Estórias da nossa história

Ferjo

Tribuna
18 Julho 2006
4,890
31
Perth Australia
Ja naquele tempo a Comunicacao Social...

Reparem na dualidade de criterios de um e outro artigo. No primeiro teve que ser o jogador benfiquista a confessar o feito, presumo que passado anos. Portanto na altura tudo na paz dos anjos e os jogadores portistas a sofrerem na pele. Nao ha qualquer referencia \'a cronica do jogo.

No outro a \"Stadium\" presumo na cronica do jogo, descreve com pormenor o rol de agressoes que o capitao benfiquista tera sofrido durante o jogo. E nao se coibe de ate\' emitirem opinioes sobre a prestacao do arbitro.
 
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hast

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Szabo, campeões e árbitro espanhol.

Na final de 1932, o F. C. Porto enfrentou o Belenenses. A 15 minutos do fim vencia por 4-1, mas um coelho retirado da cartola obrigaria a novo jogo.

Eliminado o Benfica, surgiria no caminho do F. C. Porto o Belenenses, que com dificuldade afastara o Barreirense. Não se notavam, quer nos jogadores, quer nos técnicos, quer nos dirigentes, quer nos simpatizantes portistas, sentimentos escurentados por fumos de desconfiança. Antes pelo contrário. Tal como, alguns anos antes TezIer, Szabo inflara no clube uma cultura de confiança que empolgava, que ateava sonhos, quase fazendo com que os futebolistas partissem para a liça como super-homens na ilusão de que era possível até a conquista da Lua.
O Campo do Arnado, em Coimbra, voltou a ser o terreiro da luta. A 3 de Julho se jogou a final do Campeonato de Portugal de 1932, arbitrada pelo espanhol Ramon Melcón, a quem a Federação Portuguesa de Futebol recorreu por não ter sido possível obter o acordo entre os dois clubes relativamente a qualquer juiz português.
Os pupilos de Szabo chegaram com surpreendente facilidade a uma vantagem de 4-1, com golos de Pinga (2), Valdemar e Acácio Mesquita. Parecia que nada poderia pôr empeços aos seus desejos. Mas por vezes o destino desconcerta: à última hora o Belenenses teve de substituir o seu habitual avançado-centro, Rodolfo Faroleiro, pelo reserva José Ramos — e como o substituto não estivesse em dia de inspiração, Artur José Pereira decidiu, perto do fim, quase em solução de desespero, colocar nessa função o médio-centro Augusto Silva. Foi coelho que saltou da cartola — Augusto Silva destroçou a defesa do F. C. Porto apontando... três golos, o último dos quais, o do empate, a quatro, aos 88 minutos. Com ambas as equipas visivelmente transtornadas pelo esforço anterior, no prolongamento nada se alterou a não ser um maior empertigamento dos lisboetas, que de nada valeria devido à exibição notável de Siska.
O regulamento do Campeonato de Portugal determinava que a finalíssima se disputasse no domingo seguinte, mas não pôde respeitar-se a praxe porque a Associação de Futebol de Lisboa combinara um Lisboa-Astúrias para o dia 10 de Julho. E por isso se jogaria a 17, outra vez sob arbitragem de Ramon Melcón, cuja direcção do primeiro encontro se considerara modelar.

Os ferrenhos supporters e as queixas do espanhol.

Os ferrenhos supporters do F. C. Porto chegaram a Coimbra em toda a espécie de viaturas: automóveis — de Rolls-Royce ao Ford Modelo T —, camionetas, comboios especiais e bicicletas. Os bilhetes custavam cinco escudos e quem primeiro chegasse ao Amado melhor se instalava.
A primeira parte terminou com empate a uma bola. O F. C. Porto abriu o activo graças a uma grande penalidade apontada por Pinga, imposta por mão claríssima de César. Empatou o Belenenses, por intermédio de Bemardo Soares. Para Ribeiro dos Reis esse golo da igualdade chegou um tanto contra a corrente do jogo, pois o F. C. Porto, obtido o primeiro tento, passou a instalar toada de ataque não muito pronunciado mas mesmo assim predominante e o Belenenses só de vez em quando aliviava para surtidas, as mais adequadas das quais eram neutralizadas pela tarde infeliz do seu extremo-direito, Heitor Nogueira. «O título de campeão de Portugal decidiu-se aos 17 minutos da segunda parte, com um goal dos mais brilhantes que se verificaram em partidas de futebol, pois começou num pontapé de alívio de um defesa, Avelino Martins, e de então até a bola entrar na baliza do finalista lisboeta só jogadores portuenses lhe tocaram: Álvaro Pereira, Valdemar, Pinga, Carlos Mesquita, que centrou, e o seu irmão Acácio, que lhe deu o caminho da rede com um pequeno toque, aliás, perante o assombro da defesa belenense. A ovação a este goal durou minutos!... — feita, como é bem de calcular, pela massa dos adeptos dos portuenses. A vitória do F. C. Porto ficou bem justificada pelo jogo desenvolvido na segunda parte e a nota a darse é a de que a sua equipa esteve mais vezes perto do terceiro tento que a lisboeta de buscar igualdade que fizesse discutir a posse do título.»
A arbitragem de Ramon MeIcón não agradou tanto como da primeira vez mas a sua imparcialidade foi considerada inquestionável por todos os críticos. Desgostoso ficou, contudo, com o comportamento de alguns dos homens da Cruz de Cristo: «Comentar um jogo limpo é agradável. Comentar um jogo duro é aborrecido, especialmente quando, como consequência da excitação dos ânimos, a nossa conduta imparcial de árbitro honesto é posta em xeque e discutida pelos jogadores. Nesta partida houve mais disputa, os dois teams jogaram de igual para igual. Houve dureza desmedida, é certo, mas o que mais me consternou foi a falta de elegância revelada comigo pelos dois extremos do Belenenses — Ramos e José Luís — ante a derrota. Individualmente, no F. C. Porto gostei de Pinga, de Álvaro Pereira e de Avelino. No Belenenses, sobretudo na primeira parte, Augusto Silva defendeu una barbaridade!»

De carro para o hotel.

Indescritível aquele momento que se seguiu ao fim do encontro! O campo transformou-se num mar vibrante de cabeças. Frementes. Os jogadores do F. C. Porto foram arrastados em triunfo pela multidão ululante. Nenhum pôde resistir. A mole era gigantesca e o entusiasmo colossal. Sorrisos, foguetes, bandeiras em tremulina. Só muito tempo depois, recolhidos os aplausos frenéticos, os campeões tomaram quatro automóveis e, ainda com bagas de suor — ou seriam já de felicidade e festa? — perolando-lhes as faces, mantendo os equipamentos sujos e ensopados, correram para o Hotel Astória, onde se banharam, enfim.

Beijos, cervejas e remoques .

O repórter da «Stadium» estava lá e registou nota curiosa: «Avelino, o backmuralha, passou no corredor e alguém, julgando-o sozinho, deu-lhe um grande abraço pregou-lhe um beijo! Quando aparecemos, alegremente, a testemunhar o ocorrido, recebemos, então, a palavra formal, por parte do nortista entusiasta, de que não fora por mal. Honni solt qui mal y pense!...» Pois. No quarto de Avelino, pouco depois, garrafas de cerveja pelos cantos. Na festa que se prolongava. E, bebericando, Acácio Mesquita disparou: «Os homens de Belém, com a bola nos pés, não sabem jogar! Sabem, sim, ser duros. Mas não é com dureza que se pratica, foot-ball.»
In «abola»
 
H

hast

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8-0 ao Benfica e delegado agredido

Os benfiquistas estagiaram em Vizela. Em tarde de sonho, os portistas, que tinham ido para a Quinta da Vinha, conseguiram resultado histórico. Pior sucederia nas cabinas

Os sinais exteriores de riqueza sempre consolaram. Mágoa de quase todos os portistas era, em plena década de 30, terem sede pobrezinha, pouco melhor do que a que, não muito antes, se instalara num barracão da Rua da Constituição. Os adversários, sobretudo os do Académico e do Progresso, não calavam, a propósito, murmurejos para denegrir essa imagem de clube com «palmarès», que não conseguia, sequer, sede condigna com a grandeza. Nem sequer seria preciso viver com sibaritas, na luxúria do luxo espaventoso. Mas assim também não...
Em Março de 1933 o F. C. Porto deu mais um passo em frente, inaugurando sumptuosa sede, na Praça do Município, ao cimo da Avenida dos Aliados. Um espaço, enfim, à medida da grandeza do clube. Vastas salas mobiladas e decoradas a rigor, que impressionavam esplendidamente. Sala de troféus, índice do esforço e do valor dos seus atletas, repleta de taças e troféus. Ginásio amplo e moderno. Sala de espera — e dependência destinada a perpetuar a memória de dois dos maiores jogadores portistas do passado: Tavares Bastos (que, dois anos antes, morrera de tuberculose) e Velez Carneiro — e a contrastar, fazendo pendent, a figura viva, apaixonante, de Norman HalI, com a mesma expressão que ele mostrava ao natural, sempre sorridente, sempre de sorriso posto. E um grande salão de bilhares, luz esfuziante e bem disposta, apelando à diversão, apelando ao convívio, entre sócios, entre portistas.
Empolgados e orgulhosos viviam, pois, os adeptos do F. C. Porto. No desfrute doce do seu prestígio. Sentimentos que mais se aqueceram, que mais se exaltaram quando, em Maio de 1933, o F. C. Porto humilhou o Benfica, que acabara de se sagrar campeão de Lisboa, nos quartos-de-final do Campeonato de Portugal.
Sabendo que os lisboetas estavam em estágio em Vizela, havia três dias, na antevéspera do jogo os futebolistas do F. C. Porto foram colocados em clausura para repouso na Quinta da Vinha, nos arredores da cidade, onde se instalara já o Lar dos Jogadores, que albergava todos aqueles que não eram portuenses.

Regresso de Szabo aos... 8-0 os insultos, as agressões e a fuga.

Porque Castro, lesionado, não pôde alinhar, jogou... Joseph Szabo, o treinador, a médio. E como se fosse boa sina, repetiuse o resultado da sua estreia de azul e branco vestido: vitória por 8-0! O árbitro fora o espanhol Pedro Escartin, que, alguns anos depois, se tornaria cronista de «A Bola».
Dentro de campo, aparentemente, tudo bem. Contestação ao árbitro também não se notou. O alvoroço e as cizânias rebentariam depois do apito final de Escartin. Laurindo Grijó, director da FPF e delegado ao jogo, dirigiu-se à cabina do Benfica, onde o ambiente era, naturalmente, de cortar à faca, envolvendo-se em polémica verbal com Manuel da Conceição Afonso, o presidente-operário do Benfica. Trocaram-se insultos, Grijó apequenou o Benfica e ofendeu o presidente, um dos jogadores suplentes agrediu-o. Grijó tentou a fuga para o campo, mas as agressões multiplicaram-se. A FPF, reunida em Coimbra, resolveu suspender até ao Congresso os jogadores Eugénio Salvador (esse mesmo, o actor), Ralf Bailão e Miguel de Oliveira, preparando-lhes a irradiação, pura e simples, para então.
Reagiu o Benfica, denunciando o nome do agressor, António Guedes Gonçalves, anunciando, também, que decidira já suspendê-lo de toda a actividade. A começar, precisamente, no dia do jogo da segunda «mão», com o F. C. Porto.

Como Eugénio Salvador se salvou da irradiação.

Espanhol seria, também, o juiz da partida nas Amoreiras: Ramon Melcón. Desta feita a vitória coube ao Benfica, por 42, mas a desvantagem trazida do Ameal era, naturalmente, fatal. E mais que a suave consolação dos benfiquistas, a partida ficaria marcada por incidentes vários.
Respigo da crónica de Júlio d\'Almeida, na «Stadium»: «O F. C. Porto é uma equipa digna de se ver jogar. Mais uma vez a sua classe se afirmou de maneira insofismável. Viu-se privada quase de início do seu «capitão», Valdemar, que teve de sair do campo depois de carregado deslealmente por Pedro Silva. Censurável o procedimento deste jogador, que levou todo o primeiro tempo na preocupação do jogo violento e caça ao homem. O mesmo devemos dizer de Vítor Silva, capitão do Benfica, que por vezes, abandonando a sua grande classe, se entregava ao jogo incorrecto. Melcón, que desde o início vinha fazendo reparos ao jogo de Vito, resolveu expulsá-lo, quando este carregou Siska.» Gasolina nas labaredas! Os adeptos benfiquistas protestaram a decisão de Melcón, o capitão recusou abandonar o campo, o árbitro pediu ajuda policial, nervos sentiam-se à flor da pele, valeu, na circunstância, o poder magnético e o fair play de António Ribeiro dos Reis que, como Vítor Silva insistindo em não acatar a decisão de MeIcón de abalar para as cabinas, se abeirou do jogador, exigindo-lhe que saísse. Pegou-lhe no braço, acompanhou-o na caminhada, dandolhe azeda lição de moral.
Entretanto, a FPF reconsiderou e decidiu ilibar Eugénio Salvador, Ralf Bailão e Miguel de Oliveira. O F. C. Porto contraatacou, cortando relações com o Benfica. Pelo que acontecera no Ameal e pelo que acontecera nas Amoreiras. Os dirigentes do Benfica, em comunicado, lamentaram que se quebrasse assim o óptimo relacionamento de longos anos, crivando «a actuação apaixonadamente hostil e cega de uma parte aguerrida da imprensa do Norte, que não pode, por isso, ver os telhados de vidro que por ali proliferam, alimentando possivelmente uma política de conveniências de ocasião e que criou um péssimo ambiente, a que não se puderam eximir os dirigentes do F. C. Porto».
In «abola»
 
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hast

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União de... Lisboa e outras peripécias.

F. C. Porto e Sporting necessitaram de terceiro jogo para decidir acesso à final do Campeonato de Portugal de 1933. Os benfiquistas foram para Coimbrafazer claque, como... «leões».

Adversário que se seguiu aos portistas nas meias-finais do Campeonato de Portugal: o Sporting. Na primeira-mão», em Lisboa, empate a um golo. Com os portistas igualando a 30 segundos do final da partida, graças a Acácio. Não contando com Valdemar, Avelino e Castro, todos lesionados, o F. C. Porto perdeu, aos 20 minutos, o seu maestro, Pinga, que, violentamente carregado, abandonou o campo, recebeu assistência médica, regressando, já no segundo tempo, para apenas sacrificado oficio de corpo presente. Tudo parecia ouro sobre azul na segunda «mão». Os sportinguistas estagiaram em Oliveira de Azeméis e descobririam aí macaquinha que haveria de se tornar sua mascote, seu talismã. Chegaram ao Ameal de camioneta, mesmo em cima da hora do jogo. E empataram a zero, obrigando a terceiro jogo. Em Coimbra.

A crónica da união lisboeta pelo recordista... portista.

E o Benfica voltou a unir-se ao Sporting, contra o F. C. Porto. É pelo menos isso que se percebe bem na leitura da crónica da revista «Stadium»: «Aqueles milhares de cabeças, aquela dominância álacre, gorjeante, da presença feminil, em que o sorriso romântico da tricana morena se fundia com o sorriso mais mordente doutras mulheres de Portugal, iam-nos pouco a pouco chamando à verdade. Também faziam claque. A célebre claque dos atletas em luta. A falange portuense, mais numerosa. Talvez 2000 pessoas. A lisboeta, menor, mas talvez mais aguerrida. Era natural. Nunca o Sporting teve uma falange de apoio. Era aquela a primeira. Impunha-se, portanto, que fosse animosa. Havendo ali emblemas de clubes diferentes, lisboetas, a falange era uma só: a de estímulo ao Sporting... A brigada de assalto sportinguista era quase toda do Benfica. Chefiava-a Cecílio Costa, cujos pulmões deram prova de resistência assombrosa e eclipsaram o entusiasmo portuense. Cecílio foi um grande general, com mão firme na tropa. Que bonito exemplo de solidariedade desportiva não deram aquelas bandeiras do Benfica, Belenenses e Sporting, entrelaçadas, agitando-se na mesma haste, para animar o mesmo clube! Vendo a débâcle dos seus favoritos, a claque portuense desertou, emudecendo, sem mais os assistir. Em contrapartida, Coimbra toda, após o jogo, era uma \'leoa\' fremente de entusiasmo pelo Sporting.»
O autor da crónica foi António Soares, que, depois de ter sido o primeiro recordista nacional do... F. C. Porto, em pesos e halteres, partiria para Lisboa, ingressando no... Sporting, notabilizando-se como nadador e jogador de water-polo. E eram os reflexos da guerra aberta pelos incidentes do Ameal e das Amoreiras.


Golo de Pinga e violência.

O F. C. Porto abriu o activo, por intermédio de Pinga, logo aos 15 minutos. Na segunda parte o Sporting deu a volta ao jogo, vencendo por 3-1, num jogo que «descambou para a violência, qualidade esta bem aproveitada pelo físico atlético dos homens de Lisboa».

Protesto... «extravagante».

Baseado nisso e em «vários erros do árbitro», o F. C. Porto apresentou protesto, que os jornais de Lisboa consideraram... «extravagante». A FPF lançou-o, discretamente, para o cesto dos papéis e o Belenenses sagrou-se campeão de Portugal.
In «abola»
 

Kelvin87

Tribuna Presidencial
7 Maio 2007
22,353
870
Grande historiador Hast, sem dúvidas, precioso conteúdo para actualizar informações.
FORÇA GRANDE PORTO.
 
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hast

Guest
Raptados ou talvez não.

O F. C. Porto ofereceu 800 escudos por mês aos melhores futebolistas do Boavista. De raptos se falou. E Pinga, sentindo-se mal pago, tentou fuga para o Funchal.

Foram os portistas para férias. Com a angústia do título perdido. No defeso, os dirigentes do F. C. Porto, sob liderança de Eduardo Dumont Vilares, desmultiplicaram- se no sentido de reforçar ainda mais a equipa de futebol. Para voltarem a ganhar. E, por isso, se para alguns estoirou como petardo uma nota publicada por Silva Petiz na «Stadium», para outros isso nada tinha de supreendente. Dizia assim: «O que mais se discute no presente momento [em Setembro de 1933] é o assunto palpitante dos jogadores empalmados do Boavista. Primeiro, o facto de os profissionais terem sido, com o clube a que pertencem, rudemente atacados — para, depois, serem raptados e levados ajogar o seu primeiro match com o Académico. Defraudando o Boavista em mais de 15 contos, esses jogadores levaram também para os arraiais portistas muita discórdia, porquanto, sabendo-se que eles eram profissionais, que ganhavam — Vasco Nunes, Castro e Carlos Pereira, 800$00 mesalmente — os rapazes do F. C. Porto, aqueles que estão a receber menor, achando-se com mais direitos, por serem mais antigos — protestam, querem mais, também, e com toda a razão, com toda a justiça. Na avalancha dos associados do grande clube — aquela mais sensata — também se protesta pelas aquisições... De uma forma que, por muito tempo, será motivo de sobra parafalácia — o rapto dos jogadores do Boavista.»

Parar Pinga à entrada do comboio.

Percebeu-se, pouco depois, que a notícia visava abrir campanha de desestabilização no seio do futebol portista. Conseguindo-o. Era assim, também, o jornalismo, então...
Pinga, a estrela da companhia, era, naturalmente, dos que se julgavam injustiçados. Queria que lhe pagassem pelo menos mil escudos por mês. E, revoltado, fez as malas, comprou bilhete para Lisboa, para regressar à Madeira — ou, se calhar, tentar aventura no Brasil. Os dirigentes do F. C. Porto conseguiram pará-lo na Estação de São Bento e convencêlo a ficar. A poeira assentou quando a bola começou a rolar. E as ondas de conflito amainaram-se. Só o guarda-redes Castro não descobriu o caminho da felicidade. Contratado para substituir o lendário Siska, acabaria ultrapassado na corrida para a baliza do F. C. Porto por Soares dos Reis. Mas continuou a receber 800 escudos por mês para jogar nas reservas...
In «abola»
 
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hast

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> Percebeu-se, pouco depois, que a notícia visava abrir campanha de desestabilização no seio do futebol portista. Conseguindo-o. Era assim, também, o jornalismo, então...

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Era assim, também, o jornalismo, então... e até aos dias de hoje continua exactamente igual. Foi e é, um jornalismo feio, porco e miserável. Um jornalismo que assenta, na sua essência, na inveja, no fanatismo, na corrupção intelectual e fisica de quem o pratica. E poderia estar aqui o dia inteiro a adjectivar e nomear todos os porcos e mesquinhos pseudo-jornalistas que vivem obcecados CONNOSCO.

Este tópico, pelo menos servirá para que todos fiquemos a saber que desde os primórdios do futebol português, o FC PORTO sempre foi o alvo a abater. O «jornalismo» de hoje tem raízes profundas, nasceu e criou-se comungando de ideologias aberrantes e retrógradas que, infelizmente, nos conduziu até aos «calabotes, carolinas, vieiras, morgados, paixões, manhas, coroados, pinhões, botelhos e tanta, tanta porcaria mais.
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
3,319
16
Belíssimo hast!Boas histórias do nosso Porto e a recordação de gente tão ilustre como o Acácio Mesquita, o Valdemar da Mota, o Artur de Sousa \"Pinga\",o Mihayl Siska, o Norman Hall e o famoso Velez assassinado como disseste nos Congregados depois de um jogo de futebol em circunstâncias estranhas...Aliás ao falares do Belenenses, lembrei-me do Pepe, que homenageamos sempre que vamos ao Restelo. Também ele morto ao que parece por envenenamento, dizia-se na altura devido a comida estragada...mas a suspeição ficou para sempre no ar tal como no caso do nosso Velez (cenas de alcova?!)!
 
H

hast

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Glórias e misérias...

O F. C. Porto humilhou equipa-maravilha da Europa. Mais quente ainda a euforia com vitória sobre o Atlético de Madrid, por 4-1. Mosquitos por cordas, depois, em jogo com o Boavista

O Natal de 1933 foi de festa para os futebolistas do F. C. Porto, já que bateram uma selecção de Budapeste que Joseph Szabo convidara para digressão por Portugal, por 7-4. Oito dias depois, uma das suas maiores proezas. Por cá andava também o First de Viena, que os reclamos para os jogos consideravam ser uma das equipas-maravilha da Europa. Os seus jogadores ganhavam, então, nunca menos de 2200 escudos e o seu presidente, depois de ter visto o Benfica, o Sporting e o Belenenses, a todos vencendo, afiançou que «os portugueses só ainda não tinham alcançado retumbantes triunfos no estrangeiro porque não possuíam campos relvados». Pouca gente (sobretudo de poder) deu muita importância ao desabafo.

Os violentos rapazes da equipa-maravilha

A equipa-maravilha acabaria vergada ao ardor e à galhardia do F. C. Porto, perdendo por 0-3, no Estádio do Lima.
Na «Stadium», Silva Petiz escreveria, como se as suas palavras rebentassem de euforia: «A cidade do Porto acaba de vibrar de entusiasmo; a sua população, mesmo aquela quota-parte que nem entende nem se interessa pelo futebol, sentiu, nesta tarde memorável para os anais do desporto tripeiro, uma comoção intensa ao verificar que compatrícios seus souberam vencer alguns estrangeiros que, em campo raso, embora jogando a bola, os enfrentavam como superiores dominadores.» E, depois, na passada o lamento: «Os excessos de violência dos estrangeiros obrigaram a várias paragens e muitos protestos, sendo condenável semelhante atitude dos homens que, sendo mestres, recorreram a tamanhas truculências. Já muito desorientados, os austríacos impedem com o corpo, e por todos os processos, que as suas balizas voltem a ser atingidas. Há intervenções estranhas junto dos directores do First; o árbitro, cheio de paciência, não expulsa os jogadores incorrectos; o jogo vai indo para o seu termo, mas nem um pequeno aborrecimento se nota no público, que vai apreciando todas as peripécias.» E, sobretudo, a glória de ver assim inane e humilhada a equipa-maravilha...
Já em Janeiro de 1934, outra retumbante vitória: 4-1 ao Atlético de Madrid. Espantados ficaram os espanhóis com a forma como os portistas conjugaram com pleno sucesso a técnica e a alma e o seu treinador, Pentland, deslumbrado, disse de Pinga: «É um bom interior em qualquer parte do Mundo, formando com Acácio e Valdemar um trio perigosíssimo.»

Doença e adeus de Siska

Não muito tempo depois, começaram a acastelar-se nuvens negras no horizonte portista. Siska adoecera a anunciara adeus definitivo ao futebol. E, sem se saber bem porquê, Joseph Szabo foi castigado pela Direcção do F. C. Porto, ficando, inclusivamente, impedido de treinar os seus pupilos.
Já com Szabo redimido, em Maio, o F. C. Porto arrancou, fulminante, para a conquista de mais um Campeonato do Porto, ao bater, no Ameal, o Boavista por... 11-1 (!), alinhando com Soares dos Reis; Avelino e Jerónimo; Nova, Álvaro Pereira e Carlos Pereira; Lopes Carneiro, Valdemar, Acácio Mesquita, Pinga e Castro.
Houve mosquitos por cordas. O ambiente aquecera com a memória desperta do que acontecera no defeso, altura em que o Boavista acusou o F. C. Porto de ter raptado Álvaro Pereira, Carlos Pereira e Castro (que que não defrontou os ex-companheiros, continuando suplente de Soares dos Reis). Quando o F. C. Porto já vencia por 6-1, no final do primeiro tempo, abriram-se incidentes graves. Na «Stadium» o registo da «jornada de triste memória»: «Precisamente por se achar prejudicado com a arbitragem, e por o árbitro deixar bater nos seus camaradas sem castigar, Óscar, nos balneários, foi violento para Manuel Nogueira, insultando-o, segundo este assevera. Nessa conformidade, o árbitro notificou o defesa do Boavista para que não alinhasse, visto que ele o não consentiria. Óscar, porém, entrou no rectângulo e dispôs-se a jogar, travando-se conflito, sendo chamada, pelo árbitro, a Polícia para expulsar Óscar. Este retira-se e há grande confusão. Luzia agride o árbitro, vem mais polícia, generaliza-se a desordem e Luzia é preso, retirando-se sob custódia. Entretanto, intervindo o presidente da Comissão Administrativa da AFP, Figueiredo e Melo, e outras pessoas, o jogo a muito custo, muito devagar e sem nenhum interesse, recomeça sem o defesa do Boavista. O público começa a debandar por prever o que se iria dar — e que foi nem mais nem menos que uma... brincadeira —, pois nem os próprios adversários, os rapazes do F. C. Porto, que não interferiram em nada nesta emergência — se interessaram no jogo.»
Foram, assim, 45 minutos para cumprir calendário. Com os portistas marcando mais cinco golos, quase por obrigação, em lances em que era proibido falhar. Tudo se estragara nas cabinas ou no regresso ao campo. E assim, surpreendentemente, aos 80 minutos, Manuel Nogueira, o árbitro, apitou e abandonou o campo.
In «abola»
 

Ferjo

Tribuna
18 Julho 2006
4,890
31
Perth Australia
> hast Comentou:

> > Percebeu-se, pouco depois, que a notícia visava abrir campanha de desestabilização no seio do futebol portista. Conseguindo-o. Era assim, também, o jornalismo, então... >


Curioso e\' a Bola escrever isso... Um pingo de vergonha?
Hast, estas cronicas na Bola sao da autoria de Jornalistas ou sao artigos nao assinados?
 
H

hast

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Caro Ferjo, estas crónicas na Bola são da autoría de jornalistas. Esta publicação tem, seguramente, mais de dez anos e é apresentada como sendo um trabalho do jornal.
Eu vou ver se descubro quem foi que fez esta belíssima obra.

Um abraço.
 
H

hast

Guest
Trama, suspensão e nem um médico!

O Boavista conseguiu arregimentar, no seio da AFP, um bloco antiportista. Quando o protexto surgiu o F. C. Porto foi suspenso, ficando impedido de disputar o Campeonato de Portugal de 1934.

Essa partida acabaria por ser o rastilho de pólvora para bomba que estoiraria não muito depois. Bloco formado, entre outros, pelo Boavista, Leixões, Académico e Progresso, acusaram, no seio da própria AFP, o F. C. Porto de dominar o futebol nortenho mais que pelo génio dos seus jogadores — através de ardis, solércias, jogadas subterrâneas. Tumultos. Voltilhões de denúncias. Demissões. Ataques e contra-ataques. O conflito estendeu-se e o F. C. Porto e o Salgueiros acabaram por ser suspensos da actividade desportiva, após conclusão do Campeonato do Porto, não podendo, por isso, ambos disputar o... Campeonato de Portugal, que, para os portistas, era o objectivo fundamental e que, perante as prestações contra estrangeiros, parecia perfeitamente ao seu alcance. Faltava apenas um pretexto para se ensarilhar o F. C. Porto. Encontrou-se no facto de os seus jogadores não aceitarem, obviamente por imposição da sua Direcção, convocatória para o Porto-Lisboa, jogando, nesse mesmo dia, em Guimarães, com o Vitória.

Empate com super-Brasil.

O Campeonato do Porto esteve suspenso enquanto durou a guerrilha. Acabaria por decidir-se em Julho, depois do armistício, e, empatando com o Académico, por 3-3, o F. C. Porto venceu-o. Como era da tradição. Por essa altura sabia-se já que, na época de 1934/35, a FPF lançaria o Campeonato da I Liga. Era outro sonho aberto para os homens de azul-e-branco, que, entretanto, para evitar a paragem forçada, defrontaram a selecção do Brasil, acabadinha de regressar do Campeonato do Mundo de Itália, empatando com ela a zero golos, partida que teve como convidado de honra o ministro da Guerra, acidentalmente no Porto. As crónicas não deixaram de exaltar os «estupendos jogadores brasileiros», sobretudo Valdemar, Leónidas, Martin e Canali, mas escrevendo-se, por exemplo, na «Stadium»: «Foi um match soberbo e se o F. C. Porto tivesse mais um pouco de chance [que era estrangeirismo muito usado nas crónicas de futebol para dizer... sorte] teria saído vencedor do terreno.» E, adiante, Silva Petiz afiançou: «Os brasileiros fartaram- -se de elogiar o futebol tripeiro — isto é: a superioridade do nosso futebol sobre o de Lisboa. Lastimando haverem perdido — o empate não lhe servia — em vez de se inferiorizarem a si próprios, pretendendo provar que jogaram pouco, ou menos do que as suas possibilidades, foram francos e leais: perderam porque o adversário lhes saiu valoroso. Até nisso são espertos — e só fazem bem.»
Continuando dominada pelo bloco anti-portista, a Associação de Futebol do Porto não deixava de parecer uma boceta de Pandora. Por esse tempo ficou a saber-se que o fundo de assistência que se criara para ajudar futebolistas (e treinadores!) lesionados estava... nuzinho de todo. Disso padeceu Szabo, que continuava a jogar futebol. Em partida de reservas, o húngaro-russo (que haveria de naturalizar-se português) foi atingido numa costela, mas a AFP nem sequer lhe facultou consulta médica. O médico não o examinou e bem teria morrido se não fosse consultar-se a médico particular. Por intermédio do F. C. Porto apresentaram-se as facturas para reembolso, mas debalde — foi-lhe recusado pagamento, alegando-se dificuldades no fundo de assistência.

Acácio, 500 escudos e um emprego.

Por maus lençóis andava, também, Acácio Mesquita, um dos símbolos de sucesso do F. C. Porto. Pressionara a Direcção a arranjar-lhe um emprego, decidindo não jogar enquanto não visse satisfeitos os seus desejos. «É verdade que ganho dinheiro no F. C. Porto [e ganhava pouco mais de 500 escudos por mês], mas quero modificar a minha situação, olhar para o futuro. E embora possa ser subsidiado se o ordenado a receber não for de molde a satisfazer as minhas aspirações, não posso prescindir de um lugar que me ocupe, onde possa singrar para a vida, que positivamente não há-de ser sempre só futebol.»
E sentindo quente essa vontade de se arrimar para a vida, fazer-se homem por si, como se fez jogador, o F. C. Porto arranjou-lhe emprego, como funcionário de uma casa comercial do Porto. O emprego não lhe afastou as nuvens negras, antes pelo contrário, e, algum tempo depois, Acácio, que tantas tardes de glória dera ao seu clube, perdeu a titularidade, porque o seu poder realizador já não se afirmava, nas primeiras jornadas do Campeonato da I Liga, que parecia estar a correr mal ao F. C. Porto.
Treinava-se, como os demais, às sete horas em ponto, às segundas, quartas e sextas. Szabo ainda não era o treinador durão em que haveria de transformar-se pouco depois. Mas impusera já o esquema de multas de... «dez per cente» sempre que um jogador chegasse atrasado ao treino ou que, naquilo que ele chamava «jogo séria», chutasse dentro da área e... falhasse o golo!!!
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A Liga dos Campeões.

O F. C. Porto ganhou a primeira edição do Campeonato da Liga. Apesar dos empeços que o «poder de Lisboa» lançou para o seu caminho, mandando repetir um jogo porque o árbitro dera o dito por não dito.

Cumpriu-se a tradição. O F. C. Porto, que ganhara a primeira edição do Campeonato de Portugal, venceu, igualmente, a edição de arranque do Campeonato da I Liga. De forma fulgurante. Apesar de alguns empeços lançados no seu caminho pelo «poder de Lisboa»... A entrada nem sequer foi com o pé direito. Em Lisboa, empate a um golo com o Belenenses. Ao intervalo os portistas perdiam por 0-1, mas logo após o reatamento Carlos Nunes igualou. «O F. C. Porto cresceu sobre o adversário, comandando bem a situação, mas não teve sorte para alcançar a vitória que várias vezes esteve à vista. E apesar do seu domínio os portuenses estiveram em risco de derrota, ao sofrerem um injusto penalty com que o árbitro os castigou. O Belenenses não soube, porém, aproveitar a deixa. Bernardo apontou fraco e à figura e Soares dos Reis não teve dificuldade em afastar o perigo.» Mas, em questões de arbitragens e outros jogos subterrâneos bem pior estava para vir.
Na segunda jornada, 7-1 à Académica, estreando-se na linha avançada o madeirense Artur Alves, que, segundo cronista da época, «revelou qualidades, deixando impressão de que será, no futuro, um esplêndido elemento, embora sem esquecer Acácio Mesquita». Marcou dois golos, tal como Carlos Nunes e Pinga, cabendo o outro a Lopes Carneiro.
Ainda no Porto, vitória por 2-1 sobre o Benfica. Fervilhou no Ameal esse tumulto das gentes que querendo ignorar as suas próprias tragédias, desventuras, sofrimentos — ansiavam por redimir a desgraça na vitória dos seus ídolos, na vitória do Norte sobre o Sul. «Tecnicamente a primeira parte valeu mais que a segunda. O F. C. Porto, nesse meio tempo, jogou como em dia grande e o Benfica nem por ser dominado teve falta de ânimo. O guarda-redes Amaro valeu aos vermelhos com três excelentes defesas em que salvou lances perigosíssimos... Marcaram os golos, Pinga e Lopes Carneiro.»

Os profetas da desgraça e a cabeça de Szabo.

Oito dias depois, em Fevereiro de 1935, o F. C. Porto perdeu em Setúbal, por 0-1. Arautos de desgraça clamaram contra o destino, falando de uma equipa destroçada, quase em jeito de espectros e não de gente com sangue quente e de ambição correndo nas veias, porventura agitada por frémitos de impaciência ou desconfiança em si próprios. E, nos múrmurios dos bastidores, pedia-se a cabeça de Szabo. «A linha avançada do F. C. Porto furtou--se ao choque com a defesa contrária e esta impôs a sua vontade. E fizeram muitas esquivas e acabaram por inferiorizar-se ante o adversário. Minutos antes do golo marcado por Rendas, Carlos Nunes teve um golo à vista, num remate de cabeça que a trave defendeu. Na segunda parte o F. C. Porto merecia ter marcado, pela pressão que exerceu, apesar de os setubalenses se remeterem a uma porfiada defesa, de forma a salvar o resultado. Dentro da área chegaram a juntar-se 16 jogadores! A cinco minutos do fim, um ataque cerrado dos portuenses foi concluído com um excelente remate de cabeça que chegou às redes, mas que o árbitro anulou por suposta deslocação...»
Regresso às vitórias a 16 de Fevereiro, em Lisboa, perante o União de Lisboa: 2-0. E, enfim, a redescoberta do caminho da felicidade, do brilho, da glória — mas sem que isso se percebesse logo. «A primeira vintena de minutos teve brilhantismo do melhor que podem proporcionar grupos portugueses. Tudo a sair bem de parte a parte, paradas e respostas sucessivas, a bola ora sobre uma baliza ora sobre outra, no comportamento e na limpeza das entradas... Os guarda-redes foram as figuras salientes desses vinte minutos — Figueiredo, do União, e Soares dos Reis, do Porto, em autêntica competência um com o outro...
Na segunda parte, com golos de Artur Alves e Lopes Carneiro, o F. C. Porto adiantou-se...

Cores vivas de esperança.

No Porto, 3-0 ao Académico, com tentos de Pinga, com «um remate formidável, quase de meio campo», e de Carlos Nunes (2).
E, uma semana volvida, outra vez no Ameal, no fecho da primeira volta, o F. C. Porto bateu o Sporting, por 4-2. Tumulto e animação de gente eufórica, que enchia as bancadas de ruído e cor — como se o azul-e-branco de algumas das bandeiras que tremulavam ao vento fosse, outra vez, as cores vivas e quentes da esperança e da exultação. «A primeira parte do encontro deve ter compensado sobejamente as centenas de entusiastas que se deslocaram ao Porto. Foram 45 minutos de jogo rápido, enérgico, por vezes muito bem conduzido. O primeiro tempo teve beleza e emoção e, se cansou um pouco os jogadores — o andamento da segunda parte ressentiu-se do esforço inicial —, não deixou também de cansar os espectadores que tiveram de viver a partida minuto a minuto, na incerteza do resultado. O jogo iniciou-se de feição para os portuenses. Dois golos seguidos, quando passavam apenas cinco minutos de luta, pareciam o prelúdio duma vitória copiosa. O Sporting, que soubera suportar os azares da luta, conseguiu também dois golos em cinco minutos. Depois do empate, uma ligeira desorientação que poderia ter custado a derrota aos campeões do Norte. Mas um terceiro golo, marcado por Pinga, levantou de novo o grupo, pondo um freio oportuno à subida do Sporting. No segundo tempo, o andamento do jogo baixou. A rapidez e energia do início não podiam viver os 90 minutos. E a luta perdeu brilhantismo. No entanto, o F. C. Porto, nesta segunda parte, teve vantagem, mesmo com dois elementos magoados. Avelino Martins e Carlos Pereira não consentiram que o Sporting voltasse a ter ascendente. Depois do quarto golo, aos 20 minutos, por Pinga, numa jogada de boa execução — toda serenidade e inteligência —, o resultado não oferecia dúvidas... Neste jogo, a «máquina do F. C. Porto trabalhou afinada, e o seu volante no jogo de ataque (aquele que demonstra a eficiência da máquina) foi o excelente jogador que ocupa o lugar de interior-esquerdo — Pinga!»
Para esse desafio organizou o Sporting um comboio especial, tendo sido de 50 escudos o custo da viagem.

A auréola romântica do jogo para... repetir.

Mas os seus adeptos, cerca de mil, quase se perderam naquele mar eufórico de azul-e-branco, raramente se ouvindo os seus incitamentos. Ganhando, os portistas tinham cada vez mais incandescente o sonho. Que mais ficaria no arranque da segunda volta, a 10 de Março de 1935, quando o F. C. Porto bateu o Belenenses, por 5-4, numa partida brilhantíssima, com emoção, fulgor e entusiasmo! Um desafio que teve de tudo: a auréola romântica do imprevisto, energia, frequentes pedaços de bom jogo, erros a justificar a marcação de bolas e, pairando sobre estas e outras coisas que reflectem, no campo e em volta, confiança, desilusão, entusiasmo e alegria — aquele factor que sempre acompanha o volta-face, que se chama emoção.
Na primeira parte, 3-1 para o Belenenses, com o único golo portista marcado por Pinga. O quarto de hora final do primeiro tempo fora efectivamente aterrador para o F. C. Porto, que se deixou manobrar, dando, por vezes, impressão de reacção impraticável. E, em face disso, ao intervalo, a possível vitória dos lisboetas era aceite de um modo geral. As esperanças desfeitas, a angústia nos rostos dos adeptos portistas e no olhar frio com que os seus jogadores saíram para a cabina. Como se da atmosfera ressumasse mais que melancolia, angústia — na iminência da esperança atraiçoada.

O árbitro e a Polícia a cavalo.

O futebol e os homens têm coisas assim. A clara diferença dos estados de espírito das duas equipas, ao terminar o primeiro tempo, serviu, afinal, para valorizar de forma brilhantíssima o primeiro quarto de hora da segunda parte, findo o qual o F. C. Porto tinha marcado três golos, transformando o 3-1 do adversário em 4-3 a seu favor. Esta recuperação empolgou. Não houve, decerto, ninguém no campo que se tivesse abstraído da emoção que o jogo teve às mãos-cheias, nesse curto período, que ainda pareceu mais curto pelo sem-número de coisas julgadas pouco antes incríveis e que se verificaram.
Os jogadores portistas, com os rostos cobertos de camarinhas de suor e coração quente, continuaram, apaixonados, a liça. Difícil descrever o ambiente e espectáculo dentro e fora do terreno. O Belenenses empatou já no quarto de hora final e, aos 83 minutos, o golo da vitória do F. C. Porto...
Mas, para que o dramatismo se estendesse ainda mais, a um minuto do fim, o árbitro, António Palhinhas, assinalou penalty contra os portistas, por alegada mão de Valdemar. Caiu Tróia! A atitude do árbitro foi, porém, incerta e, acabando por ir perguntar ao seu «lineman» se fora ou não «penalty», deu o dito por não dito, reatando o jogo com bola ao ar. Brados e gritos, blasfémias praguejadas pelos lisboetas e muitos dos seus adeptos que se tinham deslocado ao Porto em comboio especial, pagando... 40 escudos pela viagem, intervenção policial, com a guarda a cavalo amainando a tempestade à força de bastão.
Os dirigentes do Belenenses não calaram o desafio: que protestariam o jogo. Dito e feito.

O árbitro-jornalista e as agressões em Coimbra.

Uma semana volvida, nova vitória do F. C. Porto, em Coimbra, por 4-2. Num desafio que decorreu em ambiente de paixão intensa e que voltou a ter lamentável final. «O desafio decorreu num ambiente de paixão intensa. Parece que entre conimbricences e portuenses havia contas antigas a pôr em ordem e o encontro, naturalmente, ressentiu-se desses desejos de revindicta. Tavares da Silva dirigiu o encontro. O ambiente apaixonado do desafio prejudicou o seu trabalho, que foi muito irregular. Mas os deslizes que teve não justificam as lamentáveis agressões de que foi vítima por parte do público.»

Tropeção e jogada de secretaria.

A quatro jornadas do fim, tropeção portista. Que poderia ter sido fatal. Nas Amoreiras, vitória do Benfica, por 3-0. Com mil portistas nas bancadas, que tinham chegado em comboio especial. Pagando 50 escudos cada qual. «Os portuenses não responderam à chamada no seu encontro vital com o Benfica. Por mau dia, falta de ânimo, caso psicológico ou fosse pelo que fosse, o grupo do F. C. Porto não se exibiu como exigiam as suas necessidades, não esteve à altura da situação e do seu próprio valor. Jogou muito mal, abaixo nitidamente das suas possibilidades...»
E, apesar de ter batido o União de Lisboa, por 7-4, parecia que o céu desabara sobre a cabeça dos portistas. Surpreendentemente, a FPF dava provimento ao protesto apresentado pelo Belenenses, no jogo emotivo do Porto. Era talvez um processo (ou uma solércia?) para tentar entravar a marcha ascensional que o F. C. Porto vinha tomando na disputa do Campeonato da Liga. Não surtiu o efeito desejado, porquanto em novo jogo os portistas mantiveram a sua posição de líder da competição, ao vencer, de novo, o Belenenses. «O F. C. Porto ganhou com justiça, por um golo apenas, mas com uma superioridade que podia ter tido maior expressão no segundo tempo.»
Depois, ambas no Porto, duas vitórias: 7-0 ao Académico do Porto, 3-2 ao Vitória de Setúbal.

Campo Grande de sonhos azuis

E, a 12 de Maio, no Campo Grande, a grande decisão. Sporting e F. C. Porto eram os candidatos que restavam. Aos portistas bastava um empate. E foi com um empate (2-2) que regressaram ao Porto. Apoteoticamente. «O estado de espírito com que os dois grupos encaravam o encontro era absolutamente diferente. O F. C. Porto entrava já a ganhar por 2-0 (da primeira volta) e com essa vantagem podia adoptar uma táctica em que arriscasse pouco, preocupando-se mais em salvar o resultado que em construir uma vitória que desse brado. A circunstância de não poder utilizar Pinga, que se encontrava doente, deve ter levado a equipa a encarar mais ainda a partida sob esse aspecto de preocupação exclusiva de manter o resultado. Pinga é o verdadeiro cérebro do ataque portuense, o inspirador das suas jogadas de conjunto.»
Nesse último jogo, o da consagração, o F. C. Porto alinhou com Soares dos Reis; Avelino Martins e Jerónimo Faria; Nova, Álvaro Pereira e Carlos Pereira; Lopes Carneiro, Valdemar Mota, António Santos, Carlos Mesquita e Carlos Nunes e os dois golos foram marcados por Carlos Nunes e Lopes Carneiro.
A chegada ao Porto dos jogadores consagrou o brilhantismo com que o F. C. Porto conquistara o Campeonato da I Liga. Milhares de pessoas aclamaram os vencedores, que foram conduzidos em triunfo desde a estação de S. Bento até à sede da Associação de Futebol.

Ouro por subscrição pública.

A 19 de Maio, por iniciativa de Bento Correia e de Sebastião Ferreira Mendes, foi iniciada uma subscrição pública entre os associados do F. C. Porto destinada a oferecer medalhas de oiro a todos os jogadores que conquistaram o Campeonato da I Liga. Por essa altura, sabia-se que estava depositada na Caixa Geral de Depósitos a quantia de 209.079 escudos para construção do Estádio Distrital, sonho que os portistas aqueciam, mas em Junho o projecto foi abandonado porque Herculano Ferreira, o governador, deixara o cargo, pelo que a verba foi distribuída por casas de caridade.
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A vergonha dos espanhóis.

Em arremedo de Taça Ibérica o F. C. Porto bateu o Bétis, por 4-2. Os sevilhanos chegaram pela madrugada e pela madrugada partiram. Falou-se de glória e falou-se de vergonha
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Em 7 de Julho de 1935, o campeão de Portugal defrontou o campeão de Espanha, num arremedo de Taça Ibérica. O F. C. Porto ganhou por 4-2. «Foi uma vitória nítida, incontestável.» Alinhando com Soares dos Reis; Avelino Martins e Jerónimo Faria; Nova, Pocas e Carlos Pereira; Valdemar Mota, António Santos, Artur de Sousa Pinga, Carlos Nunes e Carlos Mesquita. Golos de António Santos, Pinga (2) e Nunes. Comentário de um jornalista de Lisboa: «Glória ao F. C. Porto, que mais uma vez soube representar brilhantemente as nossas cores contra um campeão estrangeiro. O Bétis foi batido com nitidez. Segundo lemos em alguns jornais, os jogadores espanhóis chegaram ao Porto na madrugada do dia do encontro. Não nos interessa a atenuante. Sabiam ao que vinham e o título que ostentavam. Supuseram, talvez, que a tarefa era fácil, acreditando-se na \'enorme\' diferença de classe que alguns críticos espanhóis se encarregaram de pôr a correr depois do último Portugal-Espanha. E em face do resultado obtido, saíram do Porto tão depressa como tinham chegado, na madrugada a seguir ao jogo. Por vergonha?»
Continuava em exposição, na Casa Clarck, na Rua da Santo António, a taça que o F. C. Porto conquistou no Campeonato da I Liga.

1000$00 para abater os leões.

Eram tempos de euforia, que seria esfriada nas meias-finais do Campeonato de Portugal. Depois de eliminar Olhanense (4-4 e 9-2) e Vitória de Setúbal(4-1 e 0-1), os campeões da Liga baquearam. Ante o Sporting. No Campo Grande, no dia 16 de Junho de 1935, derrota por 0-4. Sem contestação. Ou poalha de injustiça. Na segunda «mão», 0-0. E o que antes fora festa e riso, volvera-se, agora, no silêncio pesado, cortante, como se nos sorrisos fechados, nas bandeiras que se esconderam, houvesse o negro sombrio dos dramas e das desventuras. «Apesar da desvantagem sensível com que o F. C. Porto saiu do seu primeiro desafio com o Sporting, o público portuense deu uma prova formidável da confiança que deposita no seu campeão, pois encheu de lés a lés o Estádio do Lima, a ponto de ser registada a maior enchente da época — e no dizer de alguns o «record» de todos os tempos. Não ganhou o F. C. Porto, não se qualificou para a final o campeão da I Liga... O empate está certo. E mais certo ainda porque, aos cinco minutos, Lopes Carneiro, numa colisão com Dyson, ficou quase inutilizado para o jogo e à meia hora saiu Álvaro Pereira, magoado também, recuando Pinga para médio. Com a parcial incapacidade de Lopes Carneiro e a retirada de Álvaro Pereira pode mesmo dizer-se que o esforço dos portuenses, que não saíram diminuídos da luta, foi simplesmente formidável, pois nem um só momento sequer renunciaram a ver satisfeitos os seus desejos. Energia a rodos, muita alma e muita coragem foram as características da equipa, que sai belamente da competição, apesar de jogar quase sempre com nove elementos.» Por não terem conseguido eliminar o Sporting, cada portista perdeu 1000$00, prémio que a Direcção oferecia pela passagem à final!
A 18 de Setembro de 1935, em Assembleia-Geral, foi aprovado o aumento de quotas: sócios de peão pagavam 7$50, de bancada lateral 10$00 e de bancada central 15$00. Até aqui apenas uma categoria de sócios, que pagavam 5$00.
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Estágio de Szabo por... subscrição!

Para que Szabo pudesse estagiar em Londres, fez-se subscrição pública no Porto. O dinheiro não chegou. O treinador só seguiu viagem porque Jerónimo Faria lhe emprestou seis contos!

Joseph Szabo (que, alguns anos volvidos, adquirida a nacionalidade portuguesa, passaria a chamar-se... José Sezabo) demonstrou desejos de estagiar durante mês e meio em Inglaterra, a fim de assistir aos treinos das melhores equipas daquele país, no desejo de colher ensinamentos e verificar o que de novo por lá havia em tácticas e técnica. Os propósitos de Szabo foram recebidos com a melhor simpatia, mas nem as mirradas finanças do clube nem o ordenado do treinador podiam comportar a despesa dessa deslocação.
Um «movimento de solidariedade» se manifestou, então, na cidade, no propósito de que se facilitasse a Joseph Szabo a visita de estudo. Abriu-se uma subscrição, o «Norte Desportivo» realizou uma sessão cinematográfica cujo produto se destinou ao mesmo fim e como, em conclusão, a importância obtida não podia cobrir toda a despesa — tanto mais que Szabo, depois do estudo entre os britânicos, desejava ir à Hungria visitar a família — o seu pupilo, o esforçado defesa Jerónimo Faria, emprestou-lhe seis contos.
Encantado ficou com os treinos do Arsenal. A 19 de Setembro regressou ao Porto e a um jornalista contou, empolgado: «A disciplina é de ferro. O treinador entra no balneário, se não como um semideus, pelo menos como pessoa que é obedecida. Entre ele e os jogadores há a diferença que existe entre um general e um soldado.»
Por isso, aplicando já métodos novos, no dia seguinte, na abertura da época, obrigou os seus pupilos a percorrer sete quilómetros a pé e avisou-os que passava a vigorar um esquema de multa de 10 por cento sobre o valor do ordenado para todas as falhas — e já não só para os atrasos. As prevaricações eram comunicadas à Direcção, que, através de bilhete-postal, comunicava o valor das multas a descontar no ordenado.
Carlos Alves, avô de João, surgiu como novo reforço do F. C. Porto. Estreou-se a 6 de Outubro, no Ameal, contra o Belenenses. Com uma derrota. Insólita. Nos últimos cinco minutos, quando o público já começava a debandar, os portistas, confiados na vitória, deixaram à vontade os avançados do Belenenses, que assim aproveitaram para marcar dois golos...
A 1 de Novembro, F. C. Porto e Benfica reataram as relações desportivas, após três épocas de divergências. António Figueiredo e Melo foi o pioneiro dessa reconciliação, mas os seus principais obreiros foram Dumont Vilares, por parte do F. C. Porto, e Vasco Ribeiro, pelo Benfica.
A 15 de Dezembro, ponto final no Campeonato do Porto. Com vitória do F. C. Porto sobre o Leixões, por 10-0. O F. C. Porto somou nove vitórias e apenas um empate, marcando 53 golos e sofrendo apenas 10. Carlos Mesquita foi o seu melhor marcador, com 16 golos.
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...E Szabo de chicote na mão!

Szabo tornou-se irascível general. Multando por tudo e por nada – e exigindo que os futebolistas fizessem corridas de mais de sete quilómetros. Acabaria vítima dos seus novos métodos

Para 1936 partiram os portistas estadeando o título de campeões da Liga. Prometeram defendê-lo sem desânimos que os quebrassem nem nuvens que lhes ensombrecessem a alma de ganhadores que, entretanto, se desvendara. Só os novos métodos de Szabo os traziam intrigados, por vezes irritados. Ele, que fora companheiro terno de outras vezes, tornara-se espécie de irascível general, obcecado pela disciplina, apavorado pelo sexo antes dos jogos, transformado em intransigente polícia de costumes, vigiando quartos, aplicando multas de 10 por cento sobre os ordenados simplesmente por alguém chegar ao treino das sete da manhã com um... minuto de atraso!
Nas entrevistas, já os jogadores do F. C. Porto já não afirmavam o que, antes do estágio do Arsenal, diziam dele, embevecidos, e que Jerónimo sintetizou assim: «Akoz Tezler ensinava o jogo curto, cruzado em passes muito miúdos, aliás muito agradável. Porém, Szabo transformou essa forma, dando ao jogo outra concepção: ataque rápido, fulminante, precedido de jogadas compridas, deixando-se o mais possível o drible na linha de backs. Assim, temos um jogo menos demorado, mais eficiente, o que se faz com a boa vontade de todos e os conhecimentos de Szabo, que são muitos.»
Na primeira jornada do Campeonato da Liga, derrota com o Sporting, por 2-3, no Lumiar. Aos 10 minutos já os portistas perdiam por 2-0. Depois, reabilitaram-se «dando uma ideia inegável do valor da sua linha de ataque».
Vitória sobre a Académica (5-0) e, na terceira jornada, a 2 de Fevereiro, no Porto, empate com o Benfica: 2-2. «Os ‘azuis-e-brancos’ dominaram na segunda parte sem jogar dentro do seu sistema. Os portuenses não puseram em prática nenhum daqueles esquemas preciosos, nenhuma daquelas filigranas de jogo que tanta vez tem provado saber realizar. Dir-se-ia que tinham deixado em casa a cartilha. A partida foi caracterizada pelos nervos, pela energia e vontade de quase todos os jogadores.»
O ambiente só não era ainda agreste, as feridas abertas pelos pontos perdidos purulentas, porque, no Campeonato da Liga da temporada anterior, os primeiros tempos não tinham sido auspiciosos para os portistas. Havia a esperança de que a história se repetisse. Contudo, no regresso a Lisboa, nova derrota. E quase todas as esperanças assassinadas. Nas Salésias, com o Belenenses: 1-2. «Os campeões corresponderam em absoluto ao que se esperava deles. Os jogadores do F. C. Porto não se inferiorizaram, batalharam constantemente e marcaram nítido progresso de vontade. Foram batidos, mas tiveram como atenuante a inferioridade de Carlos Mesquita, magoado durante quase todo o segundo tempo. Ao ataque mostraram-se os portuenses uma grande equipa.»

...E a cabeça de Szabo rolou

Assim, a 9 de Fevereiro, a demissão de Szabo. Sem grande surpresa, que era de alvoroço e algumas revoltas surdas já o ambiente na cabina do F. C. Porto. Impusera os métodos de trabalho que conhecera em Inglaterra, a mais contestada das inovações eram as sessões de footing de sete quilómetros, desde a Constituição à Circunvalação. A Direcção, a princípio, consentiu, mas, depois, ante os efeitos nos... resultados, revogou a ordem. E o húngaro demitiu-se, sendo substituído, interinamente, por Miguel Siska. Um mês depois, quando Szabo treinava já o Sporting de Braga, o também húngaro Magyar chegou ao Porto para treinador do F. C. Porto. Parecia ter trazido consigo bons ventos. De seguida, duas vitórias, dois respigos de esperança: 3-1 ao Boavista e 4-0 ao Carcavelinhos. E no fecho da primeira volta, empate em Setúbal: 1-1. Era o fim da primeira volta do Campeonato da Liga. Não era deslumbrante, mas...
A 22 de Março, vitória sobre o Sporting, por... 10-1! O fel feito mel, apesar de a expressão do resultado ter sido fruto de pouco habituais vicissitudes. Um excerto da «História do F. C. Porto», de Rodrigues Teles, a respeito do histórico jogo: «Privado dos serviços do guarda-redes Dyson, ao cabo de 30 minutos de jogo, quando o score estava em 2-1, o Sporting sofreu derrota copiosa. O resultado final fica na história da competição como caso esporádico e anormal, mas daqui a alguns anos, esquecidas as circunstâncias que justificaram o elevado score, só ele entrará no balanço final. O F. C. Porto não tirou partido possível da situação. Os avançados portuenses não exploraram a valer o ensejo que se lhes oferecia de um resultado record... Aos 30 minutos, Pinga passa em profundidade a António Santos; este desmarca-se superiormente e apresta-se para rematar. Dyson adivinha o perigo e decide-se a sair. A bola atinge-o na cabeça, mas não entra. Estava salvo o golo, mas o Sporting perde o seu guarda-redes, que ficou sem sentidos. E seguiram-se quatro golos em... nove minutos. A segunda parte quase não tem história. Domínio intenso do F. C. Porto. Rui Carneiro, que ocupou o lugar de Dyson nas redes, defende com os pés, com as mãos, umas vezes bem, outras mal. Os avançados portuenses descansam um pouco e parecem pouco preocupados com o resultado. O desafio segue sem interesse. Nos últimos minutos decidem puxar a fazem mais três golos.»

A consolação dos 9-1 ao Belenenses

Após vitória por 4-1 em Coimbra, o sonho do título, irremediavelmente, volvido em fumo erradio de desilusão, os portistas em transes agrestes de mágoa: nas Amoreiras, a 5 de Abril de 1936, derrota pesada perante o Benfica, que se assumia, cada vez mais, como candidato à sucessão portista: 1-5. Mil supporters do F. C. Porto em comboio especial para Lisboa. Campo a regurgitar de gente. «O grupo portuense ofereceu handicap que foi a actuação do seu guarda-redes Romão, cujo trabalho não pode ser elogiado, pois concorreu bastante para o desaire sofrido pelos nortenhos.»
Destarte, de nada serviram as quatro vitórias seguintes: 3-0 ao Setúbal, 4-0 ao Boavista, 1-0 ao Carcavelinhos e... 9-1 ao Belenenses. Este jogo, disputado a 19 de Abril, cronicado por Rodrigues Teles, foi como que prémio de consolação para o F. C. Porto, numa altura em que a possibilidade de revalidação do título de campeão da Liga era já como que carcaça de uma quimera: «Derrota pesadíssima e sem que possa alegar atenuantes. Perdeu o mais regularmente possível um desafio em que o adversário o manobrou a seu bel--prazer. O Belenenses não correspondeu à expectativa criada à volta do seu encontro com o F. C. Porto...» Menos de dois meses depois, a vingança dos homens da Cruz de Cristo. Nos oitavos-de-final do Campeonato de Portugal de 1935/36, que era a esperança para a salvação da época. Seria mais um sonho em ruína. Após eliminarem o Sporting de Braga (4-2 e 11-0), numa espécie de révanche dos seus antigos pupilos sobre Szabo, ante milhares de adeptos portistas que viajaram em comboio especial organizado pela CP ao preço de oito escudos (ida e volta), os portistas baquearam. No regresso ao Ameal, o Belenenses empatou a um golo, reabilitando-se, podendo os portistas queixar-se de não poderem contar com Pinga e Carlos Nunes, pedras basilares do seu ataque. A 14 de Junho, nas Salésias, novo empate: 0-0. Outra vez sem Carlos Nunes, já com Pinga, «em condições difíceis pela dureza de entrada do adversário».

Vingança do Belenenses para o Campeonato de Portugal

A 18 de Junho o desempate, no Campo do Arnado, em Coimbra. Grupos de indivíduos, antes do jogo, percorreram as ruas, empunhando bandeiras dos dois clubes e vitoriando os seus favoritos. Durante o encontro as duas falanges de apoio travaram renhido despique de gritos, incitando os seus ídolos. O Belenenses, sob esse aspecto, foi favorecido, pois o público de Coimbra tomou deliberadamente o partido dos lisboetas. «A vontade do Belenenses pôde mais que a melhor técnica dos portuenses. A única bola do desafio foi marcada aos 11 minutos da segunda parte, por Amaro. Romão, guarda-redes portuense, surpreendido e prejudicado pelo sol, levantou os braços para defender, tocou ainda na bola, mas esta ganhou efeito e acabou por entrar...»
Magyar não se impusera como treinador. O F. C. Porto fê-lo regressar à Hungria. E começou a falar-se na possibilidade de regresso de Szabo. Contudo, a 23 de Agosto, Janos Biri, que fora guarda-redes do Boavista, assumiu o comando técnico dos portistas, a troco de um ordenado de 1500 escudos por mês. O clube recebera, entretanto, da AFP, 24.125$35 que lhe couberam da divisão de receitas do Campeonato do Porto, que ganhara sem contestação — o que dá bem a conta dos salários que, então, já se pagavam, apesar de o futebol continuar a ser, oficialmente, modalidade amadora.
In «abola»
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
3,319
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A época de 58-59 ia de vento em popa, a equipa azul e branca treinada por Bella Gutman sagrara-se campeã nacional sem espinhas e apresentava um plantel fantástico como Pinho, Acúrcio, Miguel Arcanjo, Barbosa, Virgílio, Pedroto, Hernâni, Monteiro da Costa, Carlos Duarte, Noé, Teixeira, Perdição, Cambalacho e tutti quanti!
Com o mesmo brilhantismo chegava ao final da taça no Jamor! Era a dobradinha em perspectiva para o pessoal cá do sítio! Nunca terá havido tanta afluência a Lisboa como nessa final de má memória. E digo má memória porque dias antes do jogo, soube-se que o mago hungaro, ele mesmo o Bella, iria treinar na época seguinte o Benfica! Caiu o Carmo e a Trindade! E caiu a equipa em pleno Jamor! Dizem os que lá estiveram (entre eles o meu pai!) que os jogadores do Porto se arrastavam penosamente pelo campo como se fossem vítimas de uma estranha maldição. O Benfica marcou logo nos primeiros segundos através de Cavém. Umgolo esquisito já que resultou de um pontapé de fora da área de Santana que bateu no poste apesar da estirada do nosso Acúrcio e ressaltou para o Cavém que atirou a contar! No fim do jogo o Hernãni era o mais inconforado tendo saído do relvado a chorar! Bella Gutman que já tinha o epiteto de feitiçeiro ou mago mais reforçou essa crença entreo os mais supersticiosos! Mas se as bruxas não existem talvez não seja mau acreditar nelas. Pois anos depois, após ter saído do Benfica profetizou:\"Sem mim o Benfica não volta a ser campeão europeu\". Até hoje a sua profecia continua inabalável...(e ainda bem!).
 
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hast

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A repreensão e a fuga de Romão

O F. C. Porto entrou titubeante para a defesa do título de campeão da Liga. Pior que os maus resultados, a rábula do guarda-redes que fugiu por se sentir de honra ferida

Em Outubro de 1936, no dealbar de nova época de futebol, o Belenenses pediu 25 contos ao F. C. Porto para fazer um jogo na Constituição. Os portistas ofereceram 18. Os lisboetas condescenderam. A vitória coube aos anfitriões, por 3-1. Um sinal do dinheiro que o futebol então já envolvia.
Depois de voltar a ganhar o Campeonato do Porto, arranque para o Campeonato da I Liga, em 1936/37, com um empate a zero com o Carcavelinhos, alinhando com Romão; Sacadura e Ernesto Santos; Nova, Carlos Pereira e Anjos; Lopes Carneiro, Valdemar, António Santos, Pinga e Acácio Mesquita (que regressava, enfim, ao futebol depois de longo letargo)...
De seguida, no Porto, 7-0 ao Vitória de Setúbal. Parecia que o horizonte estava descarminado. Mas não. O empate, no Ameal, com o Sporting (2-2) foi o princípio de uma carreira atribulada... «O jogo teve um começo auspicioso, campo repleto, público entusiástico e a manifestar-se como nos grandes dias, e exibição aceitável dos dois grupos empenhados na luta com o maior interesse. Mas infelizmente foi sol de pouca dura... À primeira infelicidade do árbitro correspondeu o coro de protesto e o sr. Cunha Pinto, de Setúbal, não soube ter mão em si. Perturbou-se, perdeu a calma e daí em diante cometeu erros sobre erros. Certo — durante a primeira parte o árbitro prejudicou o F. C. Porto. A partida, que principiara bem, acabou por degenerar num espectáculo aborrecido. Não deixou nunca de haver movimentação e energia a rodos, algumas vezes até levada a condenáveis excessos, mas a verdade é que, como desporto, o desafio desmereceu. O melhor período do F. C. Porto verificou-se no primeiro tempo, precisamente quando a arbitragem lhe estava sendo prejudicial.»
A vida é assim, com as suas amargas surpresas. E os homens uns mais sensíveis que outros. Romão, guarda-redes do F. C. Porto, foi advertido pela Direcção, pela forma «desastrada» como actuou contra o Sporting. Recebeu a comunicação antes de um treino, as faces contorceram-se-lhe, as veias parecia que rebentavam, treinou-se com ardor, sempre em silêncio — e depois disso... Desapareceu, ou melhor, a advertência pesou tanto no seu espírito que se retirou para Chaves, abrindo caminho ao regresso de Soares dos Reis.
Duas derrotas consecutivas no Campeonato da Liga mais toldaram o ambiente. Em Coimbra, 1-2 com a Académica — com o F. C. Porto protestando o desafio, alegando que o árbitro, António Palhinhas, terminara o jogo sete minutos antes do tempo regulamentar. E com o Belenenses, nas Salésias: «O F. C. Porto, contrariando os seus propósitos de remodelação da equipa pelo contratempo da falta de defesas titulares, deve ter saído abalado da tentativa, pois necessitava de um resultado feliz para enfrentar a situação e debelar a crise de que vinha enfermando.» Os três golos do Belenenses foram marcados no segundo tempo.
In «abola»
 
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hast

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Lotaria «leonina» de Joseph Szabo

O F. C. Porto marcou Assembleia-geral para aprovar o regresso de Szabo. O Sporting intrometeu-se, gorando-a. Irresistível e inovador aquilo que Oliveira Duarte ofereceu ao treinador húngaro

Em hora de angústia, começou a falar-se no regresso de Szabo, tendo-se escrito num jornal do Porto: «Szabo dirigiu uma carta a um dos actuais directores. A Direcção, que tem à sua frente uma figura de alto relevo, de tão grande tacto e inteligência como é o dr. Carlos Costa, reuniu e apreciou o documento que lhe estava indicado: entregar o assunto à massa associativa, sob o pretexto, muito certo, de ter sido a Assembleia Geral do clube que aprovou o relatório no qual o caso Szabo era tratado, isto com a agradável afirmação de que os altos interesses da colectividade estão acima de qualquer ressentimento pessoal. Atitude nobilíssima esta, digna de ser apontada à consideração e respeito de todos os sócios. Logo, sentimo-nos autorizados a dizer que o regresso do antigo treinador é caso assente, pois os associados, uma vez chamados a deliberar em Assembleia Geral, darão o seu voto favorável.»
Não chegaria a ser preciso, já que a 27 de Fevereiro ficou a saber-se que Szabo passava do Sporting de Braga para o Sporting de Lisboa, assinando contrato por três anos, sendo-lhe pagos, para além de 2 contos por mês, 50 escudos por cada empate, 100 escudos por vitória, 1000 escudos pelo Campeonato Regional, 2000 pelo Campeonato da Liga e 3000 pelo Campeonato de Portugal. Era novidade tal esquema remuneratório. Fora outra das coisas que aprendera em Inglaterra...
O F. C. Porto virou-se, contudo, outra vez para a Hungria, contratando para seu treinador Gutskas, a troco de dois contos por mês, mas sem a obrigação dos prémios suplementares a que o Sporting se comprometera por contrato com Szabo. Para além de treinador, Gutskas exerceria, também, as funções de massagista, trazendo consigo um jogador alemão, Muller, que chegou aureolado de fama, mas que se perderia por inanidades, sem sequer conseguir jogar na primeira categoria do F. C. Porto.
A 1 de Março, na estreia sob bons auspícios do argentino Reboredo, alinhando a médio-centro, o F. C. Porto bateu o Leixões por 5-0. E, oito dias depois, vitória por 2-1 sobre o Benfica. «A assistência foi a mais numerosa que o Campo do Ameal tem registado. O encontro não deixou de ser fértil em lances movimentados e até emocionantes. O guarda-redes portista esteve muito tempo inactivo e nunca as suas intervenções foram difíceis.» O F. C. Porto apresentou equipa remodelada: Soares dos Reis; Sacadura e Ernesto Santos; Carlos Pereira, Reboredo e Nova; Valdemar Mota, Pinga, António Santos, Gomes da Costa e Guilhar. Depois de vitória sobre o Carcavelinhos, nova desilusão: 0-3 em Setúbal. «O F. C. Porto não teve um team em campo. Esteve apenas representado por 11 jogadores. É que não basta pagar aos jogadores para se possuir um bom grupo de futebol. É preciso também dar-lhes espírito de equipa, de que Valdemar Mota é, no F. C. Porto, a expressão máxima. E por espírito de equipa deve entender-se o espírito de sacrifício, brio clubista e amor à colectividade. Com aquele grupo a jogar como o fez no Campo dos Arcos grandes decepções aguardam o grande clube portuense.»
Talvez o F. C. Porto pudesse voltar a sonhar...

21 contos por Vianinha

Do Brasil chegou, entretanto, Vianinha, que, na época anterior, jogara no Sporting. Pela assinatura do contrato com o F. C. Porto recebeu... 14 contos. Termo de comparação: mais ou menos na mesma altura, Fernando Peyroteo recebeu de luvas... 500 escudos. Vianinha ficava a ganhar 1500 contos por mês (o dobro de Peyroteo, que recusara proposta idêntica em verbas do F. C. Porto!!!) e o clube portista teve ainda de desembolsar sete contos para receber do Sporting a «carta de desobriga» de Vianinha, que permanecia em seu poder.
Premonitório fora o comentário de Setúbal. A 4 de Abril, no Lumiar, mais que deceppção, humilhação, O F. C. Porto perdeu com o Sporting por 9-1!!! Ricardo Ornelas aventou: «Derrotas assim são copiosas de mais para serem verdadeiras. Sorte adversa, desmoralização e todo o cortejo de consequências.»
Vitória sobre a Académica, mas as nuvens outra vez acasteladas. Derrota, em casa, ante o Belenenses, por 1-2. Uma vitória sobre o Leixões (6-1) e fecho doloroso do Campeonato da Liga com nova goleada, imposta, desta feita, pelo Benfica, nas Amoreiras: 0-6! Em «Os Sports» escreveu-se: «Três golos, um de surpresa e dois de brinde», mas condescendia-se: «O F. C. Porto deu boa réplica, submetendo-se com aprumo às contingências da luta.» E, assim, em jeito de balada triste, terminaria para os portistas o Campeonato da Liga. Com mais uma vitória do Benfica. E o quarto lugar do F. C. Porto, com 14 pontos, a 10 do campeão, a 6 do Sporting e a 9 do Belenense
In «abola»
 
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Telefone cortado e alguns calotes.

Apocalíptico o cenário! Em 1938 o F. C. Porto afundara-se em crise de finanças e identidade, com telefone cortado, dívidas a toda a gente e um défice superior a 200 contos!
Por esses dias, em Setembro de 1938, quando nos jornais proliferavam anúncios de venda de bicicletas a... prestações, por 50 escudos, o F. C. Porto vivia dias negros: rendas de dois meses por pagar, jogadores com salários em atraso, corte de telefone pela Companhia, enfim — vida triste. Se todas as verbas fossem descritas na contabilidade do clube e outras o fossem com mais verdade, o défice atingiria... 200 contos! Perante tal cenário, iminente parecia que o F. C. Porto ficasse sem... Direcção. À deriva, no mar encapelado. Mas não. Ângelo César acabaria por aceitar a presidência do clube.
E escreviam-se coisas assim, como o respigo de uma opinião de Silva Petiz: «O que se tem ouvido nas assembleias do F. C. Porto e a que propositadamente não temos querido dar relevo, porque as consequências dessa possibilidade só afectam, e em cheio, o clube, ora em maré de tão grandes provações, é de estarrecer! Sem desejarmos, portanto, avolumar os factos, sempre diremos, todavia, que a gerência que vai deixar, tão tarde, a tão más horas, o F. C. Porto, foi desgraçadamente má, perniciosa, consentindo ao clube enxovalhos de todo o tamanho - pela pasta do tesoureiro.
Como se compreende que uma Direcção, que indivíduos, até, singularmente, que ponham gravata, percam a própria dignidade, caloteando a torto e a direito, inclusivamente deixando de pagar ao hotel, na capital, onde se alojaram jogadores e directores? Que figura está fazendo o clube perante os clubes de Lisboa, que, no Porto, nunca ficaram a dever um centavo a ninguém? Como é que o sr. tesoureiro não paga equipas, não paga telefone, não paga botas, não paga o serviço que oferece, em copo-d\'água, aos seus visitantes? Que vergonha esta para o clube e para o meio futebolístico!!!...»
A política de saneamento financeiro coube a José Donas, eleito tesoureiro do F. C. Porto, através de um programa que passou pela revisão de ordenados de jogadores, pela anulação de prémios de vitória no Campeonato Regional, pelo estabelecimento de multas quando se verificasse que o jogador não cumpria, com brio desportivo, o seu dever, ou quando faltasse aos treinos — obrigando a equipa a regressar ao Porto no mesmo dia, sempre que jogasse em Lisboa, estimulando aumento de associados, para aumento de quotização.
13 500 escudos do Benfica e Gutskas trocado por Siskai!
Jaguaré, guarda-redes brasileiro que jogara no Sporting, ofereceu-se ao F. C. Porto por 10 mil francos para o Olympique de Marselha, 6000 escudos para o jogador e ordenado mensal de 1500 escudos. A Direcção portista considerou as «condições exageradas» e a transferência gorou-se. Pouco depois, Jaguaré chegava a acordo com o Académico do Porto.
Bruxuleante, ainda, contudo, a esperança de Francisco Ferreira, o filho do guarda do Campo da Constituição, continuar no F. C. Porto. O fogoso médio, então uma das maiores esperanças do futebol português, exigia 10 mil escudos para assinatura da ficha, 700 escudos de ordenado mensal e um emprego. Que era muito lhe disseram, que a hora era de apertar o cinto... Apesar de tudo o que se passara alguns meses antes, Figueiredo e Melo, que assumira (interinamente) o comando dos destinos do F. C. Porto, aceitou negociar a transferência de Francisco Ferreira para o Benfica, cedendo a carta de desobrigação por 13.500$00. O tesoureiro suspirou de alívio.
A 14 de Outubro, depois de ter iniciado os treinos da época, François Gutskas viu os seus serviços dispensados, sendo substituído por Miguel Siska. O austro-húngaro não resistiu à contestação que alguns sócios lhe moveram.
In «abola»