HOMENAGEM AOS PRIMEIROS CAMPEÕES
Basquetebol
Até 1926 não se praticava a modalidade no nosso clube. Foi, pois, a partir desse ano, que o «Basket Ball» passou a integrar os «Sports Atléticos» do «Football Club do Porto» conforme, num breve apontamento, se dá nota no Relatório do FC Porto de Julho de 1926.
Reza, assim - «criamos adentro do nosso club mais este género de sport que, dia a dia, vai tendo mais adeptos e que julgamos virá para o futuro ocupar um lugar de importância entre aqueles que no nosso país se praticam, pois que o Basket Ball é sobre todos os pontos de vista recomendável pelo desenvolvimento físico que da sua pratica provém e, pela facilidade de se conseguirem equipes porque necessitando de menos elementos do que um grupo de football simplifica, portanto, a sua constituição. Existem, actualmente, no FC Porto cinco grupos de Basket, o primeiro dos quais está actualmente disputando o Campeonato do Club Fluvial, Taça Armando Cardoso».
Especificamente quanto ao dia e ao mês em que a modalidade foi criada (como tantas, tantas vezes nos têm perguntado) nada consta nos diversos documentos que consultamos. Sabe-se, isso sim, que a iniciativa partiu de António Sanches, António Marta, Daniel Barbosa, Gabriel Baptista e Francisco Aguiar e que, como vimos, teve o melhor acolhimento pela Direcção da altura (1925-1926) formada por Domingos dAlmeida Soares (Presidente), D. Francisco Sotto Mayor, Manoel Marques da Cunha, José Ferreira Guimarães, António da Luz Neves e António Medeiros, com Sebastião Ferreira Mendes a presidir à Assembleia Geral.
Numa compactada resenha histórica acrescentaremos que a primeira equipa foi formada por Gabriel Baptista, Daniel Barbosa, António Sanches, Agostinho Marta e A. Cabral, que «dirigiam superiormente» a equipa (lê-se) António Sanches e Esteves Sousa, que a primeira prova em que a equipa participou foi (logo em 1926) a Taça António Cardoso (ganhá-la-iam em 1929-30, época do apogeu desses tempos heróicos, em luta com o Acemista, o Académico, o Fluvial e o Vigorosa) classificando-se em 2º lugar ao bater o Progresso detentor desse troféu, que o primeiro campeonato conquistado pelo clube foi o regional de segundas categorias (1927-1928) com uma equipa aonde jogava Francisco Aguiar (único sobrevivente do núcleo fundador) e se completava com Dias Leite, F. Gonçalves, Carlos Baptista e Acácio Mesquita (um atleta notabilíssimo, eclético, uma grande referência do nosso clube.
E que poderemos acrescentar, mais, sem invadir o campo individual de referências a atletas da era moderna, exercício que não cabe no âmbito deste desfilar de memórias de hoje.
Talvez que António Mota foi o primeiro atleta do clube a ser seleccionado para o grupo representativo da nossa cidade na época 1927-28 (jogos Porto-Lisboa e Porto-Coimbra), que o mesmo António Mota, José Lopes Martins (habilidade e classe no basquetebol, andebol, futebol, atletismo, rugby, hóquei e natação
) e Humberto Lima foram os primeiros internacionais do clube (contra a França), que o primeiro estrangeiro a vestir a camisola Azul e Branca terá sido Guy Pulliat e que (permitam-me a excepção mas não resisto) Dover (Dale Warren Dover, de seu nome completo) terá de ser sempre recordado como o detonador dos mais explosivos momentos do basquetebol Portista e, na altura, um dos maiores responsáveis pela construção do, então, Gimnodesportivo das Antas.
Um quarto de século (sem tirar nem pôr) após a sua fundação a modalidade chega ao topo, vencendo os campeonatos nacionais de 1951/52 e 1952/53, sem que alguma vez tivesse conquistado um título «ambicionado» e que sempre se lhe negou até 1955 quando o conseguiu o de campeão regional. Como se verá pelo palmarés que aqui se recorda, vários outros títulos se lhe seguiram. É, porém, aos que conquistaram as primeiras faixas e impulsionaram outras conquistas que hoje homenageamos. Para avivar a memória dos nossos mais velhos e introduzir os mais jovens nos pequenos pormenores da história (re) lembramos que Matos Pacheco (o senhor Matos Pacheco diremos, agora, nos foi (e sê-lo-á sempre) uma figura incontornável da modalidade e do nosso dirigismo, o verdadeiro «senhor-basquetebol», Alberto Oliveira (o senhor Alberto com o qual chegamos a lidar diariamente no Estádio das Antas), depois de regressado de África viria a ser o chefe da rouparia e lavandaria do clube e, mais tarde, por via do casamento de sua filha, tornar-se-á sogro de um ex-jogador de basquetebol do clube o brasileiro «Charuto», de que muitos ainda se lembrarão, Hélder Baeta foi, mais tarde, distinto jornalista de «O Primeiro de Janeiro» e de «O Norte Desportivo e Américo Capitão (vivos ainda serão muitos daqueles de quem recebia as cotas ao fim do mês), um dos colaboradores mais carismáticos (o seu irmão Mário Capitão foi-o também) do FC Porto.
Já naquela altura o FC Porto era grato a quem o servia.
Futebol júnior
Porque tudo se mantém actual, até o título «Um alfobre de valores» deixem-me, os leitores, que respigue de «F.C.P. A Vida de um grande clube nortenho» (dois «livrecos» quase de bolso, integrados nas edições especiais das defuntas «Selecções Desportivas», editadas por Henrique Parreirão, em Setembro de 1978 e da autoria deste vosso amigo), o qual sobre o Futebol Júnior então rabisquei: «Tem o clube no futebol de jovens e na pró moção desportiva da juventude as maiores tradições».
É na infância que a criança deve começar a ser ensinada, por meio de minuciosa explicação das coisas, das pessoas e dos factos, sem lhes cercear as tendências ou desviá-las das suas vocações, nos primeiros contactos com a vida, não a privando, assim, de determinar as suas próprias atitudes e de, sobre elas reflectir.
É fundamentado em tais condições que o clube tem levado uma vida inteira dedicada, com especial atenção, à formação de jovens futebolistas, seguindo o princípio de que o bom atleta terá que assentar num indivíduo bem formado, por bem ensinado, e bem conduzido. Se bem que os jovens sempre tenham tido mestres (Pinga, Reboredo, José Maria Pedroto, Monteiro da Costa, António Feliciano, António Morais e Vieirinha, entre outros), refira-se, com especial relevo, por dever de justiça o nome de um homem de cujo trabalho nasceram os «alicerces» e muitos «andares» desse magnifico edifício que é o futebol júnior do clube (hoje diz-se, com melhor abrangência «futebol de formação») Artur Baeta.
Por variadíssimos clubes portugueses (e agora estrangeiros) dos mais importantes aos mais populares, têm passado muitos jogadores criados nas fileiras Portistas. Nem todos aureolados com títulos, mas todos orgulhosos de um dia terem podido vestir a camisola listada de Azul e Branco.
Hoje, volvidos trinta anos, voltaria a assinar por baixo este texto mas acrescentar-lhe-ia mais qualquer coisinha de peso.
Primeira coisinha A importância vital que o novo ex-líbris da nossa «cidade desportiva» ainda em construção (a irreconhecível velhinha Constituição, Vitalis Park dos novos tempos) e a obra que lhe está subjacente (o projecto Visão 611) vão ter na continuidade pujante e cada vez mais refinada do papel que vem desempenhando ao longo de tantos anos - «Ao serviço da juventude desde 1913».
Segunda coisinha Juntar aos bons mestres citados os nomes de Costa Soares, Profs. José Guilherme e Ilídio Vale e dos antigos atletas da casa Custódio Pinto, Rodolfo, Eduardo Luís, Inácio, Madjer e João Pinto (ressalvando sempre «entre outros», um aparte que dá sempre jeito para albergar todos aqueles traídos pela nossa memória) como a legião maior de responsáveis pela conquista ou preparação de conquista dos dezanove campeonatos nacionais, até hoje amealhados neste escalão. Para rematar, faltará dizer que o primeiro título conquistado data de 1953 e que os seis primeiros internacionais juniores do FC Porto foram, por esta ordem, o guarda-redes Roldão e Ferreirinha (mais tarde treinador de reconhecido mérito), que receberam o «baptismo» a 11 de Abril de 1954, em Solingen, num Portugal - Irlanda (2-2), Manuel Amorim, que se estreou no mesmo torneio da UEFA, mas em Essen, a 17 de Abril frente à Jugoslávia (1-1), o também guarda-redes Norberto, ainda que em 1954 mas em Maastricht frente à Holanda (2-1), (todos integrantes da primeira selecção portuguesa de juniores), Rui (mais um guarda-redes) de quinas ao peito em Linz, na Áustria, em 1960 num Portugal Itália (0-0) e que ainda hoje ensina a arte de defender aos juniores da formação e, finalmente, Serafim (de todos eles o que atingiu maior projecção jogou no Benfica e Académica de Coimbra mas se perdeu, precocemente, emaranhado noutras teias da vida)e que teve, também, a sua estreia em Linz, tal como Rui, a 16 de Abril de 1960
Andebol
A secção foi fundada em 1930, ano em que o «hand-ball» foi introduzido na cidade do Porto. Antes dessa época, porém, já na Constituição (sempre ela, viva nas nossas memórias) se pratica um jogo parecido, conhecido pela «malhadeira»! Não se lhe conhecia implantação em qualquer outra parte do mundo
não era «made in England» (como quase todos os outros)
não era reconhecida «oficialmente», não consta em qualquer manual de desportos «quantos jogavam contra quantos»
se só era jogado com as mãos, porque, em boa verdade, apenas o praticavam as classes de ginástica do Prof. Porfírio Malheiro, homem de «génio irrequieto e inventivo», o verdadeiro inventor deste projecto de modalidade, autentico nado-morto, que «patenteou» com o nome de «malhadeira»!
Depois deste pequeno fait-divers (que não passa disso mesmo, mas se deve referenciar porque a história regista-o), anotem, por favor, que o «hand ball» se deu a conhecer a 31 de Janeiro de 1931 por ocasião do festival desportivo a favor da «Casa dos Jornalistas», numa altura em que nem sequer havia a Associação Regional de Andebol, a qual só surgiria a 20 de Fevereiro de 1932, por iniciativa de António Guilhar, director da secção de Andebol do FC Porto.
Foi, pois, na data citada que esta modalidade se lançou e tornou publica. O palco foi o mítico Campo do Lima, o opositor chamava-se Sport Clube do Porto (o velho Sport) e o resultado foi, para quem dava ao braço pela primeira vez, um brilhantíssimo 0-0 (zerinho redondinho para cada lado!).
Não se conheceu os autores desta difícil façanha. Conhecem-se, sim, os nomes dos pioneiros da modalidade Fernando Trindade, Carlos Baptista, Joaquim Lagoa, Fernando Rodrigues, João Lopes Martins (o mais completo atleta da história do clube, como já vimos), Álvaro Barroso, António Guilherme, Humberto de Lima, Manuel Leite, Francisco Gonçalves e Olindo Barbosa. Inúmeros foram os êxitos alcançados desde então e inúmeros os atletas que deixaram o seu nome gravado na história do FC Porto, a quem, alguém, há mais de meio século chamou «A ala dos namorados do Clube». Ninguém poderá esquecer nomes como Henrique Fabião, Armando Campos, Fernando Dias, António Fortes, Dr. Augusto Costa, Carlos Teixeira, Joaquim Reis, Teófilo Tuna, Manuel Varela, Paulo Claro (mais tarde conceituado árbitro), Eng.º Mário Sampaio e Castro, João Dias Leite, entre outros tantos. E nesses «tantos e tantos» pretendemos incluir várias gerações, que vão desde as de Ferra, Capela, Prof. Cunha, Dr. Leandro Massada, Maia, Madureira, Coelho, passando pelas de Amorim, Pinto Monteiro, Rocha e viajando pelas de mais «tantos e tantos», campeoníssimos, nos quais a geração actual se revê e procura imitar os êxitos do passado, recheando um palmarés riquíssimo com as mais sonantes conquistas.
Êxitos que começaram a desenhar a 18 de Outubro de 1931, quando o FC Porto venceu na Constituição o Académico por 10-1, no seu primeiro jogo oficial para o (também) primeiro troféu disputado pelo clube a Taça Joaquim Mendes, taça que viria a conquistar ao derrotar, no último jogo, o Sport, por 9-1. Êxitos que, parcela a parcela, se foram somando e, feitas as contas, tornaram a época de 1938/39 ímpar na modalidade o andebol do FC Porto limpou tudo venceu o Campeonato Regional (primeiras categorias e reservas), venceu o primeiro Campeonato Nacional (derrotando a 31 de Julho, o Sporting, por 7-1), conquistou a Taça António Guilherme, «chamou um figo» ao Torneio Início e carimbou com o selo de vitória todos os amigáveis disputados. Êxitos que levaram, em Agosto de 1953, a equipa a deslocar-se à Alemanha, naquela que foi a primeira deslocação de uma equipa portuguesa de Andebol, ao estrangeiro. Êxitos que (só no escalão sénior) podemos contabilizar assim: na variante de onze (a primeira a ser praticada e que desde há muito já se não pratica) foram 29 os títulos conquistados com séries impressionantes: sete (7) títulos consecutivos (entre 1938/39 e 1944/45), mais uma série de doze (12) (entre 1948/49 e 1959/60) e mais nove (9) sem intromissões (entre 1966/67 e 1974/75), ficando em casa, ainda, o de 1946/47.
Na variante de sete, nada falta. Campeonatos Nacionais foram 11, Taças de Portugal já cá cantam 7, Supertaças são quatro com direito a Tri (1999/2000, 2000/2001 e 2001/2002, no Campeonato da Liga profissional já constam 2 e Taças da Liga são 3.
Campeoníssimos, carago.
Hóquei em Campo
É a «modalidade saudade» desta evocação. Fundada em 1929 graças aos esforços de José Teixeira Júnior, Carlos Diogo Moreira, do jornalista Rodrigo Teles e do súbdito inglês Brunel Evans, a sua prática desapareceu do universo Portista em 1989. Logo na época do seu nascimento (1929-30) aconteceu o jogo de baptismo. Desenrolou-se no Campo Soares dos Reis, em Vila Nova de Gaia, a 20 de Outubro de 1929, frente ao Vilanovense e saldou-se por um pesado desaire 6-0.
Nada que desmoralizasse, embora a primeira vitória só tenha acontecido meses mais tarde (12 de Janeiro), frente ao Progresso, por 1-0, com Rothes a ter direito a ficar na história por ter marcado esse golo
histórico! Integravam também essa equipa de há 80 anos Manuel Ramos, João Ribeiro Júnior, Manuel Ribeiro, Carlos Moreira, Coelho e Costa Esteves de Sousa, João Gonçalves, Joaquim Lagoa, Alberto Tamudo e o «fundador» Brunel Evans.
Outros nomes se notabilizaram John Bessa, Herman Katzenstein, Agostinho Pena, o guarda-redes Francisco Costa, José Eurico Terroso e esse terrível atirador Álvaro Lopes Melo, autor de 36 golos numa só época.
Apenas em 1951/52 o FC Porto ganharia o seu primeiro título de Campeão Nacional (foi a primeira equipa do Norte a consegui-lo). Contudo, o primeiro troféu conquistado pela modalidade, para o clube, acontecera uma vintena de anos antes (1931/32). Obteve-o, em Lisboa, frente ao Internacional (campeão lisboeta), ao vencer por 1-0 e chamava-se Taça das Laranjeiras. Na lista dos campeões dois nomes de peso, Wenceslau Teixeira, um histórico dirigente do clube que, como jogador era um verdadeiro tormento para árbitros e adversários pelo seu génio irascível, e Mário Capitão, antigo colaborador do clube tal como Américo Capitão, seu irmão, basquetebolista notável, que foi aqui referenciado.
Como dissemos, em 1989 a modalidade terminou. Deu às cores Azuis e Brancas uma mão cheia de títulos, vários atletas de craveira internacional, alguns com renome (quem dos leitores da velha guarda não se lembra de Ferramenta?), a possibilidade de competir, quase no final dos anos 70, em Itália, na fase preliminar da Taça dos Campeões Europeus e oito títulos nacionais.
Luís César
In «Revista dos Dragões» Dezembro de 2008