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Violentos homens de Belém
Em 1920, o F. C. Porto venceu o recém-nascido Belenenses. Mas os jornais da cidade falaram de violência desnecessária
Cada vez mais quentes, pois, as rivalidades com Lisboa. Em Junho de 1920, o F. C. Porto recebeu o Belenenses fundado não havia muito tempo e contando nas suas fileiras com Artur José Pereira, Francisco Pereira e Alberto Rio na Constituição. Emoção ao rubro, entusiasmo desperto. Nas bilheteiras, a primeira grande vitória: 1818$05 de receitas. E como as despesas ascenderam a 1408$94, um lucro de 409$11 com a organização do jogo. Vitória, também, no campo. Por 4-3. Crónica do «Jornal de Notícias»: «Dos grupos de Lisboa que nos tem visitado, o do Belenenses é, sem dúvida, o que menos sabe perder e menos ainda se sabe conduzir diante de um público cortês e ordeiro como o nosso quando está na presença de visitantes. O grupo de Lisboa possui no seu activo elementos de certo valor que, em caso algum, necessitam de deixar uma impressão desagradável da sua conduta. O público numerosíssimo que assistiu ao desafio insurgiu-se, por vezes, contra a violência que o Belenenses empregava frente aos portuenses. E dizíamos nós que o Belenenses não sabia perder. Na realidade, perdeu o desafio, mas se tivesse ganho, os portuenses teriam todo o direito de, moralmente, se considerarem vencedores, atendendo à sua conduta durante o jogo que foi disciplinadora e correcta.»
Em Dezembro de 1920, a convite do Casa Pia Atlético Clube, entretanto fundado, contando nas suas fileiras com Cândido de Oliveira, voltou o F. C. Porto a Lisboa, sem poder contar com Camilo Moniz (o capitão que negócios pessoais retiveram no Porto) e Norman Hall (adoentado, ficou de cama). Para dois jogos em Palhavã. No primeiro desforrou-se o Benfica, vencendo por 2-0. No segundo, empate a três. Estavam os portistas a ganhar por 3-1, já no segundo tempo, quando Floriano se magoou e saiu do campo, mas vendo o seu clube em perigo não se conteve e, num gesto estóico, voltou à liça sem avisar o árbitro, Boaventura da Silva, que fora jogador do Benfica e do Sporting. Reza crónica que «inutilizando uma avançada pela esquerda do Casa Pia, ao entrar assim sem conhecimento do referee, o juiz castiga Floriano, impossibilitando-o de voltar a jogar».
E, assim, entre 1919 e 1920, o F. C. Porto conseguia a proeza de bater todas as grandes equipas de futebol de Lisboa: Belenenses, Sporting, Império e Benfica.
A propósito, com os jogos por si organizados, contra equipas lisboetas, o F. C. Porto lograria um lucro de 69 escudos, apurando uma receita geral de 4.679$89 e uma despesa de 4.601$89. O que levou um jornalista portuense a escrever: «Este orçamento merece louvores, pois o F. C. Porto trabalhou bem, conseguindo com o seu trabalho que o Porto assistisse ao encontro dos seus homens com os melhores do Sul.»
Estava incendiado já o rastilho de pólvora dos seus sonhos. A conquista do Campeonato de Portugal que teimava em não sair do papel. Vá lá saber-se porquê...
In «abola»
Em 1920, o F. C. Porto venceu o recém-nascido Belenenses. Mas os jornais da cidade falaram de violência desnecessária
Cada vez mais quentes, pois, as rivalidades com Lisboa. Em Junho de 1920, o F. C. Porto recebeu o Belenenses fundado não havia muito tempo e contando nas suas fileiras com Artur José Pereira, Francisco Pereira e Alberto Rio na Constituição. Emoção ao rubro, entusiasmo desperto. Nas bilheteiras, a primeira grande vitória: 1818$05 de receitas. E como as despesas ascenderam a 1408$94, um lucro de 409$11 com a organização do jogo. Vitória, também, no campo. Por 4-3. Crónica do «Jornal de Notícias»: «Dos grupos de Lisboa que nos tem visitado, o do Belenenses é, sem dúvida, o que menos sabe perder e menos ainda se sabe conduzir diante de um público cortês e ordeiro como o nosso quando está na presença de visitantes. O grupo de Lisboa possui no seu activo elementos de certo valor que, em caso algum, necessitam de deixar uma impressão desagradável da sua conduta. O público numerosíssimo que assistiu ao desafio insurgiu-se, por vezes, contra a violência que o Belenenses empregava frente aos portuenses. E dizíamos nós que o Belenenses não sabia perder. Na realidade, perdeu o desafio, mas se tivesse ganho, os portuenses teriam todo o direito de, moralmente, se considerarem vencedores, atendendo à sua conduta durante o jogo que foi disciplinadora e correcta.»
Em Dezembro de 1920, a convite do Casa Pia Atlético Clube, entretanto fundado, contando nas suas fileiras com Cândido de Oliveira, voltou o F. C. Porto a Lisboa, sem poder contar com Camilo Moniz (o capitão que negócios pessoais retiveram no Porto) e Norman Hall (adoentado, ficou de cama). Para dois jogos em Palhavã. No primeiro desforrou-se o Benfica, vencendo por 2-0. No segundo, empate a três. Estavam os portistas a ganhar por 3-1, já no segundo tempo, quando Floriano se magoou e saiu do campo, mas vendo o seu clube em perigo não se conteve e, num gesto estóico, voltou à liça sem avisar o árbitro, Boaventura da Silva, que fora jogador do Benfica e do Sporting. Reza crónica que «inutilizando uma avançada pela esquerda do Casa Pia, ao entrar assim sem conhecimento do referee, o juiz castiga Floriano, impossibilitando-o de voltar a jogar».
E, assim, entre 1919 e 1920, o F. C. Porto conseguia a proeza de bater todas as grandes equipas de futebol de Lisboa: Belenenses, Sporting, Império e Benfica.
A propósito, com os jogos por si organizados, contra equipas lisboetas, o F. C. Porto lograria um lucro de 69 escudos, apurando uma receita geral de 4.679$89 e uma despesa de 4.601$89. O que levou um jornalista portuense a escrever: «Este orçamento merece louvores, pois o F. C. Porto trabalhou bem, conseguindo com o seu trabalho que o Porto assistisse ao encontro dos seus homens com os melhores do Sul.»
Estava incendiado já o rastilho de pólvora dos seus sonhos. A conquista do Campeonato de Portugal que teimava em não sair do papel. Vá lá saber-se porquê...
In «abola»