadores nortistas, gritou tanto aos rapazes que estes, perdendo a tramontana, se foram abaixo das pernas, ante a infernal barulheira dessa tarde. Mas não fora a primeira vez que os jogadores do F. C. Porto tiveram de enfrentar em Lisboa a chinfrineira de apupos, o aluvião de cabeças, braços e punhos em gesticulação frenética e ululante — pelo que, apesar das condicionantes que se procuravam, ninguém conseguia perceber como é que uma equipa, para mais aureolada com o título de campeã nacional, pudera sofrer quatro golos em... 10 minutos, escabujando-se, depois, pelo terreno como fantasmas de si próprios, quixotescamente perdidos.

Os castigos aos jogadores e o presidente na... fogueira!

A FPF decidiu, no rescaldo dos incidentes das Amoreiras, aplicar, para além da já esperada perda da percentagem de receitas ao F. C. Porto, 30 dias de suspensão aos jogadores António Santos e Reboredo, instaurando, ainda, processo disciplinar por abandono de campo ao clube e ao presidente da sua Comissão Administrativa, Ângelo César, por motivo das declarações tornadas públicas por intermédio dos jornais, antes e depois dos jogos do Lima e das Amoreiras. O vice-presidente da FPF, Carlos Costa, ilustre portista, pediu a demissão do cargo — que foi aceite — por não ter podido justificar a atitude que lhe era atribuída no caso das «medidas excepcionais que o dr. Ângelo César resolveu adoptar no Campo do Lima».
E essas medidas excepcionais tinham sido sobretudo abrir o campo aos militares e aos órfãos do Asilo do Terço! A FPF, sentindo-se prejudicada por ter havido assistentes que não pagaram bilhetes, ameaçou com novo castigo — que foi mais uma acha para a fogueira que crepitava antes da partida que o F. C. Porto haveria de disputar nas Amoreiras.

Coimbra é... Norte

E, com ambiente assim, de guerra aberta, entre o F. C. Porto e o Benfica, entre o Porto e Lisboa, não admirou que a notícia da vitória da Académica sobre os benfiquistas, na final da primeira Taça de Portugal, fosse recebida na cidade com palmas e vivas. E, nesse sentido, escrevesse Silva Petiz em correspondência do Porto para a «Stadium»: «Coimbra, a despeito de tudo, é Norte; e depois de tantas peripécias, de tantos atritos — de tanta zaragata, diga-se — fugir o título da capital — especialmente das mãos do Benfica — é, de certo modo, uma compensação... Foi com expansões de alegria sincera, portanto, exteriorizada pelos desportistas — pela massa que gosta da bola — recebida a fausta informação na Brasileira, Avenida e Praça e outros lugares, onde tudo estava a postos, ansiando a almejada vitória para Coimbra, que, a despeito de tudo, é Norte.»
in «abola»
 
H

hast

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Eu não sei.... Já nestas alturas a relação entre PORTISTAS e benfiquistas era de cortar à faca. Nos tempos que decorrem as armas são outras, mas o âmago da questão permanece desde os primórdios do nosso futebol. Pura e simplesmente não nos deixamos pisar. O nosso antagonismo, e para mim é um caso de foro genético, perante a arrogância e o desdém da capital, brota naturalmente. Tão simples como isso.

Apraz-me registar que todos esses valores permanecem bem vivos e inalteráveis.
 
H

hast

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Taça, a senha e o comboio

«O Século» instituiu taça para ser disputada entre os campeões das I e II Divisões. O F. C. Porto esfrangalhou o Carcavelinhos, mas os seus dirigentes não a receberam.

«O século» abriu iniciativa louvável. Sentimental. Colocar em disputa a Taça Monumental Bodas de Ouro do Futebol Português, entre os campeões nacionais das I e II Divisões. E, assim, F. C. Porto e Carcavelinhos enfrentaram-se no Porto. Os portistas venceram, naturalmente, por 8-0. Estranha a atitude da Direcção portista, que pura e simplesmente virou as costas à iniciativa, sendo, por isso, assim verberada na «Stadium»: «Com pasmo de toda a gente e estranheza lógica das personalidades que quiseram dar a honra ao clube campeão, vindo da capital exclusivamente para entregar em mão um objecto tão representativo como valioso, nem um só director do clube compareceu, desconsiderando, assim, os srs. Cândido de Oliveira, Raul Vieira e Carlos Alberto Pereira da Rosa, componentes da embaixada, que hão-de, a estas horas, ter apreciado de forma pouco benévola a atitude da Direcção do F. C. Porto. É lastimável que se tratem assim assuntos da magnitude destes, cujos efeitos atingem, em cheio, a própria cidade!» Com a sua refinada ironia, Cândido de Oliveira haveria de dizer que, quando, de novo, houvesse necessidade de fazer entrega da taça ao F. C. Porto, ela seria expedida por tarifa e enviada ao clube a senha do caminho-de-ferro. Refira-se, por fim, que os oito golos do F. C. Porto couberam a: três a António Santos, dois a Costuras, um a Pinga, outro a Castro e outro ainda a Domingos.
in «abola»
 
H

hast

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Grande lolada.
Vieram os senhores pipis, desde a capital, participar numa cerimónia de beija-mão e não é que foram ignorados! Imagino as virgens ofendidas, e tendo em conta a mentalidade vigente na época, deve ter sido grande «bofetada» em tão doutas figuras...\"desconsiderando, assim, os srs. Cândido de Oliveira, Raul Vieira e Carlos Alberto Pereira da Rosa, componentes da embaixada, que hão-de, a estas horas, ter apreciado de forma pouco benévola a atitude da Direcção do F. C. Porto\".

A preciosidade \" componentes da embaixada,\" reflecte a veneração que se deveria ter pelos bobos da corte, quando estes resolviam dignar-se a fazer a longínqua viagem desde a Capital do Império até à mui nobre e invicta cidade do Porto. Era o que faltava, serem desonrados daquela maneira.
 
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hast

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Sangue, suor e... tramóias

O jogo entre o F. C. porto e o Académico ficou manchado de sangue e abriu campo a caricatas manobras. Mas o Leixões não aceitou o título do Porto!

No arranque para nova época, mas ainda em 1940, no Campeonato do Porto, jogo entre o Académico e o F. C. Porto. Partida triste, que durou apenas... 43 minutos. Tempo bastante para que, emboldriando-se os jogadores em cenas indignas, ficasse tragicamente célebre – ensarilharam-se dirigentes do futebol em jogos subterrâneos —, acabando a FPF por se aconchavar contra o F. C. Porto, fazendo tábua rasa de uma decisão da AFP, retirando-lhes o título regional que os portistas acabariam por ganhar...
Aos 18 minutos do famigerado Académico-F. C. Porto, Guilhar agrediu Raul e o árbitro expulsou ambos. Logo de seguida, António Santos, ao ser desarmado por Eliseu, agrediu-o, abrindo novo burburinho. O árbitro expulsou Pinga. No reatamento da partida, Pocas agrediu Marques e o academista teve de abandonar o terreno em braços. Carlos Pereira foi expulso e o F. C. Porto punido com uma grande penalidade que Soares dos Reis defendeu. A partir desse momento não foi mais possível jogar-se futebol. O público, sem razão justificada, vaiou o árbitro e insultou os jogadores. O campo foi inundado de almofadas e... aos 30 minutos, Lopes Carneiro saiu do campo em braços. Dois minutos depois, foi o árbitro a abandonar o terreno com a cabeça a escorrer sangue, vítima de cobarde agressão de um díscolo das bancadas, sendo substituído pelo seu juiz de linha. Que em braços, também, sairia do relvado, aos 43 minutos. E o fiscal de linha que subira a árbitro deu o jogo por terminado, por o F. C. Porto ter apenas cinco homens (Soares dos Reis, Zeca, António Santos, Pacheco e Nunes), decidindo, arbitrariamente, conceder a vitória ao Académico.
Crónica da «Stadium»: «A história deste encontro é triste e irá, decerto, chamar a atenção não só da Federação, como da própria Polícia. A partir dos 15 minutos não se fez futebol. Dentro do rectângulo os jogadores esmurraram-se de todas as formas e feitios, com o mais solene desprezo pelas leis que regem o futebol. Não há que acarretar culpas ao juiz da partida. Durante o tempo que dirigiu o jogo, foi sempre enérgico, reprimindo a tempo os destemperos. O público não quis compreender o seu trabalho e levou longe a sua paixão clubista. Os jogadores perderam a noção do papel que representavam e os desmandos foram aparecendo uns após outros.»
Após o fim da partida mantiveram-se confrontos, registaram-se cenas de farta pancadaria, em sectores vários do campo, e o jogador do Académico, Lemos, acabaria ferido à navalhada numa perna...

Leixões negou o título e a FPF alargou o Campeonato

Os regulamentos não consideravam, então, que equipa em flagrantíssima inferioridade numérica devesse ser, imediatamente, declarada vencida. Erro técnico, pois. Que o F. C. Porto aproveitou, a seu talante, para protestar. E, sem grande surpresa, a AFP mandou repetir a partida. O F. C. Porto venceu por 1-0. Parecia, assim, outra vez a caminho da vitória no Campeonato do Porto. Deitaria tudo a perder, baqueando, na Constituição, ante o Leixões: 1-2 — se lhe fossem retirados os pontos da vitória sobre o Académico, que recorrera para a FPF da decisão da AFP, desfeitas ficariam as suas ilusões.
Sem espanto, Lisboa decidiu deferir o protesto do Académico e, contas feitas, Campeonato fechado, o F. C. Porto desceu, administrativamente, de primeiro para terceiro, mas desconcertantemente (ou talvez não) o Leixões, que, perante a decisão da FPF, passaria a assumir o título de campeão do Porto, recusou-o!!! Edmundo Ferreira, presidente carrancudo e de voz forte, quando lhe comunicaram a «boa nova», ripostou: «O Leixões repudia a benesse. O meu clube não aceita título que não ganhou! O Leixões não quer ser campeão por favor ou por bambúrrio. Não lhe assenta bem um título usurpado a outrem. Acho que foi infeliz a decisão da FPF! O F. C. Porto não merecia semelhante castigo, apenas para ser beneficiado um terceiro. Afinal, veio parar ao Leixões, que não sente nenhuma honra com o facto.»
Estatutariamente o F. C. Porto ficaria afastado da disputa do Campeonato Nacional da I Divisão. A FPF, que abrira, afinal, a boceta de Pandora, que espalhara os maus ventos, que fizera o mal e a caramunha, acabou por decidir alargar o Campeonato Nacional da I Divisão, para que o F.C.Porto pudesse ter acesso a ele, simplesmente porque as receitas dos seus jogos eram as que mais engrossavam o pecúlio da FPF, que arrecadava para si e para auxílio à II Divisão pouco menos de um terço das receitas líquidas de cada partida. E como, em 1938, o F. C. Porto batera o record de receitas de bilheteira, ajoeirando 312 contos ao longo de todo o Campeonato. Os portistas, num arrojo de orgulho, ainda contestaram o Campeonato alargado, ameaçando boicotá-lo se o Académico o disputasse, por defenderem que apenas o F. C. Porto e o Leixões tinham ganho tal direito em campo, mas o dinheiro que perderiam — e, pior que isso, os riscos a que se sujeitariam, acabaram por demover os seus dirigentes.

César com cabeça no cepo e a agressão de Pinga ao árbitro

A FPF, que ainda não tinha enviado para o Porto a taça e as medalhas referentes à conquista do Campeonato Nacional da I Divisão, conquistado através daquele polémico golo no último minuto anulado ao Benfica, na Constituição, propôs ao seu Congresso a irradiação de Ângelo César, presidente do F. C. Porto, pelas declarações que fizera em defesa do seu clube, na questão do jogo anulado com o Académico do Porto — e por ter instado a equipa a abandonar o campo nas Amoreiras. Mas, quiçá em jeito de compensação, decidiu ratificar a amnistia ao castigo de 365 dias de suspensão a Pinga, acusado de ter agredido o árbitro Vale Ramos no famigerado jogo com o Académico.
 
H

hast

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\"Dois minutos depois, foi o árbitro a abandonar o terreno com a cabeça a escorrer sangue, vítima de cobarde agressão de um díscolo das bancadas, sendo substituído pelo seu juiz de linha. Que em braços, também, sairia do relvado, aos 43 minutos. \"

Deve ter sido do do bom e do bonito. Com direito a serviço de urgências, permanente.;-)
 
H

hast

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As rocambolices dos supercampeões

O F. C. Porto dominou o Campeonato de 1939/40, que disputou após manobra administrativa. Por 20 segundos não terminou a aventura invencível...

Antes, ainda, do arranque para o polémico Campeonato de 1939/40, o F. C. Porto realizou, em dois dias, dois jogos com o Sporting. Um no Porto, outro em Lisboa. Para apresentação do seu novo reforço, o checo Petrak. Continuaram agitados os ventos... Na Constituição, derrota por 2-7. No Lumiar, 2-5. Ângelo César, apesar de sentir sobre a cabeça a espada de Dâmocles, continuava a gerir o clube — e, mantendo Miguel Siska como treinador, decidiu criar no clube o cargo de consultor técnico, atribuído a João Cal — e voltou a lançar redes para o mercado da Europa do Leste.
Na primeira jornada do «Nacional» da I Divisão, o F. C. Porto esmagou o Vitória de Guimarães, por... 11-0! Estreou-se na equipa de Siska o jugoslavo Kordrnya, que, logo aos dois minutos, com um pontapé de 20 metros... abriu o activo. Sob bons auspícios... O F. C. Porto apresentou Soares dos Reis; Sacadura e Guilhar; Baptista, Carlos Pereira e Pocas; Nunes, António Santos, Kordrnya, Gomes da Costa e Petrak.
Kordrnya, na sua primeira entrevista, considerou-se muito satisfeito com a sua nova aventura porque, no Porto, podia comprar por 20 escudos uma garrafa de vinho que, em França, quando jogava no Metz, custava... 150!

Agressões e multas.

Mas continuavam os mosquitos por cordas... Durante um treino, Soares dos Reis e Carlos Nunes envolveram-se em desordem no Campo da Constituição. A Direcção tomou conhecimento do caso e convocou os dois jogadores para prestarem declarações. O guarda-redes compareceu. O avançado não. Soares dos Reis foi castigado. Um mês de suspensão, 200 escudos de multa. Carlos Nunes, suspenso de toda a actividade. E, por ser «capitão» de equipa, foi multado em... 750 escudos sobre os honorários a receber. Era a mão pesada. Sem complacências. Por isso, Pinga, o carismático Pinga, por ter faltado a um treino seria, também, multado em 50 escudos.
Igualmente escarmentado e suspenso dos seus direitos de jogador, Lopes Carneiro. Faltou a um treino sem motivo justificado. Foi multado em 50 escudos. «Mas se devia acatar com respeito a decisão dos dirigentes do seu clube, e portanto seus superiores hierárquicos, preferiu enviar-lhes um recibo ofensivo das boas regras da disciplina pelos termos em que estava inscrito» — escreveu-se no «Sporting», rematando-se: «Zás! Suspensão até à próxima Assembleia Geral. Já lá vai o tempo em que o Lopes Carneiro dizia ao Siska — treinador da equipa — quando este lhe dava instruções ou o chamava à ordem pelo seu feitio indisciplinado: \'Olha, Miguel! Troca-me isso por miúdos\'»

Manobras de bastidores e o estranho castigo de Petrak.

Contratempos que, contudo, não desempolgavam a equipa de futebol do F. C. Porto. Que continuava de vento em popa. À quinta jornada do Campeonato Nacional da I Divisão somava 10 pontos. Com Rosado no lugar de Soares dos Reis, bateu o Sporting, na Constituição, por 4-2, alinhando com Ferreira e Guilhar como defesas, Pocas, Carlos Pereira e Baptista como médios, António Santos, Pinga, Kordrnya (que, por essa altura, alguns jornais escreviam já... Kordenha), Gomes da Costa e Petrak como avançados.
O F. C. Porto não descarrilava da rota de vitória. Após bater a Académica, em Coimbra, Petrak desfez boatos. Que não, que não estava de malas aviadas, que apenas pensara deslocar-se à Croácia, por causa de doença do pai. «Quando jogava em França, no Roubaix, desapareceu-me a mãe sem lhe poder assistir aos últimos momentos. Ficou mágoa para sempre.» Agastado estava com a forma como os adversários jogavam. «Terrível o que se passou em Coimbra. Já joguei vários anos em França. Já joguei na Itália, já joguei na Suíça. Até já joguei contra a equipa da artilharia de montanha. Nunca vi tanta violência contra os jogadores do F. C. Porto. Agora começo a perceber aquilo que me disseram há tempos — que os adversários, quando jogam com o F. C. Porto, dizem de si para si: aquilo vai ser tudo a varrer... Só que nós, profissionais, que levamos uma vida regrada, justamente para salvaguardar o corpo, não podemos estar sujeitos ao jogo que pretende apenas eliminar o adversário e não jogar com o adversário. Grave é que os árbitros condescendem.»
Na sequência da suspensão de Carlos Nunes, a Direcção do F. C. Porto decidiu nomear o madeirense Carlos Pereira, que mantinha na cidade o negócio de tabaqueiro, capitão de equipa. Não aceitou o cargo, sugerindo, ele próprio, que fosse atribuído a António Santos, para que assim se lhe elogiasse o mérito e a dedicação — e a distinção e educação intelectual!
E, finalmente, chegou ao Porto o guarda-redes húngaro Bela Andrasik, que jogava no Zidenice de Brim, da Checoslováquia. A viagem durou... uma semana. Atribulada pela neve que invadiu os caminhos de ferro da Europa Central — e por falta de lugar no avião de Roma para Lisboa. Tinha 26 anos. Era assim... Apesar de já se encontrar no Porto havia um mês, Bela continuava sem poder jogar, por questões burocráticos e empeços colocados pela FPF. Só foi autorizada a sua utilização depois dos jogos com o Belenenses e o Benfica, saldados por mais duas vitórias portistas — 1-0 e 4-2.
As manobras de bastidores mantinham-se. O F. C. Porto jogou em Setúbal e ganhou por 4-0. Petrak foi castigado com 45 dias de suspensão.
Castigo polémico e misterioso. Miguel Siska garantiu que o árbitro lhe dissera que não expulsara Petrak, que o avançado croata apenas saira «devido a jogo duro». No jornal «Sporting» escreveu-se: «...Decorreram 24 horas, uma viagem de Setúbal até Santarém... através de Lisboa — e um castigo de 45 dias aplicado ao jogador portuense. Se em qualquer altura uma penalidade destas pouco pode influir, neste momento em que dois clubes (F. C. Porto e Sporting) marcham quase a passo para a conquista do título ela representa um handicap formidável concedido a um dos interessados e é justamente essa dádiva que necessita de investigação, para ver como é possível a um árbitro mudar de opinião, sobre o que se passou, 24 horas após o jogo.» E o título da peça permitia que se acastelassem suspeições no horizonte: «Quanto recebeu o árbitro do Vitória-F. C. Porto para mudar de opinião?»
O F. C. Porto acabaria por ser batido apenas uma vez no Campeonato Nacional da I Divisão: 3-4, no Lumiar. Bastou para revalidar o título. Sofrido. Na última jornada os portistas não podiam perder com o Benfica, nas Amoreiras. Acabaram por ganhar por 3-2, em partida épica. Com as bancadas à pinha, sportinguistas e... benfiquistas unidos. Muitas bandeiras do F. C. Porto, mais do Sporting... poucas do Benfica. Seria o último jogo do F. C. Porto nas Amoreiras. Onde vivera alguns momentos dramáticos da sua carreira. O campo do Benfica fora condenado por Duarte Pacheco às obras do viaduto da auto- -estrada para Cascais, que haveria de ter o nome do ministro das Obras Públicas de Salazar, sendo o clube indemnizado em 800 contos...
Os jogadores, com os rostos perolados por camarinhas de suor, com os corações quentes da conquista, a impar de júbilo, foram, em bloco, juntos dos adeptos que tinham vindo do Porto para os vitoriar, pagando 50 escudos pela viagem em comboio especial, felicitá-los. Rorejaram lágrimas de emoção em alguns deles. Todos sentiam que aquela vitória era a vingança de todos os contratempos por que tinham passado — e era mais uma vitória do Porto sobre Lisboa. Com um toque eslavo...
Outra vez impressionante a festa no Porto. Ruas cheias de gente em exultação. Bandeiras tremulando ao vento, os heróis em passeio apoteótico em carros de caixa aberta, como se aquela mole de gente descobrisse a glória e o sentido de existir com a pronúncia do Norte nas pernas, nos golos e no êxito de todos os que jogaram lá dentro, mas que não venceram sozinhos...

A Taça perdida e a ameaça da Croácia.

Só faltava, para que a festa fosse total, a vitória na Taça de Portugal, afinal o único título nacional de futebol que o F. C. Porto ainda não detinha na sua sala de troféus. Mas um tufão de infelicidade arrasou as suas esperanças como se fossem um castelo de cartas — e os portistas quedaram-se pelas meias-finais, eliminados pelo Belenenses, após terceiro jogo. Empate na Constituição, a um golo. Empate nas Salésias, a quatro. Derrota em Coimbra, no Arnado, por 2-0.
Estalaram, então, os sinais de crise. Que se foram intensificando. Ordenados em atraso escurentaram o ambiente de júbilo de alguns dos pupilos de Siska. Petrak e Kordrnya despediram-se do clube, alegando que teriam de partir para a Croácia por terem sido instados a fazê-lo pelo cônsul no Porto, para que cumprissem serviço militar. Mas prometeram voltar logo que tudo se resolvesse.
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
3,319
16
Excelente hast li com entusiasmo os teus posts sobre as origens do pecado original e de facto não me restam dúvidas. Ser portista é uma acto de coragem! As perseguições e a discriminação da capital vêm de longe e isso é que moldou a nossa identidade. Cada vez mais me convenço que ser português é uma fatalidade e ser portuense e portista uma honra!
 
H

hast

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Como cortar a língua a César...

Em 1940, o presidente do F. C. Porto dizia dos poderes de Lisboa e da FPF o que Pinto da Costa muitos anos depois não ousaria. Para o calarem, irradiaram-no...

Não eram mal fundadas as suspeitas de que a FPF mantinha espingardeada a vontade de escarmentar Ângelo César, que, ao jeito do que, muitos anos depois, haveria de fazer... Pinto da Costa, clamava contra as tentativas de colonização do Porto por Lisboa, contra os jogos de bastidores para prejudicar o F. C. Porto, contra os árbitros que dizia que se conchavavam para que o Benfica, o Sporting e o Belenenses continuassem a dominar o futebol português. Por vezes, espantava como num País em que a lei era já a da mordaça, em que a Censura estendera os tentáculos a todas as áreas, em que a ordem era para falar baixinho e brandinho — César dissesse o que dizia.
E foi assim, sem surpresa, que o Congresso da FPF decidiu, no final da época de 1940, irradiar o presidente do F. C. Porto. Os associados portistas, replicando, fizeram do presidente irradiado... presidente da Assembleia Geral. Simbolicamente. Para presidente da Direcção foi escolhido Pires de Lima, que era, então, um dos mais notáveis deputados da União Nacional e que, inclusivamente, haveria de chegar a ministro de Salazar.
Afinal, Petrak e Kordrnya acabaram por ficar mais um ano no Porto. Deixaram de falar de questões militares quando lhes puseram nas mãos 30 contos. Deixá-los partir seria, naturalmente, hara-kiri. O F. C. Porto reapossou-se do título de campeão do Porto, utilizando como equipa-base Bela Andrasik; Pereira e Vítor Guilhar; Ângelo, Carlos Pereira e António Baptista; Pratas, Gomes da Costa, Kordrnya, Pinga e Petrak. E, batendo o Belenenses por 5-2, o Benfica por 4-3 e o Sporting por 5-1, ganhou, fulminantemente, a Taça da Páscoa. Tudo parecia um mar de rosas, mas...

A lesão de Bela e a fuga de Carlos Pereira

No Campeonato de 1940/41, o F. C. Porto deu os primeiros passos para uma penosa... travessia do deserto. Na abertura do ciclo dos jogos entre «grandes», uma derrota com o Sporting, no Lumiar, por 1-5. O jogo ficou marcado pela lesão grave de Bela Andrasik, em choque com João Cruz, tendo de ser conduzido de emergência ao Hospital de São José.
Em Março de 1941, Carlos Pereira terminou contrato com o clube e recusou-se a jogar mais pelo F. C. Porto. A Direcção aplicou-lhe castigo de... três anos de suspensão, que a FPF não sancionaria, porque, segundo Ribeiro dos Reis, «o F. C. Porto exorbitara, indo além da sua competência», já que, perante os regulamentos federativos, «os castigos impostos pelos clubes aos jogadores atingem-nos apenas durante a época em que se qualificam ou durante o prazo dos compromissos desportivos que tenham com os clubes».
O médio-centro do F. C. Porto, então a sua estrela mais refulgente, não ficaria muito tempo mais na cidade, rumando a Lisboa, para jogar no Unidos. A troco de 1500 escudos por mês. O dobro do que ganhava no F. C. Porto e de mais 30 contos de luvas. Na segunda volta os portistas não conseguiram bater o Sporting, no Lima, perdendo, assim, definitivamente, o sonho do «tri». Galgaram os sportinguistas para a meta, o F. C. Porto fechou o Campeonato com uma vitória sobre o Benfica, por 5-2, permitindo ao Belenenses alcançar o terceiro lugar mesmo sobre a meta.
A Taça de Portugal começou a tornar-se para os portistas uma espécie de «suplício de Tântalo» – tanto o sonho teimava em tornar-se desilusão –, que, desta feita, se quedaram pelos quartos-de-final, eliminados pelo Benfica. O F. C. Porto venceu no Lima, por 4-3, depois de ter perdido, em Lisboa, no Lumiar, porque o camartelo entrara já nas Amoreiras, por 0-2. Uma vez mais, os portistas queixaram-se (e parece que com razão!) do árbitro, Gabriel da Fonseca, que assinalou injusta grande penalidade a favor do Benfica, que acabaria decisiva para o desfecho. Era apenas mais um sinal do que haveria de tornar-se regra anos a fio...

in«abola»
 
H

hast

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Para não voltarem a ser incomodados e ainda, por cima, obrigados conceder-lhe razão, os senhores da FPF irradiaram o presidente portista. Os portistas elegiam simbolicamente Angelo César para presidente da Assembleia Geral, mas o grito de revolta ecoava por toda a cidade. Por coincidência (?), desde que a voz incómoda de César foi amordaçada, começaram então as arbitragens que de forma descarada prejudicavam sucessivamente o FC Porto, como se pode constatar na consulta de qualquer jornal da época.
Sporting - 5 - FC Porto -1 / 1940/41
Henrique Rosa, o homem que de negro vestido, pintou a sua actuação de verde e branco, encarregou-se de consentir o terceiro golo na sequência de um fora de jogo claríssimo e validou o quarto tento, quando o guardião Andrasik se contorcia com dores no chão, graças a duas fracturas nos ossos da face, depois da agressão de João Cruz.
A equipa portista, sempre comandada por Siska, ainda conseguiria fechar o campeonato com uma vitória de 5-2 sobre o Benfica, mas a derrota consentida no Lima, ante o Sporting tinha-a já atirado irremediavelmente para fora da rota do \"tri\", naquele em que seria mais tarde recordado como o ano em que os árbitros viraram \"anjos negros\".
 
H

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A queda dos anjos...

À entrada dos anos 40, os portistas afundaram-se em desgraça. Sonhos desfeitos, cofres vazios – e os árbitros em jeito de «anjos negros».

Mais que os títulos perdidos, as receitas do Campeonato deixaram os dirigentes do F. C. Porto apreensivos. O clube era, genericamente, o campeão das receitas. Só no primeiro Campeonato da Liga, em 1937, foi batido pelo Benfica, que nesse ano fez no seu campo 190 contos, contra 169 do F. C. Porto. Mas nos três anos seguintes o F. C. Porto bateu de longe os restantes, conseguindo os seguintes totais: 312 contos em 1938, 272 em 1939 e 304 em 1940. Pois, neste Campeonato, o F. C. Porto limitou-se a fazer, no seu campo, 120 contos de receita. Isto é, menos de metade da época anterior!
Em termos de receitas líquidas, o F. C. Porto, que recebera 107 contos em 1937, 182 em 1938, 157 em 1939 e 194 em 1940 — nesta época arrecadou apenas 80 contos, ou seja, menos 114 contos do que em 1940, recebendo dos jogos efectuados no seu campo 34 contos e indo buscar ao campo dos adversários cerca de 46. Por exemplo, em 1940 receberam no seu campo 102 contos e no campo do adversário 92!
A divergência que se nota nos números relativos à presente temporada explica-se pela circunstância de terem sido muito fracas as receitas dos jogos mais importantes que o F. C. Porto disputou no seu campo. Contra o Benfica os portistas fizeram 32 contos de receita bruta de bilheteira, quando em 1940 tinham feito 117 e em 1939 e 1938 respectivamente 118 («record» da prova) e 103. Contra o Sporting, 26 contos em 1941, contra 65 em 1940, 64 em 1939 e 97 em 1938. Assim, em termos líquidos, os portistas arrecadaram, no seu campo, 11 contos contra o Belenenses, 10 contra o Benfica e 7 contra o Sporting. E, no campo do adversário, 16 contos contra o Benfica, 13 contra o Sporting e 7 contra o Belenenses.
Dores de cabeça que agravavam a situação financeira. O futebol portista gastou mais de 600 contos, o défice quase ascendeu a... 200. O tempo era de crise. Que se agravaria. Os ordenados começaram a falhar. E foi sem surpresa que, no final da época, Petrak e Kordrnya, assumidamente profissionais, disseram adeus à Constituição. Petrak assinou pelo Estoril, então na II Divisão, o outro regressou à Croácia.
Assim, não admira que, para a época de 1941/42, Carlos Nunes fosse redimido. E voltasse à equipa. As nuvens negras continuaram acasteladas. Com Coelho da Costa nomeado capitão-geral e chefe da secção de futebol, o F. C. Porto classificou-se em terceiro lugar no Campeonato do Porto. Depois de consultar as Associações de Futebol, que anuiram, a FPF decidiu (uma vez mais) alargar para 12 o número de clubes participantes no Campeonato Nacional da I Divisão, já que, pela classificação no «Regional», o F. C. Porto, então com 2889 sócios, teria de disputar o Campeonato da... II Divisão. Do plantel, pouco rejuvenescido, faziam parte, entre outros, Bela Andrasik, Vítor Guilhar, Anjos, Baptista, Pratas, Sacadura, Carlos Nunes, Sárria, Pinga, Augusto, Nunes, Correia Dias, António Santos, Humberto, Alvarenga, António Nunes, Gomes da Costa, Valongo, Póvoas, Pocas e João Taipa.
O sinal do que valia de facto o F. C. Porto foi dado logo no primeio jogo, com o Sporting: derrota pesada, 0-5. Coelho da Costa demitiu-se de capitão-geral, sendo substituído por Valdemar Mota, Miguel Siska manteve-se como treinador. Os portistas seriam ainda goleados pelo Benfica (1-5) e pelo Belenenses (3-7), somando... sete derrotas em 22 jogos, quedando-se pelo quarto lugar no Campeonato, com 28 pontos, a 10 do Benfica, a 6 do Sporting e a 2 do Belenenses. Prémio de consolação: apontando 36 golos, Correia Dias foi o melhor marcador do Campeonato. Para a Taça de Portugal, nova decepção — nas Salésias, ante o Belenenses, 1-5.
Na temporada seguinte, já com Luís Ferreira Alves na presidência, o F. C. Porto recuperou o Campeonato do Porto, mas no Campeonato Nacional da I Divisão maiores agruras ainda: nove derrotas e quatro empates, em 18 partidas, sétimo lugar, com 14 pontos, os mesmos da Académica, a 20 (!) do Benfica, a 19 do Sporting, a 18 do Belenenses, a 6 do Unidos de Lisboa, a 4 do Olhanense. Humilhante e histórica a derrota com o Benfica, no Campo Grande, por 2-12, tendo os portistas alinhado com Valongo; Luís Alfredo e Guilhar; Pocas, Nunes e Baptista; Póvoas, Gomes da Costa, Correia Dias, Pinga e Araújo. Mais escandaloso ainda: nos oitavos-de-final da Taça de Portugal, o F. C. Porto perdeu em Setúbal por... 0-7!!!
Consolador, apenas, nessa época negra, o facto de, na primeira volta do Campeonato, em partida perdida para o Benfica, por 2-4, na Constituição, o F. C. Porto ter obtido uma receita bruta de bilheteira de 117.165$00, por pouco não batendo o «record» de receitas que se mantinha desde 1939: 117.727$00. ~
in«abola»
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
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O Porto foi abaixo na época de 40 graças a uma coligão conhecida pelo BSN, Benfica, Sporting, Belenenses que controlavam o futebol português e tudo faztiam para que o Porto não chegasse a qualquer título só com o Yustrich já na década de 50 mais propriamente na época de 55-56 é que se conseguiu o almejado título depois de um jejum de cerca de 15 anos! Jogadores como o Pinho, o Monteiro da Costa, o Jaburu, o Carlos Duarte, o Pedroto, o Virgílio, o Henãni que eram de longe a nata do nosso futebol é que com um sacrifício enorme chegaram ao título! Dizia o Yustrich que para o Porto ganhar o campeonato tinha de jogar duas vezes mais que a concorrência tal era a roubalheira no campo e na secretaria! Penso que ainda hoje só quem treina o nosso clube é que percebe o que é a perseguição de Lisboa! Aliás o Jesulado percebeu-o na época passada. Mas nos anos di antigo regima a tarefa de ganhar um título era simplesmente ciclópica! É por isso que eu acho que os 5 títulos ganhos no tempo do Salazar e Caetano valem bem por uns 15 ou 20!