Estórias da nossa história

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gj

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Nunca vou esquecer essa final de Viena, aqueles 2 golos marcados em 2 minutos, foi simplesmente fantastico!!!!!!!!
 
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hast

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(5º) – COMENDA DE MEMBRO HONORÁRIO DA ORDEM DE MÉRITO
Ao fim da tarde de 7 de Fevereiro de 1988, na Sala Luís XV do Palácio de Belém, o Senhor Presidente da Republica Dr. Mário Soares colocava no estandarte do FC Porto, transportado pelo seu Presidente Jorge Nuno Pinto da Costa, a «Comenda de Membro Honorário da Ordem de Mérito».
Era o reconhecimento de todo o país pelo êxito ímpar do FC Porto (FOI O 1º CLUBE DO MUNDO A CONSEGUI-LO) ao conquistar, na mesma época a Taça dos Clubes Campeões Europeus (frente ao Bayern de Munique, com Artur Jorge no comando), a Supertaça Europeia (derrotando o Ajax) e a Taça Intercontinental (vencendo em Tóquio o Peñarol, num dia de neve, com Tomislav Ivic ao leme).
«A condecoração que vou impor expressa o reconhecimento do país (de todos os portugueses independentemente das suas simpatias clubistas) ao FC Porto pela forma brilhante como defendeu e prestigiou o nome do desporto português ganhando o direito ao nosso apreço e admiração - foram estas as palavras de abertura do senhor Presidente da República que, na sua alocução, viria a expressar um desejo: (Ao renovar as minhas saudações efusivas ao FC Porto, faço votos para que o seu exemplo bem como o dos grandes atletas olímpicos que tantas distinções trouxeram para Portugal seja retomado neste ano histórico (ano olímpico) para o desporto mundial».
A rematar uma cerimónia testemunhada pelo Ministro da Educação (Dr. Roberto Carneiro), Director Geral dos Desportos (Prof. Mirandela da Costa), Presidente da Câmara Municipal do Porto (Dr. Fernando Cabral), e pelos Presidentes da Federação Portuguesa de Futebol (Dr., Silva Resende) e Associação de Futebol do Porto (Adriano Pinto), o Presidente do Futebol Clube do Porto Jorge Nuno Pinto da Costa sublinharia: «Senti no peso do estandarte toda a responsabilidade contraída através de uma época de muitas canseiras e de muitas lutas que nós, grupo de trabalho do FC Porto, sentimos nos nossos ombros (…) nós quisemos sempre que as nossas vitórias não fossem somente vitórias de uma grande equipa de futebol. Nós não quisemos que as nossas glórias fossem só glórias da nossa cidade e da nossa região (…) A VITÓRIA FOI DE PORTUGAL!»
Luís César
In Revista dos Dragões (Outubro/2008)
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
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o mito é que alimenta a alma. que seria do futebol sem mitos. cresci á sombra dos mitos que o meu pai me narrou desde sempre relativos ao nosso grande clube. desde o famoso siska, ao pinga, ao velez, ao correia dias, ao valdemar da mota, ao acacio mesquita, ao soares dos reis, passando pela geração de 50 dos hernani, pedroto, miguel arcanjo, virgilio, monteiro da costa,carlos duarte, pinho, acurcio, perdigão, teixeira ou jaburo. e também os grandes confrontos com equipas miticas como o arsenal ou o san lorenzo...tuo isto fez de mim um portista para sempre. também pela sua mão vi nas estradas o carlos carvalho, o sousa cardoso, o mario silva, o joaquim leão, o josé pacheco, o mario sá, o azevedo maia, e também ouvi as gestas dos manos moreira de sá, do dias dos santos, do aniceto bruno e do grande fernando moreira...
 
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hast

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MODALIDADES
Que são saudade

Hoje não há «estórias». Apenas e só «história». História onde se guarda memorias de modalidades que hoje são apenas saudade. Uma mão cheia delas. Recordaremos o «Water Polo», o «Ténis», o «Tiro de Guerra», o «Badminton» e o «Râguebi».

1 TENIS
A sua introdução no clube surgiu quase lado a lado com a sua fundação e jogava-se nos «courts» do campo da Rainha.
Em 1908 organizou, o clube, o seu «1º Torneio Inter Sócios» registando-se como principais concorrentes Luís Cabral, Dumont Villares, Aquiles Muaze e Romualdo Torres e os «históricos» Armando Cruz e João Cal. Nada consta quanto ao vencedor deste certame. Sabe-se apenas – e o dado é relevante para a nossa história da modalidade – que a primeira taça foi ganha (diz-se que brilhantemente) por aquele que era à época o melhor tenista do Norte – Fernando Vale.
Porém os grandes «concursos de ténis» a nível nacional (em «Gentlemen’s singles» e «Gentlemen’s doubles») só haveriam de surgir no Verão de 1918, após a construção, no Campo da Constituição, em Agosto de 1917, do campo de «lawn-ténis» no espaço até então ocupado pelo ringue de patinagem.
Construído pela firma António Moreira e Filhos (curiosamente horticultores) o campo de «lawn-ténis» era sonho antigo de acérrimos adeptos da modalidade que se viriam a encontrar na Direcção do FC Porto – Henrique Mesquita, José Bacelar, Camilo Vouga Moniz de Matos e António Manuel Rodrigues Oliveira. Desde logo se pensou na organização do «Concurso Internacional de Lawun-Ténis do Outono», mas a comissão organizadora chegou à conclusão que se gastaria, pelo menos, 600.00 e que a receita não cobriria metade da despesa! Consultada a Direcção, a luz verde da Tesouraria não se acendeu. Sem novo estudo nada feito!
Henrique Mesquita e Alexandre Cal meteram mãos à obra e prometeram reduzir a despesa a metade, «desde que o clube pagasse uma rede, as bolas que fossem necessárias e a colocação de uma cadeira para a arbitragem». O semáforo acendeu-se finalmente e foram elaborados os regulamentos. Só que a vida estava cara e havia que pagar alguma coisinha e o «banho passou a custar 4 centavos» (os jogadores da casa estavam isentos desta taxa)) e o aluguer das bolas também teve custos dirantes os treinos – as «novas» a 80 centavos, as «gastas» a 30 centavos e as «conservadas» a 60 centavos. O período de aluguer era de duas horas e o pagamento obrigatório, quer as bolas estivessem a jogar ou em «repouso».
Nota importante: não era permitido aos jogadores o uso de calçado com tacões, excepto de cautechouc e deveriam apresentar-se no «court» devidamente vestidos e calçados. O torneio (concorreram os melhores praticantes de Portugal) foi um êxito e premiou em «Gentlemen’s singles» Luís Ricciardi, do «Clube Português de Lawn-Ténis», de Lisboa (Diogo Bettencourt, do Lawn-Ténis do Porto foi 2º) e em «Gentlemen’s doubles» a dupla lisboeta Luís Ricciardi – Augusto Casanova que, na final, derrotou o duo da Foz Miguel Horta e Costa – Eduardo Kendal.
Noes grandes do ténis Azul e Branco foram, entre outros, Carlos Megre Restier, Eurico Paiva, Alexandre Cal, Sérgio Carvalho, Carlos Moniz, Sebastião Durães, Emilio Ferreira, Luís Megre, Corte Real, Luiz Lobo, Norman Hall, Valdemar Mota, Augusto e Narciso Lencart, Dr. Alberto Malafaia, António Eugénio Cálem, José Roquete, Guilherme Marques, e Dr. Alfredo Carvalho. Todos se mostraram dignos do clube e de títulos conquistados.

2 WATER POLO
Durou alguns anos (poucos) desde que surgiu em 1922, mas mesmo assim, não deixou de contribuir para o historial do clube com títulos regionais e nacionais.
Em 1927-1928,ganhar-se ia o 1º Campeonato Regional. Uma carreira imaculada com 16 golos marcados e apenas 1 sofrido. Em segundas categorias foi vice-campeão e em terceiras (concorrendo com duas equipas) viu o grupo «BB» sagra-se campeão.
O grande título – Campeonato de Portugal – seria conquistado em 1928-1929. O «grupo de Honra» foi a Aveiro vencer o Beira Mar na sua própria água por 8-0 e bateria, na final, na barra de Leixões e por 2-0, o Sporting Clube de Portugal. Registamos os nomes dos conquistadores desse histórico título – José Rodrigues Pinho, Álvaro José Sequeira, Faustino Ramalho, Dr. Luís Canto Moniz (capitão de equipa), António Augusto Antunes, Monteiro Mota e João Pedro Brenha.
Outros nomes se perfilaram entre os maiores – arquitecto Alarcão, major Raul Silva, Aníbal Silva, Manuel Vinagre, Dr. Napoleão Silva e João Costa, um eclético desportista das águas, exímio nadador e campeão nacional de saltos, um habitual da piscina do Carvalhido (era nela que pelos anos vinte se disputavam as grandes provas), pertença do C.S. Nun’Álvares, desaparecida para a instalação, naquele terreno (e no campo de futebol contíguo) da «Casa dos Pobres».

3 TIRO DE GUERRA
Uma referencia (brevíssima) para uma modalidade que existiu em 1922.
No mês de Outubro desse ano, na carreira de tiro de Pedrouços (Lisboa), uma equipa do clube conseguiu classificar-se em 4º lugar. Os representantes do FC Porto foram os seguintes: tenente Amízio Soares (foi internacional olímpico), tenente Aníbal de Jeus, tenente Eurico da Silva e major Joaquim leitão (o atirador que, no tiro individual, conseguiu as melhores séries para o clube.

4 BADMINTON
Criada em 1958, a secção logo ganhou o Campeonato Regional ao qual concorreram seis equipas.
Iniciada pelo entusiasmo de José Tavares da Rocha, e com orientação da Profª Maria Umbelina Rocha, a secção não teria longa duração. A debitar na conta do seu entusiasmo uma grande realização em Janeiro de 1969 – os «Campeonatos Internacionais abertos do Porto», com a presença de vários atletas ingleses e tendo, por palco, o Palácio de Cristal. Foi, ainda hoje, uma das maiores organizações do género, na modalidade, em Portugal.

5 RÂGUEBI
Outra modalidade introduzida no clube, nos anos vinte (1928).
Alberto César Machado foi um dos responsáveis pelo primeiro quinze Azul e Branco; juntou-se lhe Mr. Brunel Evans, prontificando-se a treinar o clube obsequiosamente; em pouco tempo estavam os jovens «rugbymen» aptos a manobrar a oval e a entrar em competição, defrontando o União da Foz e o Nun’Álvares. Foram «jogadores-fundadores»: Giles Holroyd, Carlos Baptista, Adolfo Paul, Álvaro Barros, Alberto César Machado, Alberto Ferreira, José Peixoto, Pinto de Vasconcelos, Joaquim Alves, David Sousa, António Sousa, Faustino Ramalho, Belmiro do Carmo e Joaquim Lagoa, entre outros.
A modalidade nesta fase (tal como na que se lhe seguiu) teve vida efémera. Reorganizar-se ia em 1964/1965 sob a batuta de António Queirós e José Gonçalves, reunindo um lote de jovens para os quais a modalidade era completamente desconhecida e que, em alguns casos, nunca até então tinham praticado qualquer desporto. Fizeram parte dessa «equipa de ressurgimento» (que limpava o pó do piso lixado da Constituição) nomes desconhecidos como Durana Pinto, Américo Correia, Augusto Boucinha, José Maciel, Vítor Oliveira, João Veiga, Luís Sousa, Albertino Azevedo, Leal da Silva, Óscar Fernandes, Pimenta de carvalho e Luís César (este vosso amigo, ele mesmo).
Defrontando o CDUP e os Regentes Agrícolas de Coimbra, a equipa só conheceu o sabor da derrota. A sua única vitória, na época do ressurgimento, aconteceria a 13 de Fevereiro de 1966, no Estádio Universitário, no jogo da 2ª volta, frente aos Regentes Agrícolas, por 11-6. Veio, porém, a Taça de Portugal e um sorteio adverso – jogo com o Benfica, em casa. Só que a casa» andava às costas e, na altura, o melhor palco que se conseguiu arranjar foi o Estádio Universitário. A data? 1 de Maio de 1966. Em «dia de trabalhador», por muito que o quinze se esforçasse e trabalhasse, não conseguiu melhor do que um ensaio (3 pontos9 para contrapor aos 55 que o clube adversário foi acumulando.
Foi o canto do cisne do Râguebi Azul e Branco.
Luís César
In «Revista dos Dragões» Novembro de 2008
 
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HOMENAGEM AOS PRIMEIROS CAMPEÕES

Basquetebol
Até 1926 não se praticava a modalidade no nosso clube. Foi, pois, a partir desse ano, que o «Basket Ball» passou a integrar os «Sports Atléticos» do «Football Club do Porto» conforme, num breve apontamento, se dá nota no Relatório do FC Porto de Julho de 1926.
Reza, assim - «criamos adentro do nosso club mais este género de sport que, dia a dia, vai tendo mais adeptos e que julgamos virá para o futuro ocupar um lugar de importância entre aqueles que no nosso país se praticam, pois que o Basket – Ball é sobre todos os pontos de vista recomendável pelo desenvolvimento físico que da sua pratica provém e, pela facilidade de se conseguirem equipes porque necessitando de menos elementos do que um grupo de football simplifica, portanto, a sua constituição. Existem, actualmente, no FC Porto cinco grupos de Basket, o primeiro dos quais está actualmente disputando o Campeonato do Club Fluvial, ‘Taça Armando Cardoso’».
Especificamente quanto ao dia e ao mês em que a modalidade foi criada (como tantas, tantas vezes nos têm perguntado) nada consta nos diversos documentos que consultamos. Sabe-se, isso sim, que a iniciativa partiu de António Sanches, António Marta, Daniel Barbosa, Gabriel Baptista e Francisco Aguiar e que, como vimos, teve o melhor acolhimento pela Direcção da altura (1925-1926) formada por Domingos d’Almeida Soares (Presidente), D. Francisco Sotto Mayor, Manoel Marques da Cunha, José Ferreira Guimarães, António da Luz Neves e António Medeiros, com Sebastião Ferreira Mendes a presidir à Assembleia Geral.
Numa compactada resenha histórica acrescentaremos que a primeira equipa foi formada por Gabriel Baptista, Daniel Barbosa, António Sanches, Agostinho Marta e A. Cabral, que «dirigiam superiormente» a equipa (lê-se) António Sanches e Esteves Sousa, que a primeira prova em que a equipa participou foi (logo em 1926) a Taça António Cardoso (ganhá-la-iam em 1929-30, época do apogeu desses tempos heróicos, em luta com o Acemista, o Académico, o Fluvial e o Vigorosa) classificando-se em 2º lugar ao bater o Progresso detentor desse troféu, que o primeiro campeonato conquistado pelo clube foi o regional de segundas categorias (1927-1928) com uma equipa aonde jogava Francisco Aguiar (único sobrevivente do núcleo fundador) e se completava com Dias Leite, F. Gonçalves, Carlos Baptista e Acácio Mesquita (um atleta notabilíssimo, eclético, uma grande referência do nosso clube.
E que poderemos acrescentar, mais, sem invadir o campo individual de referências a atletas da era moderna, exercício que não cabe no âmbito deste desfilar de memórias de hoje.
Talvez que António Mota foi o primeiro atleta do clube a ser seleccionado para o grupo representativo da nossa cidade na época 1927-28 (jogos Porto-Lisboa e Porto-Coimbra), que o mesmo António Mota, José Lopes Martins (habilidade e classe no basquetebol, andebol, futebol, atletismo, rugby, hóquei e natação…) e Humberto Lima foram os primeiros internacionais do clube (contra a França), que o primeiro estrangeiro a vestir a camisola Azul e Branca terá sido Guy Pulliat e que (permitam-me a excepção mas não resisto) Dover (Dale Warren Dover, de seu nome completo) terá de ser sempre recordado como o detonador dos mais explosivos momentos do basquetebol Portista e, na altura, um dos maiores responsáveis pela construção do, então, Gimnodesportivo das Antas.
Um quarto de século (sem tirar nem pôr) após a sua fundação a modalidade chega ao topo, vencendo os campeonatos nacionais de 1951/52 e 1952/53, sem que alguma vez tivesse conquistado um título «ambicionado» e que sempre se lhe negou até 1955 quando o conseguiu – o de campeão regional. Como se verá pelo palmarés que aqui se recorda, vários outros títulos se lhe seguiram. É, porém, aos que conquistaram as primeiras faixas e impulsionaram outras conquistas que hoje homenageamos. Para avivar a memória dos nossos mais velhos e introduzir os mais jovens nos pequenos pormenores da história (re) lembramos que Matos Pacheco (o senhor Matos Pacheco diremos, agora, nos foi (e sê-lo-á sempre) uma figura incontornável da modalidade e do nosso dirigismo, o verdadeiro «senhor-basquetebol», Alberto Oliveira (o senhor Alberto com o qual chegamos a lidar diariamente no Estádio das Antas), depois de regressado de África viria a ser o chefe da rouparia e lavandaria do clube e, mais tarde, por via do casamento de sua filha, tornar-se-á sogro de um ex-jogador de basquetebol do clube – o brasileiro «Charuto», de que muitos ainda se lembrarão, Hélder Baeta foi, mais tarde, distinto jornalista de «O Primeiro de Janeiro» e de «O Norte Desportivo e Américo Capitão (vivos ainda serão muitos daqueles de quem recebia as cotas ao fim do mês), um dos colaboradores mais carismáticos (o seu irmão Mário Capitão foi-o também) do FC Porto.
Já naquela altura o FC Porto era grato a quem o servia.

Futebol júnior
Porque tudo se mantém actual, até o título «Um alfobre de valores» deixem-me, os leitores, que respigue de «F.C.P. – A Vida de um grande clube nortenho» (dois «livrecos» quase de bolso, integrados nas edições especiais das defuntas «Selecções Desportivas», editadas por Henrique Parreirão, em Setembro de 1978 e da autoria deste vosso amigo), o qual sobre o Futebol Júnior então rabisquei: «Tem o clube no futebol de jovens e na pró moção desportiva da juventude as maiores tradições».
É na infância que a criança deve começar a ser ensinada, por meio de minuciosa explicação das coisas, das pessoas e dos factos, sem lhes cercear as tendências ou desviá-las das suas vocações, nos primeiros contactos com a vida, não a privando, assim, de determinar as suas próprias atitudes e de, sobre elas reflectir.
É fundamentado em tais condições que o clube tem levado uma vida inteira dedicada, com especial atenção, à formação de jovens futebolistas, seguindo o princípio de que o bom atleta terá que assentar num indivíduo bem formado, por bem ensinado, e bem conduzido. Se bem que os jovens sempre tenham tido mestres (Pinga, Reboredo, José Maria Pedroto, Monteiro da Costa, António Feliciano, António Morais e Vieirinha, entre outros), refira-se, com especial relevo, por dever de justiça o nome de um homem de cujo trabalho nasceram os «alicerces» e muitos «andares» desse magnifico edifício que é o futebol júnior do clube (hoje diz-se, com melhor abrangência «futebol de formação») – Artur Baeta.
Por variadíssimos clubes portugueses (e agora estrangeiros) dos mais importantes aos mais populares, têm passado muitos jogadores criados nas fileiras Portistas. Nem todos aureolados com títulos, mas todos orgulhosos de um dia terem podido vestir a camisola listada de Azul e Branco.
Hoje, volvidos trinta anos, voltaria a assinar por baixo este texto mas acrescentar-lhe-ia mais qualquer coisinha de peso.
Primeira coisinha – A importância vital que o novo ex-líbris da nossa «cidade desportiva» ainda em construção (a irreconhecível velhinha Constituição, Vitalis Park dos novos tempos) e a obra que lhe está subjacente (o projecto Visão 611) vão ter na continuidade pujante e cada vez mais refinada do papel que vem desempenhando ao longo de tantos anos - «Ao serviço da juventude desde 1913».
Segunda coisinha – Juntar aos bons mestres citados os nomes de Costa Soares, Profs. José Guilherme e Ilídio Vale e dos antigos atletas da casa Custódio Pinto, Rodolfo, Eduardo Luís, Inácio, Madjer e João Pinto (ressalvando sempre «entre outros», um aparte que dá sempre jeito para albergar todos aqueles traídos pela nossa memória) como a legião maior de responsáveis pela conquista – ou preparação de conquista – dos dezanove campeonatos nacionais, até hoje amealhados neste escalão. Para rematar, faltará dizer que o primeiro título conquistado data de 1953 e que os seis primeiros internacionais juniores do FC Porto foram, por esta ordem, o guarda-redes Roldão e Ferreirinha (mais tarde treinador de reconhecido mérito), que receberam o «baptismo» a 11 de Abril de 1954, em Solingen, num Portugal - Irlanda (2-2), Manuel Amorim, que se estreou no mesmo torneio da UEFA, mas em Essen, a 17 de Abril frente à Jugoslávia (1-1), o também guarda-redes Norberto, ainda que em 1954 mas em Maastricht frente à Holanda (2-1), (todos integrantes da primeira selecção portuguesa de juniores), Rui (mais um guarda-redes) de quinas ao peito em Linz, na Áustria, em 1960 num Portugal –Itália (0-0) e que ainda hoje ensina a arte de defender aos juniores da formação e, finalmente, Serafim (de todos eles o que atingiu maior projecção – jogou no Benfica e Académica de Coimbra – mas se perdeu, precocemente, emaranhado noutras teias da vida)e que teve, também, a sua estreia em Linz, tal como Rui, a 16 de Abril de 1960

Andebol
A secção foi fundada em 1930, ano em que o «hand-ball» foi introduzido na cidade do Porto. Antes dessa época, porém, já na Constituição (sempre ela, viva nas nossas memórias) se pratica um jogo parecido, conhecido pela «malhadeira»! Não se lhe conhecia implantação em qualquer outra parte do mundo… não era «made in England» (como quase todos os outros) … não era reconhecida «oficialmente», não consta em qualquer manual de desportos «quantos jogavam contra quantos» … se só era jogado com as mãos, porque, em boa verdade, apenas o praticavam as classes de ginástica do Prof. Porfírio Malheiro, homem de «génio irrequieto e inventivo», o verdadeiro inventor deste projecto de modalidade, autentico nado-morto, que «patenteou» com o nome de «malhadeira»!
Depois deste pequeno fait-divers (que não passa disso mesmo, mas se deve referenciar porque a história regista-o), anotem, por favor, que o «hand ball» se deu a conhecer a 31 de Janeiro de 1931 por ocasião do festival desportivo a favor da «Casa dos Jornalistas», numa altura em que nem sequer havia a Associação Regional de Andebol, a qual só surgiria a 20 de Fevereiro de 1932, por iniciativa de António Guilhar, director da secção de Andebol do FC Porto.
Foi, pois, na data citada que esta modalidade se lançou e tornou publica. O palco foi o mítico Campo do Lima, o opositor chamava-se Sport Clube do Porto (o velho Sport) e o resultado foi, para quem dava ao braço pela primeira vez, um brilhantíssimo 0-0 (zerinho redondinho para cada lado!).
Não se conheceu os autores desta difícil façanha. Conhecem-se, sim, os nomes dos pioneiros da modalidade – Fernando Trindade, Carlos Baptista, Joaquim Lagoa, Fernando Rodrigues, João Lopes Martins (o mais completo atleta da história do clube, como já vimos), Álvaro Barroso, António Guilherme, Humberto de Lima, Manuel Leite, Francisco Gonçalves e Olindo Barbosa. Inúmeros foram os êxitos alcançados desde então e inúmeros os atletas que deixaram o seu nome gravado na história do FC Porto, a quem, alguém, há mais de meio século chamou «A ala dos namorados do Clube». Ninguém poderá esquecer nomes como Henrique Fabião, Armando Campos, Fernando Dias, António Fortes, Dr. Augusto Costa, Carlos Teixeira, Joaquim Reis, Teófilo Tuna, Manuel Varela, Paulo Claro (mais tarde conceituado árbitro), Eng.º Mário Sampaio e Castro, João Dias Leite, entre outros tantos. E nesses «tantos e tantos» pretendemos incluir várias gerações, que vão desde as de Ferra, Capela, Prof. Cunha, Dr. Leandro Massada, Maia, Madureira, Coelho, passando pelas de Amorim, Pinto Monteiro, Rocha e viajando pelas de mais «tantos e tantos», campeoníssimos, nos quais a geração actual se revê e procura imitar os êxitos do passado, recheando um palmarés riquíssimo com as mais sonantes conquistas.
Êxitos que começaram a desenhar a 18 de Outubro de 1931, quando o FC Porto venceu na Constituição o Académico por 10-1, no seu primeiro jogo oficial para o (também) primeiro troféu disputado pelo clube – a Taça Joaquim Mendes, taça que viria a conquistar ao derrotar, no último jogo, o Sport, por 9-1. Êxitos que, parcela a parcela, se foram somando e, feitas as contas, tornaram a época de 1938/39 ímpar na modalidade – o andebol do FC Porto limpou tudo – venceu o Campeonato Regional (primeiras categorias e reservas), venceu o primeiro Campeonato Nacional (derrotando a 31 de Julho, o Sporting, por 7-1), conquistou a Taça António Guilherme, «chamou um figo» ao Torneio Início e carimbou com o selo de vitória todos os amigáveis disputados. Êxitos que levaram, em Agosto de 1953, a equipa a deslocar-se à Alemanha, naquela que foi a primeira deslocação de uma equipa portuguesa de Andebol, ao estrangeiro. Êxitos que (só no escalão sénior) podemos contabilizar assim: na variante de onze (a primeira a ser praticada e que desde há muito já se não pratica) foram 29 os títulos conquistados com séries impressionantes: sete (7) títulos consecutivos (entre 1938/39 e 1944/45), mais uma série de doze (12) (entre 1948/49 e 1959/60) e mais nove (9) sem intromissões (entre 1966/67 e 1974/75), ficando em casa, ainda, o de 1946/47.
Na variante de sete, nada falta. Campeonatos Nacionais foram 11, Taças de Portugal já cá cantam 7, Supertaças são quatro com direito a Tri (1999/2000, 2000/2001 e 2001/2002, no Campeonato da Liga profissional já constam 2 e Taças da Liga são 3.
Campeoníssimos, carago.

Hóquei em Campo
É a «modalidade saudade» desta evocação. Fundada em 1929 graças aos esforços de José Teixeira Júnior, Carlos Diogo Moreira, do jornalista Rodrigo Teles e do súbdito inglês Brunel Evans, a sua prática desapareceu do universo Portista em 1989. Logo na época do seu nascimento (1929-30) aconteceu o jogo de baptismo. Desenrolou-se no Campo Soares dos Reis, em Vila Nova de Gaia, a 20 de Outubro de 1929, frente ao Vilanovense e saldou-se por um pesado desaire 6-0.
Nada que desmoralizasse, embora a primeira vitória só tenha acontecido meses mais tarde (12 de Janeiro), frente ao Progresso, por 1-0, com Rothes a ter direito a ficar na história por ter marcado esse golo… histórico! Integravam também essa equipa de há 80 anos Manuel Ramos, João Ribeiro Júnior, Manuel Ribeiro, Carlos Moreira, Coelho e Costa Esteves de Sousa, João Gonçalves, Joaquim Lagoa, Alberto Tamudo e o «fundador» Brunel Evans.
Outros nomes se notabilizaram – John Bessa, Herman Katzenstein, Agostinho Pena, o guarda-redes Francisco Costa, José Eurico Terroso e esse terrível atirador Álvaro Lopes Melo, autor de 36 golos numa só época.
Apenas em 1951/52 o FC Porto ganharia o seu primeiro título de Campeão Nacional (foi a primeira equipa do Norte a consegui-lo). Contudo, o primeiro troféu conquistado pela modalidade, para o clube, acontecera uma vintena de anos antes (1931/32). Obteve-o, em Lisboa, frente ao Internacional (campeão lisboeta), ao vencer por 1-0 e chamava-se Taça das Laranjeiras. Na lista dos campeões dois nomes de peso, Wenceslau Teixeira, um histórico dirigente do clube que, como jogador era um verdadeiro tormento para árbitros e adversários pelo seu génio irascível, e Mário Capitão, antigo colaborador do clube tal como Américo Capitão, seu irmão, basquetebolista notável, que foi aqui referenciado.
Como dissemos, em 1989 a modalidade terminou. Deu às cores Azuis e Brancas uma mão cheia de títulos, vários atletas de craveira internacional, alguns com renome (quem dos leitores da velha guarda não se lembra de Ferramenta?), a possibilidade de competir, quase no final dos anos 70, em Itália, na fase preliminar da Taça dos Campeões Europeus e oito títulos nacionais.
Luís César
In «Revista dos Dragões» Dezembro de 2008
 
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MINUDÊNCIAS… (II)

DE CURIOSIDADE EM CURIOSIDADE
Cumprindo o prometido e utilizando na «abertura dos trabalhos» de hoje as mesmíssimas palavras com que os «demos por encerrados», na última «Dragões», voltamos com novas minudências que ajudarão outros puzzles da nossa história.
Antes, porém, de avançarmos, cabe um esclarecimento para não criar confusão àqueles que, tanto quanto nós, gostam de, por amor à causa, viajar pelas linhas e entrelinhas da história do nosso clube: quando falamos de estreias falamos em estreias em jogos oficiais e não em quaisquer outros.
Este é o nosso critério e essa a razão pela qual, por exemplo, dissemos que Madjer fez a sua estreia frente ao Belenenses e não reportamos a sua primeira apresentação pública a um jogo anterior, frente ao Benfica, porque esse teve rótulo de amigável. E já que estamos com a mão na massa, que é como quem diz a falar de estreias em jogos oficiais, comecemos por elas:

ESTREIA DE ROBSON – FIM DE LINHA PARA IVIC
Único treinador inglês na história do clube (Tommy Doc, treinador a «meias» com António Teixeira – já falecido – na longínqua época de 1970/71, embora de linhagem britânica, era escocês), Bobby Robson entrou com o pé esquerdo na sua estreia oficial no campeonato como treinador do clube, em 6 de Fevereiro de 1994, já lá vão 15 anos.
Tomislav Ivic, na sua segunda passagem pelo clube não estava a ser feliz e, terminada a primeira volta (vitória em Aveiro por 2-0), decidiu abraçar um irrecusável projecto de dimensão mais abrangente e a nau Azul e Branca precisou de novo timoneiro. O início de época catastrófico (empate em casa com o Benfica (3-3), derrota na Madeira frente ao Marítimo (0-1), novo empate nas Antas frente ao Famalicão (0-0), vitória em Braga (2-0), mais um empate em casa frente ao Paços de Ferreira (0-0), e mais três empates mais, consecutivos, todos por 1-1 entre as 11ª e 13ª jornadas – Gil Vicente e Boavista (fora) e V. Guimarães em casa, deitou praticamente por terra todas as hipóteses de uma época de sucesso.
Bobby Robson, dispensado pelo Sporting no rescaldo de uma imprevisível eliminação europeia, foi a aposta para lhe suceder. Não para dar, de imediato a volta ao texto, por que tal era quase impossível, mãe para recolocar o FC Porto no trilho das vitórias e preparar um futuro de sucesso.
A sua estreia no campeonato foi na Luz, no início da segunda volta. Derrotado por 2-0, Bobby Robson não haveria de ver mais o seu FC Porto perder até ao final do campeonato, embora empatasse por quatro vezes (3-3 em Setúbal, 0-0 na Amadora e me Guimarães, outro 0-0 em casa no fecho da prova, frente ao Beira-Mar.
Não ganhou o campeonato, mas não falhou a conquista da Taça de Portugal, no Jamor, frente (ironia das ironias) … ao Sporting! A vingança não se consumaria na final (0-0), mas apenas e só na finalíssima (2-1), com os avançados a ficarem em branco e os defesas a colorirem o marcador (golos de Rui Jorge e Aloísio de penalidade). O árbitro foi José Pratas e a subida do capitão João Pinto à Tribuna de Honra um espectáculo degradante. Inconformados (não haverá termo mais suave…) os adeptos do Sporting lançaram uma chuva de pedras e garrafas na direcção do capitão Azul e Branco, tentando impedir a entrega do troféu, tarefa de que esteve incumbida a Ministra da Educação da altura, Drª Manuela Ferreira Leite, actual líder do maior partido da oposição. A espera foi longa, mas «dado o peito às balas», a Taça chegou a bom porto!
A conquista da Taça culminou um trajecto imaculado mas, dividido, também, por Ivic e Robson.
A Ivic coube eliminar, em casa, o Académico de Viseu (2-2 no tempo regulamentar e 5-2 após prolongamento), fora, o V. Guimarães (2-1). Robson, auxiliado, por Augusto Inácio conduziu a equipa à vitória no campo do Salgueiros (2-0), naquele que foi a sua estreia absoluta à frente da equipa (30 de Janeiro de 1994), em casa frente ao Desportivo da Aves (6-0) e fora frente ao Estrela da Amadora (2-1).
Na Europa Ivic e Robson repartiram os louros, com o croata a deixar a equipa na Liga dos Campeões e o Inglês a levá-la até às meias-finais. Qualificado para as pré-eliminatórias de acesso à grande prova, Ivic eliminou o Floriana de Malta graças ao 2-0 conquistado em casa (0-0, fora) e o Feyenoord (num jogo heróico em Roterdão, a defender a magra vantagem caseira de 1-0, golo de Domingos).
A batalha de Roterdão foi dramática. Fora e dentro das quatro linhas, a equipa holandesa tentou tudo por tudo para chegar à «Champions». Uma ameaça de bomba no hotel (que não passou do deflagrar de um imenso cordão de bombinhas de Carnaval) seguiu-se o inferno da «banheira» de Roterdão.
Ivic «vivia» com duas canetas (uma vermelha e outra azul) e, com elas, onde quer que estivesse, «desenhava» duas equipas – a sua e a «outra». Explicava-nos ele, naquele seu linguajar característico, que era impossível o adversário ganhar. Se atacarem «assim», defendemos «assado». Se tentarem pela direita, têm aqui esta barreira. Se for pela esquerda… mais barreiras. Sempre desenhando, jogando o jogo no papel, ia tentando antecipar o que podia acontecer. Aconselhava-nos calma e dizia-nos (recordo-o sempre) que não perderíamos. Nós dizíamos – sim, mister»… E não perdemos! Empatámos 0-0. Lembram-se da equipa? Vítor Baía, João Pinto, Rui Jorge, Aloísio, Fernando Couto, Jorge Costa, Zé Carlos, secretário, Semedo, Jaime Magalhães e Kostadinov, com Rui Filipe e Domingos a entrarem no decorrer do jogo para os lugares de Jaime Magalhães e Kostadinov. Foi aquilo a que se poderá chamar uma equipa fechada a sete chaves!
Liderando, ainda, frente ao Werder Bremen (casa) e Milão (fora), Ivic deixaria o resto da campanha para Robson que, como dissemos, levaria a equipa às meias-finais, onde foi derrotado em Camp Nou, frente ao Barcelona (3-0). Para trás, nas contas do seu rosário, uma derrota na Bélgica (1-0) frente ao Anderlecht, uma vitória em casa (2-0) frente a esses mesmos belgas, uma célebre e ainda hoje recordada vitória na Alemanha frente ao Werder Bremen, por 5-0 (golos de Rui Filipe, Kostadinov, Secretário, Domingos e Timofte de grande penalidade) e um empate caseiro frente ao Milão (0-0).
Em 19994-1995 e em 1995-1996 Bobby Robson seria campeão com apenas uma derrota em 1994-1995 (nos Barreiros, na 7ª jornada, frente ao Marítimo) e duas em 1995-1996 (2-1 na Luz e 3-2 em casa frente ao V. Guimarães.

DESPEDIDAS
Que nos recorde três árbitros despediram-se da função, arrumando o apito, em jogos com o FC Porto.
Em 1986-1987, Carlos Esteves (actual presidente da Comissão de Arbitragem da FPF) apitou, pela última vez, dirigindo o FC Porto - Elvas, no Estádio das Antas. Foi em 31 de Maio de 1987 e o FC Porto venceu por 6-0 com um «poker» (4 golos) de Juary, assinando João Pinto e Futre os restantes. Foi o ano glorioso da conquista da Taça dos Campeões Europeus, em Viena, frente ao Bayern de Munique, com Artur Jorge ao leme. Artur Jorge que form(av)a, ainda hoje, com Fernando Vaz o «par» dos únicos treinadores portugueses «tricampeões» nacionais – Artur Jorge venceu pelo FC Porto em 1984-1985, 1985-1986 e 1989-1990, enquanto Fernando Vaz foi campeão pelo Sporting em 1947-1948, 1948-1949 e 1969-1970.
Se, como se deseja e espera, mister Jesualdo Ferreira vencer esta época ocupa o lugar vago no pódio e conseguirá um feito que nenhum outro treinador português conseguiu no nosso campeonato – vencer três campeonatos seguidos, em 2006-2007, 2007-2008 e 2008-2009!
Na época seguinte (1987-1988), a 5 de Junho, o FC Porto de Ivic fechava o campeonato com uma vitória frente ao Benfica, nas Antas, por 3-0 (dois golos de Jaime Pacheco e um de Rui Barros), sagrava-se mais uma vez campeão e o árbitro conimbricense Miranda Dias fez a sua despedida. Curiosamente este jogo marcou uma estreia – a do actual administrador Reinaldo Teles (à altura Director do Departamento de Futebol) no «banco dos reforços» (era assim que José Maria Pedroto queria que se lhe chamasse porque, dizia, ninguém sai do banco para enfraquecer a equipa mas, sim, para reforçar), como delegado ao jogo. Uma estreia inesquecível.
Finalmente, em 1995-1996, a 12 de Maio, foi a vez de se retirar o árbitro de Setúbal Juvenal Silvestre. O FC Porto recebeu, nas Antas, o Belenenses, venceu por 1-0 (golo do brasileiro Edmilson) e, sob a batuta de Robson, sagrou-se bi-campeão, jogando com Vítor Baía, Rui Jorge, Aloísio, João Manuel Pinto, Secretário, Paulinho Santos, Emerson, Domingos, Edmilson, Drulovic e Rui Barros, com João Pinto, Folha e o angolano Quinzinho a entrarem no decorrer do jogo a substituir Emerson, Rui Barros e Domingos. Essa época (1995-1996) encerra uma «minudência» a recordar – pela primeira vez passaram a ser permitidas três substituições por jogo. O FC Porto «apadrinhou» o evento na jornada inaugural, nas Antas, frente ao Sporting (vitória por 2-1, com um «bis» de Domingos) e João Pinto, Rui Jorge, Lipcsei (os substituídos), Rui Barros, Edmilson e Drulovic (os substitutos) tornaram-se nos nomes que ficaram, para sempre, umbilicalmente ligados a esta inovação.

PRIMEIRO JOGO COMO SAD
Foi a 25 de Julho de 1997 que, pela primeira vez, no cabeçalho dos «Boletins de Jogo» deixou de figurar o nome FC Porto e passou a figurar a designação FC Porto – Futebol, SAD, o que equivale por dizer que foi esta a data do 1º jogo oficial do FC Porto como SAD. Disputou-se na abertura do campeonato de 1997-1998, na Póvoa do Varzim, frente ao Varzim, com António Oliveira como treinador, vencendo o FC Porto por 2-0 (golos de Sérgio Conceição e Zahovic) iniciando a sua imparável caminhada para o Tetra. Porque a data encerra uma forte carga histórica, aqui se recorda a primeira equipa oficial da FC Porto – Futebol, SAD: Rui Correia, Aloísio, Fernando Mendes, Lula, Sérgio Conceição, Paulinho Santos, Neves, Rui Barros, Drulovic e Jardel – Artur, Barroso e capucho foram reforços utilizados e, como tal, com direito a focar na fotografia.

MASCOTE
Confessamos não saber se o FC Porto ainda tem aquela que foi anunciada, na altura, como a sua mascote oficial – o Penta. E não sabemos porque desde há muito, muito tempo, que deixámos de ver aquele dragãozinho desengonçado passear à volta do Estádio, cumprimentando miúdos e graúdos. O seu nome («Penta») homenageava os ainda hoje inéditos cinco títulos consecutivos conquistados (Campeão e Bi-campeão com Robson, Tri e Tetra com António Oliveira, Penta com Fernando Santos, entre 1994-1995 e 1998-1999. A mascote existiu e merece esta «minudência» especial. E teve honras de apresentação oficial. Foi a 27 de Julho de 1999, no Estádio das Antas, coincidindo com a apresentação da equipa para a época 1999-2000, frente ao Standard de Liège, então treinado por Tomislav Ivic e com alguns nomes sonantes no plantel – o guarda-redes Vedran Runje, Daniel Van Buiten, Lunkuku, Guy Hellers e os manos MPenza (Emile e Mbo). Orientado por Fernando Santos e capitaneado por Jorge Costa o onze da apresentação da mascote foi este: Vítor Baía, Esquerdinha, Jorge Costa, Aloísio, Secretário, Rui Barros, Drulovic, Jardel, Alessandro e Capucho. Paulinho Santos foi expulso pelo árbitro Paulo Costa, Jardel (2) e Domingos marcaram os golos da vitória por 3-0. E Ricardo Silva, Duda, Romeu, Ricardo Sousa e Rubens Júnior também deram à perna, Apenas Rui Correia ficou o tempo todo de plantão ao banco a ver a malta jogar…

O HINO
Fechar com o hino é fechar com chave de ouro. E é isso que vamos fazer – fechar com a história do nosso hino. Humildemente confessámos que até há muito pouco tempo a desconhecíamos por completo. Tudo quanto sabíamos eram coisas banais – que o autor da letra era Heitor Campos Monteiro, que desde sempre Maria Amélia Canossa foi a sua voz e, se nos perguntassem mais qualquer coisa, de certeza que nos engasgávamos! Ficamos então a conhecer todos os pormenores. E porque o saber não deve ser uma «coisa» que cada qual guarde para si, mas se partilhe com os outros achamos por bem seguir a descrição de Maria Amélia Canossa e dizer aos leitores como nasceu o hino do FC Porto.
Conta, a sua interprete, que o gravou quando tinha 17 ou 18 anos (canta-o há 56 anos) a 30 de Março de 1952 (decorria a época 1951-1952), iniciada sob o comando do argentino Vaschetto e terminada com o espanhol Passarin a treinador) e sucedeu à Marcha do Porto («Porto, Porto, Porto és a nossa glória, dai-nos neste dia mais uma alegria, mais uma vitória»), música com a qual, e em comunhão com o público, encerrava os «espectáculos para o Estádio» (das Antas) que, semanal ou quinzenalmente, enchiam o Palácio de Cristal.
Diremos nós, que a marcha do Porto (letra de João Manuel e música de Carlos Dias) foi a percusora do Hino pensado por Maria Amélia Canossa e que teve como «arquitectos» Heitor Campos Monteiro, escritor e dramaturgo (letra) e o maestro António Figueiredo e Melo (música).
Uma última mas não menos importante «minudência» - o Hino foi regravado a 31 de Março de 2006, com a Orquestra Sinfónica de Londres. E é co a letra deste Hino velhinho de 57 anos que deixámos em paz os nossos leitores, por mais uns tempos, e partimos à procura de novas «cocabichices».
PORTO, PORTO, POOORTO!
*Luís César*

«Ó meu Porto, onde a eterna mocidade
Diz à gente o que é ser nobre e leal
Teu pendão leva o escudo da cidade
Que na História deu o nome de Portugal

Ó Campeão, o teu passado
É um livro de honra de vitórias sem igual
No teu brasão abençoado
Tens, ó meu Porto, mais um marco triunfal.
Porto, Porto, Porto, Porto
Porto, Porto, Porto, Porto
Porto, Porto

Quando alguém se atreve a sufocar
O grito audaz da tua ardente voz
Ó meu Porto então verás vibrar
A multidão num grito só de todos nós»

(Refrão)

In «Revista dos Dragões» Fevereiro de 2009
 
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MINUDÊNCIAS… (I)
Por portas travessas que nada tem a ver com desporto falou-se muito, ultimamente, em «minudências» (um termo de elite) que mais não são do que (em linguagem do povo) «pormenores». Desvalorizavam-se, então, as minudências e pedia-se especial relevo para os «pormaiores».
Seguramente que na nossa história não é esse o caso. Minudências são pequenas peças avulsas imprescindíveis para a sua construção. Pequenos pormenores escondidos no baú das curiosidades, quase apagados do nosso software, que respondem a muitas interrogações sem resposta na ponta da língua. «Coisas» e «coisinhas» comezinhas de que (alguns) nos lembramos mas não conseguimos, já, enquadrar no tempo.
Não são estórias com «figuras» e «figurões». São apenas e só minudências, mas… minudências com história. Estreias… lesões graves… penalidades falhadas…expulsões… clássicos… curiosidades, em três palavras jogos com histórias.
É esta a nossa proposta de hoje – sistematizando adversários recordar e lembrar (algumas) minudências escondidas por detrás de (alguns) confrontos, muitos deles já com barbas brancas. A estreia de Madjer ou Deco… o 50º jogo no Dragão… o nosso primeiro jogo com quarto árbitro… o primeiro golo de Deco após naturalização… os jogos de estreia de Carlos Alberto Silva ou Robson como técnicos… lesões graves… o primeiro jogo de sempre de Vítor Baía no banco… pequenas minudências!
Do Tirsense ao Elvas, do Estoril ao Alverca, do Espinho ao Gil Vicente, do Sporting ao Braga, do Boavista ao Benfica, passando por tantos outros, há um manancial de jogos que têm sempre uma minudência escondida que enriquece a nossa história. Recordaremos algumas.
Académica
1985-1986: Golo de André no último segundo
Artur Jorge era o treinador e o objectivo o «bicampeonato». A 23 de Fevereiro o FC Porto deslocou-se a Coimbra. Futre marcou o seu terceiro golo do campeonato mas, num jogo de nervos, o empate (1-1) coloria o placard ao entrar-se no último suspiro do jogo. O resultado parecia feito quando Raul Ribeiro apitou para… grande penalidade! André não tremeu na marca dos onze metros e fez de novo tremular as bandeiras azuis e Brancas.
1987-1988: estreia de Fernando Couto
Num ano de ouro, com o croata Tomislav Ivic ao leme, ganhou-se tudo – Campeonato, Taça, Supertaça Europeia, Mundial de Clubes e Troféu Joan Gamper. Na penúltima jornada do campeonato nacional (2 de Junho), já com confortável avanço (15 pontos no final), o FC Porto deslocou-se a Coimbra para defrontar uma Académica em apuros. Mercê das exibições brilhantes nos juniores, Ivic chamou pela segunda vez Fernando Couto. Contra o Espinho não saiu do banco. Em Coimbra foi titular e ganhou direito à faixa de campeão. Raudnri (brasileiro), que começara no banco, foi chamado ao jogo e marcou o único golo do encontro. Bento Marques foi o árbitro.
2005-2006: 50º Jogo no Dragão
Uma efeméride marcada por uma goleada (5-1). Frente à Académica, sob o comando de Co Adriaanse, em ano de dobradinha, a marca histórica dos cinquenta jogos no novo Estádio do Dragão foi atingida a 19 de Novembro de 2005. Um jogo, com dois bis argentinos («Lucho e Licha») e um golo para a marca pessoal de César Peixoto, atestados pelo árbitro Carlos Xistra.
2006-2007: Primeiro golo de Bruno Alves
A seis jornadas do fim do campeonato (e a caminho de novo «Bis»), com o Prof. Jesualdo Ferreira no seu primeiro ano de Azul e Branco, o FC Porto desloca-se a Coimbra (14 de Abril). Titular indiscutível desde a quarta jornada, Bruno Alves contribuiria para o difícil triunfo por 2-1 ao apontar o seu primeiro golo nos campeonatos profissionais com a camisola do FC Porto. Curiosamente o árbitro foi, de novo, Carlos Xistra.
2007-2008: Jogo 50 do professor Jesualdo Ferreira no seu primeiro ano como treinador do FC Porto
De novo a Académica ligada a um número com história. De novo um jogo em Coimbra. E, como nos anteriores, uma vitória difícil (1-0) com um árbitro da Madeira – Elmano Santos: Na recta final de um campeonato conquistado com 14 pontos de avanço sobre o Sporting (69-55) * o nosso actual mister atingiria, em Coimbra, a marca redonda de 50jogos no comando da equipa.
Alverca
2003-2004: Grave lesão de Derlei
Ganhou-se o jogo (2-1) mas perdeu-se um grande jogador (Derlei), incontestável artilheiro da equipa com doze golos nas primeiras 14 jornadas. Em Alverca, na 15ª ronda disputada nas vésperas de Natal (22 de Dezembro) haveria de marcar o seu último golo desse campeonato. Lesionando-se com gravidade, só reapareceria (curiosamente) frente ao Alverca, na segunda volta do campeonato, para disputar os últimos três jogos de um campeonato que o FC Porto ganharia e seria a despedida do Mourinho. Paulo Costa foi o árbitro e o treinador do Alverca o prof. Jesualdo Ferreira!
2003-2004 – Campeão a três jornadas do fim
Se o jogo da primeira volta foi de tristeza o de «à volta cá te espero», disputado a 25 de Abril de 2004, foi de festa. Derrotado na véspera em Leiria, o Sporting, única equipa com possibilidade matemática de chegar ao título, sepultou todos os sonhos na cidade do Lis.
O FC Porto festejou o título em estágio no agora «desactivado» Hotel Tivoli e entrou no seu estádio já campeão. O resultado foi magro (1-0), o golo teve a chancela de Botinha e Paulo Machado foi pela primeira vez chamado à alta-roda. Não sairia, porém, do banco e teria de esperar pelo último jogo com o Paços de Ferreira para se sentir campeão
Belenenses
1985-1986: Estreia de Madjer
Poucos conheciam o «verdadeiro artista». Sabia-se que andava descontente em França e a sua vinda para o FC Porto era o relançar da sua carreira, já que o Matra Racing era capítulo encerrado. Foi no Restelo, frente ao Belenenses (27 de Outubro) a sua estreia. Ganhou o FC Porto 3-2, com dois golos de Gomes e um de Vermelhinho, era Artur Jorge o técnico.
O FC Porto sagrar-se-ia, nesse ano, bicampeão e, na Taça dos Campeões europeus, depois de eliminar o Ajax cairia ingloriamente aos pés do Barcelona, perdendo lá 2-0 e vencendo nas antas por 3-1, com três golos de Juary. De feitio irreverente nunca foi, Madjer, um titular indiscutível, «papando todos os minutos de cada jogo», mas logo nesta sua primeira época «carimbou» dez golos. Consagra-se-ia na final de Viena, com o seu «calcanhar» a dar (na altura) o golo do empate e naquele que foi, nessa campanha, apenas o seu segundo no onze inicial. O outro fora, em casa, frente ao Brondby e marcara, também, um golo. Em todos os outros não jogou (Rabat Ajax em Malta e Vitkovic fora, na única derrota de toda campanha), ou foi suplente utilizado (Rabat Ajax em Vila do Conde, Vitkovic e Dinamo de Kiev nas Antas) ou substituído (Dinamo de Kiev na Rússia) ou pura e simplesmente não saiu do banco (Brondb na Dinamarca). Apareceria em grande na hora H, com génio e talento inebriando as plateias com o perfume do seu futebol aristicamente selvagem.
1999-2000: Primeiro jogo do FC Porto com quarto árbitro
A deslocação ao Restelo, na sexta jornada a 4 de Outubro, encerra uma «minudência» interessante – pela primeira vez um jogo em que interveio o FC Porto teve quarto árbitro. Tinha-se acabado com o «trio de arbitragem» e instituído o «quarteto arbitral». As nomenclaturas iam evoluindo. Os juízes de linha (que também eram árbitros) passaram a «árbitros assistentes» (com carreira própria e quadro independente), embora para a tribo da bola sejam ad eternum os «bandeirinhas». O quarto árbitro era, pois, mais um auxiliar na burocracia das substituições, fiscal atento às violações da área técnica e oficial às ordens para substituir o árbitro principal em caso de necessidade. Luís Tavares foi o homem escolhido para esta tarefa e, por isso, figura na história como o primeiro quarto árbitro a participar num jogo do nosso clube. Acrescente-se que o árbitro principal foi Bruno Paixão, o jogo terminou como começou (0-0), o treinador era Fernando Santos e que tudo quanto nessa época se conquistou foi a Taça de Portugal, frente ao Sporting, no Estádio Nacional, a 25 de Maio (2-0), com golos de Deco e Cayton, dois homens que viriam a ser substituídos no decorrer do encontro.
Benfica
2002-2003: Primeiro golo de Deco após natarulização
Sob o comando de José Mourinho, em nova época «papa títulos» (campeonato, Taça de Portugal e Taça UEFA), o FC Porto deslocou-se, na 24ª jornada, ao Estádio da Luz. Entre os eleitos para o embate (Vítor Baía, Jorge Costa, Pedro Emanuel, Derlei, Maniche, Capucho, Paulo Ferreira, Hélder Postiga, Jankauskas, Ricardo Costa, Alenitchev, Tiago, Marco Ferreira) estava já não o brasileiro Deco mas o português Deco.
O jogo foi difícil mas a vitória foi saborosa (1-0). O setubalense António Costa, árbitro do encontro, anotou no seu caderno de bolso o nome do marcador – Deco. A sua cumplicidade com o golo não era virgem. Nas jornadas anteriores já havia «depositado» sete na sua conta corrente. Só que este tinha um duplo sabor – era o seu primeiro golo com a nova nacionalidade portuguesa e logo marcado ao clube que nele nunca acreditara – o Benfica! Uma «vingança» em dose dupla porque já na primeira volta (2-1), a 20 de Outubro, um dos golos da vitória sobre o clube da Luz também tinha tido a sua assinatura.
No bloco de notas pode anotar mais uma «minudência» - Deco marcou o seu último golo «brasileiro» no Estádio das Antas, a 5 de Janeiro, umas jornadas antes (16ª jornada), frente ao Sporting de Braga numa vitória gorda (5-1). Já agora e porque Deco é a figura central deste apontamento, pode anotar, também – A estreia de Deco com a camisola Azul e Branca foi a 10 de Abril de 1999, faltavam oito jornadas para terminar o campeonato de 1998-1999. O adversário foi também o Sporting de Braga e o FC Porto venceria à tangente (1-0), com golo de Zahovic. Não começaria Deco no onze inicial, mas Fernando Santos lançou-o no decorrer do encontro. Não marcaria qualquer golo nos seis jogos que efectuou, mas ficou para sempre ligado à célebre conquista do «Penta»! Foi Gomes Araújo, de Braga, o árbitro a rubricar o primeiro boletim de jogo com o seu nome na ficha.
Varzim
1979-1980: Golos a abrir e a fechar
Dizer-se que todos os minutos são minutos, que todos têm sessenta segundos e são, por isso, iguais é uma verdade que salta à vista e bem poderia ter a assinatura de La Palice, esse célebre capitão francês morto na batalha de Pavia, em 1525, e de quem se conta que os soldados que ele comandava compuseram, em sua honra, uma versalhada rematada assim – O senhor de La Palice/morreu em frente a Pavia/minutos antes da morte/podem crer ainda vivia.
No desporto, sobretudo no futebol, as verdades de La Palice não são assim tão óbvias. Os minutos em que se marcam os «Gois» (como se dizia nos jogos de solteiros e casados disputados no mundo rural mais profundo) contam muito. Para o espectáculo e para os corações dos espectadores.
Daí que, pela sua raridade, marcar no minuto um, sofrer o empate aos quarenta e cinco minutos e alcançar a vitória no minuto noventa seja notícia para arquivo. No FC Porto já se viveu esse cenário. Não podemos garantir que seja caso único mas é único de que temos registo
Na longínqua época de 1979-1980, já lá vão trinta anos, cumpria mister José Maria Pedroto a sua quarta (e última) época, consecutiva, aos comandos do FC Porto. Seria substituído por Stessl. O Varzim deslocou-se às Antas. Um golo logo ao minuto inicial previa uma tarde de Dezembro (15) tranquila, mas o empate ao sair para o intervalo tudo alterou. Toda a segunda parte os corações bateram alterados – o golo da vitória só no último minuto seria conseguido. Os nomes dos marcadores? Duda e Vital.
Foi árbitro desse encontro (décima terceira jornada) César Correia, de faro. Era o velho tempo do futebol às 15:00 e o tempo, também, de vermos a defender o emblema do clube jogadores como Fonseca; Gabriel, Simões, Freitas, Murça, Rodolfo, Frasco, Duda, Gomes, Romeu, Costa, Lima Pereira, Sousa, Albertino, Torres, Tibi, o brasileiro «Biffe», Marco Aurélio, Cerqueira, Oliveira, Octávio Malheiro, Vital e Adelino Teixeira, entre outros.
E entre esses outros estava um tal… Jaime Pacheco a ambientar-se às altas cavalarias do futebol. «Penou», muitas vezes como 17º ou 18º da convocatória (só se equipavam 16), ainda foi suplente não utilizado no Estoril e em casa com o Boavista (na penúltima jornada), mas, como se diz na gíria, nessa época não chegou a «calçar» para o campeonato. Faria apenas, saltando do banco, três jogos para a Taça de Portugal (Lusitânia dos Açores, Rio Ave e Marítimo) e seria ainda premiado com uma convocatória (embora tenha ficado de fora dos 16) para o jogo com o Real Madrid, nas Antas, para a Taça dos Campeões Europeus. O FC Porto venceria (2-19, mas o golo sofrido valeu a eliminação – em Madrid, a 7 de Novembro, o Reaç ganhou por 1-0 e seguiu em frente.
Luís César
In «Revista dos Dragões» Janeiro de 2009
 
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TREINADORES ESTRANGEIROS
De Catullo Gada… a Co Adriaanse
Hoje vamos falar de treinadores, dos nossos treinadores.
Não de todos (de Catullo Gada e Adolphe Cassaigne – os primeiros – ao prof. Jesualdo Ferreira – o actual – são 60 nomes diferentes em mais de um século de história), porque seria demasiada carga para um só transporte. Neste apontamento o foco incidirá apenas sobre os treinadores estrangeiros que comandaram a nossa equipa. Procuraremos recordar os seus nomes (várias dezenas), as suas nacionalidades (16), os títulos conquistados (inúmeros) e um ou outro pormenor biográfico que ilustre o seu histórico. Nada de novo que da história não conste. Tão-somente uma forma diferente de os sistematizar permitindo (pensamos) uma identificação rápida e clara na qual o principal seja despojado do acessório. A ideia é que, num relance, o leitor possa enquadrar qualquer treinador estrangeiro no nosso longo historial sem necessidade de vasculhar páginas e páginas onde o «cacho de uvas» que procura se esconde no meio de «muita parra» e lhe permita, ao jeito de «vou ali e já venho», responder a perguntas, por exemplo, como esta: «qual o nome de 12º treinador do FC Porto?», o que, não é o mesmo que perguntar «quem foi o 12º treinador do FC Porto?»
Para a primeira resposta será Alejandro Scopelli. Para a outra, Eládio Vaschetto. E isto pela simples razão de que entre 1907-1908 (Cattulo Gada) e 1948-1949 (Alejandro Scopelli), houve um treinador que bisou – Joseph Szabo (1927-1928 a 1934-1935 e 1945 a 1947).
Uma nota prévia – a ordem que indicamos é sequencial, não distinguindo treinadores portugueses e treinadores estrangeiros. O primeiro treinador português (em futuro trabalho dedicaremos um apontamento específico aos treinadores portugueses), apenas aparece em 10º lugar (época 1947-1948) e chamava-se Carlos Nunes. Muito embora, um outro, fosse já referido pela história (Alexandre Cal). Só que, esse, «pegou» na equipa em situação de emergência (treinador interino) após saída de Akos Tezler, mas ainda a tempo de ajudar à conquista de um Campeonato do Porto.
Assim sendo, mãos à obra e vamos lá ver a qualidade do produto final. O leitor será o juiz e as criticas bem-vindas.
Nacionalidades
(5) Argentina - Eládio Vaschetto (11º), Francisco Reboredo (15º), Alejandro Scopelli (12º), José Vale (24º), e Lino Taiolo (naturalizado italiano) (19º);
(2) Áustria – François Gutkas (7º) e Herman Stessl (46º);
(8) Brasil – Yustrich (22º), Flávio Costa (23º), Otto Bumbel (25), Otto Vieira (29º), Otto Glória (33º), Paulo Amaral (39º), Aimoré Moreira (43º) e Carlos Alberto Silva (50º);
(1) Chile – Fernando Riera (42º);
(1) Croácia – Tomislave Ivic (48º);
(2) Espanha – Passarin (18º) e Vítor Fernandez (57º);
(1) Eslováquia – Fernando Daucic (28º);
(1) Escócia – Tommy Doc (37º);
(1) França - Adolphe Cassaigne (2º);
(1) Holanda – Co Adriaanse (59º);
(11) Hungria – Akos Tezler (3º), Joseph Szabo (naturalizado português) (4º), Maggyar (5º), MihalY Siska (naturalizado português) (8º), Janos Biri (6º), Lipo Hertza (9º), Anton Vogel (16º), Gensi Deszo (17º), Bella Guttman (26º), Jorge Orth (30º) e Janos Kalmar (31º);
(2) Itália – Cattulo Gada (1º) e Luigi del Neri (56º);
(1) Inglaterra – Bobby Robson (51º);
(1) Sérvia – Branko Stankovic (45º);
(1) Uruguai – Ettore Puricelli (naturalizado italiano) (27º).
Nesta relação três nomes podem merecer alguma discussão – Cattulo Gada, Francisco Reboredo e Luigi del Neri. Entendemos, contudo, fazer-lhes refrência porque não se podem apagar da história.
Cattulo Gada, porque na longínqua época de 1906-1907 (no tempo da baliza às costas e chuteiras de travessas, pesadas como chumbo em tempo invernoso), químico na fábrica de Salgueiros, integrante do boémio Grupo do Destino e antigo praticante em Itália, terá sido – como elemento da primeira equipa oficialmente representativa do nosso clube – para além de jogador (era médio) o verdadeiro treinador do conjunto.
Francisco Reboredo, por duas ordens de razão. Primeira, porque nunca sendo uma primeira escolha para técnico principal, desempenhou essa função, em fecho de ciclo, quer em 1949-1950 quando tomou as rédeas da nau Azul e Branca substituindo Pinga (que, por sua vez herdara a equipa de Augusto Silva), quer, mais tarde, em 1960-1962 quando ficou com a equipa nos braços, após o trágico falecimento de Jorge Orth. A segunda, porque Paco Reboredo, verdadeiro tripeiro honorário, integrou a plêiade de atletas que em 1938-1939, sob o comando de Mihaly Siska venceu o primeiro título de Campeão Nacional, ao lado de Soares dos Reis, Vítor Guilhar, Sacadura, Carlos pereira, «Poças», Lopes Carneiro, António Santos, «Costuras», Pinga, Carlos Nunes, António Baptista, Castro e Pereira da Silva.
Luigi del Neri, porque iria ser e não foi (por razões conhecidas) o treinador para a época 2004-2005.
Épocas e títulos
1907 – Cattulo Gada
Até 1924 – Adolphe Cassaigne: 1 campeonato de Portugal (1921-1922), 9 Campeonatos do Porto
1925-1927 – Akos Tezler: 2 Campeonatos do Porto
1927-1928 a 1934-1935 – Joseph Szabo: 1 Campeonato da Liga (1931-1932), 1 Campeonato de Portugal (1934-1935), 8 Campeonatos do Porto
1935-1936 – Mihaly Siska (interino); Maggyar: 1 Campeonato do Porto; Janos Biri
1936-1937 – Fraçois Gutkas – 1 Campeonato de Portugal, 1 Campeonato do Porto
1937-1938 a 1941-1942 – Mihaly Siska: 2 Campeonatos Nacionais (1938-1939 e 1939-1940), 3 Campeonatos do Porto
1942-1943 a 1944-1945 – Lipo Hertza: 3 Campeonatos do Porto
1945-1947 – Joseph Szabo: 2 Campeonatos do Porto
1947-1948 – Eladio Vaschetto
1948-1949 – Alejandro scopelli
1950-1951 – Anton Vogel Gensi
1951-1952 - Eladio Vaschetto Passarin
1952-1953 – Lino Taiolli
1955-1956 – Yustrich: 1 Campeonato Nacional, 1 Taça de Portugal
1956-1957 – Flávio Costa
1957-1958 – Yustrich, José Vale, Otto Bumbel: 1 Taça de Portugal
1958-1959 – Bela Guttmann: 1 Campeonato Nacional
1959-1960 – Ettore Puricelli; Fernando Daucik
1960-1961 – Otto Vieira; Jorge Orth
1961-1962 – Jorgr Orth; reboredo
1962-1963 – Janos Kalmar
1963-1964 – Janos Kalmar; Otto Glória
1964-1965 – Otto Glória
1965-1966 – Flávio Costa
1969-1970 – Elek Schwartz
1970-1971 – Tommy Doc
1971-1972 – Paulo Amaral
1972-1973 – Fernando Riera
1973-1974 – Bela Guttman
1974-1975 – Aymoré Moreira
1980-1982 – Hermann Stessl: 1 Supertaça (1981-1982)

Como se vê, muitos foram os escolhidos, mas poucos os eleitos – Títulos de Campeão só mesmo para Adolphe Cassaigne, Joseph Szabo, François Gutkas, Mihaly Siska, Yustrich, Bela Guttman, Tomislav Ivic, Carlos Alberto Silva, Bobby Robson e Co Adriaanse. Duas mãos cheias dão a conta certa.
Curiosamente são estrangeiros os treinadores responsáveis pelas três piores classificações de sempre do FC Porto: 9º lugar em 1969-1970 com Elek Schwartz, 7º lugar em 1942-1943 com Lipo Hertza e 6º lugar em 1945-1946 com Joseph Szabo.
Grandes nomes, pequenos resultados
Sucessos e insucessos vivem paredes meias. E se o sucesso esteve reservado para muito poucos (para além dos treinadores campeões, apenas Victor Fernandez ganhou um título – Taça Intercontinental, em Yokoama, e Otto Bumbel e Herman Stessl outros menores – Taça de Portugal e Supertaça), já o insucesso esteve reservado para a maioria, tudo (ou quase) «gente fina», como se poderá constatar.
ALEJANDRO SCOPELLI. Depositavam-se grandes esperanças neste argentino nascido em La Plata, jogador brilhante, internacional por Argentina e Itália e que a nível de clubes se notabilizou na Argentina (Estudiantes La Plata), Itália (Roma e Inter), França (Racing e Red Star), Portugal (Belenenses e Benfica) e Chile (Universidade).
Respondeu ao apelo do FC Porto para comandar o seu futebol depois de uma época muito positiva no Belenenses. Mas foi infeliz e o FC Porto ficou em 4º lugar. Orientaria, depois, o Corunha, a Universidade do Chile, o Espanhol de Barcelona, o Sporting, o Granada e o Valência. Integrante da equipa argentina que disputou o primeiro Campeonato do Mundo em 1930, Alejandro Scopelli Casanova faleceu a 23 de Outubro de 1987, com 79 anos.
FLÁVIO COSTA. Quem venceu com a «canarinha» a Copa América, a Copa Roca e a Copa do Atlântico, conquista com o Vasco da Gama o campeonato sul-americano de clubes e enriquece o palmarés do Flamengo (5) e Vasco da Gama (4), com nove campeonatos cariocas, tinha de ser um técnico acima de qualquer suspeita. E Flávio Costa que, como jogador era conhecido pelo «Alicate», ganhou tudo isso como treinador. No FC Porto, porém, nada ganhou, embora no seu primeiro ano (1956-1957) a equipa jogava, dizia-se, «comó caraças!». Ficou-se pelo segundo lugar, um acima daquele que lhe estava reservado na sua outra passagem pelo clube em 1965-1966 (3º classificado), embora aí a ponta final tivesse sido feita sob o comando do seu adjunto Virgílio Mendes, o «leão de Génova», que há bem pouco tempo nos deixou.
Modesto médio centro do Flamengo, Flávio Costa, nasceu na cidade mineira de Carangola e toda a sua vida de treinador carregou uma enorme cruz – a de ter sido o treinador da selecção do Brasil naquele fatídico mundial de 1950 perdido em casa. Aposentou-se depois de deixar o FC Porto em 1966, por entender que já não tinha paciência para ser «babá» de jogadores, ele que nunca admitiu que um atleta discutisse uma ordem sua ou fosse indisciplinado sem pagar forte e feio por isso. Morreu «velhinho», com 92 anos, em 22 de Novembro de 1999, ano em que o FC Porto conquistou o «Penta», sob o comando de Fernando Santos.
ETTORE PURICELLI. Nascido em Montevideu, Hector (Ettore por via da sua naturalização italiana) Puricelli chegou ao FC Porto aureolado com um prestigioso título conquistado no futebol transalpino – o scdetto de 1954-1955 com o Milan ao qual juntaria, também com o Milan a conquista da Taça Latina em 1956. Tudo isto uma ano antes de treinar o Palermo, onde o FC Porto o «descobriu» em 1959. Fracassou rotundamente, não acabaria a época (4º lugar) e veria suceder-lhe Fernado DauciK. Penaria, a partir daí, por clubes italianos de menor projecção (Salernitana, Varese, Atalanta, Alessandria, Cagliari, Vicenza, Brindisi, Génova e Foggia), clube que dirigiu durante quatro épocas, num autêntico carrossel de subidas e descidas – em 1971-1972 na série B, de 1976 a 1978 na série A, em 1979-1980 na série C, subindo à serie B na época seguinte. Conhecido enquanto jogador por «testina dóro», Puricelli marcou 86 golos em 139 jogos pelo Bolonha de 1938 a 1944, 55 pelo Milan em 157 jogos (1945 a 1949) e 25 golos em 38 jogos no Legnano (1949 a 1951), no fecho da sua carreira. Ao serviço do Bolonha sagrar-se-ia «capocannoniere» (rei dos marcadores) da série A italiana em 1938-1939 (19 golos) e 1940-1941 (22 golos).
JANOS KALMAR. Quando em 1962-1963 chegou ao FC Porto proveniente do Granada, que sob o seu comando chegara à final da Taça Generalíssimo (baquearia frente ao Barcelona por 4-1, com o tento dos granadinos a ser apontado por Arsénio Iglésias), Janos Kalmar já tinha no seu cartão-de-visita quatro títulos de campeão da Hungria como treinador do Honved (1950, 1952, 1954 e 1955). Um palmarés interessante que não chegou, contudo, para dar títulos ao FC Porto mas, mesmo assim, consagrou-o como vice-campeão nacional, a mesma classificação que conseguiria na época seguinte, muito embora não a tenha concluído, deixando o trabalho a Otto Glória, com Artur Baeta a assegurar o inevitável período de transição. Treinaria depois o Halmstads BK até se fixar definitivamente em Espanha treinando sucessivamente o Espanhol de Barcelona, o Saragoça, Málaga, Hércules e, de novo, Málaga para fecho de carreira. Jogador em equipas francesas de fraca expressão (Excelsior Roubaix, RC Roubaix e Stade de Reims), nos anos 30, Kalmar teve uma efémera passagem pela selecção húngara assistindo um dos muitos treinadores daquele país – Gusztav Sebes. Mas, de facto, seria no Honved, numa equipa recheada de espantosos jogadores (Ferenc Puskas, Zoltan Czibor, Sandor Kocsis, Jozsef Bozsik e Grosics) que a sua carreira de treinador conheceria o auge entre 1952 e 1956.
ELEK SCHWARTZ. Do paraíso às trevas é como se pode definir a passagem do treinador romeno pelo futebol português. Será irrealista pensar (se o futebol não fosse uma caixinha de surpresas) que Elek Schwartz, depois de em 1964-1965 levar o Benfica à conquista do campeonato nacional e o colocar na final da Taça dos Campeões Europeus, frente ao Inter de Milão (orientado pelo mestre do «catenaccio» Helenio Herrera e com a vitória a sorrir aos italianos por 1-0), ficasse ligado à pior classificação de sempre do FC Porto (1969-1970), ao deixar a equipa no 9º lugar, sem sequer terminar a época e a deixar a equipa às ordens do seu adjunto Vieirinha. Mas foi o que aconteceu. Se, como jogador, a carreira de Aleksander (Elek) Schwartz, iniciada no modesto Ripensia de Timisoara (sua terra natal e de onde viria muitos anos mais tarde o nosso Ion Timofte) e continuada sem grande relevo por França (FC Hyeres, AS Cannes, Racing Strasbourg e Red Star), já como treinador os emblemas que serviu previam outra projecção. AS Cannes (no qual se iniciou), AS Mónaco, Le Havre, o «desconhecido» Sportfreunde Hamborn 07 (modesto clube dos arredores de Duisburgo, que conduziu até aos nacionais), Rot-Weiss Essen (então campeão alemão) e a selecção holandesa (de 1957 a 1964, altura em que foi substituído por Denis Neville) foram degraus que subiu em direcção ao Benfica e lhe valeram o passaporte para o FC Porto. Ao rotundo fracasso seguiu-se uma carreira em declínio, que os três anos passados no Eintracht Frankfurt, antes de assumir as Azuis e Brancos, não deixavam prever. De Portugal ainda deu um salto à Holanda (Sparta de Roter dão), voltou à Alemanha (1960 Munique), rumando definitivamente a França para orientar o Racing Strasbourg (promoveu-o à 1ª liga) e a terminar nos amadores do SR Haguenau, cidade onde viria a passar o resto da sua vida e a falecer com 91 anos.
FERNANDO DAUCIK. Porque o espaço não é imenso e a paciência dos leitores tem limites, o nosso último biografado de hoje será Daucik, o treinador eslovaco, natural de Saby que sicedeu a Ettore Puricelli, para finalizar a época 1959-1960, e não mereceu sequer um voto de continuidade. Porquê? Apenas e só, mais uma vez, porque para tudo na vida é preciso ter alguma dose de sorte. E Daucik não a terá tido, seguramente. Que diabo, um treinador que no futebol espanhol tinha o seu curriculum deveria ter «pegado de estaca» no nosso clube! Mas não, no futebol nem sempre «2 mais 2 são 4» e daucik passou pelo nosso clube…sem glória e a equipa ficou-se pelo 4º lugar. À chegada apresentava «só» estas credenciais:
- Bicampeão espanhol pelo Barcelona em 1951-1952 e 1952-1953;
- 3 Copas Generalíssimo pelo mesmíssimo Barcelona;
- 1 Taça Latina ainda pelo Barcelona;
- 1 Campeonato espanhol pelo Atlético de Bilbao;
- 2 Copas Generalíssimo, também pelos bilabaínos.
E se não bastassem, apresentava uma outra notável – em 1952, sob o seu comando, o Barcelona conquistou cinco troféus diferentes, incluindo campeonato, Copa Generalíssimo, Taça Latina e Taça Eva Duarte. A essas credenciais podemos acrescentar o 2º lugar no campeonato com o Atlético de Madrid e a chegada aos quartos de final da Taça dos campeões Europeus com o Atlético de Bilbao, em 1957, depois de eliminar o FC Porto e o Honved, antes de cair aos pés do Manchester United, por um golo apenas (5-6 no conjunto dos dois jogos). Um «curriculum» de treinador, rico, desde o SK Slovan Bratislava (em 1942-1946) até ao Espanhol (1970-1971), com passagem pela selecção da antiga Checoslováquia, Hungria (uma equipa formada por refugiados e que incluía Kubala, seu genro, por via do casamento com a sua filha Ana Viola Daucik), Barcelona, Atlético Bilbao, Atlético de Madrid, Bétis, Múrcia, Sevilha, Saragoça (conquista a Taça Generalíssimo em 1965/1966), Toronto Falcons e Elche, mas muito pobre entre nós. Fernando Daucik faleceria em 1986, em Alçada de Henares, aos 76 anos.
Uma nota final para que se proceda à devida correcção – no livro da autoria de J. TamagniniBarbosa e Manuel Dias «Figuras e Factos – FC Porto 1893-2005», vem referido que Daucik é austríaco. Um lapso. É, como vimos, eslovaco.
Luís César
In «Revista dos Dragões» Março/Abril de 2009
 
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DE TETRA (1998) …
EM TETRA (2009)
Em Abril de 1998 nas páginas da «Dragões (a comemorar o seu 13º aniversário) gravavam-se, para a história, as memórias da conquista do Tetracampeonato.
Páginas brilhantes, coloridas de Azul e Branco intenso, emoções em ebulição, palavras de orgulho por um feito, (até então, único no clube), gritos de alma incontidos, palpitantes, labaredas de uma festa que o povo engendrou sem ensaio prévio. Páginas brilhantes, coloridas de Azul e Branco intenso, com a chancela do reconhecimento da justiça de um feito absolutamente notável.
No editorial deste histórico número 156, o seu então Director Executivo Jorge Maurício Pinto escrevia sobre «A teoria da meta volante» (defendida, dizia pelo Presidente Jorge Nuno Pinto da Costa) que mais não é do que pensar que «os nossos objectivos nunca estão alcançados; fazem-se e vão sendo alcançados; estamos em constante mutação e, nessa mutação, vamos conquistando objectivo a objectivo… Agora venha o Penta». A premonição, confirmou-se. Uma época volvida (1998-1999), sob a batuta de Fernando Santos, o FC Porto conquistou o seu 5º título consecutivo e alcançava (no último ano do século) o Pentacampeonato, feito único na história do futebol português.
«A teoria da meta volante» tem esse efeito (novo Pentacampeonato) como objectivo-cabeça-de-cartaz para a nova época. Mas voltemos à história escrita e fotografada» do Tetra em 19998. Continuemos a folhear a Dragões (custava, na altura, 500$00 (2.50€) com IVA incluído, hoje fica-se pelos€3) de Abril de 1998 e saborear o paladar desse Tetra.
- Recordemos os poetas populares – Jorge Soares, no seu «Tetra sem Treta» (mais uma página de inolvidável vigor / o nosso grande Porto sai outra vez vencedor / ergue-se com orgulho outra nossa grande obra / desesperando os habituais vencedores de banha-da-cobra…) ou José Miguel Silva, no Porto… Tetracampeão» (Pinto da Costa e seus pares / a ninguém tem dado meças / nas Antas…se reparares / há trabalho não há conversas).
- Detenhamo-nos nas páginas de «O Limite é o Céu» nas quais se evoca Almada Negreiros e o seu grito (morra Dantas! Morra!) e a proclamação da nação Azul e Branca - «Viva o Porto! Viva».
- Registe-se a tarde de 26 de Abril de 1998, salpicada de esporádicos chuviscos, o Domingo em que se fez história, o jogo da festa e da consagração frente ao Boavista, numa das maiores enchentes da história do imortal Estádio das Antas. Finalmente o Tetra!
- Recorde-se a presença do (então) popular Iran Costa e das tentações no Relvado e de José Sócrates (ministro adjunto do Desporto) e do seu secretário de Estado Miranda Calha na Tribuna VIP.
- Evoca-se o sorriso feliz de Jorge Nuno Pinto da Costa ao receber um telefonema de parabéns, de alguém que já partiu, mas que ele admirava muito – o actor Artur Semedo. «Não conheço ninguém mais fanático do Benfica e o telefonema teve grande significado», afirmava.
- Relembra-se esse emotivo jogo com o Boavista. A vitória (3-2). A marcha do marcador (1-0, aos 32 minutos por, Sérgio Conceição; 2-0, de grande penalidade, aos 57 minutos, por Paulinho Santos; 2-1, aos 75, por Martelinho; 3-1, aos 79, por Zahovic, e 3-2, aos 93 minutos, já no tempo extra, por Timofte). Os vermelhos (Aloísio aos 97 e Litos aos 57 minutos). Os ataques (43). Os cantos (7). Os cruzamentos (24). Os fora-de-jogo (6). O árbitro e os assistentes (António Costa, João Tomás e Luís Farinha, um trio da AF de Setúbal). O treinador (António Oliveira). As equipas: pelo FC Porto Rui Correia; Secretário, João Manuel Pinto, Aloísio, Kenedy, Paulinho Santos, Capucho (Rui Barros), Sérgio Conceição (Zahovic), Chippo (Artur), Doriva e Jardel, com o guarda-redes Eriksson e Drulovic a não saírem do banco. Pelo Boavista (orientado por Jaime Pacheco) Ricardo, Isaías, Pedro Emanuel, Litos, Rui Bento, Luís Manuel, Hélder (Martelinho), Luís Carlos, Jorge Couto, Timofte e Ayew, com Alfredo, Delfim, Latapy e Jacaré como suplentes não utilizados. Os adversários (Benfica, Vitória de Guimarães, Sporting, Marítimo, Estrela da Amadora, Rio Ave, Braga, Vitória de Setúbal, Académica, Belenenses e sete outros que já não integram a elite – Boavista, Salgueiros, Leça, Campomaiorense, Farense, Chaves e Varzim).
- Por fim, (re) gravam-se palavras de profundo significado com que gente de prestígio construiu as suas crónicas de hino à vitória. Palavras que são de há onze anos atrás mas que sem alterar uma virgula ou acrescentar um ponto final são de hoje também.
- «Pentaparabéns», crónica do deputado João Amaral, (então Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PCP e Vice-Presidente da Assembleia da Republica) marca a «força e o prestígio» do porto como clube e cidade. A coesão de toda uma equipa. As regras para ganhar. «… o FC Porto soube ser coeso em torno de todos os que nele trabalham, desde o Presidente até qualquer dos jogadores. Como na canoagem, todos remaram na direcção e no ritmo certo. O Prto mostrou solidariedade e coesão… e, portanto, teve o apoio coeso e solidário da sua massa associativa!
… O FC Porto soube ser uma grande equipa nacional assumindo plenamente a sua origem regional. O FC Porto foi buscar ânimo à cidade do Porto e à Região Norte e, em contrapartida, deu força e prestígio à cidade do Porto e à Região Norte.
…Cada campeonato é um novo desafio. Para o ano, se há um novo desafio para ganhar, serão as mesmas regras: trabalho, seriedade, coesão… e força nortenha!»
- Carlos Magno (subdirector do Diário de Noticias em 1998), numa crónica de umas duzentas e setenta palavras («Não gosto do Tetra») precisou apenas de sete para exprimir tudo o que lhe ia na alma e que todos nós, Portistas de alma e coração, assinamos por baixo - «Não gosto da palavra Tetra, prefiro Penta».
- E porque os últimos são os primeiros, permitam-me os leitores que gaste mais algumas linhas com o respigar da crónica «FC Porto – Um clube com alma» escrito por alguém que não sendo Portista (é um acrisolado adepto de «Os Belenenses»), tem pelo FC Porto, pela sua história e pelos seus dirigentes uma profunda admiração – o professor Doutor Manuel Sérgio, homem de pensamento profundo e palavra fácil.
Julgamos que nesse título («FC Porto – Um clube com alma») está o grande detonador dos êxitos conquistados, o verdadeiro «mapa da mina».
«…e o FC Porto não é só um clube, também não é uma «nação» - é um seminário de valores que exprimem um modo muito especial de ser e estar no Mundo. Ou seja, o FC Porto é um clube com alma e reside aí a razão primeira da sua grandeza.
… o FC porto conquistou o «Tetra» porque tem alma. No meio de tanta confusão, tanta ignorância, tanto charlatanismo, tanta tortuosidade, tanta impostura, que enchem o nosso desporto de extremo a extremo, o FC Porto ensina que só quem tem alma, quero eu dizer: uma constelação de princípios e de regras – é vencedor!».
Assim se viveu, nas páginas da «Dragões», há 11 anos, a conquista de um «Tetra» assinado em partes iguais por Bobby Robson (1994-1995 e 1995-1996) e António Oliveira (1996-1997 e 1997/1998). Hoje, colorir-se-ão, com outras tonalidades Azuis e Brancas, outras imagens sem repetição e outras roupagens literárias, fruto de mais uma vitória, as páginas desta «Dragões». Serão páginas de euforia e felicidade pinceladas também, talvez, com os tons de outra vitória que manteve a cidade em festa – a conquista da Taça de Portugal e a consequente dobradinha.
Um corolário de cincos feitos, quase todos feitos com a mesma assinatura. A assinatura do rigor, do saber e da competência do professor Jesualdo Ferreira, o técnico e o homem que sucedeu ao holandês Co Adriaanse para, de acordo com o habitual «caderno de encargos» que lhe foi presente pela Administração desenhar, projectar e construir, peça a peça (novas umas, «recicladas outras), apoiado numa «entourage» técnica e administrativa de elite, o edifício do Tetra 2009. A anunciada renovação por duas épocas poderá permitir a Jesualdo Ferreira várias coisas importantes:
- Assinar a conquista do novo «Penta», meta até hoje (recorde-se) apenas conseguida pelo FC Porto.
- Conquistar (depois de três ligas e da Taça de Portugal a Supertaça Cândido de Oliveira, o que, assim de rajada, não há quem tenha ainda conseguido no universo Azul e Branco.
- Igualar o húngaro Siska que de, 1937/1938 a 1941/1942, esteve no comando do FC Porto, mas com uma «pequenina» diferença a seu favor (dizemos nós), é que igualando Siska… ultrapassa-o, porquanto em 1937/1938, (se a história fala certo), a época foi iniciada por François Gutkas. Uma pequena diferença que poderá fazer toda a diferença.
Porém, nem só de Tetra se alimentou a Dragões de Abril de 1998.
- Falava-se da Assembleia Geral do FC Porto que aprovou um aumento de quotas de 1.200 (6€) para 1.500 escudos «7,5€» (Bancada) e de 800 «4€» para 1.200 «6€» (superior), com os reformados a terem um bónus de 20 por cento no valor da sua quotização.
- Noticiava-se a visita às Antas de um grupo de altos responsáveis da Câmara Municipal do Porto liderada pelo presidente da edilidade Fernando Gomes, para desenhar o «futuro complexo desportivo das Antas».
- Dava-se nota da emissão pela SAD do «certificado de accionista», comprovativo da qualidade de accionista fundador aos mais de 13 mil subscritores das acções da sociedade, emitidas durante a oferta pública de subscrição de acções.
- Uma entrevista de fundo com Ilídio Pinto ao jeito de raio x sobre as modalidades amadoras, fazia ressaltar uma ideia forte, um fio condutor da enorme panóplia de sucessos do clube «temos uma missão a cumprir: investir no desporto, na juventude, na intervenção social e, claro, nas vitórias».
- Chamava-se a atenção para a Portomania, um mundo de surpresas numa iniciativa onde «é dada a máxima expressão à criatividade em torno dos símbolos do FC Porto» e, noutra entrevista de peso, Álvaro Pinto debruçava-se sobre as 68 filiais e 45 delegações do clube, recordando-as como «parte da alma do FC Porto».
- Noticiava-se que o Bilhar estava em alta (como em alta continua) com o FC Porto na final da Taça da Europa de Clubes, depois de, na sua poule de apuramento, ter derrotado os franceses do Coubervoie, os suecos do BK Borgen (ambos por 3-1) e empatado (2-2) com os austríacos do BSK Viena.
- No «Inverno do nosso contentamento» realce para a Natação e para a vitória da equipa feminina no Campeonato Nacional de Clubes.
- Uma nota de destaque para o Karaté, com Gisela Raquel a tornar-se na «primeira flor da secção» ao sagrar-se individualmente campeã nacional de infantis em Kion Ipon Kumite. Gisela, hoje com 21 anos, é bem capaz de sentir uma pontinha de alegria a recordar este feito, ela que recebeu o primeiro título com «honra. Não por ela, mas pelo que ele significou e significa para o FC Porto».
- Também uma olhadela à Ginástica e à sua participação, no Torneio «Escola Gímnica» promovido pela Associação de Ginástica do Norte com a representação do clube a ficar a cargo de Paulo Machado, Fernando Almeida, César Lemos, Marco Sampaio, Marlene Nogueira e Margarida Magalhães, a todos eles foram atribuídas medalhas de ouro, prata e bronze.
- Ainda uma notícia contrastante, uma notícia de luto – o falecimento de alguém com profundas raízes ao emblema Azul e Branco, no caso presente o «adeus» do Comendador Gonçalves Gomes, «amigo do FC Porto e portista irrepreensível» vitima de um acidente vascular cerebral na véspera do jogo do «Tetra». À sua memória, o Presidente Pinto da Costa, dedicou a vitória sobre o Boavista.
- Finalmente a notícia da atribuição dos Dragões de Ouro relativos a 1997, abrangendo atletas de alta competição (Fernando Sá – basquetebol), atleta do ano (Jardel), futebolista do ano (Sérgio Conceição), atleta amador do ano (Tiago Lousada – natação), atleta jovem do ano (Reinaldo Ventura – hóquei em patins), atleta revelação do ano (Ricardo Costa – andebol), treinador do ano (António Oliveira), funcionário do ano (José Luís Ferreira – massagista), seccionistas do ano (José Carlos – boxe e Manuela Pinto – bilhar), sócio do ano (Artur Santos Silva), recordação do ano (Virgílio Mendes – o «leão de Génova»), dirigentes do ano (Domingos Matos e Lúcio Barbosa), dedicação do ano (António Tiago) e Delegação do ano (Casa do FC Porto da Trofa). A festa culminará, lê-se com a entrega de dois «Dragões de Honra» - um já atribuído (noticiava-se) mas ainda não entregue – ao dirigente Reinaldo Teles, e outro que distinguirá a esposa do Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, Maria José Ritta. Dragão que simbolizará, segundo as palavras do Presidente Pinto da Costa, «uma homenagem a todos as mulheres Portistas». Nessa homenagem englobam-se mulheres dirigentes, atletas, sócias e «esposas, sejam de jogadores sejam de dirigentes ou de treinadores».
Uma Dragões vestida de Azul e Branco, esta do Tetra 1998 que vale a pena recordar.
Uma Dragões que continua vestida de Azul e Branco, esta do Tetra 2009 que certamente valerá a pena ler e receber, ou não fosse o FC Porto um clube habituado a vencer desde 1893!
Luís César
In «Revista dos Dragões» Maio de 2009
 
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Notícias com direito a «Bodas de Diamante»

Acabadas as férias e retomado o trabalho, certamente que o tempo para grandes leituras não será muito. Pensámos, por isso – abrigando-nos na certeza de que «uma boa imagem vale mais do que mil palavras» - fazer hoje, deste nosso apontamento mensal, um apontamento essencialmente gráfico, com menos leitura e mais imagem.
Nem sempre é fácil um cozinhado destes em que os temperos se têm de ajustar a diversos paladares, mas é esse o aliciante que se coloca a quem escreve. O nosso aliciante é partir à aventura rumo às páginas amarelecidas de velhas revistas e alfarrábios e tentar recuperar para a nossa história «pequenos tesouros» Azuis e Brancos, (quase) perdidos no tempo e que todos leiam com agrado.
A crónica de hoje será, pois, «construída» com o resgate de notícias (e imagens) editadas há mais de setenta anos na revista «Stadium», escritas numa linguagem peculiar, complementando-as com essas imagens, também da época, de curiosa dimensão estética, documentos inéditos na extensa bibliografia já publicada, dedicada ao F.C.P., iniciais que, para além de significarem (Futebol Clube do Porto), significam, também, Força, Coragem, Poder, valores em que o nosso caso Clube se revê, conforme escreveu Silva Petiz na «Stadium» de 10 de Fevereiro de 1937 (nº 261).
Resgatando-as (as palavras e as imagens), e com elas enriquecendo a nossa história queremos, igualmente, homenagear duas personalidades de então: Silva Petiz, o jornalista que assina quase todas as reportagens que lemos e respigámos, e Herman, o grande repórter fotográfico nortenho, responsável por um vasto espólio de imagens de grande impacto. Estão, assim, convidados a acompanharem-nos nesta viagem pelo passado e connosco compartilhar o gosto por novas descobertas de textos e ilustrações.
Como se consegue ser «campião vitalício» …
Os treinos do «Foot-Ball Club do Porto»
A notícia assim titulada fará as suas «Bodas de Diamante» em Novembro próximo. Encontramo-la na «Stadium» de 28 de Novembro de 1934 e, já então como agora, os treinos dos clubes eram vistos com especial destaque. Nessa altura não existiam os 15 minutos abertos à comunicação social. Tudo se fazia às escâncaras, a tempo inteiro, com o jornalismo feito «paparazzi» a misturar-se com a «rapaziada» de modo a não perder pitada da sessão. Não que lhe interessassem as tácticas ou os golos dos «shootadores», mas as bocas e as «histórias» trocadas entre jogadores cada vez que a «faina era interrompida».
Como se poderá ler na crónica (que aqui recuperamos o essencial) a única referência de ordem técnica tem a ver com uma imposição do treinador (Szabo) - «é proibido chutar ao “goal” dentro da grande área. Quem o fizer e não meta “goal” é castigado com uma multa». Assinada por C.A. a reportagem do treino disputado numa frigidíssima manhã de nevoeiro reza assim:
«Manhã de Novembro. Manhã de nevoeiro frigidíssima. Às sete horas ainda a cidade era envolvida por um densíssimo manto branco e os poucos transeuntes que se encontravam pelas ruas, tiritavam de frio.
Um carro leva-nos até à Constituição.
Ao chegarmos à porta que dá acesso ao campo do F.C.P. deparamos com alguns jogadores que se iam aproximando do treino. Szabo, de cabelo eriçado e em mangas de camisa. Parecia desafiar o frio. Os jogadores vão chegando uns após outros. Às sete e quarenta não falta ninguém (…) no rectângulo de jogo já saltitam, de lado para lado, umas quatro ou cinco bolas. Alguns jogadores correm para aquecer. O frio é de rachar».
Vamo-nos aproximando da rapaziada que nos olha com admiração por ver, àquela hora matutina, o jornalista de lápis em riste (…) Carlos Mesquita vem numa corrida e dá uma tremenda chulipa no Nunes. Pinga salta ao eixo num grupo de cinco rapazes (…) Szabo apita no meio do terreno e de repente ficámos sós. Também acorremos à chamada. Lá vamos atrás do “rapazio” (…) os jogadores deslocam-se para um ângulo do campo e iniciam uma série de desmarcações que Szabo vai corrigindo. Álvaro Pereira, de cada vez que a faina é interrompida conta uma história, despertando a hilariedade entre os companheiros.
- Ó Sabou – grita o Acácio – você parece que já tomou café.
- É preciso fazer uma fogueira, diz o Santos, que estou roxo de frio.
Na baliza norte o Soares dos Reis faz alguns mergulhos e executa encaixes à queima-roupa. O Jerónimo sai-se com esta que o guarda-redes parece não gostar: “Nos jogos oficiais és um aselha; aqui és um ás. Guarda a ciência para Domingo” (…) “Meninos – grita Szabo – tudo ao seu lugar. Vamos fazer uma partida “séria”. “É proibido chutar ao “goal” dentro da grande área. Quem o fizer e não meta “goal” é castigado com uma multa”.
“Inicia-se o jogo “a sério”. Dois adversários combinam travarem-se de razões para serem expulsos e irem ao cafezinho mais cedo… Szabo, porém, ouve a manigância e grita: “quem é que vai na fita?”
“O frio desapareceu. Os jogadores estão alegres e vão emendando à medida que o professor intervém. Demorou breves minutos o tal joguinho de dois campos e entram em nova série de ginástica. Szabo, alegre e sorridente, esfrega as mãos e dá por terminado o treino, exclamando: “não esquecer que isto começa sempre às sete horas (…) “Vai-se aproximando a hora da entrada para os empregos. A rapaziada vai-se raspando à formiga e, Szabo vem dar-nos umas palmadinhas nas costas, dizendo: “isto vai, isto vai” (…) “à saída do campo, um grupo de miúdos discute acaloradamente:
- Querem tirar o Lopes Carneiro da ponta. O ilhéu não vale “bóia” ao lado dele!
- Para mim é o melhor “shootador” – diz outro.
Um garoto de cara abolachada e o nariz muito vermelho exclama:
- Agora vem tudo ao treino por causa do pingo. Se o Porto não ganhar o campionato vou entrar para o Boavista. Lá os rapazes com menos de 12 anos não pagam. Assim é que é bom…
- A cota do Porto é muito cara – atalha outro.
O diabo, esses miúdos!»

Recordando o FC Porto/Ujpest de 1934
Como se anunciava no cartaz que reproduzimos «football internacional» no Estádio do Lima (anos a fio a sala de visitas do desporto rei na «cidade invicta») era uma constante.
Um dos grandes jogos ali disputados nos anos 30 (23 de Dezembro de 1934) opôs ao FC Porto a equipa húngara do «Ujpest» um nome grande d futebol do seu país. Dizem as crónicas, também ela já com «idade diamantina», que o FC Porto jogando brilhantemente bateu o forte agrupamento «magyar» por 2-1. As páginas da «Stadium» de 26 de Dezembro de 1934 (custava 1 escudo cada revista) registaram-na em crónica assinada por Silva Petiz, que viu o jogo dificilmente ganho pelo «quadro patrício»
«Já a passar das 15 horas, Vieira da Costa (o árbitro) apita quando não enxerga ainda qualquer jogador no enlameado “ground”. Aparece então um “linmen” com duas bandeirolas entregando uma delas ao seu parceiro. Logo a seguir saltam do túnel os “players” magyares, enfiando camisolas de cor lilás à excepção da do guarda-redes que “berra” como uma papoila” (…) “A chuva que caiu a torrentes durante todo o tempo, amainou um pouco, e daí os piões guarnecerem-se de roldão pois um quarto de hora antes contavam-se os assistentes “barates” (calculamos que sejam os bilhetes mais baratinhos) por algum cento, apenas” (…) No centro do campo trocam-se galhardetes e tudo se apresta para ver iniciar-se o “match” que às 15:10 se põe em movimento” (…) “revelaram-se os “magyares” bons jogadores, todavia não fazem esquecer certos compatrícios que têm visitado o norte. Jogaram muito em conjunto e todas as linhas com excepcional entendimento moviam-se automaticamente, ao mesmo tempo, comparticipando com inteligência em todas as principais fases do jogo” (…) “a assistência gostou dos 45 minutos iniciais que foram sempre interessantes e agradáveis em absoluto.
Jogo cruzado, leve, avançados em linha, passes bem-feitos, remates rápidos que obrigavam os guarda-redes a um extremo cuidado” (…) “o esférico não era preso por espaço superior às próprias necessidades – estava sempre em jogo” (…) “os nossos avançados, completamente senhores de si, desenvolviam belíssimas jogadas, sendo equilibrados os valores. O terreno foi secando e as equipas aguentando-se bem, prodigalizavam-nos jogo correcto, de boa concepção” (…) “a asa esquerda do Porto produziu muito, completando-se bem Pinga e Nunes. Acácio (Mesquita) muito deslocado sempre e com infelicidade, Waldemar (Mota) colossal mas mal ajudado pelo novo “equipier” Alves, da Madeira. Nova o melhor “half-back” estando em toda a parte passou sempre com inteligência. Carlos Pereira secundou bem enquanto Álvaro fracassou por estar molestado” (…)
Coube aos locais a honra do 1º goal. Waldemar que viu melhor colocado Pinga passa-lhe a bola e este, enganando Stemberg chuta forte a contar. Havia 33 minutos. Grande ovação” (…) “os húngaros, algo desnorteados, não acusaram fraqueza” (…) “O Porto jogou com subtileza nã parecendo o Porto dos “matchs” do campionato do burgo. Soube querer e vencer” (…) “com o sol a aquecer – uma grande surpresa – a luta agigantava-se mas o “score” estacionava. E os 45 minutos chegaram com o resultado de 1-0 justamente certo. Via-se satisfação em toda a gente” (…) “a segunda parte começa com grandes esperanças para os portuenses. Vêem-se substituídos Nunes e Artur Alves – os dois extremos – por Acácio Mesquita e Lopes Carneiro” (…) ”o jogo piorou imenso – a perfeita antítese da primeira metade. Mais atabalhoado, mais empurrado e então piorou a sua factura em ambos os grupos. Atacando muito o Porto deixou de se preocupar com a beleza; o Ujpest, por sua vez, supondo vencer por esse processo atirou-se ao jogo alto, aberturas largas, jogo em profundidade” (…) “Entretanto Soares dos Reis brindou os magyares com um “goal” – o empate – aos 42 minutos: a uma arremetida da linha avançada calcula mal e sai precipitadamente longe dando origem ao interior esquerdo enfiar o esférico nas suas redes” (…) “mas como quer que Acácio (Mesquita) quisesse reabilitar-se do pouco que fez, na segunda avançada enfiou magistralmente a bola nas redes de Hoori pondo o seu grupo de ovo em vencedor” (…) “finalmente o apito de Vieira da Costa põe termo ao ansiado encontro, debandando-se, contente o público” (…) “no Porto, Soares dos Reis apenas culpado no ponto dos húngaros; de resto bom. Jerónimo melhor que Avelino. Nova soberbo, seguido de Carlos Pereira. Álvaro inferiorizado por lesão. Muito bons Pinga, Waldemar e Nunes na primeira parte; Lopes Carneiro melhor do que Alves e Acácio bastante frouxo, Carlos activo mas pouco produtivo. Arbitragem boa”.

Os grandes jogadores de antanho
Soares dos Reis, Carlos Alves, Nova, Álvaro Pereira, Carlos Pereira, Nunes, Pinga, Wlademar, Carlos Mesquita, António Santos, Jerónimo, Carlos Alves, Avelino Martins, Lopes Carneiro, Acácio Mesquita, Castro Lino, Júlio Cardoso, Artur Augusto, Velez Carneiro, Floriano, Balbino, João de brito, Alexandre Cal, Tavares Bastos, João Nunes, Siska, Pedro Tamudo, Coelho da Costa, Flávio Laranjeira, Hall, Álvaro Sequeira, Ernesto, Vianinha, Poças, Francisco Ferreira, Reboredo e tantos, outros são os nomes pioneiros da nossa galeria de campeões.
Era deles que se falava à época a que reportam os factos que dão vida às nossas «estórias» de hoje. É deles que falamos hoje homenageando-os com as ilustrações (inéditas) que aqui deixamos recolhidas na «Stadium» e que, de certa forma, definem bem como já há setenta anos o FC Porto merecia fotos e montagens de caixa alta nas revistas e jornais da especialidade.

Do ciclismo também reza a história
Não me recordo se já alguma vez, nestas nótulas, o ciclismo foi destaque. Pensamos que não. É, pois, hoje, altura de lhe dedicar meia dúzia de linhas para relembrar e colocar na nossa história um nome e uma prova – Elias Cruz e o «Porto – Vigo – Porto». Confessamos que (quer a prova quer o ciclista) eram para nós totalmente desconhecidos e assim, certamente, continuariam se não viessem ao nosso encontro, por acaso, numa das nossas viagens «caça tesouros».
Pois bem, em 1937 Elias Cruz era, lê-se, «incontestavelmente o melhor estradista do norte» e corria pelo nosso clube. «Porto – Vigo - Porto» uma «clássica» de dois dias organizada com a chancela do FC Porto. Desconhecemos se durou muitos ou poucos anos mas a edição de 1937 foi um êxito.
Quem venceu? Esse tal Elias cruz. Rezam os registos (sucintos) existentes que a partida foi dada no Estádio do Lima às 15:10 e a chegada à Calle Galan de Vigo só aconteceu às 21:29, o que vale por dizer que o nosso Elias Cruz esteve com o rabo no selim, a dar ao pedal, durante 6horas e 19 minutos para chegar do Porto a Vigo. Os corredores não eram muitos – treze portugueses e o espanhol Delio Rodriguez que por avaria na máquina desistiu no regresso.
Uma clássica que passou por Ermesinde, Santo Tirso, Famalicão, Braga, Vila Verde, Ponte do Marco, Arcos de Val – de – Vez (assim vem escrito) Monção e Valença, corrida com grande alternância na cabeça do mini pelotão mas com Elias Cruz, vítima de furos e avarias nas mudanças, a ter de andar sempre em constante perseguição, ora a Albano Sotero do Académico, ora a Albino Carvalho ou ao seu chefe de equipa Domingos Barreira. Conta-se que Elias Cruz tudo superou cortando a meta “já de noite o que se tornou não só perigoso como difícil”, com quatro minutos de avanço sobre Domingos Barreiro e Valentim Afonso também do FC Porto.
O regresso, no Domingo, foi monótono com tudo quase em pelotão. Valeu um esticão de Valentim Afonso que quis passar à frente na sua terra (Arcos de Valdevez) e a ponta final de Elias Cruz que depois de S. Tirso “pôs as suas qualidades em acção”, fugindo, de repente aos seus companheiros, “trepando maravilhosamente a grande subida que ia definir o vencedor da prova” concluindo a tirada isolado. Quem nos diz que nos tempos que correm (agora que tanto se fala no «eixo Porto – Vigo») com outras estradas, outras máquinas e «outros corredores, não seria uma boa aposta publicitária o ressurgir desta clássica?
Luís César
In «Revista dos Dragões» Agosto de 2009
 
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Saltitando de sede em sede

O FC Porto ao anunciar a compra do edifício da «Praça General Humberto Delgado nº 325», onde funcionou a 7ª sede da sua história, deu-nos o mote para na nossa estória de hoje – Recordar as diversas sedes que o FC Porto ocupou ao longo destes 116 anos de vida recentemente comemorados (28 de Setembro).
É fácil compreender o porquê de «tanta» sede se pensarmos na necessidade de, ao crescimento desportivo, corresponder o devido crescimento estrutural. Aumentando, ano após ano, a sua projecção, as instalações (estruturas de apoio) de que, pontualmente dispunha, iam-se tornando exíguas. «Plagiando» o que nós próprios escrevemos, já lá vão 31 anos exactos, (num pequeno opúsculo dedicado ao FC Porto e intitulado «A vida do grande clube nortenho», o que «hoje» era um «palácio» parecia, «amanhã» um «apartamento» e onde «hoje» cabia o «arquivo», «amanhã» não chegava para o «receptáculo da correspondência».
Da sede da «Rua da Fábrica nº 15» (a 1ª) à mais nobre, emblemática e imponente da sua história (a da Praça General Humberto Delgado), vai a distância entre um grupo folião virado (quase) exclusivamente para a «boa vida», os «garfos» e os «copos» (O Grupo do Destino) e um grupo (clube) que José Monteiro da Costa e António Nicolau d’Almeida (fale-se de 1893ou 1906) transformaram num «grande clube de desportos» que não poderia ter outras cores que não fossem as da própria bandeira nacional ao tempo: o azul e branco porque o mundo teria de ser o limite das suas fronteiras. Pé ante pé, que é como quem diz de sede em sede, viajamos, pois, pelo tempo e pela história.

1ª Sede – Rua da Fábrica nº15

Foi a que se poderá chamar uma «sede de emergência». Era lá que o Grupo do Destino estava instalado e houve que aproveitar o prédio para as primeiras impressões, porque o dinheiro não abundava e mal chegava para saldar as contas do vício pela «folia» e «copofonia». Nada, porém, que não se resolvesse facilmente. Carolas endinheirados existem desde que o desporto existe e José Monteiro da Costa não tinha qualquer problema em puxar os cordões à bolsa e pagar a renda do seu próprio bolso.

2ª Sede – Rua da Rainha nº 371

De tudo quanto era desporto na época (desde a luta de tracção à corda até às gincanas de bicicleta e de… jericos!!!) se realizavam festivais atléticos no histórico «campinho da Rainha, «grande estádio» do Grupo do Destino na sua era desportiva. Foi no Campo da Rainha que o grupo dos amantes da noite e da gastronomia os primeiros (e os últimos) pontapés da sua existência e seria nele, também, que o FC Porto daria o pontapé de saída do seu historial.
Fazia todo o sentido, por isso mesmo, que a nova sede ficasse paredes-meias com o campo do clube
Na sede da Rua da Rainha (para a geração actual diga-se que hoje a rua chama-se de Antero de Quental) «viveu» o FC Porto de 1907 a 1912, por essa questão fundamental de funcionalidade. É que, embora novo, o andar era (já) pouco espaçoso e a renda um pouco cara para as posses de um clube que ainda (só) gatinhava.

3ª Sede – Campo da Constituição (Barracão)

A era da «Rainha» durara meia dúzia de anos apenas. Corria o ano de 1912 quando, na noite de 29 de Julho, a Direcção presidida por Joaquim Pereira da Silva se reuniu e autorizou que se «alugasse um terreno» que, caído do céu, se encontrava disponível a um palmo de distância, na Constituição, e dava bem para «erguer» um campo de jogos de futebol (e de ténis) espaçoso, funcional, digno (na época) da projecção que o clube conseguira.
Fixada a renda inicial em 350$00/ano (mais tostão, menos tostão equivalia 30$00/mês, substancialmente menos do que hoje custa um chupa-chupa), em meio ano nasceu ali o melhor campo do norte, embora desprovido de bancadas, «luxo» que só apareceria uns dez anos mais tarde, quando o clube recebeu uma indemnização milionária de 20 contos dos proprietários da quinta das Oliveiras por quebra de compromisso, na hora de por o preto no branco e rubricar a escritura que a tornaria património do clube.
A mudança para a sede da Constituição coincidiu com a data da inauguração oficial do recinto em Janeiro de 1913.
Não foi um passo em frente em termos de instalações. Chamavam-lhe«barracão» (com uma porta e uma janela pequeninas) e situava-se junto da primeira porta de entrada do lado da Praça Marquês de Pombal.
Já se efectuavam as Assembleias Gerais sobrando, ainda, espaço, para se fazerem sessões de pesos e halteres e se darem umas tacadas num velho bilhar que lá se colocou.
A secretaria, a sala de jogos e uma biblioteca (co) habitavam com a melhor acomodação possível, nas próprias instalações do campo. Nesta sede esteve o FC Porto quase uma dezena de anos (1913 a 1921).

4ª Sede – Sala na Praça Guilherme Gomes Fernandes

À medida que a popularidade e os feitos do FC Porto aumentavam crescia, também, a sua massa associativa. O «barracão» começava a ser pequeno para acomodar tanta gente em horas de Assembleias. Havia, imperiosamente, que «mudar de domicílio».
Foi o 2º passo atrás porque, embora ampla, a sala na Praça Guilherme Fernandes funcionou como cedência temporária por parte do Centro Comercial do Porto. Durou pouco a «ocupação». Motivos de vária ordem obrigaram a que se procurasse uma outra sede.

5ª Sede – Rua Santa Catarina nº 108 – 2º

Como não há «duas» sem três, a alternativa foi dar novo passo atrás e aproveitar o que na altura havia disponível.
As instalações encontradas eram acanhadíssimas e, além disso, o FC Porto tinha de dividir a «habitação» com diversos consultórios médicos e outras duas sedes – a da extinta revista «Sporting» e a da Associação de Futebol do Porto. Urgia encontrar outra e pelo seu espaço da Rua Santa Catarina passou o FC Porto como gato sobre brasas.

6ª Sede – Rua Formosa nº 179 – 1º

Um pequeno passo em frente foi dado com esta mudança. A sede da Rua Formosa era, até então, a melhor que o clube tinha tido. Nela se arquitectaram grandes planos sobre a construção de um verdadeiro estádio à altura da grandeza que o clube já alcançara.
Os feitos do clube foram-se multiplicando e as pessoas obrigadas a pensar em altos voos.
O lamiré surgiu numa Assembleia Geral em 5 de Janeiro de 1922 obtendo o director Sr. Joaquim Vaz o parecer unânime dos presentes no sentido de, «mal a Direcção possa e a ocasião se proporcionar, comprar uma propriedade nas condições desejadas do que dará, depois, conhecimento à Assembleia dos trabalhos a realizar nesse sentido».
Trinta e tal anos depois (1952) esta vontade da Assembleia haveria de ser cumprida com a inauguração do Estádio das Antas (28 de Maio), passo último de uma longa maratona iniciada a 14 de Setembro de 1933, com a nomeação de uma comissão de seis sócios (António de Oliveira Calem, Sebastião Ferreira Mendes, Eduardo Dumont Villares, António Figueiredo e Melo, José Maria Queirós Veloso e Eng. Eduardo Coutinho), encarregada de escolher o terreno para «nele ser construído um estádio que comporte, no futuro, 50 mil pessoas» e estudar a inerente parte financeira, continuada em 19 de Julho de 1937, com a proposta feita à Direcção de «uma primeira base financeira de arranque da obra», em 8 de Fevereiro de 1948, na sede do clube, com a assinatura da escrita da compra dos terrenos pertencentes à antiga Quinta dos Salgueiros a troco de 1.400 contos, em 4 de Dezembro de 1949, com o acto simbólico do lançamento da 1ª pedra, em 16 de Janeiro de 1950 com o início da «revolução» dos terrenos pelo tractor «Sraper» (o mesmo que tinha sido utilizado na terraplanagem das pistas de Pedras Rubras), cedido ao FC Porto pela Direcção da Aeronáutica Civil e culminada, então, a 28 de Maio de 1952, com a inauguração do Estádio das Antas.

7ª Sede – Praça General Humberto Delgado nº325

Para aqui «pulou» (um salto de gigante) o clube ao deixar as instalações da Rua Formosa.
Era a sede sonhada. Localizada junto aos Paços do Concelho, no coração da «nobre e leal cidade invicta», imponente na sua traça altiva, ajustava-se à grandeza e à dimensão do FC Porto.
A princípio foi ocupado todo o 1º piso (esquerdo e direito), embora os serviços de secretaria (e sociais) só ocupassem uma ala. Na outra, para além de um pequeno bufete, havia vários bilhares e mesas de ténis.
Anos depois, face ao imparável crescimento do clube, transformou-se a «ala desportiva» em «ala burocrática» colocando, assim, todo o andar ao serviço dos assuntos administrativos. Sempre em processo evolutivo foram sendo feitas obras de «adaptação», arrumando os serviços de outra maneira de modo a ganhar espaço para instalar a «Sala Museu Pinto de Magalhães». O «velho» edifício foi a grande sede até Dezembro de 1982, altura em que aproveitando o espaço interior criado com a construção de «Maratona», toda a actividade administrativa do FC Porto se mudou, de armas e bagagens, para o Estádio das Antas.

8ª Sede – Estádio do FC Porto (Antas)

Trinta anos após a sua construção (1950/1982) o Estádio das Antas tornava-se no único centro nevrálgico do clube. Desporto (Estádio), Negócios (Loja Azul), Sector Administrativo (Sede) e Sala Museu, tudo se concentrava naquele vasto complexo desportivo. Campo, piscinas, pavilhões, bingo, sede, tudo vivia em interligação diária, como uma pequena cidade dentro da grande cidade.
Tertúlias de treinadores de bancada. Pais e filhos numa ponte entre o passado e o presente. Reformados. Atletas. Excursionistas. Gentes de outros credos e outros emblemas – tudo desaguava nas «Antas». Era o pulsar de clube que cresceu tanto, tanto, tanto que num pestanejar deixou de ali caber, ou melhor, precisou de se preparar para a modernidade.

9ª Sede – Estádio do Dragão

Em 29 de Dezembro de 2003, construído «Dragão» e demolidas as Antas abriram-se as portas da actual sede do FC Porto.
Das Antas para o Dragão a distância não é grande. Grande é a transformação, a modernização, a evolução, a que puderam assistir aqueles que, como nós (infelizmente já muito poucos) viajaram, em serviço, pelos corredores do «edifício da Praça do Município», do imortal Estádio das Antas e da jóia da coroa que é, sem dúvida, o Estádio do Dragão.
Nele tudo é belo, imponente, arrebatador, «obra de deuses e de loucos».
Perguntar-nos-ão os leitores: então a Torre das Antas, não foi sede do clube?

SAD – Do Estádio das Antas ao Dragão, passando pela Torre

A Torre das Antas foi a 2ª sede da SAD. Constituída em 30 de Julho de 1997 a SAD (Sociedade Anónima Desportiva) iniciou a sua actividade em 5 de Agosto desse mesmo ano, funcionando no Estádio das Antas (a sua 1ª sede) até Fevereiro de 1998, altura em que se mudou para o 14º andar da Torre das Antas.
Dali assistiu à demolição do velho estádio e à construção do actual. Seis anos esteve ali a SAD sediada.
A 13 de Dezembro de 2004, enquanto no Japão, o FC Porto conquistava a Taça Intercontinental, caixotes e caixotes de papéis desciam do 14º andar em direcção ao 3º Piso da Bancada Poente do Dragão, deslocando para ali a sua sede.
Até hoje.

Uma nota brevíssima final. Um grande abraço ao bilhar. Não por qualquer título. Apenas e só porque se manteve fiel às instalações da Praça General Humberto Delgado. Ali construiu as fundações dos grandes sucessos que vem obtendo numa caminhada sem «stop». Ali se manteve, ainda hoje, com grande conforto, comodidade e dignidade.
Cá para mim, deixem-me pensar que o bilhar é um dos grandes responsáveis pela decisão de comprar todo o imóvel e restituir-lhe, com toda a certeza, a altivez de outrora.
Luís César
In «Revista dos Dragões» Setembro de 2009
 
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SETE DÉCADAS SEPARAM ÁLVARO PEREIRA DE… ALVARO PEREIRA

Assim, e ao correr da pena, que nos lembre houve uma mão cheia de Álvaros, titulados, no FC Porto – o Sequeira, integrante do onze que em 1931-1932 se sagrou campeão nacional de futebol; o Martins, pentacampeão nacional de voleibol de 1968-1969 a 1974-1975; o andebolista Rodrigues, vencedor da Taça da Liga em 2004-2005 e os Pereira, os nossos «retratados» de hoje (o português Cardoso e o uruguaio Daniel).
Setenta e sete anos (1932-2009) separam os primeiros títulos por ambos conquistados no FC Porto. Unidos por um nome comum (Álvaro Pereira) português e uruguaio (ainda que sem acento…) pertencem a gerações diferentes e, embora próximas, as suas posições em campo são diferentes: o primeiro genuinamente um centro campista, o segundo fundamentalmente lateral esquerdo.
De Alvaro Daniel Pereira Barragan (o actual) temos todos tudo bem fresquinho na memória – é uruguaio, nasceu em Montevideu a 28 (dia de São Tomás de Aquino) de Janeiro de 1985, iniciou a sua carreira no Miramar Misiones em 2003-2004 (um golo em 32 jogos), passou pelo Quilmes (2005 a 2007), pelo Argentinos Juniores (11 golos em 35 jogos) e pelo CFR Cluj da Roménia (2008-2009), clube que deixou para assinar pelo FC Porto sendo, actualmente, titular da selecção uruguaia ao serviço da qual marcou o golo da vitória frente ao Líbano.
A 9 de Julho deste ano estreou-se oficialmente pelo FC Porto, em Aveiro, frente ao Paços de Ferreira, com uma vitória por 2-0, ajudando a erguer o seu primeiro troféu oficial – a Supertaça «Candido de Oliveira».
De Álvaro Cardos Pereira (o popular Alvarito) apenas uma pequena franja de adeptos do nosso clube (a geração de 1930, hoje a rondar os 80 anos) terá alguma ideia. Álvaro Pereira, transferido de um clube modesto o União da Foz – foi um médio (direito, centro ou esquerdo) de alta craveira que o clube e selecção não dispensavam. Se na equipa das quinas faltava esse talentoso jogador que era o «restelense» Augusto Silva…pim, logo se perfilava o nome de Álvaro Pereira para o substituir a médio centro; se faltava o médio direito (Raul Figueiredo – o inesquecível olhanense Tamanqueiro)… pam, avançava o «Alvarito»; se a baixa era o «belenense» César Matos (médio esquerdo)… pum, o nosso Álvaro Pereira dava conta do recado.

Jogos Data Lugar Campo
Portugal – Espanha, 0-1 – 30/11/1930 – Médio-esquerdo – Porto (Campo do Ameal)
Portugal – Itália, 0-2 – 12/04/1931 - Médio-esquerdo – Porto (Estádio do Lima)
Portugal – Bélgica, 3-2 – 31/05/1931 - Médio-esquerdo – Lisboa (Estádio do Lumiar
Portugal – Hungria, 1-0 – 29/01/1933 - Médio-esquerdo – Lisboa
Espanha – Portugal, 3-0 – 02/04/1933 - Médio-direito – Vigo (Estádio Balaídos
Espanha – Portugal, 9-0 – 11/03/1934 - Médio-direito – Madrid (Estádio Chamartin)
Portugal – Espanha, 1-2 – 18/03/1934 - Médio-direito - Lisboa (Estádio do Lumiar

Fazia, por isso, o pleno na linha intermediária ou, como se dizia então, «dominó para três lados» (direito – centro – esquerda). Esta polivalência aliada à sua classe levaram-no a integrar por sete vezes a selecção nacional, ao serviço da qual se estreou no campo do Ameal, a 30 de Novembro de 1930, num particular com a Espanha (equipa que acabaria por vencer por um magro 1-0), integrando um onze seleccionado pela dupla Laurindo Grijó/Augusto Pedrosa e que tinha esta particularidade espantosa – não havia um só jogador que fosse do Benfica ou do Sporting – eram 4 do Vitória Setúbal (o guarda-redes Artur Augusto, Raul Alexandre, João Santos e Armando Martins) 4 do FC Porto (Avelino Martins, Álvaro Pereira, Valdemar Mota e Francisco Castro), 1 do Barreirense (Álvaro Pina), 1 do Carcavelinhos (Carlos Alves) e 1 do Marítimo (Pinga).
No seu último desafio pela selecção no Estádio do Lumiar (mais tarde Estádio de Alvalade), Álvaro Pereira foi considerado, unanimemente, pela crítica o melhor homem em campo por ter «metido num bolso» o extremo esquerdo espanhol Gorostiza, estrela cintilante de um conjunto onde brilhavam os célebres Zamora, Quincoces, Zabala, Marculeta, Langara, Ventoirá, e Herrereta. Tão convincente exibição valeu-lhe um prémio inesquecível – um valioso relógio de ouro.
Na história do FC Porto o seu nome ficou gravado na equipa que conquistou em 1931-1932, no campo do Arnado, em Coimbra, o título de campeão de Portugal, derrotando nessa finalíssima o Belenenses por 2-1. Disputava-se, nessa altura, o campeonato de Portugal no sistema de «bota fora». Nas chamadas eliminatórias o FC Porto deixou pelo caminho o já extinto Ginásio Lis (18-0), desenvencilhou-se nos oitavos de final (a duas mãos) do Salgueiros (2-0 e 4-1), bateu o Marítimo nos quartos (0-0 e 3-2), o Benfica nas meias (2-1 e 3-0) para, na final, se bater com o Belenenses que, com extrema dificuldade afastara o Barreirense (3-3 e 1-0).
Foi uma célebre final, disputada a 3 de Julho de 1932 que, apesar do prolongamento, terminou empatada 4-4 (golos de Valdemar Mota, Carlos Mesquita, e um bis de Pinga), depois de o FC Porto estar a vencer por 4-1. Obrigatoriedade, por tanto, de novo jogo.
Na citada finalíssima, em 17 de Julho, disputada no tal campo do Arnado,, em Coimbra, e dirigida por um árbitro espanhol conceituado (Ramon Melcon), vence o FC Porto por 2-1 [golos de Pinga (gp) e Acácio Mesquita]. Álvaro Pereira integrava esse onze histórico, que aqui recordamos: Miguel Siska, Avelino Martins, Pedro Tamudo, Álvaro Sequeira, Álvaro Pereira, Castro, Lopes Carneiro, Valdemar Mota, Acácio Mesquita, Pinga e Carlos Mesquita. Voltaria a ser campeão em 1934/1935, na 1ª edição do campeonato da 1ª Liga, era treinador Joseph Szabo.
O FC Porto terminou esse campeonato (14 jornadas) com 22 pontos (mais dois do que o Sporting) e Álvaro Pereira sagrou-se campeão ao lado de Soares dos Reis, Avelino Martins, Jerónimo Faria, João Nova, Carlos Pereira, Carlos Nunes, Pinga, Waldemar Mota, Lopes Carneiro, António Soares, Acácio Mesquita, Carlos Mesquita, Augusto Assis, Francisco Castro, Raul Castro e Artur Alves.
Nota final e de rodapé: dos 43 golos marcados pelo FC Porto (2º melhor ataque do campeonato, atrás dos 45 apontados pelo Belenenses, que terminou em 4º lugar), 24 foram obra de Pinga e Carlos Nunes (12 cada), o que lhes valeria (hoje) a «Bota de Bronze», com a de ouro a caber no pé de Soeiro (Sporting) com 14 e a de prata a premiar a pontaria do benfiquista Valadas autor de 13 remates certeiros.
Álvaro Pereira e Alvaro Pereira. O mesmo nome futebolístico. O mesmo emblema. A mesma camisola azul e branca listada de sucessos. A mesma raça de vencedores. Um (Cardoso) já na galeria dos campeões. Outro (Daniel) ainda no «hall» da fama.
Um e outro, afastados setenta anos no tempo, registados no livro da linhagem nobre que a história consagra. Para um e outro abra-se o livro na mesma página - Jogadores de sucesso.
Luís César
In «Revista dos Dragões» Outubro de 2009
 
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Nuno_SD

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Muito bem Hast, convém os mais novos lerem e compreenderem a nossa história.
 
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hast

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Meia cidade em discussão permanente
«Monteiristas» contra «Teixeiristas» ou vice-versa

Nas «catacumbas» dos arquivos, amiúde, pequenos detalhes que podem fazer as delícias dos verdadeiros apreciadores das «nanogramas» da nossa história.
São pechisbeques perdidos entre oiro de lei pelos quais nos apaixonamos. «Coisas e loisas» de que muitos de nós já ouvimos falar, mas, no fundo, não sabemos, muito bem, do que se trata. «Coisas e loisas» que muitas vezes encontramos, sem que provemos, em destaque menor numa reportagem maior, frutos do acaso colhidos por acaso, que podem dar boas estórias e emprestar um colorido especial às páginas da nossa história.
Os leitores de barba branca e cabelo grisalho como nós, lembrar-se-ão de nos princípios dos anos 50 ter havido, no FC PORTO, uma «grande guerra» intestina, imposta pelos «Monteiristas» e pelos «Teixeiristas», treinadores de bancada que de certo modo acrisolado (e, por vezes, irracional), defendiam as suas ideias quanto à inclusão na equipa de Monteiro da Costa ou António Teixeira, recordar-se-ão de um tal Carlos Alves que jogava de luvas pretas e não terão grandes dúvidas, ao ouvir o nome de Valdemar Mota, de que se trata do nosso primeiro atleta olímpico.
Tudo isto é consensual. É o tal oiro lei.
Mas saberão esses mesmos leitores o que tem a ver Carlos Duarte com a guerra entre os tais «monteiristas» e «teixeiristas», que ligação tem Carlos Alves (avô de João Alves) com o nosso clube e qual a verdadeira história das suas luvas pretas, recordar-se-ão eles que Valdemar Mota regista um feito histórico, na selecção nacional, o qual se houvesse um verdadeiro «Guiness Book» do futebol português nele teria, para sempre de constar?
Estes são os tais pechisbeques, frutos do acaso, colhidos por acaso. Será, pois, com essa «tremenda» guerra entre as duas facções, ideologicamente rivais, que nos iremos entreter hoje esperando que a estória, e a apresentação, dos intervenientes, entretenha a leitura de quantos fazem questão de nos acompanhar nestas incursões e deambulações pelas «Coisas e Loisas» da nossa história, prometendo que Carlos Alves e Valdemar Mota abrirão, como protagonistas maiores, as histórias de 2010.

Monteiristas» vs «Teixeiristas»

Monteiro da Costa e António Teixeira são os actores principais de uma estória que tem em Carlos Duarte o figurante mor e em Lino Taioli e Yustrich os verdadeiros juízes da paz.
Uma estória comezinha, de amor-ódio, que começa na longínqua época de 1952-1953 (meio século passa num sopro!) e cria uma grande clivagem na nossa massa adepta por uma única razão – os «Monteiristas» defendiam, em discussões acaloradas, que o avançado centro titular devia ser Monteiro da Costa. Os «Teixeiristas» contrapunham que o lugar devia ser ocupado, sem reservas, por António Teixeira.
Monteiro da Costa (natural de S. Paio de Oleiros) depois de uma incursão falhada pelo Seminário (gaiense) do Coração de Jesus, despontou para o futebol como interior esquerdo, nos juniores do Sporting Clube de Espinho (clube no qual jogava, como interior direito, o seu irmão Olímpio), mas seria na Oliveirense (estreou-se na 1ª categoria com autorização ministerial por ainda não ter 18 anos) que brilharia alto, como avançado centro, e despertaria a cobiça do FC PORTO, pelo qual viria a assinar após uma complicada (e curiosa) maratona negocial – acertado o acordo com a Oliveirense por 25 contos e dois jogos a efectuar pelo FC PORTO em Oliveira de Azeméis, apareceu o Espinho a emperrar a transferência, alegando que, saindo o atleta da Oliveirense os direitos de transferência pertenciam-lhe. Mais 10 contos e 2 jogos (agora em Espinho) desbloquearam o problema e a troco global de 35 contos e mais 4 jogos (sem necessidade de comunicação a CMVM…) os dirigentes Dias Leite e Carlos Nunes garantiram o concurso do jogador para a época 1949-1950.
Famoso rematador, Monteiro da Costa, notabilizou-se com vários golos a mais de 30 metros que o tornaram num verdadeiro «homem-canhão».
Jogava Monteiro da costa há menos de uma mão cheia de épocas, como avançado centro goleador, quando chega um outro goleador, também de créditos firmados, transferido do Vitória de Guimarães – António Teixeira.

Meia cidade em discussão permanente

«Seco, todo musculado e nervos» (assim o descrevia o suplemento desportivo do «Cavaleiro Andante»), António Teixeira iniciou-se no popular Águias de Alto de Pina, passou pelos infantis do Chelas (clube que haveria de fundir com Os Fósforos e, dar lugar ao nascimento do Oriental), transferindo-se, com 17 anos, para os juniores do Benfica «apanhando» como treinador Lipo Herczka.
Aos 19 anos estreia-se, nos seniores, ao lado de Corona, Arsénio, Rogério e Pascoal e sagra-se campeão nacional. Um vencimento que considerava «curto» (800.00/mês) levou-o a assinar pelos ferroviários de Lourenço Marques para onde iria trabalhar como torneiro mecânico e jogar à bola com grandes vantagens salariais – passaria a ganhar mensalmente 4.000.00!
Mas… «o homem fez e Deus dispõe». À procura de jogadores para o Vitória de Guimarães, Peics (o treinador dos vimaranenses) «vê» o seu amigo Ted Smith indicar-lhe» um avançado muito bom que quer ir para África».
Estabelecido o contacto, António Teixeira recebe um convite tentador – um ano de contrato e carta na mão. Aceita. Uma época em cheio torna-o o melhor marcador do clube.
O FC PORTO, que o manteve sempre debaixo de olho, avança para a sua contratação, no final da época com o director Ivo Araújo na coordenação de uma transferência muito pouco pacífica.
Iniciada a época 1952-1953, Teixeira «sentiu» que não tinha garantia da titularidade na sua posição (avançado centro) a «custo zero». O «velho» Monteiro da Costa estava ali «duro como o aço» pronto para a luta. Foi o estalar do conflito entre adeptos «trazendo em discussão permanente meia cidade.
Nenhum dos dois nomes reuniam consenso para a titularidade e fosse qual fosse o que jogasse (e marcasse) não fugia à crítica feroz e à insuportável pressão que deixara de ser só dos adeptos para passar a ser, também, dos «fazedores de opinião», criando-se, rezam as crónicas, uma «atmosfera insuportável».

Do anonimato ao estrelato: A ascensão de Carlos Duarte

Só que (e aqui entra o tal pechisbeque, ou seja, a parte da estória desconhecida da maioria, incluindo nós, confesso) perdido nas reservas havia uma importante figura, que também jogava a avançado centro, e a quem Monteiro da Costa fazia companhia nas viagens para os treinos – Carlos Duarte. A guerra não era sua mas estava metido no meio dela. Era o terceiro concorrente ao ligar.
Chegado de Angola (vinte aninhos inquietos e azougados) Carlos Duarte ambicionava, também, um lugar ao sol pois fora, para isso, que deixara o «clima tórrido de África». Com a instrução primária terminada aos 8 anos «apaixonou-se», perdidamente, pela bola e mandou às malvas os estudos agarrando o primeiro convite que lhe apareceu (tinha 15 anos) – o do Atlético <clube de Nova Lisboa.
O pai, porém, exige que trabalhe e arranja-lhe trabalho nos Caminhos-de-Ferro. Jogar no anterior clube deixou de fazer sentido porque os «ferroviários» tinham uma equipa de luxo – o Grupo Desportivo Ferrovia. A classe do atleta solta-se e Carlos Duarte torna-se, num pestanejar, na grande estrela da equipa, no seu avançado centro goleador. Os olheiros «metropolitanos» começam a encher de talento os seus blocos de notas acompanhando, a par e passo, os seus jogos.
Com o pai na «metrópole», Carlos Duarte sente-se, sozinho, o «senhor do mundo» e não tarda que do Belenenses surja um convite irrecusável – 30 contos de luvas e passagens pagas. Carlos Duarte (ainda menor) aceita o desafio e embolsa o dinheiro, mas «esqueceu-se» de um pormenor: não era propriamente órfão…
O senhor Estevão Domingos Duarte, seu pai, soube da notícia na sua casa em Espinho e explodiu: Com ordem de quem vinha o Carlos para o Belenenses? Com a sua… nunca. Palavra-cá-palavra-lá avisa as autoridades do que se passa e… quatro dias antes do embarque, aparece a polícia que proíbe Carlos Duarte de viajar. De uma assentada, por ter cedido ao primeiro impulso, perdeu tudo. A ilusão, a massa (que teve de devolver) e a viagem. Só não perdeu o talento.
Carlos Duarte não era pérola de cultura. Era pérola das cobiçadas pela sua raridade e o FC PORTO sabia disso. Sem alaridos «estava na jogada». O pai, esse, mantinha-se irredutível em não o deixar procurar horizontes mais alargados. Jogando com o tempo e com a persuasão o FC PORTO foi-se mantendo atento e vigilante.
Por fim… o sim. Valera a interferência e persistência do Dr. Saraiva Caldeira, Portista dos sete costados (pode confirmar Dr. Adelino Caldeira?), para lhe dar a volta e conseguir a autorização para a vinda do rapaz.
Carlos Duarte viaja no paquete (ironia das ironias) «Angola». Desembarca magro e sem apetite (a comida a bordo era fracota) para grande preocupação do pai, que se lhe juntara na escala do Funchal. Recuperou, porém, rapidamente, em Espinho e, como «quem sabe nunca esquece», Carlos Duarte confirmou cedo a razão por que os 15 contos dispendidos pelo FC PORTO na sua contratação foram quantia irrisória.
Tarimba nas reservas, marca e convence.

Uma «guerra» sem tréguas

Aqui chegados voltemos à luta dos «monteiristas» e dos «teixeiristas» ou os «teixeiristas» contra os «monteiristas», com Carlos Duarte… a ver a banda passar!
A viver (como dissemos) em Espinho, Carlos Duarte fazia, diariamente, o trajecto Espinho-Porto-Espinho de comboio na companhia de Monteiro da Costa, que vivia em S. Paio de Oleiros. Tornam-se grandes amigos embora, dentro das quatro linhas… «amigos, amigos, negócios à parte». Sendo dois galos para o mesmo poleiro, algum teria de ficar de monco caído.
Um certo dia (conta-se na colecção «Ídolos do Desporto», que em 1957 custava quinze tostões, o exemplar) Monteiro da Costa diz a Carlos Duarte:
- «Precisava de falar contigo. Marcamos encontro no café».
À hora aprazada lá estavam. Monteiro da Costa vai directamente ao assunto:
- «Como deves ter reparado somos três para um lugar. Ora, eu acho difícil qualquer um de nós ganhar o posto de avançado centro definitivamente. Além disso, eu entendo que tens mais habilidade para extremo direito do que para avançado centro. Já experimentaste?»
Carlos Duarte ficou a matutar naquelas palavras (ele nunca fora extremo), ora se interrogando se «não quereria ele afastar-me da concorrência, com medo», ora achando que o amigo podia ter razão e se «disse aquilo é porque achava que sou melhor a extremo direito».
Deitou-se, aconselhou-se com o travesseiro, confiou nas palavras do companheiro e, ao outro dia, logo pela manhã, antes do treino, dirigiu-se ao treinador (na época Lino Taioli) e olhos nos olhos disse-lhe:
- «Sr. Taioli, eu hoje queria experimentar a extremo direito. Era essa a posição que jogava na África».
Refinada mentira que haveria de se transformar em bendita mentira. Fez quatro ou cinco treinos na nova posição, convenceu o treinador que, como número nove, o mantinha quase no anonimato, e ele que sempre fora avançado centro eterno suplente, passou a indiscutível titular na ponta direita, estreando-se nas Antas contra o Barreirense (4-0), à 9ª jornada e marcando o primeiro golo da tarde.
O problema do nosso figurante mor (que nunca entrara naquela guerra, porque era um militante reservista) estava, finalmente, resolvido e bem resolvido. Dos três avançados centro já só restavam dois, mas a «guerra» mantinha-se. Eles eram os actores principais.
Eis senão quando a mudança de treinador resolve a intrincada questão numa ferrada – Yustrich (é a ele que nos referimos) entende relativamente a Monteiro da Costa o mesmo que este entendera em relação a Carlos Duarte – renderia mais e melhor noutra posição. Dito de outra forma – Monteiro da Costa era melhor médio do que avançado centro e, como tal, passaria a jogar na intermediária.
Colocado Carlos Duarte na extrema direita e puxado Monteiro da Costa para médio, avançado centro só restava um – António Teixeira. Todos passaram a titulares. Como num passe de mágica, a guerra acabou. «Monteiristas» e «Teixeiristas» deixaram de ter motivos para se digladiarem e só passou a existir uma facção – os «Portistas».
Resultado final - arrumadas as peças no tabuleiro Azul e Branco, com António Henriques Monteiro da Costa (24 jogos – 1 golo), António Dias Teixeira (22 jogos – 13 golos) e Carlos Domingos Duarte, regressado de uma grave lesão contraída nos Balaídos, em Vigo, frente ao Celta, ainda no tempo de Fernando Vaz, (7 jogos – 7 golos) a titulares, o DC PORTO voltou a sagrar-se campeão nacional, após um jejum de 16 anos.
Luís César
In «Revista dos Dragões» Novembro/Dezembro 2009
 
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hast

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Recordar é viver

Do «Hat-Trick» de Valdemar Mota às luvas pretas de Carlos Alves passando, pelo por quê dos «Três diabos do meio-dia», desaguámos nas festas de homenagem a Joaquim, Virgílio e Américo.
Prometemos que Valdemar Mota e Carlos Alves seriam os protagonistas maiores das nossas «historietas» de hoje e vamos cumprir. Um (Valdemar Mota) pelo feito histórico ao serviço da selecção nacional, quase no final dos anos 20, que lhe confere lugar vitalício no (virtual) «guinesse book» do futebol português. Outro (Carlos Alves), avô de João Alves, com passagem fugaz pelo nosso clube na época de 1935-1936, para relembrar (ou contar) a última versão da estória das suas luvas pretas e que se julga ser a verdadeira estória.
Embora de ambos já tenhamos falado neste espaço a vol d’oiseau» (que é como quem diz de «passagem), um e outro merecem destaque de actores principais. Assim sendo e (não diremos esmiuçar porque é termo demasiado fedorento que no nosso léxico moderno se tornou próprio de quem sofre de Zoantropia) pesquisando com minúcia os escritos avulsos que outros nos legaram, vamos deitar mãos à obra.

Waldemar Mota: De guarda-livros de uma mercearia a atleta olímpico
Nascido a 18 de Março de 1906 (dia de S. Cirilo de Jerusalém do mês consagrado ao deus Marte (deus da guerra), pelo romanos, que celebravam as «Hilárias», festas semelhantes ao Carnaval) Valdemar Mota, todo o universo PORTISTA o sabe, foi o primeiro atleta olímpico do FC PORTO, fazendo parte da célebre equipa seleccionada pelo triunvirato Cândido de Oliveira, Ricardo Ornelas e Dr. Mário Castro, representou Portugal em 1928, nos Jogos Olímpicos de Amesterdão.
Portugal, recorde-se, derrotou o Chile por 4-2, a Jugoslávia por 2-1 perdendo, apenas com o Egipto (2-1), cabendo a Valdemar Mota marcar um dos golos frente ao Chile.
Diversos documentos consultados atribuem a Valdemar Mota dois golos na competição, mas o registo histórico dos jogos da nossa selecção, apenas lhe atribuem o já referido no jogo da estreia, cabendo os outros a Pepe (2) e a Vítor Silva (que voltaria a marcar frente à Jugoslávia e ao Egipto) e a Augusto Silva (Jugoslávia).
Todo o universo PORTISTA também sabe que, com Acácio Mesquita e Pinga, este nosso «extremo direito de raiz» formou um trio ofensivo conhecido para todo o sempre como «os três diabos do meio-dia». O que muitos desse universo talvez não saibam é o porquê desta alcunha. A designação foi-lhes atribuída pelo jornalista Rodrigues Telles e surgiu em 1934 na sequência de um jogo em que o FC Porto defrontou, à hora do almoço, os austríacos do First de Viena (4 de Janeiro), um conjunto, à época, da elite europeia. Este trio «mefistofélico» fez uma exibição espantosa, deslumbrou o público e adversários, e contribuiu decisivamente para a vitória (3-0), a única conseguida por uma equipa portuguesa, então, frente aquela equipa.
Voltemos ao Valdemar Mota de quinas ao peito depois desta breve incursão interna.
Internacional 21 vezes (aquele que na sua juventude foi guarda-livros de uma mercearia do Porto, se iniciou na escola de infantis do seu FC PORTO e rejeitou uma tentadora proposta do Sporting – mil escudos por mês – por ser PORTISTA e adversário do profissionalismo, como se pode ler em «A paixão do Povo – História do Futebol em Portugal» de João Nuno Coelho e Francisco Pinheiro) estreou-se a 8 de Janeiro de 1928, no Estádio do Lumiar, em Lisboa, frente à Espanha em jogo particular (2-2) (naquele que foi o 12º encontro da nossa selecção e o 6º entre os dois países), alinhando ao lado do guarda-redes Cipriano (Sporting), dos também sportinguistas Jorge Vieira (capitão de equipa) e José Manuel Martins; dos benfiquistas Raul de Figueiredo e Vítor Silva; dos belenenses Augusto Silva e César de Matos; dos setubalenses João dos santos e Armando Martins e do «carcavelinhos» Carlos Alves. Tinha 22 anos.
Anos a fio foi único representante do FC PORTO no onze nacional (o seu primeiro companheiro de clube foi, em 1 de Dezembro de 1928, frente à Itália, derrota por 6-1, em Milão, Pedro Tamudo). Faria o seu último jogo pela selecção, aos 27 anos, no Estádio do Lima, a 26 de Janeiro de 1936 no primeiro Portugal - Áustria (derrota 3-2), em jogo arbitrado pelo espanhol Ramon Melcon entrando a substituir o «leão» Pedro Pireza.
Da «sua» equipa de estreia era o único sobrevivente, mas já não o único atleta do nosso clube. Com ele jogaram o guarda-redes Soares dos Reis, o médio Carlos Pereira e os avançados Pinga e Carlos Manuel. Completavam o onze Gustavo Teixeira e Francisco Albino (Benfica); Rui Araújo, Adolfo Mourão, Soeiro (Sporting) e José Simões (Belenenses).
Da estreia à despedida dois jogos merecem nota de destaque. O segundo Portugal – Bélgica (3-2), disputado a 31 de Maio de 1931 no Estádio do Lumiar, em que pela primeira e única vez capitaneou a selecção nacional (foi o primeiro atleta do nosso clube a merecer essa honra) e o terceiro Portugal – Itália (4-1), disputado no campo do Ameal, no Porto, a 15 de Abril de 1928, o jogo que marca o feito histórico do nosso Valdemar Mota.
E qual foi ele? O «Hat-Trick» (3 golos) que Valdemar Mota fez. Se derrotar a Itália de Gianni, Calligans, Pietroponi, Libonetti e Levratto já era um feito, um jogador português, marcar três golos num só, na selecção, feito inédito. Conseguiu-o o nosso Valdemar Mota (único Azul e Branco nessa selecção), tornando-se no primeiro jogador da história a conseguir um «hat-trick».
Campeão de Portugal em 1932 e vencedor do Campeonato da Liga em 1934-1935, Valdemar Mota é incontornavelmente um dos maiores nomes da história do FC PORTO. Porque muitos dados se foram dispersando ao longo deste apontamento inscrevam-se a letras de ouro garrafais na sua (que também é de todos nós, PORTISTAS de corpo inteiro e alma lavada) biografia todos estes factos:
- Desde a escola de infantis que o seu único clube foi o FC PORTO
- Primeiro atleta olímpico do FC PORTO
- Primeiro atleta do FC PORTO a capitanear a selecção nacional
- Primeiro jogador da história da selecção nacional a conseguir um «hat-trick»
- Integrante com Pinga e Acácio Mesquita do célebre trio atacante do FC PORTO imortalizado como «os três diabos do Maio dia».
Um palmarés notável de um notável atleta.

Carlos Alves: A história das luvas pretas
Nunca foi internacional pelo nosso clube. Das suas 18 presenças na equipa de todos nós 13 foram ao serviço do Carcavelinhos (o seu primeiro clube) e 5 pelo Académico do Porto.
Estreou-se (8 de Janeiro de 1928) frente à Espanha no Lumiar (2-2) e frente à Espanha (2 de Abril de 1933), em Vigo, efectuou o seu último jogo (0-3). Curiosamente, estreia e despedida ocorreram em jogos amigáveis. Defesa-direito, Carlos Alves, teve em 1928 o seu grande ano. Conquistou o Campeonato de Lisboa numa equipa de pouca nomeada (Carcavelinhos) e foi titular indiscutível da selecção olímpica em Amesterdão.
Em 1931 trocou o Carcavelinhos pelo Académico do Porto, clube no qual terminaria a sua carreira.
Na época de 1935-1936 representou o FC PORTO e, como tal, é também património da nossa história. Estreou-se a 6 de Outubro de 1935 no Ameal, frente ao Belenenses. Não figura no rol dos campeões (nessa época Joseph Szabo, Miguel Siska e Magjar deixaram a equipa a um ponto do bicampeonato), mas defendeu o clube numa época em que regista alguns feitos de destaque. O FC PORTO teve o melhor ataque da prova (50 golos), a defesa mais coesa (18 golos) e o goleador mor do campeonato (Pinga com 21 golos).
Titular em 14 jogos do campeonato e 1 da Taça, Carlos Alves foi o primeiro «homem das luvas pretas» do futebol português. Muitos anos depois, em jeito de homenagem ao avô, João Alves que jogou ao mais alto nível no Boavista, passou também a usar luvas pretas.
Diziam uns que Carlos Alves usava luvas pretas porque sofria de uma doença de pele; asseveravam outros que lidava com produtos de especial delicadeza que não se compadeciam com qualquer lesão nas mãos. A estória afinal parece ser outra e vem estampada no livro a que já atrás nos referimos (A Paixão do Povo»).
Conta-se assim:
«Apesar de não gostar de falar sobre os motivos que o haviam levado a adoptar o uso das “luvas pretas” em campo, ficar-se-ia a saber, já perto do final da carreira do jogador que o facto se relacionava com questões amorosas».
É uma estória que começa «nas vésperas de um jogo do Carcavelinhos contra o Benfica». Na pensão onde a equipa de Alcântara ficou a estagiar «trabalhava uma rapariga que pediu a Carlos Alves que jogasse com as suas luvas pretas de pelica». O jogador aceitou mas «avisou, desde logo, que não as usaria em campo». A rapariga, a chorar, disse-lhe que se iria arrepender.
»No intervalo do jogo o Carcavelinhos estava a perder! Carlos Alves decidiu então pôr as pequenas luvas pretas que quase não lhe serviam».
Fosse pelas luvas ou fosse lá pelo que fosse, o Carcavelinhos deu a volta ao jogo e ao resultado com uma exibição de Carlos Alves de encher o olho.
Conta-se, então, que «no dia seguinte ao jogo Carlos Alves pediu à rapariga para lhe comprar uma luvas pretas que lhe servissem… nunca mais jogou sem elas!»

Festas de homenagem: Um hábito que caiu em desuso
Composto e impresso na Tipografia Barbosa na Rua Senhora do Além, em Vila Nova de Gaia, nos idos anos de 1970 chegou-me às mãos um «livro» rememorando os resumos estatísticos dos jogos disputados entre o FC Porto e o Sporting Clube de Portugal entre 1933 e 1970. Trata-se de uma compilação e composição de Eduardo Pereira Araújo editada «com a intenção de relembrar ao leitor muitos dos resultados de jogos já, por vós olvidados, bem como o nome de tantos ídolos do futebol português».
Relendo esses resumos estatísticos uma coisa ressaltou merecedora deste breve apontamento – a mão cheia de festas de homenagem que envolveram as duas equipas nos anos 50.
Eram outros os tempos, o futebol ainda não era uma indústria e homenagear um jogador pelo seu amor à camisola, na hora da «despedida», era hábito salutar com o FC PORTO e Sporting em curioso intercâmbio. Se o atleta era «leão» convidava-se o «Dragão». Se o jogador era «Dragão» convidava-se o «leão». Conhecíamos o hábito mas, confessamos, desconhecíamos que os dois clubes fossem o denominador comum de «tantas» festas de homenagem.
Certamente referenciados em páginas dispersas das histórias e da literatura dedicada aos dois clubes achamos curioso trazê-las a lume e sistematizá-las (as que a leitura nos revelou) neste apontamento. Tal como a do autor, também a nossa intenção não é outra que não seja, em nomes e números, sacudir-lhes o pó e expô-las à leitura e à curiosidade dos que gostam destas coisas.
Festa homenagem A. Joaquim (FC PORTO, 1954-1955)
Arbitrado por Correia da Costa o jogo disputou-se no Estádio das Antas, vencendo o FC PORTO o Sporting por 3-1 (Perdigão (2), António Teixeira e Vasques marcaram os golos).
FC Porto: Pinho, Virgílio, Arcanjo e Osvaldo Cambalacho, Joaquim, Monteiro da Costa, Hernâni, Gastão, António Teixeira, Perdigão e Zé Maria.
Sporting: Carlos Gomes, Caldeira, Passos, Galaz, Barros, Juca, Hugo, Vasques Martins, Travassos e Albano.

Festa homenagem a Passos (Sporting, 1955-1956)
Raul Martins foi o árbitro do jogo que no Estádio José Alvalade opôs o FC PORTO ao Sporting. A vitória sorriu ao Sporting (4-3), com os golos a serem marcados por Pompeu (3) e Miltinho para a equipa do homenageado e Gastão (2) e Jaburu para a equipa convidada. À excepção dos golos de Pompeu, todos os outros tiveram forte sotaque brasileiro
Sporting: Carlos Gomes, Caldeira, Passos, Pacheco, Pérides, Juca, Hugo, Vasques, Pompeu, Travassos e Martins.
FC PORTO: Pinho, Virgílio, Sarmento e Osvaldo Cambalacho, Pedroto, Monteiro da Costa, Carlos Duarte, Gastão, Jaburu, Perdigão e Zé Maria.

Festa homenagem a Albano (Sporting, 1956-1957)
Disputada em 29 de Junho de 1957 no Estádio José Alvalade, foi arbitrada por Décio de Freitas (era médico veterinário) e teve o Sporting como vencedor (3-2), com um par de golos de Hugo e um de Travassos, respondendo Hernâni e Perdigão com um remate certeiro cada qual.
Sporting: Octávio de Sá, Caldeira, Galaz e Paceco, Pérides, Juca, Hugo, Osvaldinho, Miltinho, Travassos, Albano e Pompeu.
FC PORTO: Pinho, Virgílio, Arcanjo e Barbosa, Pedroto, Monteiro da Costa, Hernâni, Gastão Jaburu, António Teixeira e Perdigão.

Festa homenagem a Virgílio (FC PORTO, 1957-1958)
No Estádio das Antas, no dia 1 de Setembro de 1957, em jogo dirigido por Jovino Pinto, o FC PORTO venceu por 4-3 (golos de António Teixeira, Perdigão, Jaburu e Hernâni) o Sporting (Hugo (2) e Pompeu).
FC PORTO: Pinho, Virgílio, Sarmento Sarmento e Barbosa, Angelo Sarmento, Monteiro da Costa, Hernâni, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Perdigão
Sporting: Carlos Gomes, Caldeira, Galaz e Pérides, Juius, Osvaldinho, Hugo Vasques, Joaquim José, Travassos e Martins.

Festa homenagem a Américo (FC PORTO, 1963-1964)
Uma vitória tangencial (1-0) do FC PORTO sobre o Sporting em jogo arbitrado por Amiceto Nogueira. O brasileiro Valdir marcou o único golo do desafio que, no Estãdio das Antas, teve os seguintes protagonistas.
FC PORTO: Américo, Atraca, Almeida, Rolando e Joaquim Jorge, Carlos Baptista, Custódio Pinto, Jaime, Valdir, Artur Jorge e Nóbrega.
Sporting: Carvalho, Pedro Gomes, Morato, Alfredo e saturnino, Fernando Mendes, José Carlos, Serra Sitoi, Osvaldo Silva e Morais.

Recordar é Viver. Obrigado pela pachorra que tiveram em nos aturar.
Desencantar estórias sabe-se lá onde é a nossa sina. Iremos à procura delas. Hoje, como dizia o grande Camilo (o verdadeiro escritor, esse sim) «por aqui me fecho».

Luís César
in «Revistas dos Dragões» Janeiro de 2010
 

fcporto56

Tribuna Presidencial
26 Julho 2006
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Sacramento
Historias interessantes.O Valdemar Mota faleceu quando?Ja agora nao me lembro de ser feita uma festa de homenagem ao Americo em 63-64.Nessa altura ele ia a meio da carreira.
 
T

Timofte 2-3

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\"Artur Jorge que form(av)a, ainda hoje, com Fernando Vaz o «par» dos únicos treinadores portugueses «tricampeões» nacionais – Artur Jorge venceu pelo FC Porto em 1984-1985, 1985-1986 e 1989-1990, enquanto Fernando Vaz foi campeão pelo Sporting em 1947-1948, 1948-1949 e 1969-1970.
Se, como se deseja e espera, mister Jesualdo Ferreira vencer esta época ocupa o lugar vago no pódio e conseguirá um feito que nenhum outro treinador português conseguiu no nosso campeonato – vencer três campeonatos seguidos, em 2006-2007, 2007-2008 e 2008-2009!\"