Estórias da nossa história

fcporto56

Tribuna Presidencial
26 Julho 2006
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Sacramento
Pois e.Na epoca seguinte mandaram repetir um Belenenses-Benfica de que o Belenenses tinha protestado, mas a repeticao so se fez practicamente no fim do campeonato,quando o jogo so interessava ao slb.
 
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hast

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Caro fcporto56, porque será que nada, ou praticamente nada, mudou desde então?

Ressalvando os títulos conquistados, só as moscas, porque a porcaria continua a mesma, se calhar mais nauseabunda.
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
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16
Assino por baixo caro hast!O que nos safa hoje é sermos mesmo muito fortes!Isto fede...istp tresanda!
 
H

hast

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Otto sem glória para ganhar a Taça

Foi vingança no Jamor: o F. C. Porto bateu o Benfica, apesar de Pedroto, acamado, ter perdido cinco quilos e de Monteiro da Costa estar a contas com o abcesso que fistulou

A perda do título serviu de pretexto para novo despedimento de Yustrich. Fuga de informação permitiu que o mineiro soubesse da pretensão da Direcção do F. C. Porto e, em jogada de antecipação, ele próprio solicitou a rescisão do contrato. O seu último jogo foi a 30 de Março. José Valle não aceitou as responsabilidades de orientador técnico apenas com os direitos e os ordenados de treinador adjunto, até porque sabia que mais tarde ou mais cedo seria dispensado, pelo que era preciso procurar à pressa substituto. Por esse comenos sabia-se já que Hernâni seria multado em dois meses de ordenado: 7000 escudos, como castigo por se ter envolvido na cena de pancadaria com o treinador, que, no final do desafio com o Sporting de Braga, para a Taça de Portugal, percorreu a pista, acenando ao público com um lenço, enquanto as palmas estrugiam em clamor e isso lhe purificava a alma e lhe desfolhava o sorriso!
Ficaria, entretanto, a saber-se que entre Agosto de 1957 e 31 de Março de 1958, o clube gastara com o ferrabrás mineiro 717 contos, cerca de 90 contos por mês, estando incluídos nesse montante 135 contos de indemnização pelo seu primeiro despedimento.
Para treinador do F. C. Porto, Paulo Pombo contratou outro brasileiro, Otto Bumbel, que treinara o Lusitano de Évora, prometendo-lhe um ordenado mensal de 12 contos, 60 contos de «luvas» por época e um prémio de 150 contos pela conquista do Campeonato.
Já com Bumbel no comando da equipa, o F. C. Porto ganhou a Taça de Portugal, vencendo o Benfica, por 1-0, com golo de Hernâni — como se outra vez a Taça se fizesse da biqueira de ouro do homem que se tornara símbolo do F. C. Porto quando Pedroto entrava já em ocaso.

A pancada na cabeça de Arcanjo e Otto contra Otto...

Muitas culpas se apontaram a Bastos por aquele golo esquisito, que mais pareceu ter apanhado o guarda-redes benfiquista... distraído. Hernâni bem tentou defender o guardião que escabujara na lama da angústia — e chorara como se aquela bola que lhe passara entre os braços fosse a bombarda que lhe desfizera a honra e a carreira: «Não, não foi frango! São os tais golos que enganam os guarda-redes. Bastos não foi culpado, a bola partiu com efeito, aquele efeito a que os brasieliros chamam de folha seca e...»
Abalado andou, mas por outras razões, minutos a fio, Miguel Arcanjo, em consequência de um choque com Palmeiro Antunes e que o prostrou no terreno. «Senti qualquer pancada na cabeça e desde aí de pouco me recordo... A cabeça parece que pesava 10 quilos. O médico para me animar, diz que não foi nada, mas eu estou a falar com as pessoas e nem as vejo.»
Para Bumbel, o Otto que venceu Glória, o jogo «não teve a dignidade que o espectáculo da final merecia, foi mal jogado, campeou a violência». Retorquiu o treinador do Benfica: «o F. C. Porto até acabou por vencer com justiça, mas... arbitragem foi coisa que não existiu dentro do campo, os acontecimentos só não degenerarm em mal porque os jogadores não quiseram. Arbitragem não houve... O que houve foi um moço apitando, um moço que se vestiu de arbitro e mais mada. E este desabafo não é choro, por isso...».
Gesto bonito, o de Otto Glória, que no final do jogo abraçou Hernâni, como se nisso houvesse o público reconhecimento da superioridade do adversário. Como «fair play» com «fair play» se paga, Virgílio redarguiu: «Vi Calado, um desportista de eleição, com lágrimas nos olhos, por não ter ganho. Tive sinceramente pena. Mas o desporto é assim e como tal deve ser encarado. Hoje ganhámos nós, amanhã ganham outros...»
O F. C. Porto ganhara... desfalcado. Alinhara com Pinho; Virgílio e Barbosa; Ângelo Sarmento, Miguel Arcanjo e Albano Sarmento; Carlos Duarte, Gastão, Osvaldo Silva, Hernâni e Perdidão. Acúrsio andava ainda de braço ao peito — engessado. Pedroto ficara no estaleiro, devido a uma lesão na coxa direita e a uma gripe que o reteve na cama alguns dias, tendo perdido cinco quilos. Monteiro da Costa estava à espera de ser submetido a uma intervenção cirúrgica porque o abcesso que o apoquentava fistulou, tomando a doença rumo mais aborrecido do que era de supor e de... desejar. Essas eram, na véspera, as preocupações maiores de Otto Bumbel, que se queixara, também, de dificuldades na preparação da equipa, simplesmente porque Otto Glória, treinador do Benfica e... seleccionador nacional, convocara e não dispensara vários jogadores do F. C. Porto para a Selecção... militar, que três dias antes realizara, em Vila Real, um desafio particular. Bumbel lamentava que Glória «não dispensasse e não transportasse para o Porto, no seu automóvel, os jogadores, tal como se tinha comprometido»...
O árbitro (ou o moço que se vestiu de árbitro para Otto Glória) foi Álvaro Rodrigues — esse mesmo que estivera envolvido na polémica das cartas que o acusavam de ser «200 por cento sportinguista» nas Antas — e um dos fiscais de linha o mesmo que agredira um apanha-bolas do F. C. Porto com a sua própria bandeirola.
in«abola»
 
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hast

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Mago de Viena venceu Calabote

Um golo marcado no último minuto por Teixeira valeu o Campeonato. Na Luz, por artes e manhas do pouco inocente Calabote, jogaram-se mais 12 minutos, mas em vão...

Em Agosto de 1958 o Milan insistiu na oferta de 600 contos pela contratação do angolano Carlos Duarte, mas a Direcção portista mandou dizer que o negócio não interessava. Outro tinha em manga e, em Outubro, já com o Campeonato em andamento, os dirigentes do F. C. Porto conseguiram, enfim, vender Jaburu ao Celta de Vigo. Os galegos sentiram-se ludibriados e, pouco depois, exigiram que lhes fossem restituídas as 950 mil pesetas pagas, por se ter detectado que o jogador estava impossibilitado de jogar, padecendo de uma lesão de natureza congénita numa vértebra lombar. Os portistas não cederam — o negócio estava feito, feito estava...
A saída de Jaburu acabaria por fazer rolar a cabeça de Otto Bumbel, entretanto acusado de ter recebido 60 contos do Celta para não contrariar a transferência do jogador para Vigo. Para que a saída não fosse traumática utilizou-se como pretexto o facto de o F. C. Porto ter empatado em Coimbra — tropeção que fez com que todos os seus jogadores, apesar do nulo, perdessem os 500 escudos de prémio de empate. Jaburu tornou-se personagem de uma novela pícara, com médicos a dizer que podia jogar, outros que não e os portistas lavando daí as mãos — e aproveitando as pesetas recebidas para contratar o substituto de Bumbel, que chegaria ao Aeroporto da Portela às 19.50 do dia 1 de Novembro de 1958, vindo de Viena, e respondendo por Béla Guttmann.
Campeão fora já na Hungria, na Roménia e no Brasil. Nascera em Budapeste, em 1900. Jogara futebol no MTK, chegando a alinhar pela selecção húngara nos Jogos Olímpicos de Antuérpia e de Paris.
Mas foi como treinador que atingiu o galarim e a fortuna. E venceu o destino, depois dos anos negros de Nova Iorque em que, na fuga da guerra, para sobreviver, no ocaso já da carreira de futebolista, se tornou professor de dança, percebendo então o valor do dinheiro. Isso mesmo explicava logo nas primeiras conversas aos seus pupilos. Mais ou menos assim: «A minha melhor época de vida foi à volta de 1925. Tentei a minha sorte em Nova Iorque e enriqueci. Tinha muitos amigos, que achavam imensa graça a tudo o que dizia, mesmo que fossem banalidades. As senhoras admiravam o meu grande talento para o negócio! Fui um menino mimado e muito rico até chegar aquela Sexta-Feira Negra de 1928. Nesse dia rebentou um escândalo na Bolsa de Nova Iorque e perdi 55 mil dólares. Fiquei pobre como Job. De um momento para o outro os amigos afastaram-se e quando se referiam a mim chamavam-me pobre pateta...»
Por isso gostava tanto de dinheiro. E exigia que lhe pagassem como não se pagava a mais ninguém no mundo do futebol. Esse mago com sangue cigano vivia na obsessão do sexo, como se fosse praga para os jogadores. Um pouco como Szabo. Para o F. C. Porto veio a ganhar 300 contos por ano, exigindo também 100 contos de prémio pela conquista do Campeonato...

O jogo estranhamente repetido não deu o tal ponto ao Benfica

Em meados de Fevereiro de 1959 o F. C. Porto estava a quatro pontos do Benfica e a um do Belenenses.
Em dia de muita chuva, foi o Benfica ao Restelo com três pontos de vantagem sobre o Belenenses. A certa altura, na marcação de um canto, Costa Pereira fez-se à bola entre um companheiro e um adversário, mas deixou-a escapar das mãos para dentro da baliza. O árbitro não considerou o golo, mandando marcar pontapé de baliza. Os benfiquistas ficaram surpreendidos e os belenenses inconformados com a decisão de Macedo Pires. Por isso, Fernando Vaz, treinador dos «azuis», considerou que dois erros do árbitro tinham decidido o campeão. Mas, se o árbitro dizia ter visto a bola sair pela linha de cabeceira, reentrar em campo e cair depois da estranha viagem dentro da baliza do Benfica, nada a fazer!
O Conselho Jurisdicional da FPF haveria de mandar repetir o jogo, saldado por um empate, que significava uma esperança para o Benfica e um tormento para os portistas. Outro empate se verificaria, em partida emotiva, com os portistas a assistir, roendo as unhas, com todo o corpo em termor de medo, rezando para que ao menos o Benfica não ganhasse. Não ganhou e, assim, à entrada para a última jornada do Campeonato Nacional de 1958//59, partiram ambos igualados.

O mais dramático dos epílogos dos Campeonatos Nacionais

Foi um golo só e bondou para escrever o mais dramático dos epílogos de Campeonatos Nacionais de Futebol, depois de 90 minutos terríveis, sofridos a par, em Torres Vedras e na Luz, onde F. C. Porto e Benfica se mediam indirectamente.
Precisavam os benfiquistas de marcar mais quatro golos que os que os portistas marcassem se ambos vencessem os seus jogos perante a Cuf e o Torreense. Ao intervalo o F. C. Porto vencia por 1-0, ganhava o Benfica por 3-0. A dois minutos do final do jogo no Campo das Covas fez o F. C. Porto o segundo golo, para euforia dos seus adeptos, que já descriam porque, no outro lado, vencia o Benfica por 6-1. Marcaram os portistas e de rajada marcaram os benfiquistas: 7-1. E, a meio do minuto 90, Teixeira, com esse golo que haveria de ficar histórico, colocou o F. C. Porto a vencer por 3-0 e de novo em vantagem. Tremularam, de novo, bandeiras azuis e brancas nas Covas, na Luz pairou um silêncio de dúvida e de desolação.
O jogo de Torres acabara... Houve invasão de campo, gente que tentava abraçar os seus heróis, camisolas rasgadas na euforia e eles, os jogadores, desesperadamente à espera de um sinal, com o sonho suspenso, fugindo, suplicando que os deixassem ouvir o que se ia passando na Luz naqueles minutos que se arrastavam e pareciam séculos. Nas bancadas, uma mole de gente que permanecia, quieta, de mãos enclavinhadas, olhos marejados de lágrimas, respiração opressa — na tortura da dúvida...
... Em Lisboa ainda havia luta e havia sonho, por o jogo ter imoralmente começado oito minutos mais tarde que a hora prevista, com a complacência de... Inocêncio Calabote — que, depois de já ter assinalado três penalties a favor do Benfica, foi prolongando o tempo do jogo sem que nada o justificasse...

...Estranhamente Calabote não marcou o quarto «penalty»!

Doze minutos tiveram de esperar os portistas pelo desfecho. Os corações arfavam, as gotas de suor (ou de impaciência) perolavam pelos rostos dos jogadores, que se sentavam no chão nunca mais entreviam o tal sinal, as bandeiras esvoaçando ao vento, os gritos Porto! Porto! Porto! ressoavam como tambores de vitória ainda por anunciar...
Enfim, a explosão de alegria. Teixeira, que marcara o golo que valeria o título, levantou-se e, como uma sombra densa que se empasta, como uma estátua de um herói acabado de sê-lo, ergueu os olhos para o céu e murmurou: «Deus encarregou-se de dar o Campeonato à melhor equipa.» Carlos Duarte, entre o misticismo e a provocação, atirou: «Deus é grande e não é só Yustrich que é capaz de ganhar Campeonatos no Porto.»
Béla Guttmann, que pela vitória no Campeonato recebeu de um dirigente portista um emblema do F. C. Porto de... diamantes e por essa altura já sabia que seria treinador do Benfica na época seguinte, em palavras entarameladas, desabafou: «Este foi o título mais dramático que conquistei e já ganhei oito um pouco por todo o Mundo.»
Na Luz, um rodopio no posto médico! Com dois casos graves: o de uma senhora que sofreu congestão cerebral e o de um rapazito de 13 anos que desfaleceu, acusando sintomas de meningite, quando soube que o campeão fora o F. C. Porto. E revolta na cabina da Cuf — Cândido Tavares, o seu treinador, que pelo Benfica até já fora campeão, não se conformava: «Só estranhei que Inocêncio Calabote não tivesse arranjado uma quarta grande penalidade nos últimos minutos. Não foi árbitro não foi nada...»
Em Outubro, sem grandes explicações, a FPF decidiu irradiar Inocêncio Calabote. Ironicamente, por essa altura, também o portista Teixeira, autor do golo que valera o Campeonato, estava sob ameaça de processo disciplinar, única e exclusivamente por ter abraçado Béla Guttmann antes de um jogo em Guimarães.

Agressões na final perdida!

Contudo, antes disso, no fecho da época futebolista e da partida de Béla Guttmann para a Luz, F. C. Porto e Benfica voltaram a defrontar-se, desta feita na final da Taça de Portugal. Mudou de tom a festa, graças a um golo de Cavém logo no primeiro minuto. Aos nove Carlos Duarte e Mário João foram ambos expulsos por Décio de Freitas. «Agredia-me sempre que eu agarrava na bola» — lamentar-se-ia, depois, o portista. O F. C. Porto alinhou com Acúrsio; Virgílio e Barbosa; Luís Roberto, Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Carlos Duarte, Hernâni, Noé, Teixeira e Perdigão.
Américo Tomás, pela primeira vez no Jamor como... Presidente da República, algum tempo após a farsa que afastou Humberto Delgado de uma posição que o povo decerto lhe dera, entregou a Taça ao benfiquista Artur. Por essa altura, Guttmann era já treinador do Benfica. Secretamente. A troco de um ordenado anual líquido de 400 contos e ainda 150 contos pela conquista do Campeonato e 50 pela Taça de Portugal. Mais: quando se exarava o contrato pediu a um dirigente do Benfica que uma cláusula previsse 200 contos de prémio pela conquista da Taça dos Campeões Europeus. Homem de pouca fé, um dos directores, divertido com a bizarra hipótese, terá dito, naquele ar bonacheirão tão ao gosto de muitos portugueses: «Ó homem, ponha até mais 100!» Guttmann não se fez rogado. Pôs. E 300 contos receberia um ano depois...
Quatro dias após a final da Taça chegava a Lisboa o italiano Puricelli, para assinar contrato como substituto de Béla Guttmann. Não duraria muito...
in«abola»
 
H

hast

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Um resumo da época 1958/1959


1958

Julho
3 — O F. C. Porto, em digressão por África, venceu a Selecção de Luanda por 6-0.
12 — Realizou-se o funeral de Cândido de Oliveira. O corpo do grande homem do futebol saiu da sede do Casa Pia
para o cemitério do Alto de S. João, constituindo impressionante manifestação de pesar. O jornal do Sporting lançou a ideia de que deveria ser dado o nome de Cândido de Oliveira a uma rua de Lisboa.
19 — A equipa do F. C. Porto regressou da viagem a Angola e Moçambique. A digressão rendeu-lhe oito vitórias e dois empates. Logo após a chegada da equipa a Portugal os portistas correram a depositar flores na sepultura de Cândido de Oliveira.

Agosto
11 — O Milan insistiu na contratação de Carlos Duarte, o angolano do F. C. Porto, dispondo-se a pagar 600 contos por três épocas. Mas à Direcção portista o negócio não interessava...
16 — No Porto, o drama de Carlos Duarte agravou-se — o jogador sonhava, já inebriado, com a Itália e a fortuna, mas o F. C. Porto já lhe cortara as asas...

Setembro
7 —Em Espanha, jogaram F. C. Porto e Belenenses. Os portistas perderam com o Atlético de Madrid, por 3-0, e os «azuis» perderam em Barcelona, por 2-1. Jorge Mendonça marcou o primeiro golo dos madrilenos.
15 — Início do Campeonato Nacional de Futebol. O Benfica venceu o Guimarães por 7-0. O F. C. Porto empatou a três bolas com o Setúbal. O Sporting venceu o Barreirense por 1-0.

Outubro
6 — O Porto perdeu na Cuf por 1-0 e o Benfica empatou na Covilhã a uma bola.
11 — Após longas conversações, Jaburu saiu do F. C. Porto para o Celta de Vigo.
30 — A imprensa deste dia traz duas notícias sensacionais: o parecer do Conselho Permanente da Acção Educativa, homologado pelo subsecretário de Estado da Educação Nacional, deu razão à Académica no seu diferendo com o Sporting no «caso» Rocha; e Bumbel foi despedido do F. C. Porto e os jogadores castigados com a perda do prémio de empate (1-1 no desafio de Coimbra). Houve festa em Coimbra, com foguetes e tudo.

Novembro
1 — Às 19.50 horas, chegou ao Aeroporto da Portela, proveniente de Viena, o novo treinador do F. C. Porto — Béla Guttmann de seu nome. Havia de ficar ligado à história do êxito inesquecível do futebol português, mas ao serviço do Benfica.
6 — Janos Biri, afastado do cargo de treinador da Académica, foi substituído, interinamente, por Mário Wilson até à chegada de Otto Bumbel.
15 — O Celta de Vigo exigiu do F. C. Porto o dinheiro que pagou pela transferência de Jaburu, impossibilitado de jogar por causa de uma lesão de natureza congénita numa vértebra lombar. O caso complicou-se devido, sobretudo, a declarações do jogador. Mas o treinador Pasarin afirma: «Ou mente Jaburu ou o F. C. Porto.»
10 — O Benfica foi empatar ao Estádio das Antas, por 0-0, dando, assim, um grande passo para a conquista do título.
15 — Escândalo em Vigo: Jaburu, jogador que o F. C. Porto tinha vendido à equipa espanhola, não podia jogar por apresentar desvio numa vértebra. Por este facto, os espanhóis exigiam as 950 mil pesetas que tinham pago pelo jogador.
20 —«A Bola» anunciava que tanto o F. C. Porto como o Celta se tinham desinteressado de Jaburu. Entretanto, Otto Bumbel era acusado de ter recebido 60 contos do Celta para não contrariar a transferência do jogador para Vigo. O jogador desmentiu energicamente.

Dezembro
4 — Prosseguiu a novela Jaburu, com os médicos dando o dito por não dito. Afinal, o avançado brasileiro já podia jogar futebol...
29 — De Espanha se disse que Jaburu era um caso de popularidade antes mesmo de dar um chuto na bola. Entretanto, o brasileiro revelava que recebera 108 mil pesetas, que mandara para o Brasil, e estava à espera de mais 112 mil. O Valência manifestara o seu interesse pelo jogador, pondo-lhe como condições libertar-se do Celta de Vigo e naturalizar-se espanhol. Enquanto não regressava aos relvados seguia as indicações do médico assistente, dr. Elias Papa Vide.
— O Benfica foi derrotado pela primeira vez no «Nacional» de futebol, perdendo em Guimarães por 2-1. E assim, em pezinhos de lã, se aproximava o Belenenses, com 21 pontos, menos um do que o Benfica. E os vimaranenses tinham 20, mais um do que o F. C. Porto, mais dois do que o Sporting...

1959

Janeiro
10 — O Ministério da Educação determinou o mínimo das habilitações literárias dos desportistas, sem as quais não poderiam manter-se em actividade: 4.ª classe. Só no futebol, os cidadãos, sem esta habilitação atingiram o número de 500. Era o reflexo do País. Claríssimo.
24 — A Federação Galega de Futebol proibiu Jaburu de jogar durante três anos e o Celta aceitou apresentar à Federação a suspensão do contrato com o brasileiro que se notabilizara ao serviço do F. C. Porto e para lá se transferira polemicamente, num grande negócio para os portistas, quando, aparentemente, já sabiam que uma deslocação na coluna poderia cortar-lhe, cerce, todas as veleidades...

Fevereiro
19 — No fim da primeira volta do «Nacional» de futebol o F. C. Porto não era francamente favorito. Por essa altura estava a quatro pontos do guia, o Benfica, a um do Belenenses e à frente do Sporting, campeão em título, mas que já denotava poucas hipóteses de o renovar. Neste dia, de muita chuva, foi o Benfica ao Restelo, com três pontos de vantagem sobre o Belenenses. A certa altura, na marcação de um canto, Costa Pereira fez-se à bola entre um companheiro e um adversário, mas deixou-a escapar das mãos para dentro da baliza. O árbitro não considerou o golo, mandando marcar pontapé de baliza. Os benfiquistas ficaram surpreendidos e os belenenses inconformados com a decisão de Macedo Pires. Por isso, Fernando Vaz, treinador dos azuis, considerou que dois erros do árbitro tinham decidido o campeão. Mas se o árbitro dizia que tinha visto a bola sair pela linha de cabeceira, reentrar em campo e cair depois da estranha viagem dentro da baliza do Benfica, nada a fazer! Só que, entre os seus erros, as crónicas apontavam censurável condescendência ao permitir que Ângelo, defesa benfiquista, partisse da barreira nas alturas dos livres. Este foi um dos argumentos invocados pelo Belenenses no seu protesto, que o Conselho Técnico da FPF julgou improcedente. O Conselho Jurisdicional haveria de mandar repetir o jogo, que significou uma esperança para o Benfica e um tormento para os portistas.

Março
14 — Na 25.ª jornada do «Nacional», disputada em Alvalade, entre o Sporting, praticamente arredado do título, e o Benfica, sério candidato, houve mosquitos por cordas. Ãngelo foi expulso. Ao chegar à pista, quando se dirigia à cabina, envolveu-se em desordem com gente do Sporting, na qual se incluía um dirigente. Alguns jogadores do Benfica acorreram ao local da batalha e um deles, Artur, foi atingido violentamente, perdendo os sentidos. Ângelo esteve para ser conduzido ao Governo Civil, mas acabaram por lhe perdoar. A Direcção-Geral dos Desportos ordenou rigoroso inquérito aos incidentes, o Benfica fez uma exposição à FPF, o Sporting também, todos, afinal, queriam inquéritos. Ângelo e Caraballo, epicentro da indisciplina, foram suspensos preventivamente e com tudo isso se esqueceria a repetição do Belenenses-Benfica, na quinta-feira seguinte: os benfiquistas, que à 22.ª jornada levavam três pontos de vantagem sobre o F. C. Porto, chegaram a este jogo na situação de ter de ganhar, a fim de anular a liderança dos portistas. Seriam 90 minutos de intenso nervosísmo, no Estádio do Restelo, a abarrotar. Entre a assistência sofriam os,,, jogadores do F. C. Porto! O desafio terminou com um empate (1-1), comm golos de Mendes e Tonho. Os nortenhos suspiraram de alívio. E de lá saíram com o sonho mais quente...
— O caso Jaburu continua a agitar os meios desportivos espanhóis. O jogador foi a Madrid executar exercícios para a Federação espanhola ver. E o treinador Daniel declarou: «Este jogador não pode estar lesionado.»
28 — «A Bola» atacou as entidades desportivas dizendo que Portugal era o único país onde o futebol oficial parava no Domingo de Páscoa. Entretanto, F. C. Porto e Benfica chegavam empatados em pontos à última jornada do «Nacional» de futebol. A vantagem, em caso de ganharem ambos, pertencia aos portistas. Os benfiquistas só poderiam ultrapassar o adversário se marcassem muitos golos à Cuf, no Estádio da Luz. Os nortenhos, jogando em Torres, no Campo das Covas, teriam, por isso, tarefa dificultada. O jogo da Luz começou oito minutos mais tarde. Eticamente foi uma atitude reprovável, mas que nada tinha de inédito. O Benfica ia marcando golos... Beneficiou de três grandes penalidades, enfim, as coisas não corriam mal porque, a dois minutos do fim, em Torres, os portistas apenas ganhavam por 1-0. De súbito, 2-0 em Torres e... 7-1 na Luz. Nos últimos momentos da partida, Teixeira marcaria o seu mais festejado golo no F. C. Porto. O título regressava às Antas. Mas as suspeitas sobre uma arbitragem menos correcta na Luz avolumaram-se, culminando com a irradiação de Inocêncio Calabote. Entretanto, havia gente inconformada até a nível de jornais, atacando o nosso sistema de desempate, dizendo que em França ou na Inglaterra o campeão seria o Benfica. A par desta teoria, Cândido Tavares, que treinador do Benfica fora, lamentava: «Inocêncio Calabote foi a causa da goleada que sofremos.» E só faltou quem suplicasse pela alteração dos regulamentos, depois do que acontecera naquela malfadada última jornada...

Minutos de Calabote na valsa azul

Foi um golo só e bondou para escrever o mais dramático dos epílogos de Campeonatos Nacionais de Futebol, depois de 90 minutos terríveis, sofridos a par, em Torres e na Luz, onde F. C. Porto e Benfica se mediam indirectamente. Precisavam os benfiquistas de marcar mais quatro golos do que os portistas marcassem se ambos vencessem os seus jogos perante a Cuf e o Torreense, respectivamente.

Ao intervalo, o F. C. Porto vencia por 1-0, ganhava o Benfica por 3-0. A dois minutos do final do jogo no Campo das Covas, fez o F. C. Porto o segundo golo, para euforia dos seus adeptos, que já descriam, porque, no outro lado, vencia o Benfica por 6-1. Marcaram os portistas e, de rajada, marcaram os benfiquistas. 7-1. E, a meio minuto dos 90, Teixeira, com um golo que haveria de ficar histórico, colocou o F. C. Porto a vencer por 3-0 e, de novo, em vantagem. Tremularam, de novo, bandeiras azuis-e-brancas nas Covas, na Luz pairou um silêncio de dúvida e desolação. E o jogo de Torres acabara...

Houve invasão de campo, gente que tentava abraçar os seus heróis, camisolas rasgadas na euforia, e eles, os jogadores, desesperadamente à espera de um sinal, com o sonho suspenso, fugindo, suplicando que os deixassem ouvir o que se ia passando na Luz naqueles minutos que se arrastavam e pareciam séculos. E, nas bancadas, uma mole de gente que permanecia, quieta, de mãos enclavinhadas, olhos marejados de lágrimas, respiração opressa — a tortura da dúvida.

Três penalties na Luz e mais 12 minutos

...Em Lisboa ainda havia luta, por (imoralmente) ter começado oito minutos mais tarde que a hora prevista, ainda se jogava. Não foram oito os minutos da espera, foram 12 porque o árbitro, Inocêncio Calabote, que já assinalara três penalties a favor do Benfica, foi prolongando o tempo. Teixeira, que marcara o golo que valeria o título, feliz com lágrimas, disse apenas: «Deus encarregou-se de dar o Campeonato à melhor equipa.» Carlos Duarte, entre o misticismo e a provocação: «Deus é grande e não é só Yustrich que é capaz de ganhar Campeonatos no Porto.»

Béla Guttmann, que, pela vitória no Campeonato, recebeu de um dirigente portista um emblema do F. C. Porto de... diamantes, e que, por essa altura, já sabia que seria treinador do Benfica na época seguinte, desabafou: «Este foi o título mais dramático que conquistei e já ganhei oito um pouco por todo o Mundo.» Na Luz, um rodopio no posto médico! Com dois casos graves: o de uma senhora que sofreu congestão cerebral e o de um rapazito de 13 anos que desfaleceu, acusando sintomas de meningite, quando soube que o campeão fora o F. C. Porto. E revolta na cabina da Cuf - Cândido Tavares, o seu treinador, que pelo Benfica até já fora campeão, não se conformava: «Só estranhei que Inocêncio Calabote não tivesse arranjado uma quarta grande penalidade nos últimos minutos. Não foi árbitro, não foi nada.»

Em Outubro, sem grandes explicações, Inocêncio Calabote foi irradiado. E, ironias do destino, o portista Teixeira, autor do golo que valera o Campeonato, estava sob ameaça de processo disciplinar, única e exclusivamente, por ter abraçado Béla Guttmann. Nas Antas os desaires sucessivos tinham afectado as receitas, o F. C. Porto penava. Haveria de penar durante muito tempo mais. Na angústia do fracasso, no sebastianismo do desespero. Até que Pedroto regressaria, com outras funções, com outro métodos, mas, igualmente, sob o seu signo de campeão.
Abril
6 — O campeão nacional de 1957/58 (Sporting) e o campeão de 58/59 (F. C. Porto) jogaram em Alvalade para a Taça dos Campeões. Ganharam os leões por 2-1.
13 — Na segunda jornada da Taça dos Campeões, mais uma vitória leonina sobre os portistas (2-1).

Maio
2 — O F. C. Porto sagrou-se campeão nacional de andebol. Era o 19.º título do seu historial. No reino da bola na mão, era tudo ouro sobre azul (e branco).
in «abola»

Classificação do campeonarto 1958/59
J V E D M S P
1 FC Porto 26 17 7 2 81 22 41
2 Benfica 26 17 7 2 78 20 41
3 Belenenses 26 16 6 4 65 27 38
4 Sporting 26 12 7 7 50 28 31
5 Vit. Guimarães 26 13 3 10 59 55 29
6 Vit. Setúbal 26 11 5 10 53 64 27
7 Sp Braga 26 9 6 11 48 51 24
8 Sp. Covilhã 26 9 4 13 43 65 22
9 Lusitano Évora 26 8 5 13 40 49 21
10 Académica 26 8 5 13 45 46 21
11 CD Fabril (CUF) 26 8 5 13 34 55 21
12 Barreirense 26 7 3 16 39 62 17
13 Caldas 26 5 6 15 33 76 16
14 Torreense 26 5 5 16 23 71 15
 

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Tribuna
29 Abril 2007
3,319
16
Terrível de facto esse campeonato e desolação na final da taça. Mas uma grande época uma das mais épica do nosso Porto em que o clube do regime mais os seus salazarentos sequazes não conseguiram o título! caricato o jogo de Belém com a bola a sair e a voltar a entrar! Caricatos os 12 minutos do calabote. Valia tudo naquela altura! É por isso que quando vejo o homem dos pneus com pó de talco lá dentro falar tenho logo vontade de vomitar!
 
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hast

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A cabeça do dirigente que pediu esmola

O F. C. Porto ainda venceu, em 1960, a Taça Cândido de Oliveira, numa partida em que Pedroto foi acusado de agredir um árbitro. Jurou inocência, mas...

Nas Antas, os desaires sucessivos tinham afectado as receitas, o F. C. Porto penava. Eliminado prematuramente (ou talvez não, porque esse era o destino das equipas portuguesas nos anos 50) da Taça dos Campeões Europeus pelos jugoslavos do Estrela Vermelha, Ettore Puricelli, o substituto de Guttmann, se calhar a sofrer já as suas maldições, caiu no abismo ainda antes do Natal, ao perder escandalosamente, em casa, com o Sporting de Braga. De forma humilhante o mandaram borda fora.
O canto de sereia foi lançado a Fernando Daucik, que se destacara como treinador do Atlético de Bilbau e do Real Madrid, que só de luvas pediu 350 mil pesetas. Regatearam os portistas e acabaram por contratá-lo a troco de um prémio de transferência de 250 contos e de um ordenado mensal de 25 contos. Mas o F. C. Porto pelas ruas da amargura se manteria. Anos a fio assim haveria de ficar. Na angústia do fracasso, no desespero do sebastianismo. Até que Pedroto regressaria, com outras funções, com outros métodos, mas igualmente sob o seu signo de campeão.

Perder 7000 sócios num ano!

No início dos anos 60 o F. C. Porto sofria grave crise financeira. E de identidade. No espaço de um ano perdera 7000 sócios e mais não se conseguiu que aumentar-se as despesas com as actividades desportivas em 1100 contos, precisamente numa altura em que nos outros galopavam.
Luís Ferreira Alves, o presidente, demitiu-se e ao bater com a porta não calou o lamento: «O F. C. Porto paga mal a quem o serve.» De facto. E em todos os sentidos. Por exemplo, os seus futebolistas tinham já 500 contos de ordenados em dívida. E o passivo do clube ascendera a 5834 contos. Ficaram os destinos do clube entregues a uma Comissão Administrativa, presidida por Ângelo César. Mas, pouco depois da sua posse, mosquitos por cordas...
Nas vésperas do F. C. Porto-Benfica, a contar para o «Nacional» da I Divisão, o dirigente Aníbal Abreu enviou da Urgueiriça um telegrama a Maurício Vieira de Brito sugerindo que o Benfica prescindisse da sua parte da receita a favor do desvalido F. C. Porto. Ao ter conhecimento, às 19 horas do dia 30 de Março, do insólito pedido, Ângelo César, presidente da Comissão Administrativa do F. C. Porto, reagiu digna e violentamente, mandando um outro telegrama ao seu companheiro de Comissão: «Acabo de tomar conhecimento telegrama enviado presidente Benfica rogo Vexa. apresente seu pedido de demissão por esta via. O F. C. Porto, embora atravesse uma situação francamente delicada, não precisa de pedir esmolas. A atitude do sr. Aníbal Abreu deixou-nos a todos indignados e o Benfica terá achado esse pedido uma autêntica loucura, um disparate sem pés nem cabeça.»
Assim mesmo, pobre mas não pedinte. E, antes sequer de a partida se iniciar, Ângelo César, num assomo de dignidade, pagou aos futebolistas todos os ordenados em atraso.
E o F. C. Porto, que aos 87 minutos perdia por 0-2, para gáudio de Guttmann, acabou por empatar por 2-2.
Nas bilheteiras arrecadaram-se 780 contos. Feitas as contas, deduzidos os encargos, os portistas recolheram os 490 contos que lhe couberam e apressaram-se a en-viar para Lisboa a percentagem que aos benfiquistas cabia: 155 contos. Depressa, para que não houvesse dúvidas de...

Pedroto agressor ou talvez nãoO F. C. Porto acabaria por quedar-se pelo quarto lugar, a seis pontos do Belenenses, que foi terceiro. A 3 de Maio Fernando Daucik e o F. C. Porto rescindiram o contrato. O treinador recebeu 30 contos e a liberdade de escolher clube. Daucik júnior, o filho que o pai trouxera para jogador, meteu ao bolso sete mil escudos e a carta de desobrigação.
Depois disso, aproveitando uma paragem no Campeonato, F. C. Porto e Belenenses disputaram entre si a Taça Cândido de Oliveira. O troféu foi parar às Antas, com 6-5 no conjunto das duas mãos, mas com o derradeiro jogo, no Restelo, esmaltado por cenas lamentáveis que culminaram com a expulsão, de uma assentada, a 15 minutos do fim, de três portistas: Montano, Teixeira e Pedroto. Pedroto, por «insultos e tentativa de agressão ao árbitro» segundo o próprio relatório de Virgílio Leitão, sofreu oito jogos de suspensão! Os portistas, ao saberem-no, correram a clamar por um inquérito, sugerindo que o registo da tentativa de agressão fora inventado por Leitão...
Vingança do Belenenses nas meias-finais da Taça. Depois de vitória nas Antas, por 3-1, derrota no Restelo, por 0-1. Mas para os portistas foi uma vitória à Pirro. Que a Taça estava outra vez perdida.
in«abola»
 
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hast

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> ... Nas Antas, os desaires sucessivos tinham afectado as receitas, o F. C. Porto penava. Eliminado prematuramente (ou talvez não, porque esse era o destino das equipas portuguesas nos anos 50) da Taça dos Campeões Europeus pelos jugoslavos do Estrela Vermelha, Ettore Puricelli, o substituto de Guttmann, se calhar a sofrer já as suas maldições, caiu no abismo ainda antes do Natal, ao perder escandalosamente, em casa, com o Sporting de Braga. De forma humilhante o mandaram borda fora.
O canto de sereia foi lançado a Fernando Daucik, que se destacara como treinador do Atlético de Bilbau e do Real Madrid, que só de luvas pediu 350 mil pesetas. Regatearam os portistas e acabaram por contratá-lo a troco de um prémio de transferência de 250 contos e de um ordenado mensal de 25 contos. Mas o F. C. Porto pelas ruas da amargura se manteria. Anos a fio assim haveria de ficar. Na angústia do fracasso, no desespero do sebastianismo. Até que Pedroto regressaria, com outras funções, com outros métodos, mas igualmente sob o seu signo de campeão>.

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É difícil de entender (para os mais novos), estas situações no dia de hoje, eram tempos de penúria e tristeza, onde só a perseverança de uns «poucos» manteve a chama do FC PORTO bem viva. E como é grande a diferença, quando decorreram quase 48 anos (1960/2008), em que mais de metade dos quais tivemos um HOMEM à frente dos destinos do «Colosso do Norte» e tudo mudaria. Sem ele, não estaríamos agora e nem aqui, todos de barriga cheia, a mandar uns bitaites para o ar, com um palito nos dentes a degustar tantos e tantos anos de grandes vitórias e conquistas. Hoje podemos dizer, sem qualquer constrangimento, que como clube, somos o que há de melhor neste país, que algum dia aprenderá a gostar do seu patinho «feio».
Alguém há-de saber a quem o agradecer.
 
H

hast

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Hernâni recusou 1500 contos do Inter

O F. C. Porto, em 1961/62, voltou a ameaçar Benfica e Sporting. Após um treino, o treinador morreu, na cama. A «equipa-Orth» perdia, tragicamente, a sua magia...

A 11 de Março de 1961, o F. C. Porto rescindiu contrato com o treinador brasileiro Otto Vieira. Oito dias antes derrota em Coimbra, depois de um empate, nas Antas, com o Sporting de Braga de... José Szabo, que disse: «Nunca vi um F. C. Porto tão fraco...».
José Maria Pedroto foi convidado a substituir Otto, interinamente, numa altura em que no Porto se sonhava com outro Otto — de Glória no nome e na folha de serviços.
Em Abril, Hernãni recusou uma choruda oferta de 1500 contos do Inter de Milão, precisamente na mesma altura em que, com 400 contos, o Benfica conseguia, em definitivo, do Sporting de Lourenço Marques a carta de desobrigação de... Eusébio.
Apesar de mais algumas escorregadelas, o F. C. Porto segurou o terceiro lugar no Campeonato, mas antes ainda de ele fechar, golpe de teatro: Jorge Orth, que chegara, pouco antes, em Junho, do Peru para treinador do Sporting, rescindiu o seu leonino contrato e, sem dizer água vai, ligou- se ao F. C. Porto. Foi já nessa condição que, nas... Antas, o Leixões (com Rosas na baliza e Osvaldo Silva na linha avançada) venceu por 2-0 e ganhou a Taça de Portugal, a uma equipa portista formada por Acúrsio; Virgílio e Barbosa; Juan, Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Carlos Duarte, Hernãni, Noé, Serafim e Perdigão.

A morte de Orth e o tiro no próprio pé

Em finais de 1961, o F. C. Porto voltava a ameaçar Benfica e Sporting, na luta pelo título. Começava a falar-se da magia da «equipa Orth», mas a 11 de Janeiro de 1962, Jorge Orth morreu. Fora um dos melhores jogadores húngaros de todos os tempos. Dera o treino na parte da manhã e, ao fim da tarde, faleceu de doença súbita, em sua casa, sem que o médico do F. C. Porto, chamado de urgência pudesse fazer o que quer que fosse para o salvar. Era para além de um técnico competente, pessoa afável e educada, pelo que deixou a Invicta de luto. E em choro sentido.
A equipa continuou a jogar em memória do treinador morto. E, na 15.ª jornada, em Fevereiro, o F. C. Porto mais se iluminou de esperança, ao vencer em Alvalade, por 1-0, com golo de Azumir, a dois minutos do fim.
Em Abril, a euforia entre os portistas, não apenas devida ao empate com o Benfica, na Luz, com golo de... Azumir, mas porque, em Matosinhos, o Leixões ganhou ao Sporting, deixando portistas e sportinguistas igualados na liderança.
Oito dias depois, os portistas deram um tiro no próprio pé. Azumir desentendeu--se, durante um treino, com o reservista Vasconcelos e o F. C. Porto suspendeu-o, numa altura crucial do Campeonato e da... Taça de Portugal.
Entretanto, Benfica eliminou o F. C. Porto (ainda sem Azumir), ganhando, na Luz, por 3-1 e Virgílio não deixou de lamentar ter faltado o brio habitual aos seus colegas. E ter faltado Azumir.
De braço dado chegaram o F. C. Porto e o Sporting à última jornada. Os lisboetas jogavam com o Benfica e tinham a vantagem do goal-average. Os portistas tinham de se deslocar a Guimarães. O Sporting de Juca ganhou por 3-2, o F. C. Porto perdeu por 0-1, tendo o golo dos vimaranenses sido marcado por Augusto Silva, que no ano seguinte assinaria contrato pelo Benfica e acabaria tragicamente morto para o futebol, durante digressão pelo Chile.
Para os portistas, a consolação de Azumir ter sido o melhor marcador do Campeonato...
No dia 1 de Setembro de 1962, o F. C. Porto inaugurou a instalação eléctrica do Estádio das Antas, batendo o Atlético de Bilbau por 2-1. Dois meses antes, o húngaro Kalmar fora contratado para seu treinador, vindo de... Israel. Chegou e tratou logo de dispensar Monteiro da Costa, Teixeira, Ivan e Noé.
Na temporada de 1962/63, eliminado logo na primeira ronda da Taça das Cidades com Feira pelo Dínamo de Zagreb que ganhou nas Antas por 2-1 e empatou na Jugoslávia a zero, o F. C. Porto, depois de vencer o Benfica na Luz (com mais dois golos de Azumir) chegou a Dezembro em primeiro lugar.
Tropeção ainda em Novembro: derrota com o Sporting, nas Antas, por 1-3. O golo portista voltou a ser marcado por Azumir que recebeu a Bola de Prata antes de a partida se iniciar...
Recompuseram o passo os portistas e, em Março,depois de ganharem em Alvalade, por 1-0, golo de Serafim, colocaram outra vez sobre a mesa a sua candidatura ao título.
O Benfica não cedeu e o F. C. Porto acabou por ter de se contentar com o segundo lugar. Na Taça, o sonho terminou nos quartos-de-final, aos pés do Belenenses: 1-1 e 3-0.

1500 contos pela venda de Serafim

Perdeu no campo, ganhou na tesouraria: no final da época, Serafim transferiu- se para o Benfica, tornando-se o primeiro milionário do futebol português, investindo os proventos numa co-sociedade de construção civil com seu pai. Recebeu 1000 contos por um contrato de três anos, 50 contos de luvas, 4000 escudos de ordenado e o Benfica pagou 1500 contos ao F. C. Porto pela cedência da carta de desobrigação. Os retoques finais no acordo ocorreram em... Alvalade, antes do início da Volta a Portugal. Serafim só soube do último acto quando saia de um cinema, no Porto, por um amigo que ouvira a notícia na televisão...
Ainda em 1963, o F. C. Porto outra vez eliminado à primeira, na Taça das Cidades com Feira: 1-2 em Madrid, com o Atlético, 0-0 nas Antas...
Era o fim de Janos Kalmar. E o sonho realizou-se: Otto Glória fechava o ciclo dos quatro grandes, assinando pelo F. C. Porto. Incapaz de calar a alegria do regresso a Portugal, Otto Glória declarou: «Acho que o meu contrato é o melhor que um treinador já teve em Portugal, mas se não for não faz mal!» Não imaginava o que Guttmann estava a ganhar no Benfica...
Como era seu hábito chegou de chicote na mão. E com a obsessão do trabalho, como se do suor bondasse o sucesso. Assim, foi sem surpresa que, quase instantaneamente, aplicou no F. C. Porto métodos de (o)pressão que já aplicara no Benfica, no Sporting, no Belenenses — proibindo, entre muitas outras coisas, os jogadores solteiros (que viviam na... Casa de Concentração a tempo inteiro) e os casados (que para lá iam à sexta-feira) de jogarem «baralho ou dados» ou de utilizarem «palavras de baixo calão, vozerios ou algazarras que perturbem o silêncio, a ordem ou os princípios da boa educação». E, num gesto de abertura sempre se permitia que os jogadores solteiros que viviam na clausura da Casa da Concentração pudessem recolher-se a ela até às duas horas da madrugada a seguir aos jogos — nos outros dias quem lá não estivesse ficaria sujeito a multa que poderia ir até... metade do ordenado mensal. Os outros, os casados, eram, igualmente, obrigados a estar em casa às 23 horas e era o próprio treinador que, por vezes, ia a casa deles ver se a ordem não fora violada. Ou, então, mandava o adjunto, que funcionava, também, como polícia a tempo inteiro.

Otto multado por falta de carteira

Já com Otto Glória no comando técnico, o F. C. Porto empatou na Luz a dois golos. E tornou-se ameaça.
Teria sido por isso que, a 19 de Dezembro, por não possuir carteira profissional e exercer a profissão de treinador. Otto Glória foi multado em 200 escudos pela Inspecção do Trabalho?
No arranque para 1964, o Benfica estava só a dois pontos do F. C. Porto. O sonho manteve-se quente quando, a 6 de Janeiro, com Nóbrega desconcertante, o F. C. Porto venceu o Sporting, por 2-1. Foi baixa a receita de bilheteira, 369 contos, mas alto o prémio para os portistas: três contos. Otto Glória não esfriou o optimismo, mas não deixou de ficar com os pés bem assentes no chão: «Somos candidatos ao título, mas continuamos os menos cotados dos candidatos. se nos derem uma chance...».
A 19 de Janeiro, talvez o F. C. Porto tenha hipotecado, definitivamente, as suas aspirações, ao perder, no Barreiro, com a CUF, por 0-1, com um golo- explosão de Mário João, a dois minutos do fim...
Antes de defrontar o Benfica, novo empate, em Olhão (1-1), pelo que a desvantagem em relação ao líder era já de cinco pontos
No último domingo de Fevereiro o Benfica partiu para as Antas com esse confortável avanço. Entrou lá com um cão de carne e osso como mascote, ninguém soube bem porquê — e saiu muito mais descansado. O empate, a um golo, serviu- lhe, obviamente, muito mais do que ao F. C. Porto, apesar de Américo, o seu (novo) guarda-redes, garantir que ainda não seria daquela que virariam as costas ao Campeonato. Se ganhassem os portistas teriam recebido 2500 escudos de prémio e ficariam a três pontos do Benfica à 19.ª jornada, assim...
O segundo lugar voltou a ser a consolação possível.

O avião que falhou e o desespero de Otto

Em Junho, o F. C. Porto não disputou as meias-finais da Taça de Portugal com o Lusitânia por o avião não ter chegado a tempo a Angra do Heroísmo. O árbitro marcou falta de comparência. Os portistas protestaram. Dado provimento ao protesto, como sinal de contestação, os açorianos desistiram e ao F. C. Porto coube defrontar o Benfica na final.
Aos 11 minutos de jogo já o Benfica vencia por 2-0, com golos de José Augusto, o primeiro muito contestado pelos portistas, a ponto de jurarem todos que o fiscal de linha assinalou irregularidade que o árbitro desprezou. Aos 16 minutos, Custódio Pinto reduziu. À meia hora penalty contra o F. C. Porto, sururu, Jaime expulso recusou-se a abandonar o campo, o juiz da partida não se fez rogado, mandou chamar a polícia em seu auxílio! Eusébio cobrou e o F. C. Porto caiu...
Otto, treinador do F. C. Porto, não se conformou, assentando as farpas da sua revolta em Rosa Nunes, com um discurso que ganharia seguidores: «O árbitro anulou todo o esforço de uma região.»
O F. C. Porto alinhou com Américo; Festa e Joaquim Jorge; Baptista, Almeida e Paulo; Jaime, Hernâni, Azumir, Custódio Pinto e Nóbrega...
in«abola»
 

jsm

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29 Abril 2007
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Apesar de tudo é bom recordar esse artilheiro que passou pelo nosso Porto, o grande Azumir tão injustamente esquecido!Também o Américo, o Pinto e o Festa (Magriços de 66) mais o Nobrega, o Joaquim Jorge, o Jaime e tantos outros...
 
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hast

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Com o médico de Miguel Torga

Com o F. C. Porto à beira da ruína e um passivo de 11 mil contos, em 1965, abalaram-se estruturas e consciências depois de estranhos jogos de bastidores

Em 1965, o F. C. Porto ensarilhou-se em profunda crise directiva. Envolto em nuvens pesadas. Nascimento Cordeiro presidia à Direcção, mas como o clube continuava ilaqueado por laços de desgraça. Uma denominada «Comissão dos Dez», composta por Cesário Bonito, Elói da Silva, Miguel Pereira, Ivo de Araújo, Henrique Fabião, Afonso Pinto de Magalhães, Mário de Castro, Afonso Silva, José Vale e Ponciano Serrano, tentou resgatá-lo da miséria em que se afundara. Não era, sequer, um golpe palaciano, era uma atitude assumida claramente de evitar que o clube continuasse a esbandalhar-se. Mas, sentindo-se desautorizada por manobras de bastidores, acabaria por arrepiar caminho. Surgiu, então, uma outra comissão de... oposição, que em eleições preparadas à pressa para se sufragar a si própria, obteve apenas 66 votos em 20 mil associados que o F. C. Porto então possuía. Desolador. A crise mais se acentuou.
Novas manobras se seguiram, havendo quem, temendo que o F. C. Porto escabujasse, irremediavelmente, no lodo do pântano em que até o próprio futuro se poderia perder, demovesse Cesário Bonito, Ponciano Serrano e Afonso Pinto de Magalhães, que, assim, em espírito de missão, assumiram o desafio a que antes se tinham proposto. Em Abril, tomaram posse, respectivamente como presidentes da Direcção, da Assembleia Geral e do Conselho Fiscal. Não muito depois, surpreendidos ficaram com a herança que Nascimento Cordeiro lhes deixara. Não se deixaram abater por qualquer amargor de pessimismo, mas... As disponibilidades de tesouraria eram nulas, as letras protestadas avolumavam-se nos bancos, não se pagavam salários havia vários meses. Mas todas essas iniciais dificuldades financeiras foram vencidas, graças ao crédito dos banqueiros Pinto de Magalhães.
Foi com esse pano de fundo que o F. C. Porto terminou o Campeonato da I Divisão, em segundo lugar, a seis pontos do Benfica, que somou 43 — e mais dois que a CUF, mais três que a Académica e mais quatro que o Sporting, utilizando ao longo da campanha os seguintes futebolistas: Américo, Festa, Joaquim Jorge, Rolando, Almeida, Paula, Jaime, Valdir, Carlos Baptista, Nóbrega, Rui, Artur Jorge, Atraca, Carlos Manuel e Naftal.
Assim, mais talvez fosse impossível...
Melhores ventos ainda nos desportos de mão. No voleibol, o F. C. Porto conquistou pela primeira vez no seu historial o título de campeão nacional, contando com Manuel Puga, Austrelino Lamas, José Martins, Eduardo Monterroso, Fernando Rodrigues, Artur Osório, Carlos Sousa, Jorge Lopes, José Feio, José Passos, José Coutinho, Manuel Pinho e Rui Gonçalves — e no andebol manteve a hegemonia, ganhando tudo.

Talvez o futuro médico tratasse da doença...

Um mês após tomar posse, Cesário Bonito correu a remodelar a equipa e contratando, em Julho, o avançado Manuel António, que ao serviço da Académica fora o terceiro melhor marcador do Campeonato que findara. Para que o negócio se fizesse o F. C. Porto desembolsou 800 contos. Nascera em Santo Tirso, fora para a Académica para que pudesse tirar o curso de Medicina, que era, mais do que o futebol, o sonho crepitante do pai, dono de uma mercearia na Rua da Indústria. Apesar da aposta nas Antas, não deixou os livros na prateleira. Antes pelo contrário. Todos os tempos livres, nos estágios ou nas... viagens eram gastos no estudo, levando sempre na bagagem os grossos calhamaços que haveriam de fazer dele médico famosíssimo, de tal forma que, trinta anos depois, seria, como Director do Serviço de Oncologia do Hospital da Universidade de Coimbra, o médico assistente de Miguel Torga, de quem acabaria por ouvir algumas das suas últimas palavras.
 
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Um pequeno resumo da época 1964/65

Agosto
2 — O F. C. Porto conquistou o título de campeão nacional em andebol pela sétima vez.
— No voleibol o título de campeão nacional foi para o Leixões.

Outubro
2 —No jogo da Taça de Portugal, nas Antas (que terminou com uma igualdade: 1-1), o facto insólito foi a expulsão de Eusébio (38 m) por ter mudado a colocação do esférico. Foi a primeira expulsão do «pérola negra» na categoria principal, pois tal já havia acontecido em reservas no confronto ante o Barreirense. Refira-se ainda que o moçambicano havia sido o autor do golo inaugural (5 m) e o juiz que o mandou para as cabinas mais cedo foi Porfírio da Silva, de Aveiro. O F. C. Porto, no entanto, venceu a eliminatória por 5-2, no total, e Eusébio acabou, então, por ser suspenso por um jogo.
25 — Sporting e F. C. Porto empataram (1-1) para o «Nacional», tendo os portistas alcançado a igualdade no último minuto. Igual desfecho foi obtido pelo Benfica em Leixões (1-1), sendo o golo encarnado da autoria de José Torres.

Novembro
15 — No Portugal-Espanha, realizado nas Antas, a vitória (2-1) pertenceu à equipa das quinas e foi a terceira obtida frente aos «nuestros hermanos». Eusébio rubricou os dois tentos. Foi a estreia (admirável) de um miúdo chamado Nóbrega.
22 — Na 6.ª jornada do «Nacional» a Académica foi até às Antas desfeitear o F. C. Porto (1-2), proporcionando a sensação da ronda. Um dia memorável para os conimbricenses, mas para um especialmente: foi o dia do regresso à camisola negra de Jorge Humberto. Otto Glória resignou-se: «A Académica ganhou bem.»
29 — Para o «Nacional», o Benfica foi ao Restelo e mimoseou os azuis com 6-0, enquanto o Sporting perdeu em Alvalade (1-3) com o V. Guimarães e o F. C. Porto não foi mais feliz e perdeu em Braga por 2-0.

Dezembro
6 — Para o «Nacional»: F. C. Porto, 2-Belenenses, 0; Lusitano, 1-Sporting, 1; Benfica, 6-Torreense, 0. À 8.ª jornada o Benfica era guia isolado com 13 pontos e só nos últimos três jogos havia conseguido o impressionante score de 19-0! Entretanto, em Inglaterra era considerado a segunda melhor equipa do Mundo, depois do Real Madrid e à frente do... Santos de Pelé. E Eusébio estava no lote dos cinco melhores jogadores do Mundo, segundo escolha de Kenneth Wolstenholm, no «Grande Livro do Futebol Mundial», ao lado do inglês Greaves, do italiano Rivera, do belga Van Himst e, obviamente, de Pelé.
13 — Na 9.ª jornada do «Nacional», primeira vitória do Torreense frente ao Sporting e logo por 3-0. Nas oito anteriores jornadas tinham marcado apenas dois golos. Na Luz, Benfica, 4-F. C. Porto, 0 e os encarnados pareciam imparáveis, tendo nas últimas jornadas marcado 28 golos e sofrido zero!
16 — Para a Taça das Taças, o Sporting perdeu (1-2) em Cardiff e o F. C. Porto foi a Munique obter um empate (1-1).
27 — Ao dobrar o ano o Benfica (vencedor do V. Setúbal por 3-2, na Luz) seguia isolado à cabeça da tabela com 19 pontos, em 11 jogos. O Sporting, já com Carlitos e... Juca, foi ganhar (1-0) à Cuf e a Académica (no segundo lugar, a quatro pontos dos benfiquistas) superou o Lusitano por 3-0. O Guimarães estava em terceiro lugar, com 14 pontos, o Belenenses e a Cuf, com 13, partilhavam o quarto, o F. C. Porto era sexto, com 12 pontos, o Sporting nono, com 11 pontos em 11 jornadas!

1965

Janeiro
3 — A Académica começou o ano da melhor maneira pois, na 12.ª jornada do «Nacional» maior, desceu até Alvalade e, perante uma multidão de admiradores, montou cátedra e deu autêntica lição na arte de jogar à bola, vencendo o Sporting por 4-2, dando-se ao desplante de marcar três golos na primeira meia hora da partida! E o feito apenas serviu para confirmar o segundo lugar dos estudantes na tabela classificativa. O mentor da proeza e técnico da turma da Lusa Atenas foi Mário Wilson. O desfecho até provocou uma reunião de emergência da Direcção do Sporting, a poucos dias de uma deslocação a Sevilha para a participação na festa de homenagem ao guarda-redes sevilhano, José Maria Busto. Outros resultados da mesma ronda: V. Setúbal, 0-F. C. Porto, 1; Seixal, 0-Benfica, 4.
13 — A contar para o Torneio Internacional Militar, defrontaram-se as selecções de Portugal e da Grécia, no Restelo, tendo os recrutas lusitanos ganho por 4-0, em que o soldado 1987/63, que dá pelo nome de Eusébio, obteve três tentos. O nosso onze, porém, era quase, quase, a selecção «A».
14 — O Lusitano de Évora foi o protagonista da 14.ª jornada do «Nacional» no impor, na Cidade-Museu, o primeiro zero à turma da Luz. Outros desfechos: Belenenses, 1-Sporting, 2; Académica, 1-Cuf, 2; F. C. Porto, 4-V. Guimarães, 2.
24 — Na eliminatória para o «Mundial-66» (de tão boa memória para todos nós), a selecção de Portugal teve começo fácil e entrada de leão com 5-1 à Turquia (três golos de Eusébio, um de Coluna e um de Jaime Graça). Foi o primeiro passo para a escalada de Inglaterra. Para este jogo realizado no Jamor foram vendidos 33.650 bilhetes, que proporcionaram a receita (bruta) de 655.960$00.
31 — Com um Estádio de Alvalade a abarrotar, o Sporting, em fase de recuperação do prestígio que se havia esfumado e passara de armas e bagagens para o seu rival de sempre, o Benfica, entrou no jogo com os benfiquistas cheio de fúria e ainda os espectadores esfregavam os olhos quando o activo foi aberto por Carlitos, esse mesmo moçambicano que meses a fio fora o leitmotiv de uma grande novela que alimentou a maior polémica em torno da transferência de um jogador, envolvendo o Belenenses e todas as instâncias superiores do futebol indígena. Autores dos restantes tentos, por esta ordem: Eusébio, José Augusto e Lourenço. Uma curiosidade: verificaram-se sete estreias neste género de derbies e Peridis trocou de camisola, alinhando pelo Benfica depois de por quatro vezes ter defrontado os encarnados com o jersey dos leões. O inverso aconteceu com o guardião Barroca, que esteve nas redes do Sporting depois de vários anos ao serviço do Benfica. Com a lotação esgotada, a receita ascendeu a 770 contos. Schwartz, técnico do Benfica, lamentou-se: «A ganhar por 2-1, a minha equipa tinha a obrigação de guardar o resultado, mas faltou cabeça na linha defensiva.» Anselmo Fernandez, orientador técnico do Sporting, rejubilou: «Milhares de pessoas viram que já somos tão bons como a categorizada equipa do Benfica e só não se viu mais ainda porque o árbitro foi incompetente ou infeliz...» Ao cabo, o embate traduziu apenas a luta renhida entre o primeiro e o sexto classificados, numa jornada em que a Académica continuou na crista da onda, com vitória por 3-0, em Torres Vedras, e o F. C. Porto, com mais três golos de Valdir, se manteve goleador, em Évora: 5-2 ao Lusitano.

Fevereiro
7 — Na 16.ª ronda do «Nacional» a surpresa maior foi protagonizada pelo Sporting, que foi às Antas arrancar um triunfo por 3-1, em que a grande figura do encontro foi Osvaldo Silva, autor até do tento inaugural da contenda. No rescaldo, o velho técnico José Sezabo: «A minha equipa cumpriu e o Porto não finaliza.» Para a mesma ronda: Benfica, 5-Leixões, 0; Sp. Braga, 2-Académica, 3; Belenenses, 1-Cuf, 2.
Março
7 — Alguns resultados da 20.ª jornada do «Nacional»: Benfica, 3-Belenenses, 2; V. Guimarães, 2-Sporting, 2; F. C. Porto, 1-Sp. Braga, 1.
21 — Depois de eliminar o Real Madrid, o Benfica, para dar cumprimento à 22.ª jornada, teve de deslocar-se às Antas e sucumbiu por 1-0, com um tento de autoria de Naftal, um jovem moçambicano lançado entretanto por Otto Glória.

Abril
1 — Os drs. Cesário Bonito e Ponciano Serrano comprometeram-se a assumir os cargos de presidentes da Direcção e da Assembleia Geral, respectivamente, solucionando a sucessão directiva do F. C. Porto.
4 — Prosseguiu o «Nacional» da I Divisão (24.ª jornada), tendo o Benfica vencido em Setúbal (por 1-2) enquanto o Sporting cedeu uma igualdade (0-0) à Cuf e o F. C. Porto perdeu na Póvoa de Varzim (2-0).
Maio
9 — Terminou o «Nacional» da I Divisão com a realização da 26.ª jornada. Principais desfechos: V. Guimarães, 1-Benfica, 2; Lusitano, 1-Belenenses, 5; Sporting, 3-Sp. Braga, 1; Seixal, 1-F. C. Porto, 2. O Benfica sagrou-se campeão pela 3.ª vez consecutiva, totalizando 43 pontos, ficando nos lugares imediatos: F. C. Porto (37), Cuf (35), Académica (34) e Sporting (32). Eusébio foi o melhor marcador, com 28 golos, perseguido por José Torres (23) e Manuel António, da Académica (21).

Junho
13 — Na rota do «Mundial», Portugal realizou, no Estádio Nacional, quarto jogo e obteve a sua quarta vitória frente à Roménia (2-1). Ambos os tentos portugueses, como de costume, pertenceram a Eusébio.
24 — A grande festa joanina na Cidade Invicta foi recheada com um sempre desejado Portugal-Brasil, com ambas as selecções em rodagem para o «Mundial» de Inglaterra. Para contentar todos o desfecho saldou-se por um nulo (0-0).

Julho
7 — O avançado Manuel António (o terceiro melhor marcador do Campeonato) transferiu-se da Académica para o F. C. Porto e o negócio envolveu 800 contos de luvas.
Agosto
8 — No voleibol, o Sporting de Espinho conquistou o título de campeão nacional (quinto troféu em nove anos!).
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Árbitros do Sporting e os 20 contos

Cada jogador portista tinha promessa de 20 contos em envelopezinhos enviados da Luz, mas árbitros que não comiam quando o Sporting perdia desfizeram-se as ilusões

Otto Glória não conseguiu impor a sua magia no F. C. Porto. Entre 1963 e 1965, a consolação de dois segundos lugares — e pouco mais. Por isso, foi sem surpresa que, a 16 de Junho de 1965, Cesário Bonito escolheu para treinador portista o... seleccionador nacional do Brasil, Flávio Costa, que já passara (igualmente sem êxito) pelas Antas. Poderia ser que refulgisse à segunda. Para tal contaria com um lote de jogadores formado por Américo, Festa, Atraca, Pavão, Almeida, Alípio, Jaime, Naftal, Manuel António, Nóbrega, Valdemar, Rolando, Paula, Bernardo da Velha, Sucena, Ernesto e Amaury.
Amaury era a estrela da companhia, fora contratado ao Flamengo por 108 milhões de cruzeiros (cerca de 1960 contos) em luta directa com o Santos de Pelé, depois de ter passado pela selecção do Brasil com algum brilho. Era, pois, uma espécie de jóia de coroa...
Em Novembro de 1965, depois de eliminar o Stade Français, empatando em Paris (0-0) e ganhando nas Antas (1-0, com golo de Manuel António), o F. C. Porto hipotecou o sonho na Taça das Feiras, sendo sobrepujado em Hannover pelo Hannover 96: 0-5 — de nada valendo a vitória nas Antas, por 2-1, com mais um golo de Manuel António e outro de Custódio Pinto.
Nos primeiros dias de 1966, procurou a Direcção do F. C. Porto facilitar o aumento da sua massa associativa, promovendo, por exemplo, a readmissão de sócios sem o pagamento de jóia-multa de 200 escudos e das quotas em atraso. Só que, por essa altura, os seus dirigentes andavan já de afogadilho, em batalhação contra o pesado legado que Nascimento Cordeiro lhes deixara. O clube fora, nesse comenos, notificado judicialmente a pagar a dívida da electrificação do Estádio, que acrescidas as moras se aproximava já dos mil contos. Mal se sabia que ainda mais ínvio processo entrara no tribunal...
Por vezes, mexer no passado é como agitar águas mortas. Em que, pelo menos, tudo se turva. O F. C. Porto estava enviscado a mágoas que se aqueciam na angústia de sentir os cofres vazios e as dívidas a galopar. Foi assim, quase em tom de desespero, que um dos seus dirigentes, Moura da Costa desvendou a herança pesada de Nascimento Cordeiro: «Na altura da sua saída, o panorama da posição das finanças do F. C. Porto foi divulgado como nítido, sólido, indiscutível e convincente. Mas quando vimos as contas, duvidámos do que os nossos olhos viam e da nossa capacidade de observação. Em 31 de Março de 1960, letras a pagar eram no valor de 3104 contos e a conta de Devedores e Credores cifrava-se em 278 contos. Quando Nascimento Cordeiro saiu, as letras a pagar totalizavam 3.208 contos e a verba de Devedores e Credores era de 2088 contos, isto é mais dois mil contos de dívidas do que no início da sua gerência.»
Mais periclitante ainda: Em 31 de Dezembro de 1959 o passivo exigível era de 6100 contos. Após a gerência de Nascimento Cordeiro galgou de 8136, em 1960, para 11 mil contos em 1965. Pelo que o F. C. Porto estava, mais do que tecnicamente falido, à beira da bancarrota.
Sabe-se bem que as finanças nunca deixam de influenciar os resultados do futebol. A falta de dinheiro é postema que rebenta, mais cedo ou mais tarde — aniquilando as forças da resistência, as forças do orgulho, estimulando a busca de bodes expiatórios para que a catarse seja menos dolorosa. A 15 de Abril, Flávio Costa bateu com a porta. Com a equipa de futebol quase a bater no fundo. Na despedida, lançou vitupérios aos pupilos que deixara, não lhes reconhecendo valor para fazer mais do que haviam feito sempre em sol menor. «Amaury toca violino e os outros... tambor». Como mais vale que se vão os anéis e fiquem os dedos, o F. C. Porto tentou vender Amaury ao Vasco da Gama, por 2500 contos. De São Januário disseram não, mas o Santos de Pelé entrou na corrida...

Vender Amaury por 2400 contos

O F. C. Porto foi, entretanto, eliminado pelo Sporting (em terceiro jogo), nos quartos-de-final da Taça de Portugal e a 11 de Maio, acertaram-se, enfim, os pormenores da transferência de Amaury para o Santos, recebendo o F. C. Porto 2400 contos. Um grande negócio para a Direcção de Cesário Bonito, que passara por época de agruras várias.
O laço que se ilaqueara na garganta ficava assim um pouco mais solto...
No Campeonato, os portistas jogavam já para que a honra não se espolinhasse de todo e na ânsia de que por fora pudessem receber mais alguns envelopezinhos que atenuassem os ordenados que se chegavam nunca chegavam a horas. O Sporting e o Benfica estavam em luta apertada pelo título e os portistas tinham de jogar em Alvalade. Era uma esperança quente para os benfiquistas, que mandaram dizer que ofereceriam 20 contos a cada jogador do F. C. Porto se batessem o Sporting.

Árbitro que não comia quando o Sporting perdia...

De pouco serviu o canto de sereia. Os sportinguistas venceram por 4-0, podendo assim viajar para a Póvoa com um ponto de vantagem sobre o Benfica e com sete golos à maior. Os portistas queixaram-se de o árbitro se ter conchavado com os leões — e pior do que isso de ter agido deliberadamente para prejudicar e humilhar o F. C. Porto. O Sporting abriu o activo aos 38 minutos, por intermédio de Oliveira Duarte, mas esse golo sugeriu protestos efusivos dos portistas, sobretudo de Américo, que se queixou de ter sido carregado e impossibilitado de defender uma recarga, acabando expulso e substituido na baliza pelo avançado Carlos Manuel. Espumejando rancor, disse o guarda-redes portista do homem do apito: «o árbitro, para me expulsar, teria de expulsar toda a equipa. Todos protestámos e todos sem falta de respeito». Mas mais desconcertantes revelações estavam para chegar...
Virgílio, o «Leão de Génova», quer assumira as funções de treinador do F. C. Porto após o abandono de Flávio Costa, com lágrimas de revolta rorejando-lhe os olhos, aventou: «João Calado foi atleta do Ferroviário do Entroncamento quando eu também lá estava. Éramos colegas de equipa e de trabalho nas oficinas dos vagões da CP. Sei bem que ele é sportinguista de sete costados. A expulsão de Américo deveu-se apenas a um facto: ser jogador-chave da equipa. E, depois de tudo o que aconteceu no primeiro golo e com a expulsão de Américo, o segundo foi obtido em claríssima posição de ‘off-side’.»
Américo acabaria por ser suspenso por oito jogos, por, no seu relatório, o árbitro ter escrito que fora injuriado e empurrado pelo guarda-redes do F. C. Porto. O caso arrastar-se-ia semanas a fio, com denúnicas e defesas, algumas delas insólitas, exposições e pedidos de irradiações. A Direcção do F. C. Porto, entrando na liça, de orgulho ferido, enviou à Comissão Central de Árbitros uma exposição longa, prorrompendo em denúncias que se poderiam sintetizar assim: «o fiscal de linha de Calado não come quando o Sporting perde» — e solicitava acção firme e imediata «por um futebol melhor e punição exemplar para um trio de arbitragem que se revelou faccioso, incompetente e sem autoridade».
Apesar de todas as turbulências e das embróminas dentro e fora das Antas, o F. C. Porto classificou-se em terceiro lugar no Campeonato de 1965/66, com 34 pontos, menos oito do que o Sporting e menos sete do que o Benfica.
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Cordeiro disfarçado de lobo mau

Nascimento Cordeiro lançou o nome do F. C. Porto para o lado, fazendo com que os tribunais lhe penhorassem bens no valor de 1994 contos

Eram torvos, de tempestade, os ventos. E o nome do F. C. Porto cuspido de insídias. Porque um homem que o servira, em pessoal ajuste de contas, decidiu processar judicialmente o clube, acusando-o de caloteiro! Em vão tinham sido todas as tentativas para que o caso não caísse na praça pública. Assim, em Junho de 1966 foram penhorados bens no valor de 1994 contos, exactamente a dívida reclamada pelo ex-presidente Nascimento Cordeiro.
Para se tentar encontrar solução que não obumbrasse mais o bom nome do F. C. Porto, convocou-se Assembleia Geral para o ginásio das Antas. Antes sequer do início dos trabalhos, centenas de vozes tumultuavam, rosnando insultos e dictérios a Nascimento Cordeiro, por ter lançado o clube para a lama, ultrajando-o. Pressentia-se, pois, no que daria a reunião. Depois de desenrolados os ataques, de se exigir a imediata expulsão de sócio de Nascimento Cordeiro, tentou-se, enfim, solução para o caso. Desenvolvendo sugestão de João Silva, associado que por se encontrar doente mandou as suas sugestões por carta, Fernando Cabral (que muitos anos depois haveria de ser presidente da Câmara do Porto) aventou: «O F. C. Porto é nosso. A verba destinada à sede do clube deve servir para pagar imediatamente a dívida. Não interessa a sede, se o nome do clube andar pelas ruas da amargura. Quero que o F. C. Porto não tenha vergonha de existir. Portanto, é indispensável que paguemos antes de mais nada, antes de tomarmos qualquer atitude. Os dinheiros que temos recolhido para a construção da sede elevam-se a 600 contos. Se lhe juntarmos os 500 contos da subscrição orientada pela Assembleia Delegada teremos um total de 1100 contos. Quer isto dizer que faltam 800 contos, mais escudo, menos escudo, para que seja satisfeita a dívida...»
Assim se faria. Mas para além da aplicação dessas verbas, os sócios foram pagando em todos os jogos mais cinco escudos de quota, mais 20 escudos por cada bilhete de bancada e mais 10 escudos pelos demais — para que todo o montante arrecadado fosse aplicado na amortização da dívida de Nascimento Cordeiro, de quem se ficara já a saber que não aceitara a proposta da Direcção de Cesário Bonito para o pagamento mais suave e sem processo judicial do valor devido por mera «vingança pessoal» pela acção da Comissão do Dez que impedira que os destinos do F. C. Porto fossem entregues a gente da sua confiança. E mais: que fora responsável, por negligência, do desaparecimento de 33 taças, 8 quadros, 3 medalhas, 7 galhardetes e 18 outros objectos diversos que tinham sido expostos no pavilhão que o F. C. Porto abrira, na Feira Popular — e que assim não puderam ser colocados na sala-museu que Afonso Pinto de Magalhães estava organizando com especial empenho e muito mais fervor.
Nesse comenos, o F. C. Porto tinha já 20.975 associados — e durante todo o ano de 1966 reforçou os índices de actividade desportiva de tal modo que, com algum orgulho, se revelaram dados curiosos a atestá-lo. Como, por exemplo, que a sapataria do F. C. Porto executou 156 pares de botas, assentou 13.738 pitons, 3792 travessas e 798 bicos e que gastou 1697 metros de cordão, 37 kg de pregos, 302 caixas de pomada na limpeza de 10.192 botas. Ou que a lavandaria tratou 49.203 camisolas, 49.549 calções, 20.656 trousses, 15.656 meias, 34.728 peúgas, 53.676 toalhas, 4087 fatos, 787 blusões. Ou ainda que a secção de costura confeccionou 103 fatos de treinos, 548 calções, 380 toalhas, 110 bonés, 176 sacos, uma bata para massagista, 11 bandeiras, tendo ainda reparado 2411 camiolas, 1310 calções, 747 fatos, 309 blusões, 3797 peúgas, 2443 meias, 841 trousses e 498 toalhas.
Com esse tipo de trabalho estimou-se uma poupança anual de cerca de 50 contos, segundo o relatório da respectiva gerência.
No final de 1966, a notícia de que o F. C. Porto reduzira já a 700 contos a dívida a Nascimento Cordeiro. E, no relatório de 1966, sinais de que o clube redescobrira, de facto, o ânimo, a vontade de vencer ventos e marés, mercê da força de dirigentes que não se tinham deixado escurentar pelos fumos da desconfiança ou agrilhoar pelos empeços da inanidade: «Não foi ainda infelizmente possível estabelecer este ano o almejado equilíbrio entre as receitas e as despesas. É um prejuízo da ordem dos 1700 contos e a que realmente urge pôr um travão, doutro modo as consequências serão imprevisíveis e poderá chegar o momento em que ninguém tenha coragem a abalançar uma nau que se afunda lenta e progressivamente. Esta Direcção pretende lutar contra isso tanto quanto possível — mas como que por castigo que julgamos imerecido, recaíram sobre a nossa gerência encargos que vinham de trás e que foi necessário honrar. Assim, só com processos de indemnização aos antigos treinadores Otto Bumbel e Kalmar despenderam-se 452 contos (246 com o primeiro e 206 com o segundo caso). Houve ainda que liquidar as verbas resultantes do processo movido pelo senhor José Maria do Nascimento Cordeiro ao nosso clube, no montante de 2088 contos, dos quais 136 contos dizem respeito a juros e custas, bem como 696 contos relativos à electrificação do estádio. Não obstante todos esses tremendos embaraços financeiros ainda foi possível valorizar sobremaneira o património do clube.» Nessa aspecto, a Direcção de Cesário Bonito realçava «os 652 contos gastos com a cobertura metálica da bancada, os 223 contos com o fecho dos camarotes, os 110 contos com as garagens do estádio, os 128 contos com o equipamento de rega por aspersão, os 40 contos para a abertura de um poço para a captação de água, os 190 contos com a compra de um autocarro, os 95 contos com a compra de uma carrinha Peugeot.»
Num opúsculo sobre os cinco anos do consulado de Cesário Bonito e Afonso Pinto de Magalhães, o jornalista Rodrigues Teles haveria de escrever: «De olhos postos no futuro, visto que muita coisa estava por fazer, e sem isso nunca seria possível progredir, procurou a Direcção do F. C. Porto ir ao encontro das necessidades principais. A água para as piscinas, para as regas dos dois relvados, para o abastecimento dos balneários, precaríssima. Era preciso um grande poço. Construiu-se com absoluto êxito. Os autos que prestavam serviços ao clube tinham de utilizar garagens estranhas, mas a Direcção de Afonso Pinto de Magalhães não hesitou: construiu por baixo das bancadas do topo norte duas garagens. As regas dos dois relvados constituíam também problema inadiável, mas a Direcção obteve uma instalação de rega automática.»
 
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Adeus à UEFA por ingrata moeda

Como que em conjugação de glórias, Pedroto escolheu Hernâni para trabalhar consigo. Na Luz, um polícia entrou no balneário para o prender mas ele já lá não estava...

Foi com dinheiro do banqueiro que o F. C. Porto contratou o brasileiro Djalma, que brilhara na temporada anterior ao serviço do Vitória de Guimarães, que ficaria a receber 50 contos de ordenado anual.
Um ponta-de-lança não bastava para a revolução que se sonhava, para que o clube se lançasse outra vez em voo fáustico. Era preciso um revolucionário, alguém que com o seu coração e o seu talento evitasse que o F. C. Porto continuasse a detrair-se pelos campos de futebol do país. Esse homem poderia ser José Maria Pedroto. Por isso e para isso o contrataram, oferecendo-lhe um prémio de 100 contos pela conquista do Campeonato, 500 contos de luvas e um ordenado mensal de 20 contos, nada que se comparasse, por exemplo, ao que o Nápoli oferecera a Otto Glória: 1800 contos pela assinatura anual de contrato, 50 contos por mês, automóvel de luxo e mansão no bairro mais chique de Nápoles, mas ainda assim...
Para além da espinhosa missão, que mais parecia um dos «12 trabalhos de Hércules», Pedroto recebeu plantel onde nem sequer havia diamantes para lapidar ou pérolas para descobrir: Américo, Rui, Carlos Manuel, Rolando, Sucena, Carlos Baptista, Pavão, Jaime, Djalma, Pinto, Nóbrega, Valdemar, Atraca, Ernesto, Festa, Bernardo da Velha, Gomes, Manuel António e Malagueta.

Pinto comia meio quilo de açúcar

Já com Pedroto como treinador, o F. C. Porto arrancou para o Campeonato de 1966/67 com uma vitória clara na Póvoa e oito dias depois, a 25 de Setembro, os portistas bateram o Sporting, por 1-0, mercê de um golo de Carlos Baptista. Pedroto condescendeu, num gesto de fair play: «Não vi o verdadeiro Sporting.» Custódio Pinto, «capitão» portista que, como os seus colegas recebeu três contos de prémio pela vitória, revelou que, após o regresso do «Mundial» de Inglaterra, lhe fora diagnosticada hipoglicémia, pelo que o Departamento Médico o aconselhou a comer meio quilo de açucar por dia. Foi o que fez antes do jogo. Depois, ele, biliar, atirou: «Já perseguem o F. C. Porto só porque ganhámos dois jogos»...

Em Bordéus, moeda de azar...

Depois de uma derrota na Tapadinha (que rendeu aos alcantarenses não os 450 escudos da tabela, mas mil escudos de prémio), a 5 de Outubro, o F. C. Porto foi eliminado pelo Bordéus por... moeda ao ar. Após prolongamento, manteve-se o resultado de 2-1 e o árbitro decidiu fazer desempate por... sorteio. Coube a sorte aos Girondinos. Pedroto queixou-se do árbitro e dos insondáveis fados que lançam as notas da desgraça: «Os nossos jogadores foram verdadeiros heróis, só vencidos pelos caprichos da sorte. Além de tudo o mais, a moeda, no primeiro lançamento, ficou enterrada no terreno, mas com tendência para cair para o nosso lado. O árbitro voltou a lançá-la ao ar e favoreceu os franceses. Parecia malapata. O juiz não teve pulso, deveria ter expulso vários jogadores franceses, aquilo chegou a parecer circo romano e, ainda por cima, negou-nos duas grandes penalidades sobre Djalma».
Se tivessem vencido a eliminatória, os jogadores do F. C. Porto teriam recebido, cada um, três mil escudos de prémio.
De súbito, torvaram-se os ventos. Derrota em Braga (0-2) e, em finais de Novembro, desaire ainda mais doloroso, na Luz: 0-3, com o Benfica.

Vinho verde em Vale de Lobos e o polícia à cata de Hernâni

Os portistas estagiaram em Vale de Lobos e beberam vinho verde. Mas, no campo, entornou-se a taça da decência e houve escaramuças e protérvias várias. Pavão, que se tornara já, a coqueluche de Pedroto, foi expulso e Custódio Pinto, o «capitão» portista, queixou-se de o F. C. Porto ter sido espezinhado pelas grosserias de sátrapa vestido de preto, atirando em jeito de síntese da sua mágoa: «O árbitro, Samuel Abreu, foi o Eusébio do jogo».
Ao intervalo, o juiz de partida solicitou a um polícia de serviço que o acompanhasse à cabina do F. C. Porto para identificar o delegado ao jogo, que mais não era do que Hernâni, que como Pedroto fora campeão nacional com Yustrich e Béla Guttmann e que o treinador impusera como seu chefe de Departamento de futebol. Lá foi o sub-chefe, perguntando pelo sr. Hernâni, mas em vão. Quis, então, o agente identificar todos os presentes. Fazê-lo significaria atrasar o reatamento da partida. Estava disposto a fazê-lo, quando, enfim, lhe disseram que o homem que a polícia procurava deixara já o Estádio da Luz, correndo para Santa Apolónia, para apanhar o primeiro comboio para Águeda, livrando-se, assim, de sair sob prisão, a caminho do Governo Civil, que era o que Samuel Abreu, destrambelhadamente, queria.
Quatro dias depois, na sequência do relatório de Samuel Abreu, a FPF decidiu suspender por um ano o dirigente do F. C. Porto, Hernâni Ferreira da Silva, «por ameaças, por gestos e palavras ao árbitro». Continuava o tempo das penas exemplares, sobretudo quando na berlinda estavam jogadores ou dirigentes do F. C. Porto.
Nos primeiros meses de 1967, Cesário Bonito decidiu oferecer a presidência do F. C. Porto a Afonso Pinto de Magalhães, passando a ocupar o cargo de presidente do Conselho Fiscal. Na presidência da Assembleia Geral manteve-se Ponciano Serrano. Apesar da permuta de cargos, o poder mantinha-se na tríade que resultara da «Comissão dos 10» dois anos antes.
Por essa altura, o F. C. Porto recebeu 200 contos da FPF, verba que lhe coube da repartição de 7400 contos de lucro pela campanha de «Os Magriços», em Inglaterra, por ter contribuido com três jogadores para a selecção de Otto Glória: Festa, Américo e Custódio Pinto. Festa que era o que parecia mais perto do fastígio acabou por ser traído pelo destino, sofrendo lesão grave que o afastou dos campos durante quase toda a temporada, sendo substituido no lugar de defesa direito por Sucena. Sem o saber, tinha a carreira (que tanto prometia ainda) praticamente esfarelada.
Apesar desses e de mais alguns percalços, apesar de Pedroto continuar, sobretudo, a apostar na formação de uma «nova equipa», o F. C. Porto classificou-se em terceiro lugar, no Nacional de 1966/67, com 39 pontos, menos um do que a Académica e menos quatro do que o Benfica, tendo sido eliminados da Taça de Portugal, nas meias-finais, pelo Vitória de Setúbal de Fernando Vaz (0-3 e 4-4). Mas o futuro prometia..
 
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Um pequeno resumo da época 1966/67

Setembro
18 — Tiro de partida para o «Nacional» de futebol. O Benfica venceu em Guimarães (1-0), o F. C. Porto de Pedroto ganhou na Póvoa (3-0), a Académica ganhou na Tapadinha, com dois golos de Artur Jorge, e o Sporting empatou a zero em Braga.
21 — Para a Taça das Cidades com Feiras, o F. C. Porto bateu o Girondinos, nas Antas, por 2-1. Pedroto não perdeu a esperança: «Em Bordéus será mais fácil.»
25 — Na segunda jornada do «Nacional», o F. C. Porto bateu o Sporting, por 1-0, mercê de um golo de Carlos Baptista. Pedroto disparou: «Não vi o verdadeiro Sporting.» Fernando Argila abespinhou-se: «Árbitro parcial tirou-nos dois golos e a vitória. Braga Barros actuou nitidamente a favor do F. C. Porto.» Custódio Pinto, capitão portista que, como os seus colegas, recebeu três contos de prémio pela vitória, revelou que, após regresso do «Mundial» de Inglaterra, lhe fora diagnosticada hipoglicémia, pelo que o Departamento Médico o aconselhou a comer meio quilo de açúcar por dia. Foi o que fez antes do jogo. Depois ele, biliar, atirou: «Já perseguem o F. C. Porto só porque ganhámos dois jogos.»
28 — Para a Taça das Taças, o Sporting de Braga ganhou, na Grécia, ao AEK por 1-0, com golo de Luciano. E Caiado preveniu: «O ovo só é nosso quando estiver na mão.» A Direcção avisou: a passagem à eliminatória seguinte valerá dois mil escudos.

Outubro
2 — A Cuf assumiu a liderança isolada do «Nacional» da I Divisão, com três jogos e três vitórias, beneficiando do empate do Benfica na Póvoa e da derrota (surpreendente) do F. C. Porto na Tapadinha: 0-2. Uma vitória que rendeu aos alcantarenses, não os 450 escudos de tabela, mas mil escudos de prémio.
5 — O F. C. Porto foi eliminado pelo Bordéus por... moeda ao ar. Após prolongamento, manteve-se o resultado de 2-1 e o árbitro decidiu fazer desempate por... sorteio. Coube a sorte aos Girondinos. Pedroto queixou-se do árbitro e de insondáveis fados: «Os nossos jogadores foram verdadeiros heróis, só vencidos pelos caprichos da sorte. Além de tudo o mais, a moeda, no primeiro lançamento, ficou enterrada no terreno, mas com tendência para cair para o nosso lado. O árbitro voltou a lançá-la ao ar e favoreceu os franceses. Parecia malapata. O juiz não teve pulso, deveria ter expulso vários jogadores franceses, aquilo chegou a parecer circo romano e, ainda por cima, nos negou duas grandes penalidades sobre Djalma.» Em caso de sucesso, cada portista receberia prémio de três mil escudos. Para a Taça dos Campeões Europeus, o Sporting afundou-se em Budapeste, esmagado pelos amadores do Vasas (0-5) — que, veio a saber-se, recebiam três contos por mês de subsídio... Carvalho, o guarda-redes, ainda estonteado pela harmonia diabólica das cinco czardas húngaras, cotejou: «Nem o Benfica, no seu máximo, se livraria de levar quatro ou cinco.» Valeu, ao menos, o Sporting de Braga, que voltou a ganhar ao AEK, por 3-2, seguindo em frente, na Taça das Taças.
9 — A CUF empatou em Braga e permitiu que o Benfica, vencedor do Sporting, por 3-0, a igualasse na dianteira do Campeonato de futebol.
16 — À quinta jornada do «Nacional», o Benfica isolou-se no comando, com nove pontos, mais um do que a CUF, mais dois do que a Académica e o V. Setúbal. O Sp. Braga, que venceu o F. C. Porto, por 2-0, tinha seis, tantos quanto o Leixões. Os portistas estavam em sétimo lugar, o Belenenses em nono, o Sporting em décimo. Por isso, em Alvalade, o furacão estava em ebulição. Por lá passou, em passeio, Otto Glória. Mas aquietou espíritos: «Não, já chega de Sporting, duas vezes foi bastante.»
23 — O futebol tem destes caprichos. O F. C. Porto despachou a CUF de Anselmo Fernandez, grande revelação do Campeonato, por 5-0, deixando o Benfica comodamente na liderança, com três pontos de avanço. O Benfica ganhou à Académica, por 2-1. Jorge Humberto não jogou. Dois dias depois, terminava o curso de Medicina, com média de 17 valores.

Novembro
20 — Foram quatro «voltas de vira» de entontecer um cristão: o Sp. Braga galeou o Benfica, na sétima jornada do «Nacional» de futebol, com dois golos de Adão e mais dois de Perrinchon. Na baliza do Benfica, Nascimento, e no ataque, Camolas. Foi a vingança de Caiado, que, eufórico, atirou: «Benfica alérgico ao futebol rápido.» E o Atlético ganhou ao Belenenses, por 2-1. Com mais um golo de Matateu, o eterno. E foi outra vingança. Na véspera anunciara: «Vou jogar com muita alma, até porque quero mostrar a uns certos senhores que me quiseram arrumar, que ainda não estou acabado.» E rematou, enleante: «Os golos que eu marcaria, se jogasse no Benfica e tivesse o Simões a meter bolas para mim e para o Eusébio...»
27 — Os portistas estagiaram em Vale de Lobos e beberam vinho verde, mas acabaram por perder, por 0-3, com o Benfica. Mas entornou-se a taça da decência e escaramuças várias se registaram. Pavão foi expulso, Custódio Pinto, o capitão portista, denunciou: «O árbitro, Samuel Abreu, foi o Eusébio do jogo...» Ao intervalo, o juiz da partida solicitou a um polícia de serviço que o acompanhasse à cabina do F. C. Porto, para identificar o delegado ao jogo, que mais não era do que o ex-internacional Hernâni. Lá foi o sub-chefe, perguntando pelo «senhor Hernâni», mas em vão. Quis então o agente identificar todos os presentes. Em vão, porque, incapaz de suportar a actuação de Samuel Abreu, Hernâni deixara, intempestivamente, o Estádio da Luz, correndo para Santa Apolónia, para apanhar o primeiro comboio para o Porto. Só por isso se livrou de sair sob prisão. Em Guimarães, o Sporting voltou a perder. Por 1-2, mas Fernando Argila dizia que se mantinha seguro e de consciência tranquila. Na classificação, atrás do Sporting só estavam a Sanjoanense, o Belenenses e o Beira-Mar.

Dezembro
1 — Na sequência da análise do relatório de Samuel Abreu, no Benfica-F. C. Porto, a FPF decidiu suspender, por um ano, o dirigente do F. C. Porto, Hernâni Ferreira da Silva, «por ameaças por gestos e palavras ao árbitro».
4 — ...E o Sporting perdeu, em Alvalade, com o Leixões, 0-1, golo de Wagner. Manuel Oliveira, treinador matosinhense, desassombrado, fulminou: «A crise do Sporting confirma o mito dos treinadores estrangeiros. Se eu tivesse aqueles jogadores...» Era inevitável: Armando Ferreira foi nomeado secretário-técnico do Sporting, ficando Argila apenas treinador de campo.

1967
Janeiro
1 — Entrar no novo ano com o pé esquerdo aconteceu ao F. C. Porto, que foi até Guimarães e perdeu por 2-0. Alguns outros resultados da 12.ª jornada do «Nacional», Belenenses, 2-Benfica, 1 ( jogo em que um tal Alfredo eclipsou Eusébio...) Sporting, 3-Atlético, 1; Varzim, 1-Académica, 3. A liderança da prova passou para o dueto Benfica e Académica, ambos com 19 pontos.
8 — O Sporting (o campeão em título) perdeu em Coimbra (1-0) e com esta derrota e treze jogos disputados baixou ao 8.º posto da tabela.

Fevereiro
5 — Continuou o «Nacional» e o Benfica, na 14.ª ronda, abriu o livro aplicando 7-0 no V. Guimarães, enquanto o Sporting baqueou em Braga por 3-1, a Académica bateu o Atlético (1-0), o F. C. Porto se desembaraçou do Varzim (3-1) e o Belenenses esmagou a CUF (5-0).
12 — Nova ronda do «Nacional» (15.ª) com um clássico: Sporting, 2-F. C. Porto, 2. Na cabina dos portistas, Pedroto acusou: «Depois de expulsar Carlitos, o árbitro quis-se limpar.» O técnico do Sporting, Fernando Argila, reconheceu: «Na segunda parte foi brilhante a recuperação do Sporting, com dois golos de desvantagem, mas fiquei satisfeito pela exibição de José Morais.»
26 — A prova máxima do nosso futebol atingiu o rubro na 17.ª jornada, com o sempre desejado derby Sporting-Benfica, saldado por um empate (1-1). Com um Estádio de Alvalade a abarrotar e depois da «chicotada psicológica» acontecida na turma «leonina», os encarnados abriram o activo, aos 15 minutos, com um remate de Eusébio e os leões obtiveram a igualdade, aos 51 minutos, por intermédio de Gonçalves. O desfecho teve bastante mérito para os encarnados que actuaram durante longo tempo com Jaime Graça vítima de distensão e outro período só com nove homens por incapacidade de José Torres. No final, o despedido Fernando Argila, mero espectador, reconheceu: «A rivalidade pesou muito e o Sporting não soube aproveitar da melhor maneira o facto de o Benfica estar a agir com menos dois elementos.» Refira-se que Augusto Silva assistiu pessoalmente ao prélio. Outro resultado importante: Académica, 0-F. C. Porto, 0. Benfica e Académica continuaram colados, na frente, ambos com 28 pontos.

Março
5 — O Sporting teve de deslocar-se a Setúbal, acabando por superar o Vitória por 2-0, com golos de Manuel Duarte e Figueiredo. O facto de maior realce foi o jovem Vítor Damas (19 anos) ter destronado o veterano Carvalho da baliza do Sporting. Outro acontecimento da 18.ª ronda foi a derrapagem da Académica (0-1) em S. João da Madeira, deixando o Benfica sozinho na frente da tabela, uma vez que os «encarnados», em jogo antecipado, venceram o Atlético (2-0).
12 — Um Benfica, adulto e dominador, quebrou o engodo da Académica, ganhando em Coimbra por 1-0, com golo de Nélson. Outros desfechos da 19.ª jornada do «Nacional»: Sporting, 1-Belenenses, 0; CUF, 1-F. C. Porto, 5.
19 — O Benfica viajou até Braga, vencendo por 4-0, pertencendo todos os golos a Eusébio. Outros desfechos: V. Setúbal, 0-Académica, 1; Beira-Mar, 1-Sporting, 2. Com estes resultados, a Académica consolidou o 2.º posto, ao mesmo tempo que o Sporting igualou o Sp. Braga no 4.º lugar (a 13 pontos do Benfica).
27 — No Estádio Olímpico de Roma decorreu o X Itália-Portugal, que foi considerado como o julgamento da equipa das quinas após o seu brilhareto no «Mundial». Pois bem, os romanos tiveram o ensejo de presenciar o despertar dos «magriços», já que a Selecção portuguesa impôs uma igualdade (1-1) à forte «squadra azurra». Os italianos não se pouparam nos louvores, apontando Portugal como um dos melhores do Mundo, já que os seleccionados confirmaram o seu 3.º lugar da Inglaterra. Os portugueses atingiram o intervalo na situação de vencedores 1-0, com um tento de Eusébio. Os italianos viram-se em palpos de aranha por suster as arremetidas dos portugueses. O entusiasmo dos nossos representantes foi tão grande, que no final, o defesa Facchetti revelara a um jornalista italiano a súplica de Eusébio: «Isto é um desafio amigável, deixa-me jogar, vais ver que o público se diverte»... Só um comentário da Imprensa: «Coluna tem tanta força no corpo e tantas ideias no cérebro, que é capaz de aniquiliar tudo e todos!»

Abril
3 — A 21.ª jornada do «Nacional» terminou com satisfação para três: F. C. Porto, 1-Benfica, 1; Académica, 6-Belenenses, 0.- O Sporting também esteve bem com 3-0 ao V. Guimarães. Os encarnados inauguraram o marcador (12 minutos) com remate de José Augusto e os portistas igualaram (47 minutos) por intermédio de Manuel António. Os benfiquistas queixaram-se da dureza dos portistas, tendo rendido Calado por Coluna, mas no final os lesionados foram Djalma, Gomes, Pavão e Pinto. Observação de Pedroto: «O Benfica foi um harmónio, mas não tocou a música toda».
5 — No mínimo curioso o duelo mantido com os dois principais aríetes do futebol nacional. Terminada a 21.ª jornada, as suas posições eram: Eusébi (Benfica), 23 golos, e Artur Jorge (Académica), 22.
9 — Tornada pública a distribuição de dinheiro pelos participantes no «Mundial» de Inglaterra. Assim, a Portugal calhou a fatia de 7400 contos, cabendo cerca de 1000 contos ao Sporting (cedeu 8 jogadores) e outros tantos ao Benfica (7 jogadores). Depois perto de 300 contos ao F. C. Porto (3) e próximo de 200 contos ao Belenenses (2). Só para se ficar com uma ideia mais precisa, o dianteiro Manuel Duarte valeu ao Leixões quase cem contos. Na atribuição teve-se em vista o número de presenças efectivas dos futebolistas. As despesas com a preparação da Selecção ascenderam a 5500 contos.
16 — Disputada a 23.ª ronda do «Nacional», verificou-se luta e emoção em Coimbra na defesa do segundo lugar. Alguns resultados: Académica, 2-V. Guimarães, 1; CUF, 1-Benfica, 2; F. C. Porto, 2-Belenenses, 0; Sporting, 4-Varzim, 0.
— Andebol — O F. C. Porto reconquistou o título de campeão nacional, enquanto o Sporting abandonou a variante de onze.
23 — Sensação na 24.ª ronda do «Nacional»: o V. Setúbal (de Fernando Vaz) bateu o Benfica por 3-2, em encontro disputado no Estádio Alfredo da Silva, no Barreiro. A Académica foi empatar (1-1), a Leixões. O F. C. Porto foi ganhar (2-0) a Aveiro. E o Sporting, em Alvalade, fracassou frente à CUF, com um golo de Monteiro, logo aos 13 minutos.
30 — Realizada a penúltima jornada do «Nacional», o Benfica (vencedor do Belenenses por 2-0) assegurou o título e o regresso à Taça dos Campeões.

Maio
7 — Terminou o «Nacional» e os desfechos mais importantes foram: Sporting, 0-Académica, 0; Beira-Mar, 0-Benfica, 9; Leixões, 0-F. C. Porto, 1.Classificação dos primeiros: Benfica, 43 pontos; Académica, 40; F. C. Porto, 39; Sporting, 30. A sensação maior foi protagonizada pela Académica de Mário Wilson, que logrou a sua melhor classificação de sempre na I Divisão. Baixaram de escalão: Atlético e Beira-Mar, ambos com 14 pontos, Subiram: Barreirense e Tirsense. Eusébio foi o «rei» dos marcadores e conquistou «A Bola de Prata», com 31 golos, seguido de Artur Jorge, da Académica (25), e Djalma, do F. C. Porto (18). O «rei» Eusébio obteve o seu quarto triunfo consecutivo, ficando a um golo do record de Matateu (1954/55).
25 — Lisboa, Jamor, foi o cenário escolhido para a disputa da XII Taça dos Campeões Europeus, entre o Inter, de Milão, e o Celtic, de Glasgow (Escócia). Os escoceses invadiram mais de verde toda a zona do Jamor, chamando a si o triunfo (2-1), desfecho considerado inesperado, uma vez que os italianos eram tidos à partida como os mais favoritos.
11 — Em jogo da 1.ª mão dos quartos-de-final da Taça de Portugal, a Académica suplantou o Benfica por 2-0, sendo ambos os tentos apontados por Ernesto e José Henrique evitou o pior.
18 — Realizada a 2.ª mão da Taça, na catedral da Luz, a Académica, averbou uma «derrota-vitoriosa», frente ao Benfica, por 2-1, pois com este resultado os estudantes eliminaram as águias.
21 — O padre e professor José Monteiro Oliveira foi eleito para dirigir o F. C. Tirsense, facto que merece ser assinalado pela sua invulgaridade.
25 — Efectuados os jogos da 1.ª mão das meias-finais da Taça de Portugal, apuraram-se os seguintes resultados: V. Setúbal, 3-F. C. Porto, 0; Sp. Braga, 1-Académica, 2.

Julho
2 — Concretizada a 2.ª mão da Taça de Portugal, os resultados confirmaram os favoritos: F. C. Porto, 4-V. Setúbal, 4; Académica, 4-Sp. Braga, 1. Setubalenses e conimbricenses foram apurados para a final.
9 — Realizada a 27.ª final da Taça de Portugal, a mais longa da sua história (durou 144 minutos!), o V. Setúbal impôs-se à Académica por 3-2. Os tentos pertenceram a José Maria, Guerreiro e Jacinto João, pelo Vitória; e Celestino e Ernesto, pelos estudantes. Na equipa da Académica, Toni e Vieira Nunes foram verdadeiros gigantes, enquanto Jacinto João foi estrela de primeira grandeza entre os setubalenses, que se impuseram pelo colectivismo. O técnico Fernando Vaz confessou com desportivismo: «Pena é não haver duas Taças; as honrarias ficariam melhor divididas».

Classificação:

J V E D G P
1 Benfica 26 20 3 3 64 19 43
2 Académica 26 18 4 4 50 18 40
3 FC Porto 26 17 5 4 56 22 39
4 Sporting 26 11 8 7 36 24 30
5 V. Setúbal 26 10 7 9 27 25 27
6 V. Guimarães 26 11 4 11 35 40 26
7 Leixões 26 8 8 10 23 29 24
8 CUF 26 9 5 12 27 43 23
9 Sp Braga 26 9 5 12 33 33 23
10 Varzim 26 8 6 12 29 42 22
11 Belenenses 26 7 6 13 26 34 20
12 Sanjoanense 26 4 11 11 23 39 19
13 Atlético 26 5 4 17 29 55 14
14 Beira Mar 26 5 4 17 23 58 14
 
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Avião e cerveja na Taça de Pedroto

Ao segundo ano Pedroto ganhou a Taça de Portugal. Convenceu o presidente a levar a equipa de avião, segurando cada jogador em mil contos!

O F. C. Porto e o Benfica entraram em 1968 de braço dado na luta pela conquista do Campeonato. No primeiro domingo de Janeiro, defrontaram-se na Luz. Ganhou o Benfica, por 3-2. Jogo emotivo e maculado por «casos» vários. Pedroto queixou-se (uma vez mais) de solércias dos sicários do poder do futebol que «teimavam em tentar destruir o F. C. Porto, logo que se pressentia que poderia ser ameaça aos clubes de Lisboa». Crispado, o treinador portista lançou o brado como se fosse grito tarantular de um coração revoltado: «O árbitro anulou um golo limpo ao Manuel António, depois de o fiscal de linha ter corrido para o centro do terreno. O penalty que deu o golo a Eusébio não foi penalty. Admiro-me como gente assim pode andar no futebol. Tudo isto é lamentável. E o mal é que começo a acreditar que não tem remédio»
A Comissão Central de Árbitros instaurou inquérito disciplinar a José Maria Pedroto, que das Antas mandaria dizer que «simplesmente o deixassem trabalhar em paz».

Somelos Helanca para Américo e ainda mais doce consolação...

O F. C. Porto foi resvalando e à 17.ª jornada, de parceria com a Académica, estava já a cinco pontos do Sporting e a dois do Benfica. Era o resultado traumático de três derrotas consecutivas na condição de visitante, com o Benfica, com o Leixões e com a CUF. Assim ficava, uma vez mais, o sonho desfeito da reconquista do título. Os portistas acabariam por segurar o terceiro lugar, com 36 pontos, mais um do que a Académica, menos um do que o Sporting (traído por final titubeante) e menos cinco do que o Benfica. Américo ganhou o Prémio Somelos Helanca que «A Bola» institui pela primeira vez nessa temporada para premiar o mais regular jogador do Campeonato. Não deixava de ser um prémio de consolação. Mas outro bem mais apetitoso se esperava...

«Lotaria de Natal»...

Nas meias-finais da Taça, depois de empate na Luz, o F. C. Porto bateu o Benfica por 3-0 e apurou-se para a final, com o Vitória de Setúbal de Fernando Vaz (com a quarta presença consecutiva na final).
Os portistas venceriam por 2-1. Pedras abriu o activo para os vitorianos. Valdemar e Nóbrega marcaram pelos portistas. No dia seguinte, encimando toda a sua primeira página, «A Bola» escrevia: «Festa grande no relvado de honra do Jamor — F. C. Porto vencedor da Taça de 68... 10 anos depois do seu último triunfo». Ao lado, a foto dos vencedores, entre Américo Tomás e os seus dois netos. Na equipa de Pedroto a «estrela» chamou-se Pavão. Fora o «jovem-veterano de uma equipa-de-combate».
Os setubalenses queixaram-se do árbitro. Herculano não se conteve e redarguiu: «Que mal fez o Vitória ao senhor Joaquim Campos? Só se foi por tirarmos o título ao Sporting...»
Joaquim Campos passou por uma das maiores surpresas da sua vida quando, nas cabinas, um porteiro lhe foi comunicar que o chá bebido ao intervalo e os refrescos pedidos após o jogo tinham de ser pagos, pois um funcionário da FPF lhe dissera que a Federação não paga bebidas aos árbitros. Mandou vir as cervejas na mesma e até uma para o porteiro que lhe trouxera a notícia. Quanto aos... penalties reclamados pelos setubalenses, mais espantado ficou. Que não viu razão para tal. Os cronistas de «A Bola» também não, mas apuraram que a venda de 30 mil bilhetes rendera 625 contos de receita...
Pela conquista da Taça, cada jogador do F. C. Porto recebeu 10 contos. Pedroto desconcertou: «O golo do Vitória até nos foi útil. Reforçou o nosso sentido de alerta, a nossa humildade, o nosso colectivismo, o nosso brio». Djalma, que, com 11 golos, fora o melhor marcador da Taça, queixou-se de «maus tratos»: «Os caras não me pouparam mesmo. Puxa! E nem é dizer que me tenham dado muita surra, isso não. Já tenho apanhado bem mais. Fui, sobretudo, vítima das placagens... De uma vez fui derrubado impiedosamente por dois ou três defesas que não ousavam largar-me nem mesmo quando eu já estava por terra, não fosse eu fugir e marcar golo.,.. Que feitio o daqueles caras!»
Valdemar, o marcador do livre de daria a Taça ao F. C. Porto, diria, «mergulhado em emoção», que até partiu para a bola «sem estar a pensar no golo», mas que aquele remate acabaria por «valer mais do que qualquer lotaria de Natal». Talvez. Mal imaginaria que seria a excepção, o pingo de glória, de um doloroso jejum de 19 anos aberto por Guttmann e que ironicamente Pedroto esfrangalharia...
Ao contrário do que era hábito, os portistas viajaram para Lisboa de avião, mas antes da partida, os seus directores seguraram toda a comitiva em 20 mil contos: mil por cada jogador e técnico, 500 pelo massagista e roupeiro. E o primeiro telegrama de felicitações a chegar às Antas foi o do... Sporting, que fora afastado do Jamor pelo Vitória de Setúbal. Seria coincidência?
O F. C. Porto alinhou com Américo; Bernardo da Velha (que passou de ponta-de-lança a defesa-direito porque, misteriosamente, Pedroto decidiu deixar Sucena no Porto, para mágoa sua, mágoa que persistiria, naturalmente, pelo tempo fora), Valdemar, Rolando e Atraca; Pavão e Custódio Pinto; Jaime, Djalma, Gomes e Nóbrega.
in«abola»

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O percurso na Taça de Portugal:

1ªEliminatória
FC Porto - Beira Mar - 2-1 - 2-0

2ªEliminatória
Varzim - FC Porto - 0-4 - 1-5

1/8 Final
FC Porto - Sp. Covilhã - 4-0 - 5-1

1/4 Final
FC Porto - Belenenses - 3-1 - 0-0

1/2 Final
FC Porto - Benfica - 2-2 - 3-0

Final
FC Porto - Vit. Setúbal - 2-1
 
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Jantar atravessado na garganta

Pedroto suspendeu três jogadores por insubordinação. O presidente convidou-os para um «jantar íntimo», que ficou atravessado na garganta do treinador

A 4 de Agosto de 1968 foi inaugurado no Cemitério de Agramonte, o Mausoléu do F. C. Porto, cuja escultura foi da autoria de Charters de Almeida. Era mais uma acção sentimental de Afonso Pinto de Magalhães, que com isso pretendia que houvesse F. C. Porto para além da morte.
Depois de vários anos à beira do colapso financeiro, em 1968 apurou-se, enfim, um saldo positivo de 700 contos, tendo o F. C. Porto ultrapassado, pela primeira vez, os 30 mil sócios
Já na época futebolística de 1968/69 o F. C. Porto, depois de eliminar o Cardiff, na Taça das Taças, baqueou perante os eslovacos do Slovan. Vitória por 1-0 nas Antas, derrota por 0-4 em Bratislava. Pedroto lamentou-se: «Perdemos a eliminatória nos últimos 10 minutos.» Américo, inconsolável, murmurejou: «Fui traído nos primeiro e terceiro tentos e acabei por sofrer quatro golos estúpidos.» Foram quatro golos fatais — e mais um sonho europeu esbandalhado, precisamente quando o Benfica e o Sporting tinha já fulgurado na Europa do futebol, mantendo-se de aura acesa.
Para compensar, as coisas foram correndo bem no plano interno e, a 15 de Dezembro, o F. C. Porto bateu o Benfica por 1-0, com golo de Custódio Pinto, isolando-se no comando do «Nacional». Para que a festa fosse global, o tesoureiro exultou: arrecadara uma receita de 1100 contos, que era record nas Antas. Só o resultado não espelhava bem a nítida superioridade dos portistas — e Pedroto, em jeito de bom samaritano que acabara de ganhar, lamentou que toda a equipa do Benfica andasse afectada pelo «mau momento de Eusébio»...

Querer fazer a guerra poupando em balas e gasolina...

A euforia portista esfriou-se em Fevereiro, com o desaire em Alvalade: 1-2. O golo da derrota foi sofrido a dois minutos do fim, de penalty, que Pedroto considerou «indiscutível, mas escusado». Assim, à 20ª jornada, na liderança o... Vitória de Guimarães, que não perdia havia 15 jornadas — e que seria o seguinte adversário do F. C. Porto. Os portistas ganharam, nas Antas, por 2-1, e reassumiram o comando. Mas, entretanto, começaram a sentir-se postemas dentro da própria equipa — e, de súbito, os primeiros sinais de tempestade, um sonho esboroado e outro comprometido...
Oito dias depois da vitória sobre o Guimarães, na quinta eliminatória da Taça de Portugal, o Benfica — cuja equipa fora recebido no seu próprio Estádio, pelos seus adeptos, com um ensurdecedor coro de assobios — bateu o F. C. Porto por 3-0. No seio da equipa, nervos em franja, ambiente de cortar à faca...
José Maria Pedroto haveria de denunciar: «Após a vitória com o Guimarães ficou combinado entre o sr. presidente, o sr. Flávio Amorim e o treinandor que no domingo seguinte a viagem se faria de avião. Na quarta-feita telefonou-me sr. presidente a dizer-me que a viagem de avião ficava mais cara 7000 escudos, incluindo seguros, e que não compreendia a razão por que queríamos utilizar o avião. Invoquei os benefícios de diversa ordem para a equipa neste declinar de época. Não podia, disse eu também, fazer a guerra e poupar balas e gasolina. Fomos de avião para o jogo com o Benfica, mas regressámos de comboio, em virtude de não se terem marcações de regresso ao Porto!»
Afonso Pinto de Magalhães replicaria, algum tempo depois, quando a cabeça de Pedroto já rolara: «Na antevéspera do jogo para a Taça com o Benfica telefonou para Lisboa o dr. Correia da Silva dizendo que o director do futebol desejava que o prémio do jogo com o Guimarães fosse entregue nesse mesmo dia, pois os jogadores assim o exigiam. Não compreendi bem a atitude, mas fiquei mais preocupado quando acrescentou que eu não devia — estando em Lisboa — ir ao estágio em Vale de Lobos, pois podia surgir algum aborrecimento criado pelos jogadores. Fiquei preocupado e escusado será dizer que fui mesmo ao estágio e nada se passou. Na segunda-feira seguinte, na sessão, procurei saber o que se passava e, depois de muito diálogo, o director de futebol só me disse de concreto que já por quatro ou cinco vezes tinha evitado que os jogadores me procurassem. Disse-lhe que tinha sido um mau colaborador, pois eu agradecia que tivesse mas era solucionado os problemas. Deixando, como deixou, latente o problema, deixou avolumar o que teria sido fácil resolver. No dia seguinte surge a chamada insubordinação e eu fiquei ainda mais preocupado. Que estaria por trás de isto tudo e que é desconhecido da Direcção? Assim, lembrei-me que, num jantar íntimo, os jogadores se sentiriam homens livres e fariam saber os seus problemas. Telefonei ao director do pelouro e disse-lhe para saber junto do técnico se havia algum inconveniente em eu fazer o jantar com os jogadores. Telefonou-me duas horas mais tarde dizendo que já tinha falado e que não havia inconveniente. Isto foi o que se passou e de resto está confirmado pelo director nas actas da Direcção e até pelo próprio técnico, que o escreveu em «A Bola»...» Esse «jantar íntimo», num restaurante de Leça da Palmeira, haveria de ser o rastilho que se estendera já ao barril de pólvora em que se transformara o futebol do F. C. Porto — sem que alguém percebesse que se estava a bailar sobre o abismo sem sequer se usar maromba