Estórias da nossa história

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
3,319
16
Pois levou hast eram ainda resquiscios do regime recém caído! Agora a alegria do fim do jejum foi fantástica! Lembro-me bem! Foram os maiores festejos pela conquista de um título a que assisti na baixa! Foi a mior alegria que o nosso clube me deu! Aquels 4-0 finais ao Braga foram o corolário de uma época gloriosa mas muito sofrida! AQule jogo nas Antas contra o clube do regime e o nosso golo do empate ao cair do pano foram teríveis!Grande Duda!
 
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hast

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Sem lugar a dúvidas, caro jsm, o nosso golo do empate ao cair do pano foi algo louco, indescritível. A nossa Longa Travessia do Deserto estava prestes a acabar.
 
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20 mil contos por Seninho

Uma noite mágica em Manchester abriu o caminho para o eldorado a Seninho. Mas a sua sorte acabou por ser a persistência de um árabe que lia «A Bola» em Nova Iorque

No Jamor despediu-se Seninho do F. C. Porto. Partia para Nova Iorque. Rico ficara graças a uma noite mágica em Manchester, em que, marcando dois golos, impediu que os cinco dos ingleses neutralizassem a derrota (histórica) de 0-4, nas Antas, numa noite de glória para Duda, autor de três golos!
O que salvou Seninho foi, sobretudo, o seu desempenho no jogo contra o Braga, que valeu ao F.C.Porto o título de campeão. Com estes dados na mão, um americano de origem árabe conseguiu, enfim, que o seu patrão o deixasse tomar o primeiro avião a caminho do Porto. Na mala de Abdul Zubaida, o emissário do Cosmos, 20 mil contos. 12 mil para Seninho, 8 mil para o F. C. Porto. Uma fortuna. E contou: «A transferência esteve para se gorar. O presidente da Warner, a empresa cinematográfica que era proprietária do Cosmos, Ahmet Ertgun, chamou-me e disse-me que não valeria a pena preocupar-me mais com esse jogador que nem sequer era titular na sua equipa em Portugal, acrescentando: então, se compramos os melhores jogadores do Mundo, se tivemos Pelé, se temos Beckenbauer, vamos gastar 20 mil contos com um homem que passa muito tempo no banco de suplentes do campeão de Portugal? O que valeu a Seninho foi a sua exibição contra o Braga, no jogo em que o F. C. Porto se sagrou campeão e foi considerado que fora ele a chave de ouro para abrir o caminho do título.»
Para além dos 12 mil contos que recebera de luvas, Seninho passaria a ganhar 400 contos de ordenado mensal, mas, segundo Zubaida, «com prémios e contratos de publicidade poderia atingir o dobro».
Os oito mil contos que o F. C. Porto recebeu do Cosmos ajudaram a vencer a crise financeira, de tal forma que nesse ano Américo de Sá conseguiu gerar um significativo lucro de exercício, apesar de ter gasto com o futebol mais de 150 mil contos, amortizando, ainda, dívidas de 43 mil contos à banca, através da venda de publicidade. Com a tesouraria desafogada poderia pescar em águas douradas. Foi o que fez. João Alves, então no Salamanca, comprometeu-se com Pinto da Costa, celebrando com ele um acordo de cavalheiros, mas, na esquina do caminho, mudou de rota e foi para a Luz, em transferência que ficou apenas um pouco aquém à de Seninho para o Cosmos! Pedroto ficou triste.

450 contos de Oliveira e humilhação em Atenas

A bola recomeçou a rolar e Setembro foi amargo para o F. C. Porto. Na Taça dos Campeões, em Atenas, os portistas foram goleados pelo AEK, treinado por Puskas, ele próprio espantado com «tantas facilidades». 1-6 — um resultado descoroçoante, só compreensível à luz daqueles dias negros em que não se pode sair de casa.
Antes da partida, um grego abeirou-se de Oliveira e perguntou-lhe quanto ganhava no F. C. Porto. «Dez mil dólares (cerca de 450 contos) por ano», disse ele. O grego prometeu voltar a falar-lhe, considerando-o o jogador que o AEK precisava para ser uma grande equipa europeia. Oliveira marcou o golo portista, foi o único português com um ou outro lampejo na terrível noite de Atenas, mas da Grécia nunca mais lhe disseram nada...
Quinze dias depois, nas Antas, o F. C. Porto ganhou por 4-1. Chegou a parecer possível o impossível, mas os deuses do Olimpo (e não só) traíram Pedroto e os seus pupilos. O treinador portista, inconformado, teve ainda inspiração para a ironia: «Os gregos foram tão felizes que até nas Antas tiveram o árbitro pelo seu lado, ao inaugurarem o marcador com um golo precedido de off-side. E ainda nos negou um penalty. Foi habilidoso e fico a pensar que na Acrópole há ainda muita riqueza por explorar...»
in «abola»
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
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É bom recordar o grande Seninho de Old Trafford. Como eu vibrei e sofri nesse jogo inesquecível meu caro hast!Depois dos 4-0 das Antas aquele inferno foi demais para o meu coração! Grande Seninho!
 
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hast

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Champanhe falso e outras falsidades

O F. C. Porto voltou a ganhar o Campeonato. Quando já se desesperava, um golo de Duda, contra o Benfica, aqueceu a festa na tarde em que Toni chorou

As ambições ficaram, assim, concentradas na campanha nacional. Já na segunda volta, o empate do F. C. Porto em Alvalade permitiu que o Benfica se lhe grudasse. Os portistas reclamaram uma grande penalidade por carga a Rodolfo, que Manuel Poeira deixou passar em claro e o próprio jogador contabilizou e bradou: «Esta época os árbitros já nos negaram sete penalties, mas o F. C. Porto há-de ser outra vez campeão por imperiosa justiça.»
Não muito depois, num domingo chuvoso, Benfica e F. C. Porto pelejaram, na Luz. Empataram: 1-1, golos de Alves e de Duda.
Pedroto considerou a arbitragem de Porém Luís «imparcial» e Mortimore garantiu que «o golo do F. C. Porto saíra de um off-side de três metros».
Já era mais lama que relva quando se chegou ao último quarto de hora e o drama entrou em campo. Numa jogada dividida, Toni e Marco Aurélio chocaram. Um lance igual a muitos outros, mas diferente nas consequências. As radiografias à perna direita do portista haviam de revelar fracturas na tíbia e no perónio. Toni teve logo a noção da gravidade dos ferimentos sofridos pelo adversário. Pediu a sua substituição ao árbitro e saiu, chorando convulsivamente. «Quando olhei para o Marco Aurélio apeteceu-me desaparecer. Entrei em transe. Não, a minha atitude não foi teatral, foi a que foi porque deixara naquele estado um companheiro de trabalho.»

«Toni chamou-nos assassinos mas não fizemos o que ele fez»

Oliveira adiantou: «A reacção humana de Toni diz tudo. Foi, ao fim e ao cabo, mais uma fractura no futebol português, para desgraça de Marco Aurélio, mas não podemos, sinceramente, atribuir culpas ao Toni.» Diferente a reacção de Rodolfo: «Antes do desafio, Toni apelidou-nos de violentos, assassinos e de outras coisas parecidas, mas até agora nenhum jogador do F. C. Porto fez o que ele fez. Pode ter sido casual, mas Toni terá de medir o que diz e ter cuidado com o que faz. Afinal, arrumou Teixeira e Marco Aurélio.»
Com este empate, o F. C. Porto firmou a liderança. E decisivo e profícuo haveria de ser esse ponto arrancado a ferros. Correu o marfim e outra vez se fez a festa nas Antas. Do F. C. Porto e de Fernando Gomes. Com fraudes e farpas para os comparsas...
Campeões seriam os portistas apenas se batessem o Barreirense. Bateram. Mas suaram as estopinhas. Pedroto espantou--se com o arreganho posto na peleja pelos seus adversários. Mas, quando o pano correu, rejubilou. «Título com todo o mérito ganho pela melhor equipa da prova.»
Era o Porto de azul-e-branco. No folclore do sucesso. Enxamearam os bilhetes falsos, que mais contribuíram para que as bancadas, sempre frenéticas, se enchessem como odre. E antes dos quatro golos, no prenúncio de que nem por milagre o sonho se dissiparia, houve bandas de música, gigantones e flores e fumos nas Antas, à beira do estádio, bancas de venda de... champanhe, a 100 escudos a garrafa. Depois se saberia que era todo... falsificado. Mas os portistas não se importaram, que o importante era a espuma da festa.
Emocionante, também, a luta, golo a golo, pela Bola de Prata entre Gomes e Nené. Ganhou Gomes e a sua terceira seria — para maior gáudio dos portistas. José Maria Pedroto soprou vento de imprecação: «Os jogadores do Barreirense foram sádicos na marcação ao Bola de Prata, que até poderia ter sido Bota de Ouro, dando maior projecção ao futebol português.» O goleador também estranhou que os adversários se afeassem em termos tão violentos nas suas intenções e no seu jogo: «Pareceu-me exagerada e fruto de espírito-santo-de-orelha a marcação que me fizeram. Se o Barreirense jogasse sempre assim não teria, certamente, descido de divisão. Tanta dignidade na defesa da honra... pode parecer estranha. De qualquer modo, felicito Nené pela luta que travou comigo até ao último minuto do Campeonato e, se houvesse outro troféu, ele merecê-lo-ia...»
Remoques amargos ponteados por sorrisos, porque festa era festa. No outro lado da barricada, «fair play» e a especialíssima fleuma britânica no desabafo de Mortimore: «Que belo Campeonato, que luta aliciante entre o Benfica e o F. C. Porto. O F. C. Porto acabou por ser um bom campeão, porque nos jogos com o Benfica somou... três pontos.»
in«abola»
 
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hast

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> doutorponcio perguntou:

> Qual foi o resultado com o Barreirense?

..............

O resultado foi de 4-1.
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
3,319
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Grande jogo Hast, ainda me recordo dele!Foi a segunda alegria....e mais viriam!
 
H

hast

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O «palhaço» e as artimanhas

Pedroto abriu guerra feroz contra o seleccionador nacional. A Mário Wilson chamou «palhaço» e, depois, coisas piores. Quando soube do castigo, fez chacota. Ao seu jeito!

Em Fevereiro de 1979, António Oliveira recebeu, por intermédio de António Simões, proposta tentadora do «soccer». Equipa de Dallas oferecia-lhe 43 mil contos pelo seu concurso. Anunciou: «Fiquei no F. C. Porto porque quis ser campeão nacional, mas agora podem oferecer-me o dinheiro que quiserem que sairei.»
Por essa mesma altura, João Rocha acenou-lhe com 25 mil contos por um contrato de quatro anos — e Oliveira deu sinais de poder aquiescer. Mas, contra todas as expectativas, em operação-relâmpago, o Bétis fez de Oliveira o mais bem pago futebolista da sua história: 36 mil contos de prémio de transferência, pagos durante três anos, 8 mil contos anuais de «luvas» e um ordenado mensal de 60 mil pesetas.
Já em Sevilha, desconcertantemente, Oliveira anunciou: «Estava disposto a perder 15 mil contos para ficar no F. C. Porto. Dois dias antes de assinar pelo Bétis ainda esperava, ansiosamente, fumo branco das Antas, só que não poderia esperar mais.» Ninguém acreditou — até porque não muito antes tinha dito que não ficaria no F. C. Porto por dinheiro nenhum — mas pronto...
Pedroto perdia mais uma das suas melhores armas, mas não arrefecia o ânimo de lutador. Antes pelo contrário.

PC na manifestação da Campanhã

Parecia assente a poeira em torno da tragicomédia de Outono. Mas não. Quando, num dia pardacento de Outubro, a FPF decidiu suspender José Maria Pedroto por um mês e multá-lo em 500 escudos, por considerar ofensivas declarações suas sobre o seleccionador nacional Mário Wilson, reacendeu-se o rastilho da polémica. O treinador do F. C. Porto fez a sua defesa ao ataque e, outra vez, sob o signo da ironia e da injúria: «Pareceu-me que os dirigentes em fim-de-estação da FPF foram demasiado benevolentes e que os 30 dias de suspensão são castigo ínfimo para falta tão grave. De facto, quando disse que Wilson, como treinador, era um palhaço, ao dar o agrément a um jogo internacional entre uma eliminatória europeia, não tive intenção de ofender os próprios palhaços. Toda a gente sabe que, normalmente, são brancos e não negros e se porventura mais morenos até se pintam de branco. Como se pensou que houve intenção de injuriar, em vez de 30 dias deveria ser castigado em 30 anos. Parece-me também que a multa de 500 escudos é demasiado rigorosa — e uma prepotência. É que 500 escudos, mesmo inflacionados, são sempre 500 escudos e julgo que não se deve tirar assim dinheiro a um trabalhador, mesmo quando ele não é abrangido por contratos colectivos...»
Que se passou? A FPF aceitou defrontar a Espanha, em Vigo, a oito dias do Milan--F. C. Porto para a segunda eliminatória da Taça dos Campeões, e Mário Wilson, com algum espírito de provocação (convenhamos), convocou nove jogadores portistas para a partida. Nunca tal se verificara. Pedroto abespinhou-se. E reagiu. À sua maneira. Pinto da Costa saltou, lesto, em seu apoio e asseverou que o F. C. Porto não dispensaria um único dos seus jogadores seleccionados.
A FPF manteve a convocatória. Em dois tempos e em dois espaços. Os jogadores do F. C. Porto deveriam esperar a comitiva às 14 horas do dia 24 de Setembro, em Campanhã. Na estação, em vez de jogadores, uma multidão exaltada e agressiva, em assuada e tumulto, gritando imprecações a Wilson e demais homens da FPF. No meio dela, em jeito de general no simbolismo da revolta, Pinto da Costa. Assim se via a força de PC.
Oito dias depois do famigerado jogo com a Espanha, nas Antas, para a Taça dos Campeões, o F. C. Porto empatou a zero com o Milan. Pedroto disse apenas que «com arbitragem semelhante» ganharia em Milão. E sem precisar de árbitro assim, em San Siro o F. C. Porto ganhou por 1-0, graças a um golo de Duda. Pedroto vaticinou, em júbilo: «Finalmente, arrancámos para um Porto de aura europeia.»
Adversário que se seguiu: Real Madrid. Vitória nas Antas por 2-1. Rodolfo queixou-se de má sorte: «Podíamos ter feito três ou quatro golos, mas...» Em Madrid, derrota por 0-1. Fatal. Pedroto disparou: «Foram os dois árbitros que nos eliminaram.» Boskov, treinador madrileno, retorquiu: «Culpar o árbitro não é digno de uma equipa com a categoria do F. C. Porto.»
No primeiro domingo de Dezembro, o Sporting bateu, em Alvalade, o F. C. Porto por 1-0. Pedroto voltou a usar, amargamente, o discurso das derrotas que considerava injustas ou espúrias, jurando que António Espanhol deixara uma grande penalidade contra o Sporting por marcar. E quase toda a gente achou que sim, mas...
Pinto da Costa enfureceu-se e prorrompeu em denúncias contra «um funcionário sportinguista que também era secretário da FPF», César Grácio, esse mesmo, que «nomeara para o desafio um árbitro... sportinguista». E apelidou-o de «abutre». Talvez nas palavras doridas de Pinto da Costa houvesse pressentimento de que essa derrota acabaria por ser fatal para o F. C. Porto...
Em Fevereiro de 1980, António Oliveira sentiu, em Sevilha, esse invisível nevoeiro de saudade que se evola da alma dos homens tocados pelo sentimentalismo. E, como na rábula do filho pródigo, na dor da nostalgia, decidiu colocar ponto final na falhada experiência espanhola no Bétis. «Estrela» que, de súbito, empalidecera, a contas com lesão que o espojou, admitiu até pagar do seu próprio bolso para regressar ao F. C. Porto! «A minha visão do Mundo é nitidamente provinciana — foi a conclusão a que cheguei depois de ter vivido seis meses de solidão espiritual. O meu regresso dá-se porque não desejava outra coisa e volto a perder muito dinheiro.» Contas feitas pelo seu irmão Joaquim Oliveira apontavam para um prejuízo assumido de cerca de 35 milhões de pesetas. Ou mais, porque o Vasco da Gama lhe oferecia contrato igual ao do Bétis, carro de luxo e vivenda com piscina em bairro chique do Rio de Janeiro. Voltou a dizer não. Para libertar Oliveira, a Direcção do Bétis exigiu uma indemnização de 6000 contos ao F. C. Porto. Américo de Sá franziu o sobrolho, Oliveira ficou à beira de um ataque de nervos, foi nessa altura que ele se predispôs a pagar esse valor.O gesto sensibilizou os directores sevilhanos, que em vez dos 6000 contos aceitaram a desvinculação, exararam-lhe um louvor e desejaram-lhe muitas felicidades. E para que pudesse jogar contra o Benfica, foram a correr tratar do envio para a FPF do certificado internacional...
Oliveira chegou, jogou e o F. C. Porto venceu, parecendo em passada estugada a caminho do «tri».
Mais quente ainda a euforia quando, em Setúbal, os portistas ganharam e se isolaram no comando. Nuvem negra no horizonte, apenas a lesão de Duda: contusão na região cervical, com perturbações de foro neurológico, que, entre outros contratempos, o impediria de andar durante 15 dias, chegando inclusivamente a temer-se pela impossibilidade de voltar a jogar futebol. Na primeira semana de Março, inesperadamente, os pupilos de Pedroto entregaram o ouro ao bandido, ao empatarem, nas Antas, com o Rio Ave. Mas ainda poderia resgatá-lo, pelo que...
A 10 de Abril, Artur Jorge combinou regressar ao F. C. Porto para tomar conta do banco, ao fim de 15 anos de ausência e na sequência da renovação do contrato com José Maria Pedroto. Ambos os contratos eram válidos até final de Julho de 1982. «O facto de o F. C. Porto se ter lembrado de mim para ocupar tal cargo é uma honra» — confessou Artur Jorge. O aval de Pedroto: «Artur Jorge é um treinador com uma bagagem de conhecimentos extraordinária. Não vejo, realmente, neste momento, no futebol português melhor escolha.» Na corrida perdeu o Benfica, que tentou tudo, até ao fim, para obter a colaboração de Artur Jorge, tendo avançado com condições concretas para a assinatura de um contrato.
Artur Jorge, no culminar da sua carreira de futebolista (cinco épocas no F. C. Porto, quatro na Académica, seis no Benfica e três no Belenenses), sofrera fractura de uma perna e, no período de inactividade, longo, de três meses, leu muito, especialmente Eça de Queirós, e pensou mais. Depois dessa profunda reflexão, em 1979, optou pelo caminho a seguir em direcção ao futuro. Tinha 34 anos. «Ser treinador é um pouco ser cavaleiro andante, mas nem o curso de Letras que já tenho me fará mudar de ideias. Vou fazer um curso no estrangeiro, nem que seja por minha conta, e serei treinador de futebol.»
Escolheu Leipzig, na (então) RDA. O curso teve a duração de nove meses, constando de quatro disciplinas: Futebol, Medicina Desportiva, Biologia Desportiva e Teoria e Metodologia do Treino. Não era, portanto, um desses cursozinhos que se fazem para alguém ter direito a diplomas. Entre 32 alunos estrangeiros, Artur Jorge foi o único a tirar a nota máxima e na qualidade de aluno brilhante teve convite para voltar, a fim de fazer o doutoramento. Não precisou. Mas não seria ainda daquela que iria para as Antas. Por causa de um histórico «Verão quente» em que se tentou lançar Pedroto e Pinto da Costa para a fogueira. Ele foi por arrastamento...

Estranho golo de Manaca

Talvez o néctar do título tivesse adormecido o campeão. Nem sequer foi preciso que o Varzim fosse gigante para que o F. C. Porto, em jeito de pigmeu assustadiço, empatasse na Póvoa e, assim, oferecesse em bandeja de ouro o título ao Sporting. Pedroto ainda se deixou enlear nas malhas da ilusão: «Talvez o V. Guimarães roube ao Sporting o ponto que perdemos.»
Mas em Guimarães, na penúltima jornada, morreu, definitivamente, o sonho portista, no golo marcado, na própria baliza, por Manaca.
Pinto da Costa lançou suspeitas de suborno ao ex-defesa do Sporting, que se defendeu assim de rosto macerado pela afronta: «Não fui subornado pelo Sporting, mas estava aliciado pelo F. C. Porto. Com a derrota do Vitória também eu fiquei a perder 100 contos, mais a quota-parte que me coubesse de um jogo com o F. C. Porto com a receita a dividir pelos jogadores.»
Pedroto lançou a toalha ao tapete, espumando injúrias: «Falhámos o ‘tri’ porque nos negaram três penalties, um em Alvalade e dois nas Antas, contra o Sporting.»
Ainda antes de correr o pano sobre o Campeonato, no Porto surgiram panfletos apócrifos desafiando a Polícia Judiciária a prender Manaca, João Rocha e Valentim Loureiro — e em repto de justiceiros de orgulho ferido clamavam os seus autores: «É preciso acabar com os mafiosos do futebol e fazer com que a imprensa, a rádio e a TV de Lisboa deixem o País!» Insistentes galopavam os rumores de que, após a partida com o Sporting, Manaca e Tozé se tinham envolvido em pancadaria, por o companheiro o ter acusado de beneficiar o Sporting, insultando-o — e por isso Pinto da Costa não calava a voz quente do protesto e do desejo de que ao menos a Justiça investigasse. Debalde. De Alvalade, enfim, uma reacção, através de Paulo de Abreu, um dos vice-presidentes de João Rocha: «As considerações que Pinto da Costa anda a bocejar relativamente ao golo marcado por Manaca e os falsos contactos mantidos pelo futebolista e por elementos sportinguistas, que a proverbial irresponsabilidade de Pinto da Costa leva a não identificar, imporiam uma tomada de posição que o Sporting, tratando-se de quem se trata, não deve assumir.» E com teor assim as cortinas de fumo (pelo menos essas) permaneceram no ar — e nunca mais se desfizeram.
in«abola»
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
3,319
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Lembro-me desse famigerado golo do Manaca. Ele era defesa e atirou de cabeça á baliza do Guimarães como se fosse um ponta de lança! Que estilo!Penso que nunca mais se livrou da suspeição e não voltou a ter grande protagonismo como jogador nem no Guimarães nem em nenhum outro clube da primeira divisão!
 
H

hast

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E como se não bastasse a perda do campeonato, mais uma Taça perdida para o D. Marraquexe.:-(

Oito de Maio de 1980 — No Estádio Nacional teve lugar uma final, muito agitada, dentro e fora do campo, da Taça de Portugal. O Benfica impôs-se ao F. C. Porto, por 1-0, mercê do golo do brasileiro César. Era o primeiro golo estrangeiro do Benfica em finais de Taça. Quando César Correia deu por findo o encontro, João Mota, preparador físico do F. C. Porto não calou remoques contra... mafiosos, comunistas e... Mário Wilson. Pedroto optou pela ironia: «Perdemos o Campeonato e a Taça por causa dos penalties que ficaram por marcar, se os prejudicados fossem o Benfica e o F. C. Porto julgo que estariam já marcadas manifestações de rua, pedindo a demissão do Governo». E, de súbito, artilharia pesada, contra Wilson: «Mário Wilson, como de costume, utilizou a velha rábula do palhaço. Com o ar esfíngico que lhe é característico lançou a pedra e escondeu a mão, suplicando controlo anti-doping. Gostaria, contudo, que me explicassem o comportamento do jovem e talentoso Carlos Manuel que me pareceu, estranhamente, de cabeça perdida e que, na minha frente e nas barbas do fiscal de linha, agrediu Lima Pereira. Compreendo a atitude de César Correia querendo ser benevolente para Carlos Manuel, mas a de Carlos Manuel não posso compreender. Ou seja, o circo voltou a descer à cidade. O futebol é uma selva e eu vou sair dela, abandonando definitivamente o banco para que outros vejam o que isto custa. E gostaria de ter menos 50 anos, para me candidatar a árbitro e repor alguma justiça»... Sobre a reclamada grande penalidade sobre Gomes, disse César Correia: «O jogador do F. C. Porto simulou.» E sobre a escaramuça entre Carlos Manuel e Lima Pereira, uma estranha condescendência assumida: «A confusão foi enorme e não quis ser injusto. O jogador do Benfica teria sido a figura mais em foco, mas não poderia ser drástico, de tal modo que até tentei que Carlos Manuel e Lima Pereira se cumprimentassem.» Para Carlos Manuel, agredido foi ele. «A bola vai para fora, tento agarrá-la, o Lima Pereira também, mas pisa-me. Empurrei-o, em desforço atirou-me para o chão, e foi o bom e o bonito: levei uma série de pontapés, sobretudo do Tibi, guarda-redes suplentes, tenho os pitons marcados nas pernas». Mas, como um vulcão em ebulição, escaramuças nas bancadas, invasão das colunatas, a Taça acabou por não ser entregue a Humberto Coelho. E Mário Wilson, feliz pela despedida em glória, sibilino, disse apenas: «A derrota do F. C. Porto poder ser um bem para o... F. C. Porto». Talvez pressentisse que Pedroto, com a época em branco, pudesse chamuscar-se no fogo da polémica e da hostilização que ele próprio ateara para ganhar. Infeliz foi Alberto, jogador com fama de ferrabrás, que acabaria por deixar o Jamor em maca, com fractura de tíbia e perónio, na sequência de um choque com Frasco. Pelo Benfica, alinharam na festa-estragada, cuja receita de bilheteria ascendeu a 14.700 contos, Bento; Bastos Lopes, (Reinaldo), Humberto, Laranjeira e Alberto (Frederico), Pietra, Carlos Manuel, Toni e Shéu; Nené e César. E pelo F. C. Porto, Fonseca; Teixeira, Simões, Freitas e Lima Pereira; Quinito (Bife), Rodolfo (Albertino) e Sousa; Frasco, Gomes e Romeu.
 

fcporto56

Tribuna Presidencial
26 Julho 2006
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Sacramento
Lembro-me de quando perdemos a invencibilidade na luz (53 jogos sem derrotas)quando o Silvino defendia a nossa baliza por castigo ao Baia,um jogador do slb aleijou logo aos tres minutos o Silvino impedido de continuar.Lembrei-mo logo do Wilson treinador na altura do slb, e pensei ,este fdp volta a fazer das suas.Detesto aquele tipo.
 
H

hast

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«Mafiosos» e «comunistas»...
Contra o F. C. Porto fez-se em Lisboa «santa aliança». Os portistas perderam tudo e Pedroto voltou a assestar artilharia pesada em Wilson, seu inimigo de estimação

Contra o Porto, Lisboa decidiu unir-se em jeito de santa aliança e marchar, marchar. Claques do Benfica e do Sporting conchavaram-se e andaram pelas ruas da cidade gritando o slogan da sua união: «Campeonato para o Sporting, Taça para o Benfica.»
Foi neste ambiente que, a 8 de Junho, se disputou no Estádio Nacional a final da Taça de Portugal, entre o F. C. Porto e o Benfica. Os portistas perderam por 0-1. Quando César Correia deu o encontro por findo, João Mota, preparador físico do F. C. Porto, não calou remoques contra os mafiosos e os comunistas de Lisboa. Pedroto optou pela ironia: «Perdemos o Campeonato e a Taça por causa dos penalties que ficaram por marcar, se os prejudicados fossem o Benfica e o Sporting julgo que estariam já marcadas manifestações de rua pedindo a demissão do Governo.» E, fugaz, artilharia pesada contra o seu inimigo de estimação que por essa altura era treinador do Benfica: «Mário Wilson, como de costume, utilizou a velha rábula do palhaço. Com o ar esfíngico que lhe é característico, lançou a pedra e escondeu a mão, suplicando controlo anti-doping. Gostaria, contudo, que me explicassem o comportamento do jovem e talentoso Carlos Manuel, que me pareceu, estranhamente, de cabeça perdida e que na minha frente e nas barbas do fiscal de linha agrediu Lima Pereira. Compreendo a atitude de César Correia querendo ser benevolente para Carlos Manuel, mas a de Carlos Manuel não posso compreender. Ou seja, o circo voltou à cidade. O futebol é uma selva e eu vou sair dela, abandonando definitivamente o banco para que outros vejam o que isto custa. E gostaria de ter menos 50 anos para me candidatar a árbitro e repor alguma justiça.»
Sobre a reclamada grande penalidade sobre Gomes, disse César Correia: «O jogador do F. C. Porto simulou.» E sobre a escaramuça entre Carlos Manuel e Lima Pereira, uma estranha condescendência assumida: «A confusão foi enorme e não quis ser injusto. O jogador do Benfica teria sido a figura mais em foco, mas não poderia ser drástico, de tal modo que até tentei que Carlos Manuel e Lima Pereira se cumprimentassem.» Não deixou de ser estranha a condescendência...
Como um vulcão em ebulição, escaramuças nas bancadas, invasão das colunatas, a taça acabou por não ser entregue.
in«abola»
 
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hast

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As traições no «verão quente»

Para Pedroto fora a capitulação: Américo de Sá queria entrar na Assembleia da República com a cabeça de Pinto da Costa debaixo do braço, mas...

Américo de Sá acertou a transferência de Fernando Gomes para o Gijon a troco da exorbitante quantia de 60 milhões de pesetas, cerca de 40 mil contos, sendo cerca de 26 mil para o F.C.Porto. Era Agosto e tempo de sorrisos. Que, pouco depois, se esmaeceram. O presidente decidiu suspender José Maria Pedroto, António Morais, Hernâni Gonçalves e João Mota, simplesmente por eles terem contestado o afastamento de Pinto da Costa da chefia do Departamento de Futebol, em processo sinuoso, arquitectado no silêncio dos bastidores. Mal imaginava Américo de Sá que em torno dos treinadores escarmentados e do director escorraçado se geraria galopante onda de solidariedade — e que algum tempo depois acabaria imolado pelo fogo que ele próprio incendiara.
Ao tomar conhecimento da sua suspensão, Pedroto lançou chispas a Américo de Sá, naquele seu jeito truculento de dizer as coisas: «Mais uma vez fica provado que Américo de Sá queria entrar na Assembleia da República com a cabeça de Pinto da Costa debaixo do braço, mas, em vez disso, leva na testa o grande letreiro de traidor.»
Pinto da Costa, com o rosto embaçado de amargura, desvendou: «Américo de Sá disse-me que nos teríamos de condicionar a Lisboa.» Ripostou o presidente do F. C. Porto: «Jamais afirmei que o F.C.Porto deveria render-se ao poder de Lisboa. O que disse foi que não aceitava mais que o F.C.Porto entrasse em guerras como aquelas que fizeram os senhores Pinto da Costa e Pedroto.» Na passada, Américo de Sá deixou nas entrelinhas a convicção de que Pinto da Costa dissera que não continuaria director do futebol por desejar ser... presidente: «Pinto da Costa quis ser o dono do F.C.Porto, mas a estratégia e a táctica desse dirigente falharam, acabando por aceitar continuar como director do Departamento de Futebol, na minha Direcção». Pinto da Costa redarguiu: «Decidira, de facto, abandonar o cargo de chefe do Departamento de Futebol, mas a guerra que se moveu ao F.C.Porto é que me levou a querer continuar e isso mesmo disse ao presidente.»
O presidente fez ouvidos de mercador. E libertou-se da voz incómoda que o excruciava. Para impor a autoridade, suspendeu os técnicos solidários com o director que deixara pelo caminho, contratando para treinador o austríaco Hermann Stessl. Mas a boceta de Pandora já se abrira. Para espanto e angústia suas, 14 jogadores recusaram-se a trabalhar com Stessl. No dia da apresentação, em vez de irem para as Antas, rumaram para Santa Cruz do Bispo, treinando-se em autogestão. Compraram uma balança para avaliação de pesos, foram inspeccionados, sujeitaram-se a regime alimentar específico e emitiram mais um comunicado de solidariedade para com Pinto da Costa, que consideraram servir o clube «com honra, devoção, coerência, honestidade de processos e grandeza de carácter».
Considerando, ainda, que a substituição de Pinto da Costa fora para eles uma surpresa em jeito de... «facada nas costas», perguntaram a Américo de Sá o que era a democracia. E adiantaram: «Esta mudança reflecte a rendição de alguns directores ao poder que está concentrado em Lisboa.. Assinaram o comunicado: Teixeira, Oliveira, Lima Pereira, Frasco, Simões, Gomes, Freitas, Jaime, Quinito, Octávio, Romeu, Albertino, Costa, Sousa e Tibi.
Pouco depois, Simões reconsideraria e apresentar-se-ia nas Antas às ordens de Stessl.
Mas a luta continuava e os dissidentes denunciaram manobras de chantagem e terrorismo para os demover, a ponto de apresentarem ameaças de rapto dos próprios filhos.
A 6 de Agosto de 1980, o fim da revolta. Costa foi o porta-voz da concórdia redescoberta: «Vamos todos dar as mãos e esquecer o que se passou.» Rodolfo, que fora apontado pelos dissidentes como o «mau da fita», garantiu: «Pela minha parte está tudo sanado, não se pode considerar que a minha linha tenha vencido ou que outra tenha perdido, pois venceu o F.C.Porto.»
Mas houve quem não cedesse. Por questão de honra. Oliveira pediu a rescisão do seu contrato e foi como jogador- -treinador para Penafiel. Octávio regressou a Setúbal.
Sete dias depois das pazes feitas, Américo de Sá comunicou a Gomes que acertara já a sua transferência para Gijon. O goleador sentiu-se mais livre, não precisaria, sequer, de engolir o elefante vivo de ter de jogar contra Pedroto e Pinto da Costa. Já em Espanha, contou os segredos dos dias de revolta de Santa Cruz do Bispo: «Recebíamos dinheiro, mas apenas dinheiro suficiente para podermos viver enquanto mantivéssemos a atitude de dissidência. Esse dinheiro vinha, naturalmente, de figuras ligadas ao F.C.Porto. Jorge Nuno Pinto da Costa e Pedroto não eram, de facto, os nossos patrões, mas nós esquecíamos esse aspecto da questão, porque só eles estavam connosco, porque só eles viviam momento a momento os nossos problemas e isso levava-nos a crer que eles eram os homens em relação aos quais tínhamos deveres e devíamos, sobretudo, solidariedade. Não, da nossa parte não houve recuo, houve apenas aproximações e cedências de ambas as partes, para bem do F. C. Porto. Sabe-se que chegou a ser publicada uma longa lista de castigos aos dissidentes e depois do entendimento nenhum castigo foi cumprido.»
in«abola»
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
3,319
16
Tempos difíceis. Lembro-me bem desse episódio lamentável. O Américo Sá foi de facto um mau presidente, tenho de o reconhecer!
 
H

hast

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Poucos risos com este Hermann

Com Hermann Stessl o F. C. Porto ganhou apenas uma Supertaça, para glória de Jacques, que marcou três golos ao Benfica em apenas 14 minutos

A 26 de Outubro de 1980, Bento levava para as Antas um «record» fabuloso: 1080 minutos sem sofrer golos em jogos para o Campeonato Nacional. Resistiu inviolado apenas... seis minutos. Defeiteou-o Mike Walsh, em partida que o F. C. Porto venceu por 2-1. A Direcção portista ofereceu a cada um dos jogadores 25 contos. Costa, pelo golo da vitória, recebeu prémio particular de 100 contos, quinhão que decidiu, simbolicamente, dividir por todos os companheiros.
Para Stessl, maus ventos agitavam-se pouco depois. Na segunda eliminatória da Taça UEFA, o F. C. Porto foi eliminado pelos suíços do Grasshopper — e, volvidos alguns dias, o Penafiel (com António Oliveira como jogador-treinador e Zandinga como... bruxo) empatou nas Antas a dois golos, na noite mais horrível da vida de Fonseca, simplesmente porque Zandinga, antes de a partida se iniciar, se foi pôr atrás da baliza do F. C. Porto a esgravatar, debilitando o guarda-redes, que ele sabia bem temer certos misticismos!!!
Era a primeira vingança de António Oliveira, que, ainda com a época em curso, assinaria pelo Sporting, a troco de 20 mil contos. Com o coração azul dorido, afirmaria: «Este deve ser o dia mais feliz da vida de Américo de Sá.» A talho de foice, Pinto da Costa voltou a atacar: «Oliveira manteve a sua palavra de não voltar ao F. C. Porto enquanto Américo de Sá fosse presidente. Dar esse passo custou-lhe, certamente, muito, que ele tem, como todos sabem, o F. C. Porto no coração, mas, infelizmente, há quem não tenha coração assim e ponha os seus interesses acima dos interesses do clube.»
Entretanto, João Rocha lançara, também, o canto de sereia a José Maria Pedroto, que em Guimarães continuava a trabalhar com Artur Jorge. O treinador disse não, até porque continuava a sonhar com as Antas sem... Américo de Sá, mas não deixou de, felicitando João Rocha por ter conseguido «a transferência do ano» e, sobretudo, por ter «derrotado os boicotes fascistas», alfinetar o presidente do F. C. Porto.
Américo de Sá tentou descobrir, sebastianicamente, nova estrela. Cogitou que poderia ser Folha, que, no Boavista, avolumara fama de goleador, que ao marcar cambalhotava. Ficou a saber-se que o F. C. Porto estava disposto a gastar 10.800 contos com a sua contratação. A Folha dera mesmo já 500 contos de adiantamento, prometendo-lhe, igualmente, um duplex numa zona chique do Porto, cujo valor ascendia a 5000 contos. Mas o Benfica também estava na liça e, precisamente na véspera do jogo com os portistas, na Luz, Gaspar Ramos ganhou a corrida a Folha, subindo para 14.175 contos a proposta do F. C. Porto de 10.800. Do Benfica, no acto da assinatura recebeu Folha um cheque de 2000 contos, prometendo devolver ao F. C. Porto... 1000, cumprindo a lei que determinava a devolução do dobro do sinal. Apesar disso, Jeremias Neves considerou que a atitude do avançado não era de «homem digno».
No campo mais uma derrota do F. C. Porto, que, assim, ficou a sete pontos do Benfica. Dois dias depois, Américo de Sá, em comunicado, culpava António Garrido do Campeonato perdido, acusando-o de ter deixado em claro «uma agressão sem bola de Humberto Coelho a Walsh e, pouco depois, uma outra de Veloso a Costa». E mais: que aos 64 minutos «perdoou uma clara grande penalidade cometida por Alves sobre Jaime Pacheco». E que «o golo do Benfica foi validado apesar de um claro fora-de-jogo de César, mostrado pela televisão».
O Benfica tropeçou, mas não perdeu o norte. E ganhou o Campeonato. Teles Roxo curou, depressa, de dizer que a sua vitória se devera aos árbitros.
Por dizerem essas coisas, rolaram as cabeças de Pedroto e de Pinto da Costa...
Nas meias-finais da Taça de 1981, o F. C. Porto bateu o Setúbal por 2-1, mas chegou ao intervalo em desvantagem. Octávio, no regresso às Antas, mas no outro lado da barricada, depois do Verão quente, no final da partida recusou-se a cumprimentar Rodolfo e explicou porquê: «Só costumo dar uma oportunidade a alguns indivíduos. Foi o caso de Rodolfo, a quem aguentei muitas atitudes incorrectas enquanto estive no F. C. Porto, porque, por exemplo, em Setúbal, quando o F. C. Porto lá jogou para o Campeonato, cumprimentei-o e fui covardemente agredido pelas costas. Ajudei-o muito na sua recuperação, mas Rodolfo não tem recuperação possível»...
A 5 de Junho, em vésperas da partida com o Benfica, o F. C. Porto colocou a hipótese de não se deslocar ao Jamor para disputa da Taça de Portugal, alegando falta de segurança, mas, segundo Teles Roxo, deixou-se de pensar nisso quando o presidente da FPF garantiu «todas as medidas de segurança». Os portistas foram e perderam. Por 0-3. Três golos de Nené que destroçaram a equipa formada por Tibi; Gabriel, Simões, Freitas e Lima Pereira (Romeu); Jaime Pacheco, Teixeira (Sousa), Rodolfo e Jaime Magalhães; Walsh e Costa. Já na época seguinte, o F. C. Porto conquistou a Supertaça Cândido de Oliveira, ao derrotar o Benfica, por 4-1. Jacques foi a grande figura do encontro ao apontar três golos em... 14 minutos.
Seria o único título de Hermann Stessl e não chegaria sequer para consolar das mágoas que se seguiram em mais uma época em que o F. C. Porto nada ganhou, criando em muitos dos seus adeptos o temor de que se voltasse ao longo jejum...
in«abola»
 
H

hast

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O regresso dos heróis

Pedroto e Pinto da Costa regressam. E a glória também. Mas nesse primeiro ano o destino foi cruel e o Benfica foi às Antas ganhar a Taça cheia de polémica

Era inevitável. Pinto da Costa assumiu a presidência do F. C. Porto em 1982 e Pedroto retomou o comando da equipa técnica. Estava outra vez refeita a dupla do sucesso. Para resgatar o clube à mágoa de ter de voltar a espolinhar-se pelos caminhos lamacentos do insucesso.
Fernando Gomes regressou também, após pagamento de uma indemnização de 25 mil contos ao Gijon. O Sporting e o Benfica ofereceram-lhe muito mais dinheiro, mas havia nele essa questão sentimental que não tem preço e...
José Maria Pedroto, que prometera já deixar-se dessas vidas, aceitou regressar ao «banco da tortura». E, após uma espúria derrota na Amora quando o Campeonato de 1982/83 corria para fase decisiva, colocou de novo o dedo na ferida: «No fundo, Veiga Trigo e Vítor Correia são responsáveis por termos, neste momento, menos três pontos. E o Benfica e o Sporting onde foram prejudicados? Mas muito dificilmente o F. C. Porto perderá mais pontos até final do Campeonato.»
Perderia, pouco depois, em Setúbal e Fernando Vasconcelos, chefe do Departamento de Futebol, denunciou os abutres que continuavam empenhados em espicaçar a honra — e o coração — dos portistas: «O campeão foi decidido antes de se ter iniciado o Campeonato. Não é possível tanto descaramento, tanta falta de vergonha, tanta falta de personalidade, como teve, em Setúbal, o sr. Santos Ruivo. Nós não perdemos o jogo, roubaram-nos dois pontos.»
Mas havia ainda uma ténue esperança, já que o Benfica teria de jogar nas Antas e se perdesse ficava a apenas dois pontos. Não perdeu, empatou a zero. Gomes, que oito dias antes fizera o mesmo no Estoril, desperdiçando mais um ponto, voltou a falhar uma grande penalidade. Assim, nos seus pés se hipotecaram, definitivamente, as esperanças de recuperação do título. Rodolfo, desolado, atirou: «Estamos todos muito tristes, mas ninguém imagina como está o Gomes.»
Pedroto, remoqueando que o Benfica jogara nas Antas como o Alcobaça, mostrou-se sensibilizado por João Alves lhe ter ido oferecer a sua camisola no final da partida que quase permitia que o Benfica encomendasse as faixas. Mas, triste, Pedroto, que clamara por controlo anti-doping que não houve, não foi capaz de esconder a mágoa e a dúvida: «Uma vez mais fomos discriminados, pois na Luz houve controlo e nas Antas não. Mas é a brincadeira do costume no futebol português.»
Para as Antas marcara a FPF a final da Taça de Portugal de 1983, muito antes de se saber se o F. C. Porto seria ou não finalista. Sendo-o, houve quem se enrodilhasse em manobras de bastidores no sentido de transferir o jogo para Lisboa.
No primeiro dia de Junho, em Assembleia Geral explosiva, os sócios do F. C. Porto aprovaram por aclamação que o clube não comparecia à final da Taça de Portugal desde que a mesma não fosse marcada para as Antas. «Vamos ver se a Direcção da FPF tem coragem de mandar o F. C. Porto para a II Divisão», bradou Pinto da Costa, acrescentando: «Lisboa não pode continuar a colonizar o resto do País. O desejo deles é que o F. C. Porto desça de divisão.»
Cinco dias depois, a final da Taça ficou adiada sine die pelo facto de o Conselho de Justiça da FPF considerar legítima a escolha das Antas e o Benfica ameaçou recorrer aos tribunais civis.
Os jogadores benfiquistas foram mandados para férias, mas de prevenção ficaram. Os do F. C. Porto de férias foram. Mas, em mais um sinal de como era pândego o futebol português, a FPF decidiu fazer disputar o jogo a 21 de Agosto. Nas Antas, pois claro. Mas por vezes o destino gosta de ser cruel. E, graças a um tiro fulminante de Carlos Manuel, o Benfica bateu o F. C. Porto. Pelos portistas alinharam Zé Beto; João Pinto, Lima Pereira, Eurico e Inácio; Rodolfo, Jaime Magalhães (Walsh), Frasco (Jaime Pacheco) e Sousa; Jacques e Gomes.
Para Pedroto fora das derrotas mais amargas da sua vida, sobretudo por haver nela, segundo o treinador portista, algo de subterrâneo: «O Benfica utilizou o seu poderio para não jogar na data marcada, em que reconhecia estar em muito má forma, e só por isso fomos derrotados.»
Fernando Martins, presidente do Benfica, querendo dar de si imagem de bom samaritano, desvendou: «Fui eu que decidi que viéssemos às Antas, por uma questão de respeito pelo futebol e para evitar que o F. C. Porto pudesse estar sujeito a terríveis consequências...»
in«abola»
 
H

hast

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O pior de tudo, caro doutorponcio, foi perder a taça com os galináceos em casa. Ainda hoje, passados que estão tantos anos, tenho essa final atravessada na garganta. Foi a maior desilusão que tive até hoje com o FC PORTO.
 
H

hast

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Apesar do «corte» que foi ver os galináceos ganharem-nos uma Taça de Portugal, na nossa própria casa (!), temos que ter em conta que os Benfas também não tinham uma equipa qualquer. Venceram Campeonato e Taça de Portugal, chegaram à final da Uefa e nos 49 jogos que fizeram durante a época, em todas as competições, venceram 35, empataram 12 e perderam somente 2 (!). A juntar a tudo isto marcaram 112 golos e sofreram 25. Para bom entendedor ….
A acontecer, hoje em dia, o mesmo que há 25 anos, aí sim penso que as razões para tão grande desgosto seriam galácticas.

* * * *

O percurso das duas equipas na Taça de Portugal, época 1982/83:

1/32 de Final
U. Coimbra 0-4 FC Porto
Atlético 0-6 Benfica

1/16 de Final
FC Porto 5-0 Famalicão
P. Ferreira 1-5 Benfica

Oitavos-de-Final
FC Porto 3-1 Sp. Espinho
Leixões 1-2 Benfica

Quartos-de-Final
FC Porto 3-0 Sp. Braga
Benfica 3-0 Sporting

Meias-Finais
FC Porto 9-1 Académica
Benfica 2-0 Portimonense

Final
Benfica 1-0 FC Porto


Nota: Alguém pode esclarecer a goleada (9-1), na meia-final, à Académica? È que por muito que tente, não me lembro de nada a respeito deste jogo.:-(
 
H

hast

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Uma Taça de mágoa

Os portistas prometeram a si próprios ganhar a Taça das Taças para que Pedroto tivesse mais alguns dias de vida, mas um árbitro da RDA tramou-os

Com o rosto demudado pela doença que o minava, José Maria Pedroto foi internado, em Janeiro de 1984, num hospital de Londres. O velho lobo sentia-­se, enfim, à beira de um abismo, cuidando já que aquele era desafio que não conseguiria vencer. Por essa altura se soube que Pinto da Costa lograra um milagre financeiro no F. C. Porto, gerando um lucro de 14 mil contos. O bingo, em apenas cinco meses, rendeu mais de 50 mil contos, compensando o défice de 96 mil do futebol profissional. Ultrapassando, sempre com classe e drama, obstáculos vários, o F. C. Porto chegou à final da Taça das Taças, cabendo-lhe terçar armas com os multimilionários da Juventus.
O passaporte para Basileia fora visado em Aberdeen. António Morais, emocionado, aventou: «Tudo correu melhor do que eu próprio esperava, com aquele golo de Vermelhinho, que foi ouro sobre azul. O mérito de tudo isto pertenceu a Pedroto, pois tive com ele demoradas conversas, em que definimos a estratégia a adoptar. Aliás, Pedroto esteve tentado a vir a Aberdeen, mas à última hora receou uma recaída. Mas já tem bilhete comprado para a Suíça! Penso mesmo que isso foi uma grande moção de confiança a estes jogadores.»
Em Basileia, Pedroto só estaria em espírito. O F. C. Porto perdeu por 1-2 com a Juventus, mas teve o orgulho de cair de pé. Na mágoa da derrota imerecida. Tramada por um árbitro da RDA, chamado Adolf Prokop, que por apitos espúrios evitou que, no toque da taça, Pedroto pudesse protrair a vida ao menos mais alguns dias.
Zé Beto (guarda-redes do F. C. Porto que, não muitos anos depois, haveria de perder-se, tragicamente, numa auto estrada fatal), com os ânimos agitados por paixões diversas, manando-lhe da fronte suores de angústia e de revolta, no final da partida correu para a equipa de arbitragem, como se desejasse lavar a honra espostejada em jeito de ferrabrás. Gomes travou-o, mas não o impediu de desferir ainda um pontapé no fiscal de linha e de lhe retirar a bandeirola da mão. Só faltou dar-lhe com ela. O gesto custar-lhe-ia caro.
Morais, lamentando não poder levar a Pedroto a taça que ele merecia, foi o porta­voz do desencanto dos portistas, batidos por 1-2: «Temos bastas razões de queixa da arbitragem, que perdoou dois penaltis aos italianos. O primeiro, um empurrão claro sobre Vermelhinho dentro da área; o segundo, uma mão de Scirea que toda a gente viu.» Gomes acutilou: «Fornos espoliados por um árbitro da RDA, país onde se procuram divisas, por isso era impossível fazer melhor.» Trapattoni, treinador da Juventus, já no seu destino de papa-taças, confessou não esperar um FC Porto tão forte e Michel Platini admitiu que talvez fosse justo dividir-se a taça...
Talvez por isso um grupo de adeptos do FC Porto tenha decidido angariar fundos para comprar uma que substituísse aquela tão dramaticamente perdida. Era ainda o lado provinciano de um clube que, em Basileia, descobrira o caminho para o fastígio, para a conquista da Europa, para a conquista do Mundo. Sob o signo de Pinto da Costa, que, prevendo que a sua equipa ganharia no desempate por penaltis, prometera a cada jogador mil contos em caso de vitória. O esmerilador da pérola ficara em casa. Nesse dia a dor foi amenizada pelos sorrisos. Pedroto sentiu que, acontecesse o que acontecesse, tinha ganho o futuro.
No rescaldo dos acontecimentos de Basileia, Zé Beto foi afastado do estágio para o «Europeu» de França. A UEFA suspendeu-o Por um ano! A defesa amargurada: «Se quisesse agredir o árbitro ninguém me deteria. E é mentira que tenha dado pontapés no fiscal de linha e lhe tirasse a bandeirola. Por isso é um castigo muito injusto, mais uma injustiça contra o FC Porto, que já fora vergonhosamente espoliado em Basileia.»
No Campeonato, Benfica e FC Porto em luta ombro a ombro. Na penúltima jornada, os benfiquistas empataram, na Luz, com o Sporting como árbitro Marques Pires a anular um golo aos sportinguistas já depois de ter indicado que o validara!!! O Benfica somou 52 pontos no Campeonato de 1983/ /84, o FC Porto quedou-se pelos 49. E Gomes voltou a ganhar a Bola de Prata.
in«abola»

http://www.youtube.com/watch?v=hn8J-a7bBhY&eurl