Resumo da época 1991/1992
Agosto
17 Pontapé de saída para mais um Campeonato Nacional da I Divisão, com um aperitivo apetecível no Estádio da Luz: Benfica-Boavista. E para começar, nada melhor que um escândalo. Os encarnados perderam por 0-1 e Eriksson, à saída do estádio, não escapou aos apupos de alguns associados.
Setembro
6 Depois de uma interminável polémica, os responsáveis máximos da FPF decidiram desistir do «Mundial-98» e candidatar-se à organização do «Europeu-96». Como se sabe, nem uma coisa nem outra, apenas o sonho megalónamo... Pelo meio existiu ainda a candidatura a uma final de uma prova europeia, que acabaria por ser aceite. O Estádio da Luz seria, assim, o palco escolhido para a final da Taça das Taças e que acabou por reunir o Werder Bremen, da Alemanha e o Mónaco, de França, na altura equipa de Rui Barros.
11 Na sua caminhada para o «Europeu-92», a Selecção portuguesa defrontou, nas Antas, a Finlândia e venceu, com muito sofrimento, por 1-0. Foi um «Portugal do pequenino». Rui Barros, fez uma excelente exibição e, aos 22 minutos, cruzou para César Brito apontar o tento solitário. Apesar de não convencer, a turma das quinas ao fim de seis jogos comandava agora o Grupo, juntamente com a Holanda, com 9 pontos.
14 Derby à quarta jornada do «Nacional». O palco foi o estádio de Alvalade e frente a frente estiveram Sporting e Benfica, que terminaram o encontro em branco. Uma curiosidade: no embate entre os dois «grandes» estrearam-se nada menos do que seis futebolistas, nestas andanças dos grandes jogos cá do burgo. Pelo Benfica, Paulo Madeira, Kulkov e Iuran, pelo Sporting Figo, Peixe e Iordanov. Mas esta jornada ficou ainda marcada pelo naufrágio do F. C. Porto no Funchal, ao perder por 1-0. No comando da classificação, duas equipas imprevistas, ambas com seis pontos: Boavista e Desp. Chaves.
19 Primeira mão da primeira ronda das provas europeias. O Benfica, na Taça dos Campeões Europeus, agora com um novo figurino, não teve dificuldade em esmagar, em La Valetta, o campeão de Malta que dava pelo nome de Hamrun, por 6-0, com quatro golos de Iuran, um de Pacheco e outro de Rui Águas. Para a Taça UEFA, o Boavista surpreendeu a Europa do futebol e, os homens das «camisolas esquisitas», como afiançaram os italianos, bateram, no Bessa, o poderoso Inter de Milão, por 2-1, com golos de Marlon e Barny. Em Alvalade, o Sporting também venceu, mas por 1-0, com um tento de Iordanov. No dia seguinte, novamente em Malta, O F. C. Porto, para a Taça das Taças, venceu o La Valetta, por 3-0, com golos de Kostadinov, Kiki e Mihtarski e o Salgueiros, no Bessa, venceu o Cannes, para a Taça UEFA, por 1-0. Uma entrada prometedora, com 5 jogos e 5 vitórias, com 13 golos marcados e apenas um consentido.
25 Segundo derby do Campeonato e segundo nulo. Nas Antas, F. C. Porto e Sporting não ultrapassaram o 0-0 e na quinta jornada, os três grandes contabilizavam já uma perda de pontos pouco habitual: F. C. Porto, 3 pontos; Benfica, 4; Sporting, 5.
Outubro
2 Na segunda mão da primeira eliminatória para as competições europeias, duas grandes surpresas. O Boavista resistiu em San Siro, empatando a zero bolas e afastando o colosso italiano que era o Inter de Milão. Em Bucareste, o reverso da medalha. O Sporting baqueou ante os romenos do Dinamo, por 2-0 e disse adeus à prova. Ainda para a Taça UEFA, o Salgueiros perdeu por 1-0, em Cannes, e foi afastado por pontapés da marca de grande penalidade, perdendo por 4-2. Para a Taça dos Campeões, o Benfica brindou os malteses do Hamrun, com mais quatro golos sem resposta e, nas Antas, o F. C. Porto lá se desembaraçou do La Valetta, vencendo por 1-0.
16 «Nem Suécia... nem Barcelona. Ficamos em casa de castigo» titulou «A Bola» para expressar o adeus português ao campeonato da Europa e aos Jogos Olímpicos de Barcelona. A selecção «A» perdeu por 1-0, em Roterdão, frente à Holanda e, no dia anterior, as «Esperanças» não tinham conseguido melhor que um empate a um golo, com o tento português a ser assinado por Jorge Costa. Os resultados não serviam as pretensões das selecções nacionais e, por isso, mais uma vez, sofremos a condenação de estar ausentes dos grandes acontecimentos. Um facto inédito, ou quase: a Selecção principal entrou em campo sem nenhum jogador do Benfica. Os portugueses: Vítor Baía; João Pinto, Fernando Couto, Venâncio e Leal; Peixe; Rui Barros, Oceano e Nelo; Futre e Cadete.
23 Nos oitavos-de-final da Taça dos Campeões, o Benfica recebeu os ingleses do Arsenal e empatou a uma bola, com golo de Isaías, o mesmo que 15 dias depois, em Londres, escandalizaria os ingleses. Para a Taça das Taças, o F. C. Porto defrontou o Tottenham e não foi feliz. Perdeu 3-1, na capital inglesa e comprometeu a presença na prova. Um dia depois, novamente frente a italianos, o Boavista perdeu com o Torino, no Estádio delle Alpi, por 2-0 e Marlon, um dos brasileiros ao serviço do clube axadrezado, escapou, por pouco, a uma morte no estádio.
Novembro
3 Os derbies teimaram em não render golos. No F. C. Porto-Benfica persistiram os zeros. Depois da confusão gerada com o encontro da época anterior, cujas feridas demoraram muito tempo a fechar, as duas equipas demonstraram em campo um alto grau de profissionalismo, deixando as birras para os dirigentes. Paulo Pereira lamentou-se: «Este não é o Benfica que nós conhecemos. Massacrámos e eles passaram a vida a aliviar bolas para o ar, na segunda parte nem sequer passaram do meio campo». Carlos Alberto Silva em profissão de fé: «Senti um novo F. C. Porto. Só faltou um golo à grande exibição. Esta já foi a equipa que eu quero, capaz de jogar noventa minutos ao ataque.» Eriksson suspirou de alívio: «Sofremos muito, o empate não é nada mau.»
7 Noite de glória europeia, mais uma, para o Benfica. No encontro da segunda mão dos oitavos-de-final da Taça dos Campeões, quando poucos acreditavam que tal fosse possível, os encarnados arrasaram Londres, vencendo o Arsenal, por 3-1. Os ingleses marcaram primeiro, por Pates (19 m) e pensou-se que era o fim. Mas o Benfica dos grandes palcos europeus renasceu inesperadamente e Isaías, o grande profeta da noite londrina, empatou aos 35 minutos. No prolongamento, Kulkov fez o 2-1 (101 m) e o mesmo Isaías bisou, aos 107 minutos. Eusébio falou de... «vitória à antiga». Com os ingleses rendidos ao perfume dos homens de Eriksson, restou ao Benfica seguir em frente para encontrar na fase final, no seu grupo, Barcelona, Sparta Praga e Dinamo Kiev. No Bessa, os comandados de Manuel José esbarraram com o Torino e não foram além de um empate sem golos, terminando aí a sua presença na prova. O mesmo destino coube ao F. C. Porto que, ao empatar 0-0 com o Tottenham, terminou a sua carreira na Taça das Taças. Tozé, extremo que Carlos Alberto Silva lançara no seu F. C. Porto-estilo-gazua era a voz mais quente do desânimo: «Foi um escândalo. Para além do azar que nos perseguiu, o árbitro dinamarquês (Peter Mikkelsen, que começava a desbravar o seu caminho para a glória) deixou três penalties por marcar». Dos mesmos três penalties falou Carlos Alberto Silva, que adiantou: «Fizemos tudo o que era possível para seguir em frente, não conseguimos, assumo a responsabilidade, mas não posso deixar de reconhecer que estamos a contruir uma grande equipa».
10 O F. C. Porto, outra vez com uma atitude supercompetitiva, venceu em Aveiro, por 1-0, mercê de golo de Mihtarski. Silva Vieira, presidente do Beira-Mar, reconheceu: «O golo foi bem anulado por Pinto Correia, havia dois jogadores nossos em posição de off-side, por isso não perdemos devido ao árbitro». Apesar de tudo, durante o jogo, adeptos do Beira-Mar contestaram, efusivamente, Pinto Correia e seus pares, no final da partida alguns deles engalfinharam-se em incidentes e tudo redundaria numa autêntica batalha campal, com intervenção enérgica da Polícia. Da refrega resultaram vários ferimentos, dois adeptos portistas tiveram de receber tratamento hospitalar e António Magalhães, que ao serviço do Beira-Mar fora campeão nacional de... boxe, ficaria internado, vítima de navalhada no abdómen. A equipa de arbitragem acabaria por ser evacuada por uma porta das traseiras, com escolta policial, duas horas após o final da partida. O Sporting perdeu em Guimarães e Marinho Peres, começando a pressentir o chão a fugir-lhe debaixo dos pés, avisou: «Não podemos baixar os braços». Líder continuava o Benfica, com 16 pontos, os mesmos que o Guimarães, mais um do que o F. C. Porto e o Boavista. À 11.ª jornada. Mas portistas e vimaranenses tinham menos um jogo. Na Luz, algumas ondas de choque. Eriksson, sereno, desdramatizou: «Nem os assobios, nem os aplausos me tiram o sono.»
20 A despedida, triste, de mais um «Europeu». No último encontro, frente à Grécia, Portugal venceu por 1-0, já com o pensamento afastado da Suécia. João Vieira Pinto marcou o tento, aos 16 minutos e, por Portugal, actuaram: Vítor Baía; João Pinto, Rui Bento, Fernando Couto e Leal; Vítor Paneira, Rui Barros, Peixe e Semedo; Rui Águas e João Vieira Pinto. Carlos Queirós não se engolfou em mágoa: «Exibição bonita e consistente. Com isso, quisemos dizer às pessoas que há sempre muito para ganhar. E esta noite ganhámos uma equipa para o futuro.»
27 Em Kiev, ante o Dinamo, noite negra para o Benfica no primeiro encontro para o Grupo A da Taça dos Campeões. Perdeu por 1-0 e a Rui Águas tudo correu mal. Dos seus pés saiu o atraso que deu origem ao golo de Salenko e já bem perto do fim, acabou por fracturar a região tibiotársica. Uma lesão que Nuno Ferrari captou, num flash arrepiante. E Eriksson, no final, atirou: «Muito mais do que o resultado, estou preocupado com Rui Águas. No Benfica, a saúde de um jogador vale sempre mais do que um resultado desportivo». Iuran, revoltado: «Houve clara intencionalidade! O objectivo dele foi a perna do Rui. Por isso, recusei as desculpas que Alexanenkov foi apresentar às cabinas, no fim do jogo, virando-lhe a cara. E, depois disso, só queremos oferecer a vitória ao Rui Águas.»
Dezembro
11 Segundo jogo do Benfica na fase final da Taça dos Campeões Europeus e nova desilusão. Os encarnados não foram além de um empate sem golos, apesar de o adversário se chamar... Barcelona. Eriksson: «Tivemos demasiado respeito pelo Barcelona, mas ainda não nos despedimos de Wembley.» Cruyff ripostou: «Com tantas oportunidades de golo, merecíamos ter vencido.» Ivkovic: «Neno foi o melhor, ele salvou o Benfica.»
18 Primeira mão da Supertaça Cândido de Oliveira. Na Luz, Benfica e F. C. Porto protagonizaram um bom espectáculo, com a vitória a sorrir aos encarnados, por 2-1. Iuran, Jaime Magalhães e William foram os autores dos três golos. No regresso do jogo, Pinto da Costa sofreu violentíssimo acidente, vencendo a morte por... verdadeiro milagre. O seu Fiat Croma Turbo ficou praticamente desfeito, após embate numa carrinha, em plena auto-estrada, traído por um banco de nevoeiro. Assistido em Coimbra, passou 24 horas em repouso absoluto e no domingo seguinte já esteve no Bessa, assistindo ao empate entre o Boavista e o F. C. Porto.
27 Tanta dor, tanta tristeza, tanta saudade, no funeral de Teles Roxo, cortejo de profundo pesar entre as Antas e Espinho. Morrera, aos 49 anos, no dia de Natal, num acidente de viação. Na homilia da despedida, o padre Manuel, da Igreja de Espinho, disse do ex-dirigente do F. C. Porto: «Este homem viveu a vida a grande velocidade e olhou mais para os outros do que para ele.»
29 E na viragem do ano, o F. C. Porto assumiu o comando da classificação, com 24 pontos e Vítor Baía somava já 1.169 minutos de imbatibilidade no Campeonato. Em 15 jogos, apenas um golo sofrido, apontado a 15 de Setembro, no Funchal, por José Pedro.
1992
Janeiro
4 A arbitragem portuguesa outra vez a ferro e fogo. José Pratas, que parecia ser o candidato natural à substituição de Vítor Correia como árbitro internacional, foi preterido em favor de António Marçal, que estava... suspenso pela UEFA, devido à acusação do delegado do França-Islândia que considerou que actuara como se estivesse de férias. Por isso, em vez de sete, Portugal passaria a ter apenas seis árbitros internacionais. Fernando Marques, presidente do CA, admitindo que alguém traíra... Pratas, admitiu perguntar à FIFA por que razão o alentejano fora afastado, adiantando: «Alguém propôs a alteração, se soubesse quem já o teria denunciado.» Entretanto, ficou a saber-se que o nome de Marçal fora lançado (por quem é que não) por se decidir que para os árbitros internacionais era obrigatório falar inglês...
29 A UEFA com «mão pesada» multou o Benfica em 10 mil contos, devido ao mau comportamento dos seus adeptos durante o jogo com o Barcelona, disputado em Dezembro na Luz, a contar para a Taça dos Campeões. A coima foi agravada pelo facto de um elemento da equipa de arbitragem ter sofrido ferimentos provocados por um objecto metálico arremessado das bancadas.
Fevereiro
12 Portugal bateu a Holanda por 2-0, em jogo disputado em Faro. Um espanto. Por isso se disse que aquela selecção de Queirós era quase a invenção do século. Toni, na sua condição de treinador adjunto, vaticinou: «Vencemos o campeão europeu descobrindo jogadores do futuro. Por isso este resultado há-de ficar para a história do futebol português.» Os golos couberam a Oceano e César Brito e Queirós lançou à liça Vítor Baía, João Pinto, Hélder, Peixe, Leal, Paulo Torres, Vítor Paneira, Oceano, Figo, Rui Barros (que em avião privado, posto à sua disposição pelo Mónaco, voou directamente de Faro para Nîmes, no final da partida) e Domingos. Rinus Michels, que, alguns meses antes dissera que jogar como jogou a Selecção de Artur Jorge deveria ser... proibido, embasbacou-se: «Sempre pensei que Portugal era uma das grandes equipas da Europa, com jogadores de grande classe, mas neste jogo excederam-se, não nos deram a mínima possibilidade.»
Março
5 Para a Taça dos Campeões, o Benfica empatou, na Luz, a um golo com o Sparta de Praga. Decepção. Jorge de Brito voltou a defender Eriksson e os jogadores. E o treinador pediu apenas que não se julgasse que o Benfica estava morto e que os checos eram uma equipa de bons rapazinhos...
7 Chalana, na despedida desencantada do futebol. Com anticorpos de mágoa. «Admiro cada vez mais Pinto da Costa e a ambição do F. C. Porto. E o Benfica está cada vez mais moribundo. No Belenenses fui perseguido pelo Benfica e isso continuou até assinar pelo Estrela. Sei que o meu nome se sujou quando ataquei Gaspar Ramos e Adriano Afonso. E houve negligência da parte de outra gente que eu ataquei. O Departamento Médico do Benfica anunciou que eu tinha uma hérnia discal quando médicos particulares me diagnosticaram uma ciática aguda, que ficou tratada em dois meses. Foi por isso que o Gaspar Ramos desistiu de mim, deixou de me apoiar, virou-se para outros jogadores.»
Abril
4 Bobby Robson foi recebido folcloricamente em Alvalade e pediu, sem demoras, garantias a Sousa Cintra de que o Sporting poderia assegurar a contratação de jogadores de top, permitindo-lhe também organização, disciplina e... campos de treino. Só assim ficaria. Cintra aceitou e Robson assinou contrato por duas épocas.
9 Gaspar Ramos explicou, desconcertantemente, a razão da sua saída do Benfica: «Esperava ser convidado para o actual cargo de Jorge de Brito.» Entretanto, de Ivic se começava a falar para sucessor de Eriksson, garantindo-se também que Mozer jamais regressaria à Luz com Jorge de Brito como presidente.
11 Silva Vieira, que fora presidente do Beira-Mar, admitiu, sem problemas: «Não escondo que dou lembranças aos árbitros.» Rumores havia de que lhes dava fardos de bacalhau.
15 «Adeus Wembley!» O título de «A Bola» não deixava de mostrar uma certa resignação pelo facto, aliás esperado, de o Benfica não ter conseguido o milagre de vencer, em Nou Camp, o Barcelona, consentindo à equipa de Cruyff a qualificação para a final da Taça dos Campeões. O Benfica não sentia, no entanto, muitas razões de queixa da sorte. Uma equipa que se esfrangalhou no Campeonato Nacional e terminaria, escandalosamente, a 10 pontos do F. C. Porto dificilmente poderia aspirar a ser campeã da Europa. O Benfica perdeu por 1-2, mas ao menos mostrou-se com alguma coragem, batido apenas pela magia de Stoitchkov. E Eriksson, perdendo tudo, percebeu que era hora de partir. Até porque se confirmara que a Sampdória lhe acenara com um contrato fabuloso e um camião de liras... Mas antes disso o Boavista afastaria o Benfica da final da Taça de Portugal ao vencer, por 2-1, no Estádio da Luz, com Ricky, em dia de glória, apontando os dois golos.
24 Jorge de Brito eleito presidente do Benfica, com 76,13 por cento dos votos. Um score esmagador que não inquietou Alexandre Alves, que se quedou pelos 21,96 por cento: «Serei de novo candidato sem ter de esperar dois anos, mas não quero ser ave agoirenta. Pela minha parte enterro o machado de guerra.»
25 Portugal sagrou-se campeão da Europa da hóquei em patins ao vencer a Espanha por 4-2.
Maio
8 Eram 15 horas em Genebra. Ivic assinou pelo Benfica. Jorge de Brito sorriu. O treinador que se abespinhou por lhe chamarem... jugoslavo, clamando «sou croata!», disse em júbilo que se sentia assim por regressar a um dos melhores clubes do Mundo. E prometeu, de supetão, continuar o trabalho que iniciara em 1984. E que poucos dias durara, mas enfim... Algum tempo depois diria que sabia bem que tinha a obrigação de ganhar o Campeonato e algo mais. Eram tempos ainda de estabilidade e fé.
17 Acabou o Campeonato Nacional e o F. C. Porto foi o supercampeão com 10 pontos de avanço sobre o Benfica.
23 Cintra descobriu na Polónia o ponta-de-lança com veneno que Robson lhe exigira. Jovem e... apenas prometedor. Chamava-se Juskowiak, tinha 21 anos e na sua estreia, em Paris, contra o Aston Villa, chegou, viu e... marcou dois dos três golos com que se fez a vitória do Sporting.
24 O Boavista venceu a Taça de Portugal ao bater o F. C. Porto por 2-1, com golos de Marlon e Ricky. Valentim Loureiro radiante: «Vencendo Benfica e F. C. Porto esta Taça não caiu do céu. Pinto da Costa já me veio dar os parabéns e disse-me, sem nenhum problema, que jogámos muito bem e merecemos o triunfo.» Um triunfo que rendeu a cada um dos jogadores do Boavista um prémio de 1200 contos; 500 tinha valido a eliminação do Benfica. Os heróis da vitória do Jamor: Alfredo; Paulo Sousa, Barny, Samuel e Fernando Mendes; Casaca, Bobó, Tavares e Marlon; João Pinto e Ricky.
28 Vasco e Marcão, ambos do Penafiel, foram apanhados nas malhas do doping por ingerir substância formada por amineptina, droga da moda em França havia algum tempo. Pereira Ramos, o médico, alegava que o medicamento não constava da «lista negra» da FPF e dera-o aos atletas como um antidepressivo, que alguns apresentavam stress competitivo em doses elevadas. Candidamanente, Henrique Calisto, o treinador, asseverou desconhecer a administração de qualquer substância farmacológica aos seus pupilos.
Junho
3 Valentim Loureiro assinou um contrato-promessa no sentido da transferência de João Pinto para Alvalade. À cautela fez questão de referir que o compromisso só seria válido com o acordo do jogador. Definitivamente, para cumprir era o acordo de cedência de Pedro Barny ao Sporting.
O PSG desistiu de Cadete e um alto dirigente do clube então treinado por Artur Jorge explicou que Cadete era mais caro do que Klinsmann.
8 João Pinto recusou assinar contrato com Sousa Cintra mas prometeu ao presidente do Sporting que iria a Alvalade dois dias depois para ter com ele conversa decisiva.
10 Não foi. E assinou pelo Benfica. Sousa Cintra, desesperado, voaria para os Estados Unidos, onde o jogador se encontrava ao serviço da Selecção Nacional, para disputa da US Cup, mas debalde. Regressou desolado e, em comunicado, anunciou que se desinteressara da contratação do jogador por João Pinto «não ter estatura moral para envergar a camisola do Sporting». Pouco se importou com o remoque o menino-prodígio, que, premonitório, aventou: «Serei campeão pelo Benfica.» Cintra mais não pôde fazer que contratar outra esperança, Capucho, de quem se dizia estar já com um pé nas Antas.
E, à pala de uma eleição intercalar, Lopes da Silva sucedeu a João Rodrigues. Como presidente provisório, falando-se em mandato de seis meses. Mais seria porque em Portugal o provisório sempre foi o mais definitivo. Avisou: «Tenho metas definidas, quero pacificar a FPF, mas não aceitarei a presidêncida de um futuro elenco.» Humilde e honesto. Ao menos isso. E para a presidência do Conselho de Arbitragem, o vulcão sempre em ebulição no futebol português, a Associação de Futebol do Porto indicou o boavisteiro Laureano Gonçalves.
24 Carlos Queirós ameaçou abandonar a Selecção Nacional por recusar afrontas. João Rodrigues saiu em sua defesa asseverando que o seu projecto era o o único sério do futebol português. De Bordéus lhe lançavam o canto de sereia...
26 Já se sabia que no futebol português o que hoje é verdade amanhã é mentira e, assim, apesar de Jorge de Brito ser presidente do Benfica, Mozer voltou mesmo à Luz. Interesses...
Julho
1 No ar rumores de que João Pinto, comprometendo-se com o Benfica por quatro anos, poderia, no primeiro, ser emprestado ao... Boavista. Rumores que se desfizeram para desilusão de Valentim Loureiro. «De facto, emprestar o João Pinto, mesmo ao Boavista, seria o maior erro da história do Benfica. Duvidar do valor dele daria direito a duvidar do próprio treinador que sancionasse um acto desses! Mas que ingénuo fui, aos 53 anos, que quase acreditei que o Boavista assim se assumiria como verdadeiro candidato ao título ... Mas agora acabou-se.»
8 Finalmente, preto no branco. João Pinto assinou pelo Benfica. Nas faces de Valentim Loureiro correram lágrimas de emoção. Em sussurro, o desabafo: «Isto é como casar um filho é bom para ele mas custa muito!» Lágrimas compensadas pelos 800 mil contos que o negócio envolveu.
10 Portugal já rendido à tragicómica novela da pala de Alvalade. A Secretaria de Estado da Cultura decidiu que a bancada central teria de ser encerrada. Por questões ponderosas de segurança. Ripostou a Direcção de Cintra garantindo que o Sporting continuaria a jogar no seu estádio e o concerto de Elton John ali mesmo se realizaria. Porque, para Cintra, a letra do despacho se resumia a questão de lana-caprina. E bradou: «É um acto de má-fé, o engenheiro é do Benfica!» E Tomás Aires, engenheiro de profissão, vice-presidente do Sporting, na entreajuda: «Um vírus estranho ataca a pala em vésperas de grandes acontecimentos, quer desportivos quer musicais! Qual a cor e suas características? Não sei, mas é estranho!...»
15 O Sporting aproveitou-se da guerrilha que se arrastava havia muito entre Edgar Cardoso e o LNEC para esgrimir um aparente trunfo o próprio Edgar Cardoso, que, depois de uns piparotes na pala e examinações em jeito folclórico, sempre, sempre, ao lado de Cintra, concluiu e anunciou ao País, desfazendo em pó de incompetência o parecer do LNEC: «A pala do Estádio de Alvalade está mais segura do que o Viaduto Duarte Pacheco.»