Estórias da nossa história

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
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16
Final amarga meu caro hast! Mas foi o início da fantástica caminhada!Honra e glória ao JMPedroto!
 
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hast

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Uísque e cigarro na última noite

Pedroto pediu a Eanes que apoiasse mais quem trabalhava nos hospitais. Wilson alfinetara-o. Pinto da Costa saltou em defesa do «leão moribundo», falando de «coices de burro»

Pedroto acamou em dia de F. C. Porto-Sporting. Após ter comido um creme de legumes e depois de ter visto o «Domingo Desportivo». Retirou-se, devagarinho, com a ajuda de sua mulher, para o quarto, e nunca mais voltou a levantar-se, senão quando foi visitado por Ramalho Eanes, que, em 29 de Novembro de 1984, se deslocou, propositadamente, à sua residência para lhe entregar a Ordem do Infante, com que o agraciara. Com as forças exauridas, numa atitude própria do seu carácter, Pedroto ergueu-se do leito, vestiu-se, pôs os óculos e foi à porta do seu quarto receber o Presidente, suplicando­lhe, já com a voz a sumir-se, que apetrechasse os hospitais e desse aos trabalhadores da saúde as melhores condições para lutarem contra o cancro. Dos olhos embaciados caíram-lhe duas lágrimas que, mais que fraqueza, eram o sinal do seu coração grande — de lutador que só não poderia pelejar contra o destino e que desejava que mais ninguém sofresse o que ele sofria.

O uísque na colher e os ataques de Wilson

A sua última noite foi muito agitada. Mal conseguia já sussurrar. Pelas duas da manhã, pediu a sua filha Isabel um cálice de uísque. Bebeu por uma colher. Pouco depois, quis um cigarro. Mãos trementes, não o conseguiu fumar. Deixou-se cair no leito. E às quatro da manhã suplicou um sumo de laranja, que mal sorveu. Foram os derradeiros desejos da vida que se esvaía. Morreu pela manhã. No dia 8 de Janeiro de 1985. O seu funeral, a 10, constituiu impressionante manifestação de pesar. Dezenas de milhar de pessoas acompanharam-no das Antas ao cemitério de Agramonte, onde o corpo ficou depositado no mausoléu do F. C. Porto.
Fernando Vaz, que fora o último treinador de Pedroto, fez-lhe o elogio fúnebre em palavras vivas, tocantes: «Beirão de gema, amado por uns, odiado por outros, José Maria Pedroto foi a figura mais fascinante que conheci entre os homens do futebol do nosso tempo. O seu carácter era constante no mundo de gente enérgica que o envolveu desde muito jovem e que sempre o sujeitou ao esforço e à luta. Admirei-o como futebolista de dar sempre tudo por tudo pela acção contagiante do esforço que vertia na luta, sempre pronto a sacrificar os seus interesses pessoais ao interesse colectivo. Como treinador, pode considerar-se o melhor técnico de futebol da sua geração.»
Com Mário Wilson mantivera Pedroto longa guerrilha pessoal, feita de palavras duras e cruas. Pouco antes da sua morte, Wilson atacou: «Os lacaios que me fazem guerra são maus discípulos de um grande mestre.» O «grande mestre» era, obviamente, Pedroto, de quem disse ainda: «Procurou sempre guerras, mas quando o fez avançou sempre para a primeira linha, nunca buscou a retaguarda, nunca deu homem por si.» No remoque, uma ponta de elogio. Apesar de tudo. E mais afirmou Wilson, comparando Pedroto a Sá Carneiro, ele também um verdadeiro mestre na arte de actuação em conflito.

O «leão moribundo» e os «coices de burro»

Por essas palavras, que mal disfarçavam diatribe eriçada de injúrias ou de sarcas­mos, a Assembleia Geral do F. C. Porto, reagindo às afrontas, proibiu Mário Wilson de, entrar nas Antas. Pinto da Costa assumiu, obviamente, a defesa sentimental do «doente humilhado e ofendido» e truculento bradou: «Pedroto, para o fim, não era mais que um leão moribundo. Pena foi que, aproveitando-se da sua incapacidade definitiva, tenha levado um coice de um burro. Mas Pedroto, mesmo longe de nós, era grande de mais para ser atingido por um coice de um burro qualquer.» Era.
in«abola»
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
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Estive no funeral de JMPedroto. Uma mole impressionate e imensa a desfilar pela Constituição em direcção a Agramonte é uma imagem que jamais esquecerei!
 
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hast

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O regresso de Artur Jorge

Artur Jorge regressou às Antas para... ganhar. No ano do seu primeiro título de campeão, Fernando Gomes conquistou a Bota de Ouro. E começou afalar-se dos mistérios de Delane Vieira...

Para substituto de Pedroto, por sinal deste ressentindo-lhe o génio, Pinto da Costa escolheu um «tripeiro» da Sé e da Cedofeita, que for a jogador do F. C. Porto, mas que, aos 20 anos, deixara a cidade em busca de outros rumos, amassando o futebol e a vida com a cultura que era (e é) uma das maiores paixões da sua vida. Marcando golos, muitos golos, andara pela Académica e pelo Benfica, fora revolucionário (e muito activo) presidente do Sindicato dos Jogadores e candidato a deputado pelo MDP-CDE. Quando Artur Jorge chegou às Antas não calou o desabafo, emocionado: «Nasci aqui, criei-me aqui, por cá andei de calções e, depois, fui dar uma volta, conhecer o resto do País e, naturalmente, voltei. Este é o caminho normal, volta-se sempre ao ponto de partida, especialmente quando esse ponto de partida está marcado com coisas muito bonitas, experiências ricas. Por tudo isso, o meu regresso ao F. C. Porto tem um significado que facilmente se entenderá.»
Em Janeiro de 1985, Artur Jorge sentiu, enfim, que estava desbravado o caminho para o seu primeiro título nacional, vencendo, na Luz, à 18.ª jornada, o Benfica, por 1-0. Os portistas tinham já perdido, de todo, o temor que os sopitava logo que passavam a ponte a caminho de Lisboa.
A 25.ª jornada, o F. C. Porto limitou-se a assinar o ponto, batendo, nas Antas, o Penafiel por 3-0. Gomes, apontando mais um golo (e apesar de outro mal anulado), somou 34 na lista dos melhores marcadores e, na corrida para a sua segunda Bota de Ouro, igualou o irlandês McGaughey. Mas, pouco depois, uma lesão deixou-lhe a ideia de que o sonho estava perdido. Não. Delane Vieira, então o assumido médium do F. C. Porto, disse-lhe que não se preocupasse, que tratasse apenas de lhe arranjar o nome completo e a data de nascimento de McGaughey. Gomes fê-lo quase que só por descargo de consciência. Na semana seguinte, o ponta-de-lança do Linfield lesionava-se e comprometia assim, inabalavelmente, as suas ambições.
Como o Sporting empatara em Braga, aos portistas bastaria que ganhassem no domingo seguinte em Alvalade para que, a quatro jornadas do fim, se sagrassem virtuais campeões. Mas, como a estrelinha do campeão decidiu não ir à festa, o F.C. Porto não logrou melhor que um empate a zero em Alvalade. Porém, na primeira parte assinaram portentosa exibição, com dois remates ao poste e mais duas ou três oportunidades soberanas de golo. Fernando Gomes, ainda tressuando, pôs sentimento na festa que já se anunciava: «Matematicamente ainda não somos campeões, mas ... Lamento apenas que uma pessoa não esteja entre nós vivendo esta felicidade. Por isso, o título será, obviamente, dedicado a José Maria Pedroto.»
Campeão virtual ficaria o F. C. Porto oito dias depois, nas Antas. A festa foi apadrinhada por um Belenenses incompetente para travar a esperada explosão de alegria portista, que o resultado (5-1) exprimiu com clareza. A juntar à euforia, Gomes marcou três golos, ficando com a Bota de Ouro na ponta do pé...
Correu espumante na cabina do campeão e lágrimas de felicidade manaram do rosto de Artur Jorge: «Este foi o dia mais feliz da minha vida; no entanto, nesta hora não poderia esquecer José Maria Pedroto. E pretendia, também, destacar os principais responsáveis pelo meu ingresso no F. C. Porto, dois dirigentes competentes, sérios e dedicados: Jorge Nuno Pinto da Costa e Teles Roxo.»
Depois do Campeonato, a aposta na Taça. Na final, o Benfica, ainda com Csernai, como adversário. Elevado quinhão de favoritismo concedido ao F. C. Porto, mas no Jamor houve Taça e... o Benfica ganhou por 3-1. Bento garantiu que Carlos Manuel e Pietra tinham aberto os olhos a Csernai e que, pondo a jogar quem eles disseram e como disseram, o Benfica ganhou, «para azar do F. C. Porto».
in«abola»
 
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Deco_10

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Tenho esse resumo do jogo da Luz. Foi um centro do Jaime Magalhães e Gomes cabeceia para a baliza. Dpois correu para as grades brancas do Estádio da Luz a festejar.

O Porto jogou com Zé Beto, João Pinto, Lima Pereira, Eurico e Inácio; Jaime Magalhães, Frasco, André e Quim; Gomes e Futre. Equipa 100% portuguesa num campeonato onde sofremos 3 empates (2 com o Sporting e 1 em Guimarães com o Vizela) e 1 derrota (com o Boavista).

No jogo dos 5-1 com o Belenenses em que fomos campeões lembro-me de estar a ouvir o relato e os locutores a dizer perto do final do jogo que eram milhares de adeptos à volta do campo e que os jogadores do FC Porto e do Belenenses trocavam a bola entre si junto à baliza do topo sul perto das escadas para os balneários pois mal acabasse o jogo tentariam fugir para as cabinas.
 
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Deco_10

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Eu posso disponibilizar mas não sei colocar na net. Contacta-me por mail e posso enviar-te a gravação num DVD para a morada que me indicares. Ou então alguém que me ensine a colocar.
 
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hast

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As supertições e os rumores

No seu segundo ano como treinador do F. C. Porto, segundo título para Artur Jorge. Por essa altura se começou a dizer que o sucesso também se fazia com banhos pela madrugada

Eram os primeiros sinais visíveis do misticismo que se acastelara no F. C. Porto de Artur Jorge. Ou de algo pior. No primeiro jogo do Campeonato de 1985/86, o F. C. Porto recebeu o Benfica, nas Antas. Pouco antes de a partida se iniciar, Eurico descobriu, estupefacto, um escorpião de metal, envolvido em papel preso por alfinetes, no bolso do fato de treino. Deu-o ao roupeiro para que o entregasse a quem o reclamasse, julgando tratar-se de amuleto de jogador mais supersticioso. Deixou de pensar nisso quando, aos 20 minutos, foi retirado do campo com uma perna partida. Nesse dia percebeu por que os espanhóis dizem que não acreditam em bruxas, mas que las hay, hay — e sem nunca o assumir publicamente, tomou a partida cruel do destino à conta de malquerença para o afastar da equipa!!!
Por esse tempo, Zandinga, que trabalhara como parapsicólogo de José Maria Pedroto, que deixava velas, folhas de eucalipto e incenso a arder nos balneários em jogos importantes, bufarinhou a ideia de que os êxitos do F. C. Porto de Artur Jorge e de Pinto da Costa se deviam (entre outras coisas mais e certamente muito mais importantes) a banhos do presidente e do treinador, altas horas da madrugada, em noites de Lua Cheia ou de invernia, na praia de Miramar, à beira da capelinha da Senhora do Mar, utilizada como lugar de peregrinação espírita e práticas mais ou menos bizarras com o Além!
O F. C. Porto voltou a ganhar o Campeonato, sendo decisiva a vitória em Coimbra, sobre a Académica, em jogo marcado por gravissimos incidentes. Raul Ribeiro assinalou duas grandes penalidades contra a Académica, a última já em período de descontos, quando havia empate. Altercaram-se ânimos, Júlio Marques, dirigente do F. C. Porto, chegou às cabinas com a cabeça partida à pedrada e o vice­presidente Alexandre Magalhães só por uma nesga conseguiu atingir, ileso, o balneário. O árbitro e os seus fiscais de linha, embuçados com capotes da Polícia, deixaram o campo, duas horas e meia após o final da partida, numa viatura da PSP.
Mas muito mais decisiva foi a vitória do Sporting, que não muito antes perdera por 0-5 com o Benfica para a Taça, na Luz, esfarrapando as faixas de campeão que os benfiquistas já tinham prontas, ganhando por 2- 1.

Cunhado fez sofrer Artur Jorge

O F. C. Porto, para se sagrar campeão, teria de ganhar, nas Antas, ao Sporting da Covilhã. Passou por alguns calafrios, es­teve a perder por 1-2, só na segunda parte se fez a festa. Vieira Nunes, ex-jogador do F. C. Porto e cunhado de Artur Jorge, fez questão de salientar: «Não fomos uma equipa simpática.» Artur Jorge dedicou a vitória aos que... acreditaram. E Gomes voltou a dedicá-la a Pedroto.
in «abola»
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
3,319
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Esse jogo com o Covilhã jamais o esquecerei. Custou mas foi!E soube tão bem caro hast!
 
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hast

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Valsa de calcanhar
1500 contos valeu a Taça dos Campeões a cada jogador do F. C. Porto. Madjer pediu aos colegas que tocassem no Corão e Delane prometeu transformar dois sapos em golos!

Fenecidas ficaram as esperanças do tri com a derrota do F. C. Porto, em Alvalade, por 0-2, em Abril de 1987. Mas a Taça dos Campeões era como que um fogo oculto de sonho e ilusão, muito mais doce, muito mais enleante. Para Jaime Pacheco não. Alguns meses antes, em partida em que o F. C. Porto começou a hipotecar as suas ambições nacionais, vergado, na Luz, a três golos de Rui Aguas, Pacheco (que regressara às Antas depois de, com Sousa, ter passado pelo Sporting, por convite irrecusável de João Rocha, que lhes ofereceu, em 1985, 1000 contos por mês de ordenado) sofreu rotura dos ligamentos cruzados e, por isso, para além de muitos outros, não pôde jogar contra o Dínamo de Kiev e o Bayern de Munique. Tudo por causa de uma estranha fita, mais um sinal do ambiente pulverulento de misticismos e de superstições que se encastelara na equipa. «Quando já estávamos no balneário, preparando o início do jogo, mandaram-nos pôr uma fita; eu não queria, mas já perto da entrada em campo acabei por colocar aquele género de liga, até por insistência de alguns companheiros. Pouco depois tinha a lesão, dava cabo dos ligamentos cruzados.» Quem lhe mandou colocar a liga demoníaca na perna que haveria de lesionar-se? Se foi vítima de alguma maldição? Não o disse, nunca mais o diria, jurando que jamais o dirá, percebe-se bem porquê...
Fernando Gomes, o capitão, não se sabe se devido a «fita demoníaca» ou não, que ele nunca foi homem para fazer revelações dessas, também não pode estar em Viena na final da Taça dos Campeões.
Foi no último quarto de hora que o Danúbio se fez azul. Com um toque de calcanhar de ouro de Madjer que deixou os bávaros varados. Pouco depois, no seguimento de mais uma investida do argelino, o golo de Juary que fez do F. C. Porto campeão europeu, que valeu um prémio de 1500 contos a cada jogador portista e que, mais que isso, espolinhou a gabarolice e a petulância dos alemães. E que era grande a confiança entre os alemães antes do jogo.
O próprio seleccionador nacional, Franz Beckenbauer, não foi de modas e, com alguma arrogância, considerou que só um terramoto poderia abater a força do Bayern. Depois da derrota diria, sacudindo a água do capote, mas continuando a beliscar um dos seus arqui-rivais, que a culpa fora de... Udo Lattek: «Sabe-se que no futebol quando se tem a presa dentro do saco é preciso fechá-lo bem. O Bayern, depois de estar a ganhar por 1-0, não soube fechar o saco.»

Artur como Napoleão

Lattek lamentou-se, desolado, que os seus pupilos não tinham cumprido as suas ordens e por isso apresentou naquele preciso momento a sua demissão. Vítima do calcanhar de Madjer, que rezara muito antes da final de Viena. A Alá. Antes da entrada em campo no Prater pedira a todos os companheiros que tocassem no Corão que levou consigo para a cabina. E que acreditassem que Maomé pode até fazer com que a montanha vá a si. Para o argelino, o toque de calcanhar surgiu disso mesmo — de protecção divina. Ou seria de inspiração?
Futre, menos enleado nas teias da religiosidade, contou como as palavras do treinador, na cabina, produziram mais ânimo e mais entusiasmo que os 40 séculos vos contemplam de Napoleão na batalha das Pirâmides: «Ao intervalo, Artur Jorge disse-nos que acreditássemos que aquela final fora tão difícil de alcançar, que tudo tinha sido como que um sonho, mas que a realidade era aquela, crua e triste: estávamos a perder. Que fôssemos para a luta como se a vida pudesse acabar ao fim daqueles 45 minutos e que pensássemos sempre que não nos perdoaríamos se deixássemos perder o sonho. Houve em cada um de nós um arrepio e uma alma nova.»
Para Artur Jorge, provara-se, assim, uma vez mais que «o futebol de futuro não se pode fazer com jogadores frágeis psicologicamente». Mas não é difícil encontrar quem, ainda hoje, considere que a vitória do F. C. Porto em Viena, mais do que à acção psicológica de Artur Jorge, ao intervalo, se deveu à crença nos poderes de Delane Vieira, médium que começou a trabalhar em Portugal pela mão de Otto Glória. Todos os jogadores do F. C. Porto admitem que sim, que Delane preparou umas «fitinhas mágicas» que eles transportaram para o campo — e nenhum deles é capaz de desmentir a história mil vezes contada em cicio de que, na véspera, Delane libertara dois sapos vivos no relvado, garantindo que haveriam de «transformar-se em dois golos».
Para Artur Jorge, a primeira parte assustadiça dos seus pupilos devera-se a dificuldades de comunicação. «A relação que havia entre mim e os jogadores não existiu no Prater porque o «banco» ficava a 30 metros do campo e, para além disso, faltava lá dentro alguém que berrasse, que alertasse, que fizesse o ponto da situação.»

«Um rapaz como eu com a Taça dos Campeões nas mãos»

Poderia ser ou seria, naturalmente, Fernando Gomes, que, lesionado, nem sequer se deslocou a Viena. Por isso, coube a João Pinto o momento mágico da taça erguida aos céus. Com lágrimas manando-lhe dos olhos cintilantes, correu, eufórico, para a volta olímpica da consagração. Como se a taça fosse um pedaço de si, acalentada no peito, na ternura do afago, no calor do júbilo. Depois, abraçou Pinto da Costa e ambos continuaram chorando. Foi ainda com a voz tremida pela emoção que João Pinto deixou descair, em cicio, palavras que haveriam de correr mundo como sinal da apaixonante humildade de um campeão de corpo e alma: «Meu Deus, um rapaz como eu com a Taça dos Campeões nas mãos... »
Em Viena construiu Futre um novo futuro. Não admirou, pois, que o F. C. Porto o vendesse. E enchesse os cofres com isso. 630 mil contos recebeu o clube pela transferência, a maior do futebol português. E para o menino-maravilha — que em finais de 1984 deixara o Sporting, pressentindo que João Rocha não lhe daria mais de 300 contos por mês e que até poderia ser dispensado à Académica, assinando pelo F. C. Porto contrato que lhe rendera 10 mil contos por ano e que para Pinto da Costa fora a vingança servida fria pela forma como o Sporting contratara Jaime Pacheco e Sousa, a troco de 30 mil contos — a garantia de 130 mil contos por cada um dos quatro anos de contrato com o Atlético de Madrid e a promessa de que, por exemplo, se se sagrasse campeão de Espanha receberia mais 20 mil contos!
Artur Jorge foi igualmente seduzido pelos ares de Paris e foi treinar o Matra, a troco de muito, muito dinheiro. Para o seu lugar, Pinto da Costa contratou Tomislav Ivic que, não muito antes, passara episodicamente pelo Benfica, partindo antes sequer de a época começar por não lhe quererem pagar em... dólares. Para o F. C. Porto aceitou vir pago em escudos. Pelo prazer de treinar o campeão europeu e poder ganhar muito, muito mais...
in «abola»
 
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hast

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FC Porto 2-1 FC Bayern München

Em 1986/87, era preciso recuar 25 anos até uma vitória portuguesa na Taça dos Clubes Campeões Europeus. Mas eis que surgiu o FC Porto no panorama internacional, surpreendendo o FC Bayern München na final, por 2-1. A equipa dirigida por Artur Jorge reagiu ao golo inaugural do adversário, apontado aos 26 minutos por Ludwig Kogl, conseguindo dominar o \"gigante\" bávaro. No entanto, até ao momento em que se começou a desenhar essa brilhante segunda parte protagonizada pelo conjunto portista, quase ninguém ousava apostar na vitória do FC Porto.

O passeio do Bayern
Os \"dragões\" podem ter marcado dez golos na primeira eliminatória frente aos malteses do Rabat Ajax FC, mas tal contou de pouco quando comparado com a derrota imposta pelo RSC Anderlecht ao então detentor do troféu, o FC Steaua Bucuresti, que valeu aos belgas o apuramento para os quartos-de-final. Por sua vez, isso também valeu de pouco ao Anderlecht, que foi goleado em Munique, por 5-0, nos quartos-de-final.

Real Madrid goleado
O Bayern usou os triunfos outonais sobre o PSV Eindhoven e o FK Austria Wien como rampa de lançamento para o ataque ao título europeu. Em teoria, o adversário mais complicado seria o Real Madrid CF, nas meias-finais. Vencedores da Taça UEFA nas duas edições anteriores, os espanhóis não perdiam rondas a duas mãos há 15 eliminatórias. A sua forma fora de casa não era famosa e, tal como já acontecera ao BSC Young Boys, à Juventus e ao FK Crvena Zvezda [Estrela Vermelha], o Bayern aproveitou o factor-casa para golear os \"merengues\", por 4-1.

Futre endiabrado
O máximo que o Real Madrid conseguiu na segunda mão foi um tento solitário de Carlos Santillana, para desânimo de uma assistência habituada a testemunhar algumas reviravoltas históricas. E foi isso mesmo o que se passou, mas não no Santiago Bernabéu. A grande recuperação da temporada estava reservada para Viena e para o FC Porto, que, entretanto, afastara o FC Dynamo Kyiv. Com Paulo Futre endiabrado, o argelino Rabah Madjer empatou a contenda com um sublime toque de calcanhar, quando estavam decorridos 77 minutos. Apenas quatro minutos volvidos, coube ao avançado brasileiro Juary (entretanto lançado na partida) desviar para o fundo das redes um cruzamento do lado esquerdo do próprio Madjer.
uefa.com
 
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O Mundo a seus pés

Em Tóquio, o F. C. Porto sagrou-se campeão do Mundo. Pouco depois, ganhava a Supertaça Europeia. Era a época de ouro de Ivic, que só não venceu a Taça dos Campeões

Era a jóia que faltava na coroa. Em Tóquio, num cenário natalício, relvado coberto de níveo manto, o F. C. Porto provou, contra o Penharol, estar preparado para tudo, até para, se preciso fosse, ir arrancar o título mundial ao Purgatório. Foi. Tomislav Ivic, com realismo, na festa brava: «Não era dia de jogar bonito, era apenas dia de ganhar.» Pinto da Costa, depois de prometer que nunca mais deixaria que se identificassem os portistas como os... andrades, porque dragões é que eram, atirou: «O F. C. Porto ganhou tudo o que havia para ganhar no Mundo inteiro.» Tóquio marcou, também, o regresso do carismático capitão. No prazer sublime da taça erguida, Fernando Gomes vingava o destino cruel que o impedira de viver por dentro o sonho de Viena. Na valsa da glória. Na brancura de Tóquio, campeão do Mundo.
Madjer e MIynarczyk foram os mais adoráveis homens das neves. O guarda­redes polaco, no final da partida, amassando a felicidade com o espanto: «Foi terrível para mim jogar em condições assim, só não compreendo como é que os meus companheiros, raramente habituados a campos de neve, se transcenderam, provando que os grandes bailarinos dançam até em palcos tortos.» Pois.
Madjer foi considerado o melhor jogador do torneio e, por isso, recebeu um luxuoso automóvel Toyota. Não quis o carro para si. Vendeu-o, ainda em Tóquio, por três mil contos, dividindo o dinheiro por toda a equipa. E agradeceu a Alá.
Pouco depois seria emprestado ao Valência e, com isso, o F. C. Porto arrecadou mais 300 mil contos. Também se vai dizendo que em Tóquio voltou a haver dedo de Delane Vieira, contando-se que, na véspera de o F. C. Porto disputar a Taça Intercontinental, estava um dia de sol radioso. Dirigentes e técnicos bebericavam cerveja na esplanada do hotel. Alguém se lamentou do tempo assim, que só beneficiaria o Penharol — e quem, ironizando, dissesse que «com neve tudo seria mais fácil». Afivelando ar místico, Delane prometeu: «Se a neve dá jeito, amanhã nevará.» No outro dia, para espanto e arrepio de toda a gente, Tóquio acordou sob um manto níveo. Dirigentes portistas admitiram propor o adiamento do jogo, Delane demoveu-os, dizendo que estava tudo resolvido e que só assim o F. C. Porto se tornaria campeão do Mundo. Tomou.

Assobios por Gomes na Supertaça!

Foi para os portistas o remate de ouro na grande saga da conquista do Mundo. Depois da Taça dos Campeões e da Taça Intercontinental, a Supertaça Europeia. Na 1.ª «mão», em Amesterdão, o F. C. Porto estilhaçou o Ajax. Um golo de Rui Barros abriu o caminho para mais glória. Um jornalista holandês, deslumbrado com o desempenho do F. C. Porto, escreveu: «Parecia uma partida de xadrez entre uma criança de quatro anos e um grande mestre internacional.»
Na Holanda, apesar do festival de golos falhados, Rui Barros mostrara-se ao mundo. Dele diria jornalista estrangeiro ser «impossível de travar, como Maradona, mas duas vezes mais rápido».
Nas Antas, Rui Barros voltou a ser ele próprio. Tal como o F. C. Porto, que recebeu dos Cafés Segafredo uma barra de um quilo de ouro, no valor de 2800 contos, como prémio pela conquista da Taça Intercontinental. Aos 69 minutos, os festejos e o alarido foram interrompidos, dando lugar a ruidosos protestos, quando Fernando Gomes foi substituído por Jorge Plácido. Em consequência da monumental assobiadela, Teles Roxo anunciou a sua demissão. Ivic exultou: «É um grande feito este que o F. C. Porto conseguiu, pois até agora apenas a Juventus havia conseguido ganhar tudo.» Pinto da Costa ajuntou: «Esta vitória não é só uma vitória do F. C. Porto, é uma das mais maravilhosas vitórias de Portugal.»
Gomes fugiu a comentar a assobiadela a Ivic e ironizou: «Se penso na retirada? Vivo o presente e não sou astrólogo, mas tenho um amigo astrólogo que me disse que jogaria mais quatro anos.»
Silva Resende, na qualidade de vice­presidente da UEFA, exultou: «É uma página de ouro na história do F. C. Porto e do futebol... europeu, porque o que os portistas alcançaram é inédito na Europa. Temos de estar todos muito orgulhosos por ter uma equipa assim em Portugal.»
Não muito depois, no Casino da Póvoa houve festa azul-e-branca, presidida por Cavaco Silva, que afirmou: «O F. C. Porto é um bom exemplo mesmo para a governação do País.» E Femando Gomes desvendou: «Fizemos da sigla FCP a nossa divisa: Fé, Coragem e Patriotismo.»
No Campeonato, o F. C. Porto de Ivic foi cavando, jogo a jogo, vantagem significativa e só a 11 de Abril perdeu invencibilidade que durava havia dez meses e meio. Sempre ganho. A proeza coube ao Sporting de Antônio Morais. Uma derrota que Pinto da Costa tomou à conta de «arbitragem escandalosa» de Carlos Valente, que não impediu que o F. C. Porto deixasse o Benfica, segundo classificado, a 15 pontos! E ao Campeonato, Ivic juntou a Taça de Portugal. O F. C. Porto bateu o Vitória de Guimarães, por 1-0, golo de Jaime Magalhães, a sete minutos do fim. Surpreendentemente, Ivic deixou Gomes de fora e, entre os sorrisos de mais uma Taça ganha, desdramatizou: «Amanhã já não se fala no facto de Gomes ficar no banco e há-de falar-se sempre de mais uma vitória do F. C. Porto.» Ivic despediu-se. E Fernando Gomes renovou.
in«abola»
 

Kelvin87

Tribuna Presidencial
7 Maio 2007
22,353
870
Apesar de ser de má memória, gostava de saber quando perdemos 2-0 com o slb em 91 quantos pontos tínhamos de atraso para esse jogo, sei que tinha ficado 2-2 na luz, quem souber, é teclar, eu penso que eram 4 mas não tenho a certeza.
 

fcporto56

Tribuna Presidencial
26 Julho 2006
7,173
0
Sacramento
> Bruno 99 Comentou:

> Apesar de ser de má memória, gostava de saber quando perdemos 2-0 com o slb em 91 quantos pontos tínhamos de atraso para esse jogo, sei que tinha ficado 2-2 na luz, quem souber, é teclar, eu penso que eram 4 mas não tenho a certeza.

........................
1...penso eu de que.
 

Kelvin87

Tribuna Presidencial
7 Maio 2007
22,353
870
Fcporto56, então se tivessemos ganho passaríamos para a frente? Isso acho que não, tenho quase a certeza, penso que eram 3 ou 4 pontos, penso eu de que.
 
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hast

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Cabeça de Gomes, sexo e ramadão

Falhou Quinito, voltou Artur Jorge. Entretanto, a queda de alguns anjos. E tiros, pedradas, cabeças partidas. Mas nada conseguiu abater os «dragões».

Tomislav Ivic ganhara na fabulosa temporada de 1987/88 a Taça Intercontinental, a Supertaça Europeia, o Campeonato Nacional, a Taça de Portugal e a Supertaça Cândido de Oliveira. Eram as camândulas de ouro do seu rosário de sucesso e do F. C. Porto. Como nunca se vira. Como dificilmente se voltará a ver. E era também pesada herança para Quinito, seu substituto, que no acto de posse curou logo de avisar que consigo o F. C. Porto seria... «Gomes e mais dez». Não muito antes, Ivic confidenciara, para choque de muitos portistas, que Gomes era finito. Logo...
Apesar de ter perdido Rui Barros, contratado pela Juventus em mais uma transferência «record» no futebol português, Quinito recebeu como reforços Rui Águas e Dito, que Pinto da Costa pescara na Luz, causando autêntico maremoto. Os primeiros sinais de tempestade surgiram ainda em Setembro, quando MIynarczyk sofreu, durante uma peladinha, lesão grave numa clavícula. Com 35 anos, após a operação a que se sujeitou aquiesceu: «Não quero pensar que acabou assim, de forma tão absurda, a minha carreira.» Mal sabia que era premonição.
Apesar do contratempo, arrancou o F. C. Porto para o Campeonato de 1988/89 embalado por toada de esperança. Mas em tomo de Quinito depressa se abriu boceta de Pandora, espalhando desgraças e pesares. A queda no abismo aconteceria após goleada na Holanda: 0-5 com o PSV, para a Taça dos Campeões. Pinto da Costa correu a asseverar que fora Quinito quem se demitira, que consigo a chicotada psicológica era arma só utilizável em último caso e que ainda não era caso disso. Na 2.ª «mão», com Alfredo Murça como técnico interino, o F. C. Porto ganhou por 2-0 ao PSV. Era apenas um premio de consolação. Artur Jorge, perante a falência (financeira, que não desportiva) do projecto Matra, amargurado ainda pela morte da mulher, regressou ao Porto para voltar a trilhar o caminho do brilho, da felicidade e da glória. Acertou o passo à equipa, reacendeu o sonho do título, que parecera evaporar-se mal a procissão saíra do adro, mas mais não conseguiu que arrastar as esperanças até à 28.ª jornada, quando o F. C. Porto empatou no Restelo, ficando a seis pontos do Benfica, numa partida em que um funcionário do Belenenses se disse agredido por gente ligada ao F. C. Porto, que considerou que estava «melhor a fazer segurança num jardim zoológico».
Oito dias depois, novo empate, nas Antas, contra o Benfica. Perdido o título irremediavelmente, José Guilherme de Aguiar avocou a defesa da honra portista beliscada nos dias que se seguiram ao jogo com o Belenenses, em que se dispararam injúrias como se fossem fogo cego de um pelotão de fuzilamento moral. «Quiseram traçar de nós a imagem de fomentadores de terror, mas somos gente decente, não utilizamos metralhadoras, canhões ou obuses.»

O bufo e a cabeça de Gomes

Artur Jorge rompeu longo silêncio com um aviso: «Chegou ao fim uma geração de jogadores do F. C. Porto. Vamos fazer a renovação com base na equipa que jogou com o Benfica.» Logo se percebeu que era o destino traçado a Gomes & Madjer e outra muito ilustre e prestigiada companhia. Fernando Gomes ilaqueara-se em desgraça não muito antes. No Funchal. O avião atrasara-se e a comitiva portista chegara ao hotel noite dentro. Só às 23 horas se serviu o jantar. Gomes considerou que a hora tardia aconselhava a que os jogadores fossem servidos primeiro que os demais. Octávio Machado interveio, censurando-o pela ousadia, mas o capitão replicou e chamou ao adjunto de Artur Jorge «palhaço e bufo desde os tempos do Sr. Pedroto». Na manhã seguinte, Reinaldo Teles pediu ao capitão para comparecer no quarto de Pinto da Costa, que logo ali o suspendeu da actividade desportiva. Foi, depois, conduzido ao aeroporto e recambiado para o Porto, onde diria que a equipa técnica o perseguia, sobretudo psicologicamente. Sobre os motivos do conflito aberto havia algum tempo disse: «A primeira razão relaciona­se com o invejável apoio e carinho que granjeei junto da massa associativa e público em geral. A segunda razão é a identificação que se faz entre a minha figura e o F. C. Porto.»

O BMW a prova de bala na festa de mais um título

Na temporada de 1989/90, eliminado cedo na Taça UEFA, pelo Hamburgo, o F. C. Porto sofreria em Fevereiro ainda mais rude mágoa, sendo eliminado, nas Antas, da Taça de Portugal pelo Tirsense. Para o campo entrou Pinto da Costa com penso na cabeça, ainda resquícios da borrasca de Portimão, onde os portistas ganharam graças a golo de Rui Águas. Dentro de campo não se entreviram razões para polémica, mas, à saída do estádio, desacatos graves envolveram a caravana portista. Pinto da Costa e Reinaldo Teles tiveram de receber assistência no hospital de Portimão. O presidente foi suturado com quatro pontos no couro cabeludo e ao vice-presidente para o futebol foi diagnosticada fractura de costelas.
Com o Campeonato a correr para o fim e o F. C. Porto de passo estugado para o título, Madjer, que, como Gomes, deixara já de ser pedra imprescindível de Artur Jorge, passando basto tempo no banco dos suplentes, desvendou segredos da sua vida. «Como muçulmano respeito o Ramadão. Só posso comer e ter relações sexuais entre as oito da noite e as três da madrugada. Mas, ao sábado e ao domingo, faço as refeições normais porque devo preparar-me bem para os jogos. » E desfez outros equívocos: «Nunca disse que no F. C. Porto de Artur Jorge trabalhamos como animais. O jornalista francês esclareceu isso na edição seguinte do \'France Football\'. O que eu disse foi que no F. C. Porto trabalha-se com muita intensidade. E creio que essa é uma boa publicidade para o meu clube.»
A 20 de Maio, nas Antas, mais que pelo empate a dois golos com o Beira-Mar, a festa dos campeões degenerou em violência, com luta campal entre público e agentes da PSP, para espanto e arrepio de Cavaco Silva. Era mascarra nas horas que tinham sido de júbilo e fervor, com milhares de bandeiras azuis e brancas tremulando no ar, dentro e fora do estádio, com ranchos e fanfarras.
Cavaco dirigiu-se para as Antas com Pinto da Costa e Sardoeira Pinto num BMW à prova de... bala, reafirmou-se adepto do Olhanense, lamentou os incidentes e asseverou: «O F. C. Porto foi campeão com todo o mérito.» Para Adriano Pinto o título era muito mais que isso: «O F. C. Porto foi o campeão da guerra contra a batalha imunda de descrédito dos árbitros. Foi um campeão sem espinhas e, assim, deu a melhor resposta a todas aquelas pessoas que tudo fizeram para transformar este Campeonato numa guerra do... Vietname.»
De facto, de ódios semeados, tumultos e assuadas se foram fazendo algumas digressões do F. C. Porto aos campos do País. Não foi só em Portimão que os portistas andaram em bolandas, à mercê de insultos tropeados ou, pior que isso, de agressões físicas.
Por exemplo, em Faro, após vitória sobre o Farense, Hemâni Gonçalves denunciou: «Estes dois pontos foram obtidos em clima de terror, a ferro e fogo. Houve agressões a técnicos, jogadores e ao presidente do F. C. Porto, mas tenho a sensação de que o Farense não tem qualquer culpa. Até vi o árbitro caído...»
Pior, depois do jogo: tiros, pedras e gás lacrimogéneo, o autocarro do F. C. Porto danificado, uma criança espezinhada pela turba em alvoroço, as instalações da RTP foram apedrejadas — e, apesar de tudo isso, a PSP não fez um único detido!
No último dia de 1990, outra vez turbulência na viagem dos dragões, desta feita em Guimarães, onde o F. C. Porto venceu por 2-0. A Direcção do F. C. Porto lançou um «protesto público» pelos incidentes, desvendando que «Pinto da Costa fora atingido na cabeça por uma pedra e Reinaldo Teles e Óscar Fernandes foram agredidos com guarda-chuvas, que Luís César foi atingido dentro dos balneários por um funcionário do Vitória e que Pimenta Machado provocou, deliberadamente, André quando este, ao intervalo, se dirigia aos balneários, tendo-se envolvido, depois, em discussão com João Pinto, para além de instigar o público contra a equipa de arbitragem». Perante a farândoIa de acusações, Pimenta Machado disse nada — garantindo que desconhecia tudo, que desconhecia a ocorrência de qualquer «acto imoral» no seu estádio.
Mas todas essas ondas de choque, todas essas turbulências foram mais que compensadas por mais um título de campeão. E vistas como barreiras que era preciso derrubar para que a glória se conquistasse, sendo esse o destino dos dragões — à Pinto da Costa.
in«abola»
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
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16
Foi de facto uma grande vitória essa nesse campeonato da nossa vergonha! mas soube como nunca caro hast! Soube como nunca!Mal sabiam os ressabiados o que ainda estava para vir!!!!!
 
H

hast

Guest
Capangas inúteis e o guarda Abel
Num jogo dramático, o F. C. Porto perdeu o Campeonato. Dirigentes benfiquistas refugiaram-se numa ambulância e começou estranho jogo que até meteu o ministro da Polícia

Rumores de que a crise financeira estalara nas Antas nos primeiros dias de 1991 ainda mais assoprados quando Rui Águas, que regressara ao Benfica, libertado pelo F. C. Porto, se queixou de o clube lhe dever mais de 35 mil contos. Reinaldo Teles negou tudo, respondendo ao benfiquista com ironia. Ácida. «Se não fosse o F. C. Porto, se calhar a esta hora o Rui Águas estava a ganhar 300 contos por mês. Agrada-me ver a transformação que sofreu. Passou até a ser uma pessoa muito extrovertida. Mas compreendemos. Por meio milhão de contos não pode limitar-se a marcar golos, tem de dizer algo.»
E corriam, também, dichotes de que os dirigentes portistas se atassalhavam em violentos jogos de bastidores, utilizando capangas para sua guarda pessoal, servindo isso de pábulo a todas as maledicências contra Pinto da Costa e seus próceres — ao que retorquiu assim Reinaldo Teles: «Dessas atoardas se fala, de facto, e de pistolas, metralhadoras, guarda-costas, mas a verdade, porém, é outra e o nosso presidente é que tem sido sistematicamente agredido, sem quaisquer hipóteses de defesa. Logo, de duas uma: ou os capangas existem na imaginação de alguns D. Quixotes do nos­so futebol ou então precisamos urgentemente de renovar o pessoal devido à sua ineficácia.» Lapidar.
Mas, nos relvados, reverdejavam as esperanças na reconquista do título. Para Artur Jorge o segredo do sucesso do F. C. Porto e, sobretudo, da continuidade na corrida para o fastígio era de... mentalidade. «Nas Antas deixou de haver desculpas parvas! Também por isso o F. C. Porto tem quase sempre sido campeão.» E, desconcertante e polémico, em jeito de paralelo com a geração de ouro que conquistara a Taça dos Campeões em Viena, desvendou: «Quando fomos campeões da Europa o ambiente na equipa era muito mau. Importantíssimo é que hoje já não há no F. C. Porto quem maltrate os colegas jovens e lhes faça a vida negra... e quem, entre tantas coisas, urine no chão dos balneários e da varanda do quarto sobre as pessoas que vão a entrar no hotel!»
Mas, de súbito, sinais de procela. Nos últimos dias de Janeiro, a Direcção do F. C. Porto suspendeu Geraldão de toda a actividade, por Pinto da Costa ter descoberto que o brasileiro-dos-livres-decisivos assinara um contrato-promessa com o Benfica, precisamente quando a luta entre ambos entrava na fase mais decisiva. Sem Geraldão, os portistas entraram em ziguezague, esbanjando pontos incríveis, de tal forma que a 28 de Abril precisavam de derrotar o Benfica, nas Antas, para retomarem a liderança do Campeonato. Antes da peleja, acérrimo jogo de palavras, chistes e provocações, de parte a parte, a denúncia de que o árbitro, Carlos Valente, jantara com dirigentes do Benfica e outras coisas que tais...
Alguns dias antes, o F. C. Porto tinha eliminado o Benfica da Taça de Portugal e Eriksson tomou o desaire à custa de artimanha dos portistas, que acusou de terem molhado o relvado para seu benefício! Remoqueou, pois, Octávio Machado: «O Benfica já não precisa de se preocupar com a água, já contratámos uma empresa de aspiradores para sugar a relva e, com um bocadinho de sorte, ainda pedimos emprestado o tapete vermelho de veludo por onde costuma passar o Papa. Nós é que temos de nos preocupar com o árbitro.»

Os incidentes na tarde de César

Ganhou o Benfica, por 2-0. Graças a dois golos de César Brito. João Santos, presidente do Benfica, que em vez de assistir ao jogo nas Antas ficou, transido de medo, num hotel da cidade, à chegada a Lisboa soltou a língua, desfiando rosário de queixas. Que os seus futebolistas se tinham equipado nos corredores porque nos balneários havia «cheiros horríveis». Se tresandava a alguma coisa era a creolina, mas... Que Jorge de Brito e demais entourage tinham sido insultados e agredidos à porta do balneário, refugiando-se numa ambulância para não serem linchados! Se se retirar uma pontinha de exagero e dramatização, nisso falava verdade, apesar de não salientar o facto de os directores do Benfica terem sido ajudados pelos próprios dirigentes do F. C. Porto, que curaram logo de acalmar a turba-multa que ali se concentrara...
Por essa altura, Pinto da Costa, afundado no desespero do Campeonato perdido, escumando de mágoa (ou de ódio?!) contra o árbitro, que abandonou o estádio vituperado por adeptos portistas em transe, bradou: «Carlos Valente teve um comportamento provocador, chegando a insultar o banco do F. C. Porto. » Reinaldo Teles, afeando em termos ainda mais violentos a sua denúncia, ajuntou: «Carlos Valente teve um comportamento anormal e despropositado. Por exemplo, quando me dirigi à sua cabina para fazer a entrega da ficha do jogo perguntou-me de uma forma acintosa se era delegado ao jogo. Fiquei pasmado, mas não demorei muito tempo a compreender este comportamento.»
Muito mais fumegante seria o rescaldo dessa tarde quente. À chegada a Lisboa, a Direcção do Benfica solicitou ao Ministério da Administração Interna inquérito aos acontecimentos das Antas, apontando logo como responsável pelos tumultos um polícia de nome... Abel. O guarda aproveitaria a estada de João Santos no Porto, durante a posse da Direcção do Salgueiros, para afrontar o presidente do Benfica. Trajando à civil, Abel seria barrado por Pinto da Costa, que o demoveu, dizendo­lhe que não era aquele o local certo para tratar dos seus problemas com João Santos, que, em pânico, apresentou queixa à PSP, por... «tentativa de agressão e ameaça de morte» — acrescentando: «Esse senhor, com o seu costumado ar arruaceiro, protagonizou desacatos e desmandos durante o F. C. Porto-Benfica. Não sei se tem protecção de alguém, certo é que os meus colegas de Direcção desceram dos camarotes sem ser molestados pelos adeptos do F. C. Porto, mas, ao tentarem entrar na cabina do Benfica, foram impedidos de fazê-lo por esse senhor, que disse que ninguém passaria, que estava a cumprir ordens de Pinto da Costa.»

As jogadas subterrâneas e os árbitros

Perdido, assim, dramaticamente o Campeonato, o F. C. Porto acabaria por ganhar a Taça de Portugal de 1991, batendo o Beira-Mar por 3-1, merecendo de Artur Jorge o seguinte comentário: «Fechámos a época com chave de ouro. » Ao que Pinto da Costa ajuntou: «O F. C. Porto fez uma época excelente. Vencemos a Supertaça, a Taça de Portugal, só não vencemos o Campeonato porque perdemos cinco pon­tos em casa, três dos quais com equipas que desceram de divisão. » Mais imprecou Octávio Machado, falando das «jogadas subterrâneas» do Benfica tentando «salvar a face e a cabeça dos seus dirigentes, que não suportariam a angústia dos sócios por dois anos sem ganhar nada, apesar dos milhões investidos», denunciando as «manobras com os árbitros» e a «contratação, à má fila de um libero que foi um autêntico ponta-de-lança». Era remoque a Geraldão, que nem sequer iria para o Benfica. Artur Jorge, no que foi considerada jogada de apoio a Pinto da Costa, convenceu os dirigentes do seu novo clube, o Paris Saint­Germain, a contratarem-no, permitindo, assim, que o F. C. Porto ainda arrecadasse cerca de... 100 mil contos pela cedência da sua carta internacional. Os benfiquistas anunciaram que o jogador lhes devia 123 mil contos, mas, já em Paris, Geraldão retorquiu: «Não houve nenhuma assinatura por 100 mil contos, houve, de facto, uma por 23 mil, mas num... papel branco. E estou de tal modo disposto a restituir o dinheiro que essa verba de 23 mil contos ou de 50 mil dólares, se se quiser, está depositada num banco, em Portugal. Devolverei o dinheiro quando o Benfica quiser e com os juros correspondentes.»
in«abola»
 

fcporto56

Tribuna Presidencial
26 Julho 2006
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Sacramento
> Bruno 99 Comentou:

> Fcporto56, então se tivessemos ganho passaríamos para a frente? Isso acho que não, tenho quase a certeza, penso que eram 3 ou 4 pontos, penso eu de que.

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Na cronica do Hast hoje...


Mas, de súbito, sinais de procela. Nos últimos dias de Janeiro, a Direcção do F. C. Porto suspendeu Geraldão de toda a actividade, por Pinto da Costa ter descoberto que o brasileiro-dos-livres-decisivos assinara um contrato-promessa com o Benfica, precisamente quando a luta entre ambos entrava na fase mais decisiva. Sem Geraldão, os portistas entraram em ziguezague, esbanjando pontos incríveis, de tal forma que a 28 de Abril precisavam de derrotar o Benfica, nas Antas, para retomarem a liderança do Campeonato. Antes da peleja, acérrimo jogo de palavras, chistes e provocações, de parte a parte, a denúncia de que o árbitro, Carlos Valente, jantara com dirigentes do Benfica e outras coisas que tais...