Um resumo da época 1969/70:
1969
Maio
2 Depois de um longo namoro com o Benfica, o F. C. Porto, o V. Guimarães e o Sporting, o clube de Alvalade contratou o avançado angolano Dinis, do ASA. O presidente do clube da ex-colónia portuguesa não gostou e demitiu-se, já que existia um pré-acordo com o Benfica. A transferência custou aos leões 550 contos.
4 Continuou a desilusão. A Selecção portuguesa não foi além de um empate (2-2) com a sua congénere grega, em mais um encontro de apuramento para o «Mundial-70», disputado no Estádio das Antas. Eusébio e Peres marcaram, já na segunda parte, os golos portugueses, recuperando da desvantagem de 2-0. Os quatro golos foram apontados em 16 minutos, mas nem a emoção dos tentos camuflou a desilusão. «Ao que nós chegámos! Empatar no Porto gera desilusão na Grécia», mandou dizer de lá, Severiano Correia, que por essa altura treinava (com espectacular sucesso) o Aris, de Salónica. A dor e a incredulidade eram por demais evidentes e lia-se: «Não há dúvida, perdeu-se o respeito pelo futebol português. Custou, mas a nossa Selecção, os seus responsáveis, conseguiram o milagre de o fazer em menos de três anos. Pobres magriços que agora até já têm que perder com a Grécia...» A equipa portuguesa alinhou: Damas; Conceição, Pinto, Joaquim Jorge e Carriço; Jacinto (Manuel António), Rolando e Peres; Pinto, Eusébio e Jacinto João (Figueiredo).
5 O húngaro Elek Schwartz assinou contrato com o F. C. Porto para treinar o clube durante a época de 1969/70, por 380 contos. Dias depois, afirmou: «Vou para o F. C. Porto porque gosto de correr riscos.»
Junho
6 Américo, guarda-redes do F. C. Porto, pôs fim à sua carreira de futebolista, aos 36 anos. Na hora da despedida, disse ao treinador Elek Schwartz: «Mister, tem quatro guarda-redes para me fazerem esquecer depressa.»
25 Artur Jorge, aos 23 anos, transferiu-se da Académica para o Benfica. O Sporting também entrara na corrida, oferecia-lhe 1300 contos, mas o jogador preferiu o Benfica, apesar, segundo ele, de ir ganhar... um pouco menos.
Setembro
7 Arrancou o «Nacional» de futebol da I Divisão e, logo na jornada inaugural, a primeira grande surpresa: em Matosinhos, o Leixões venceu o Benfica, por 2-0.
10 E, finalmente, depois de um longo período de indefinição, Eusébio, a «pantera negra», assinou novo contrato com o Benfica. Foi um caso que, durante meses, apaixonou a opinião pública. Com a duração de três anos, os números do novo acordo eram as seguintes: Luvas, 3076 contos; ordenados, 324 contos; festa (mínimo), 600 contos. No total, quatro mil contos para os bolsos de Eusébio, que afirmou: «Vou comprar um prédio com o dinheiro do meu contrato.»
Outubro
1 As provas europeias arrancaram alguns dias antes e Portugal apresentou-se com seis representantes: Benfica (Taça dos Campeões), Académica (Taça das Taças), Sporting, F. C. Porto e V. Guimarães (Taça das Feiras) e todas elas passaram à segunda elimanatória das respectivas competições.
12 A esperança, se ainda existia, ficou enterrada em Bucareste. Em mais um encontro de apuramento para o «Mundial-70», Portugal perdeu, 1-0, ante a Roménia e disse, definitivamente, adeus ao México. Pouco mais de três anos depois de ter surpreendido o Mundo, com o terceiro lugar em Inglaterra, voltou tudo ao triste fado, às vitórias adiadas. Mais, a Selecção das «quinas» já não vencia há quase um ano. A última vitória tinha surgido, precisamente, diante da Roménia, por 3-0, em 27 de Outubro de 1968.
19 Joaquim Agostinho, em Paris, foi o quinto classificado no Grande Prémio das Nações, quando se apresentava como um dos grandes favoritos. Uma queda, na parte final da prova, desfez-lhe o sonho.
Em Alvalade, o Sporting continuava imparável e venceu o F. C. Porto, por 2-1, em jogo a contar para a quinta jornada. Foi o primeiro golo consentido por Damas nesse Campeonato. Pinto rompeu a inviolabilidade das suas redes. Mesmo assim, os leões registavam um saldo impressionante: 16-1!
30 Iniciou-se a segunda eliminatória das competições europeias e, em Alvalade, o Sporting empatou 0-0 com o Arsenal. Uma curiosidade: das seis equipas nacionais em prova, cinco delas defrontaram formações britânicas. Benfica-Celtic; V. Setúbal-Liverpool; V. Guimarães-Southampton; Newcastle-F. C. Porto e Sporting-Arsenal. Apenas a Académica escapou, ao defrontar os alemães do Magdeburgo. Coincidências do sorteio...
Novembro
2 Imparável, também, continuou Joaquim Agostinho. Formando equipa com Van Springel, venceram o Troféu Barachi, disputado em Bérgamo, Itália. Fizeram os 120 quilómetros do percurso a uma média de 46,220 km/h e tiveram direito a um prémio de meio milhão de liras para cada um (cerca de 22 contos).
Em Berna, ante a Suíça, Portugal encerrou, sem qualquer brilho, honra ou glória, a sua participação no «Mundial-70». Um empate a um golo, consentido a dois minutos do final, foi o resultado possível, numa campanha para esquecer: em seis jogos, Portugal apenas logrou vencer uma vez, empatou duas e averbou três derrotas. Como estavam distantes os tempos dos «Magriços»...
9 Na 7.ª jornada do «Nacional», Alvalade foi o palco do grande derby. Sporting e Benfica estavam separados, antes do encontro, por apenas um ponto, mas o golo de Marinho e a tarde inspirada de Damas aumentaram a vantagem para três pontos.
12 Quarta-feira negra para as equipas portuguesas envolvidas nas competições europeias. Portugal esteve representado em quatro frentes e o saldo foi desastroso: uma vitória e três derrotas: Celtic-Benfica, 3-0; Magdeburgo-Académica, 1-0; Southampton-V. Guimarães, 5-1; e Setúbal-Liverpool, 1-0. Uma semana depois, nas Antas, o F. C. Porto também não se deu muito bem com o futebol britânico e não foi além de um empate a zero golos, com o Newcastle.
26 Os três grandes do futebol português disseram adeus à Europa. O Sporting foi derrotado em Londres, pelo Arsenal, por 3-0; o F. C. Porto, em Newcastle, perdeu por 1-0; e o Benfica, na Luz, venceu por 3-0, o Celtic, anulando a desvantagem trazida de Glasgow, mas acabou derrotado por... uma moeda. Apenas a Académica, que em Coimbra venceu os alemães do Magdeburgo por 2-0, e o Setúbal, que apesar de ter perdido por 3-2, em Liverpool, lograram seguir em frente. Os sadinos assinaram, dessa forma, uma das páginas mais brilhantes do seu historial, ao fazer dobrar os joelhos ao poderoso Liverpool, na altura terceiro classificado no Campeonato inglês.
30 Os estudantes atravessavam um momento de forma impressionante. Receberam o Sporting e bateram o líder por 3-0, na 10.ª jornada do «Nacional». Com 17 pontos, mesmo assim, a turma de Alvalade manteve um confortável avanço sobre Benfica (menos um jogo) e Varzim, que somavam 12.
Dezembro
3 O Benfica realizou o encontro em atraso do Campeonato e cilindrou, na Luz, o U. Tomar, por 6-0. Vítor Martins, conhecido também por «Garoupa» «nome que me foi posto por Malta da Silva e Calado, por acharem que tenho os olhos saídos», segundo confessou , era um jovem que despontava no futebol. Marcou um golão e confessou, no final: «Tinha os pés gelados quando atirei ao golo.» Era não-amador e recebia 2.500 escudos por mês. Deixou de estudar porque, segundo revelou, «não tinha cabecinha».
10 Cerca de três anos e meio depois de ter perdido com a Inglaterra, por 2-1, nas meias-finais do «Mundial-66», a Selecção portuguesa voltou a Wembley para defrontar a Inglaterra. E o destino repetiu-se: nova derrota, desta feita por 1-0.
21 O F. C. Porto não se conseguia encontrar. Foi jogar à Luz e perdeu por 2-0, com golos de Simões e Eusébio. Na tabela classificativa, os portistas ocupavam um lugar pouco habitual: 10.º lugar, com 11 pontos, a nove do primeiro, que era o Sporting.
1970
Janeiro
4 Começou a segunda volta do «Nacional» com o Sporting, como comandante, a ir a Braga e a contornar difícil obstáculo, vencendo por 3-1, debaixo de intensa chuva. O F. C. Porto empatou nas Antas com o Belenenses (0-0), o Benfica despachou o Leixões (3-0) e o Varzim esmagou o Vitória de Guimarães: 4-1. Joaquim Meirim, que estava à frente dos poveiros, bem ao seu jeito, aproveitou o lance para declarar: «Se não o for comigo, o Varzim não será campeão com mais ninguém.»
7 Na saga europeia, o Setúbal viajou até Berlim, onde defrontou o Hertha, acabando por perder na segunda mão dos oitavos-de-final da (ainda) Taça das Feiras, por 1-0.
Afonso Pinto de Magalhães, presidente do F. C. Porto, anunciou que Schwartz continuava doente, sem se saber quando regressaria ao desempenho das suas funções, pelo que Vieirinha fora investido como técnico principal, cargo que manteria enquanto o treinador principal estivesse afastado.
18 Em maré de feição, o Sporting recebeu o Setúbal para o «Nacional» e ganhou por 3-1 e o êxito leonino foi dedicado por inteiro a Mário Moniz Pereira. Como o Benfica perdeu, em Guimarães, por 1-2, o clube de Alvalade ficou com cinco pontos de avanço do seu rival da Luz.
O Belenenses recebeu o Varzim e venceu por 1-0. O insólito sucedeu no final da partida: cerca de mil pessoas perseguiram o técnico varzinista, mas Meirim, sem ligar à turba ululante, recusou-se a abandonar discretamente o Restelo, mostrando-se um homem sem medo, saindo de ar imponente e cabeça levantada apesar dos piropos, gritados em coro, «pa-lha-ço! pa-lha-ço!». E o técnico foi peremptório: «Não quero que digam que eu alguma vez tenha fugido fosse do que fosse.» Não muito tempo depois, seria treinador do... Belenenses.
Fevereiro
1 Chegou-se à 17.ª jornada a não se sabia quantos pontos de avanço levava o Sporting, pois faltava conhecer-se o veredicto federativo sobre os graves acontecimentos da Luz... Os leões, apesar de bem lançados, viram-se em palpos de aranha para ultrapassar o último reduto do Barreirense e só por uma única vez furaram as redes de Bento. O tento foi rubricado por Peres. A surpresa da ronda surgiu no Bessa, onde um Boavista, em último lugar e quase condenado, conduzido por Luís Villa, bateu o F. C. Porto, por 3-2, com Vieirinha a confessar: «O resultado apareceu inesperadamente. Depois de termos chegado aos 2-1 contava, na verdade, com a vitória, mas a nossa defesa permitiu muitas facilidades.»
4 O F. C. Porto anunciou que o técnico Schwartz rescindira o contrato com o clube. E, para o susbstituir, já que Vieirinha se encontrava em funções em regime transitório, os dirigentes portistas chamaram o técnico escocês Tommy Docherty, popularizado por Tommy «Doc».
8 Precisamente a oito jornadas do final do Campeonato, o Sporting teve de deslocar-se às Antas e adregou um saboroso triunfo por 1-0, com o único tento da partida a ser apontado por Lourenço. Os sportinguistas tiveram uma explosão de contentamento, manifestada em grito alegre de Nélson: «Somos campeões!», mas Fernando Vaz recomendou calma e ponderação. O vice-presidente do F. C. Porto, Ivo de Araújo, comentara: «Nem sequer nos podemos desculpar com o árbitro...» Entretanto, o Benfica, a actuar no Estádio Nacional, baqueou frente à CUF (1-0), mais contribuindo para a euforia dos leões. E o Setúbal subiu ao segundo lugar.
11 A grande sensação da semana foi a chicotada havida no Benfica, com a saída do treinador Otto Glória e do adjunto Fernando Cabrita. A técnico principal foi promovido José Augusto.
20 A Direcção da FPF decidiu homologar o resultado do jogo Benfica-Belenenses (0-0) e o empate causou inconformismo mútuo, enquanto o Estádio da Luz foi interditado por quatro jogos e o clube multado em três contos.
Março
22 Na sexta eliminatória da Taça, o Tirsense sacudiu com o F. C. Porto da prova, ganhando nas Antas por 1-0, com um golo de António Luís. Todavia, a fleuma e a teimosia de Tommy Docherty seriam persistentes: «Vamos manter os mesmos métodos de trabalho com vista à nova temporada. Vamos entrar em férias mais cedo.» A reacção e a euforia do Tirsense não se fizeram esperar pela voz do técnico Ramin: «E agora, queria que viesse o Sporting!» Por sua vez, o Benfica desembaraçou-se do V. Setúbal, ganhando por 2-0, revelando as duas turmas que estavam saturadas uma da outra...
29 Amêndoas negras na festa do campeão: Sporting, 2-Académica; 1. Nené abriu o activo (31 minutos) e os «leões» só lograram o empate a treze minutos do final, por intermédio de Pedras, e Dinis adregou o triunfo (2-1) cinco minutos depois. Fernando Vaz reconheceu: «A Académica deu uma lição de brio e pundonor.» O internacional brasileiro Garrincha (pela terceira vez em Portugal) assistiu à partida e confessou: «Gostava de jogar em Portugal. Aqui a gente se sente em casa.»
Abril
12 Na penúltima ronda do «Nacional», o Benfica foi às Antas vencer o F. C. Porto por 2-1, com os encarnados a chegarem a 2-0 (Simões e Artur Jorge), antes do intervalo. Entretanto, em Alvalade, o Sporting limitou-se a assinar o ponto e venceu, tardiamente, o Boavista por 3-0, pois os axadrezados jogavam para sair da fossa da descida. As festas maiores aconteceram em Faro e em Santo Tirso, visto os seus representantes terem garantido a subida à I Divisão.
17 Em maré de agitação, os clubes que não atingiram o plano ambicionado pelos sócios davam sintomas de incomodidade. É o caso do grémio das Antas, pois em Assembleia Geral foi pronunciado o seguinte juízo: «Alguns jogadores do F. C. Porto não têm lugar nem na II Divisão», ao mesmo tempo que outros sócios atacaram o treinador, mas a maioria defendeu a Direcção: «O sr. Pinto de Magalhães não pode meter golos ao Tirsense.» Outra afirmação: «Se os 6000 associados que disseram sim à Direcção se subrescreverem com mil escudos cada um, poderemos comprar não o Eusébio, mas um jogador de real valor.»
19 Terminou o «Nacional», o Sporting, como se esperava, conquistou o título de campeão, com 46 pontos, mais oito do que o Benfica e mais dez do que o V.Setúbal. Os leões foram até ao Estádio do Mar e destroçaram o Leixões por 5-2. O Sporting teve o melhor ataque (61 golos), mas a melhor defesa foi a do Benfica (só 14 golos sofridos). O melhor marcador foi Eusébio: 20 tentos (sexto triunfo). Sp. Braga e Sp. Tomar foram os despromovidos à II Divisão. Palavras de Fernando Vaz: «Admirável gente do Norte, na festa do futebol.». Os bracarenses que careciam vencer o Boavista no Bessa (perderam por 2-0) pediram a «interferência» de Joaquim Meirim para tentar a salvação, oferecendo ao técnico a quantia de 70 contos pelo feito, pois na jornada anterior (Varzim) já lhe haviam entregue outro cheque de 50 contos! A contratação do feiticeiro acabou por ser apenas simbólica, uma vez que os bracarenses não se salvaram. Houve outras negociações em jogo, os boatos fervilharam, mas não existiu qualquer milagre.
Junho
3 Os dirigentes do F. C. Porto anunciaram ter feito diligências no sentido de contratar um bom avançado estrangeiro, e, nessa linha, haviam contactado o Ajax e... Cruyff. O Ajax, só por si, pediu 8000 contos e, com a verba que o jogador exigia para si próprio a transferência ascendia a 11 mil contos! Os números foram desencorajadores e os portistas desistiram, para mais porque até as perspectivas de disputarem qualquer prova europeia estavam desfeitas.
Julho
8 Pavão assinou contrato por três épocas com o F. C. Porto, tendo também ingressado no clube da Antas, Abel (ex-Benfica) e Manuel Duarte (ex-Sporting).
22 Cubillas pretendido pelo Sporting pedia 5500 contos por três épocas e Cruyff queria 3000 contos por duas temporadas. Para além disso mais 8000 contos para o Ajax. Um pouco mais do que fora pedido, semanas antes, ao F. C. Porto.
Classificação do Campeonato:
Clube J V E D G P
1 Sporting 26 21 4 1 61 17 46
2 Benfica 26 17 4 5 58 14 38
3 Vit. Setúbal 26 16 4 6 58 26 36
4 Barreirense 26 11 6 9 42 33 28
5 Vit. Guimarães 26 12 4 10 38 36 28
6 Varzim 26 10 8 8 31 26 28
7 Belenenses 26 9 5 12 23 34 23
8 CD Fabril (CUF) 26 9 5 12 34 38 23
9 FC Porto 26 8 6 12 30 37 22
10 Académica 26 8 6 12 42 46 22
11 Leixões 26 10 1 15 33 47 21
12 Boavista 26 6 6 14 35 61 18
13 Sp Braga 26 6 5 15 25 52 17
14 U. Tomar 26 5 4 17 20 53 14
Resultados, jornada a jornada:
Jorn. 1 = Belenenses 1-1 FC Porto (E) 2ªvolta - Jorn. 14 = FC Porto 0-0 Belenenses (E)
Jorn. 2 = FC Porto 3-3 Académica (E) 2ªvolta - Jorn. 15 = Académica 1-2 FC Porto (V)
Jorn. 3 = CD Fabril (CUF) 2-1 FC Porto (D) 2ªvolta - Jorn. 16 = FC Porto 2-0 CD Fabril (CUF) (V)
Jorn.4 = FC Porto 2-1 Boavista (V) 2ªvolta - Jorn. 17 = Boavista 3- 2FC Porto (D)
Jorn. 5 = Sporting2-1FC Porto (D) 2ªvolta - Jorn. 18 = FC Porto 0-1 Sporting (D)
Jorn. 6 = FC Porto 2-0 Sp Braga (V) 2ªvolta - Jorn. 19 = Sp Braga 1-1 FC Porto (E)
Jorn. 7 = Vit. Setúbal 5-0 FC Porto (D) 2ªvolta - Jorn. 20 = FC Porto 0-3 Vit. Setúbal (D)
Jorn. 8 = FC Porto 2-0 U. Tomar (V) 2ªvolta - Jorn. 21 = U. Tomar 3-0 FC Porto (D)
Jorn. 9 = Barreirense 1-1F C Porto (E) 2ªvolta - Jorn.22 = FC Porto 1-1 Barreirense (E)
Jorn. 10 = FC Porto 5-1 Leixões (V) 2ªvolta - Jorn. 23 = Leixões 2-0 FC Porto (D)
Jorn. 11 = FC Porto 0-1 Varzim (D) 2ªvolta - Jorn. 24 = Varzim 0-2 FC Porto (V)
Jorn. 12 = Benfica 2-0 FC Porto (D) 2ªvolta - Jorn. 25 = FC Porto 1-2 Benfica (D)
Jorn. 13 = FC Porto 1-0 Vit. Guimarães (V) 2ªvolta - Jorn. 26 = Vit. Guimarães 1-0 FC Porto (D)
*/*/*/*
1ª volta - FC Porto 6º 13j 5 v 3 e 5 d 19 gm 19gs 13p ------ 2ªvolta 9º FC Porto 13j 3v 3e 7d 11gm 18gs 9p
Isto sim, era miséria. Um pormaior destes resultados, Pedroto, despedido, vai treinar o V. Setúbal e nos dois jogos do campeonato vence o FC Porto por 5-0 no Bonfim e 3-0 nas Antas.
Eis uma crónica do jogo realizado nas Antas:
F. C. PORTO, 0 V. SETÚBAL, 3
O «ALMAGRO SADINO» DESTROÇOU 0 «FUTEBOL INGLÊS»
Data: 2 De Março de 1970
Estádio das Antas.
Árbitro: José Alexandre, de Santarém.
F. C. PORTO - Rui (1) ; Acácio (1), Valdemar (1), Pavão, «cap.» (2) e Albano
(1): Rolando (2). João (2) e Pinto (1); Chico (2), Sèninho (1) e Eduardo (2).
V. SETÚBAL - Vital (2); Conceição. «cap»,(3), Cardoso (2), Alfredo (2) e Carriço (3); Tomé (2). José Maria (2) e Vagner (2): Vítor Baptista (3). Arcanjo (2) e Jacinto João (2).
Ao intervalo: 0-0.
Segunda parte: 0-3.
Substituições: Aos 13 minutos, a coincidir com o segundo golo sadino, Rolando cedeu o lugar a Ronaldo. O F.C.Porto ainda fez uma segunda alteração na equipa, aos 32 minutos, pois Ronaldo saiu e Cibrão preencheu a vaga. Os setubalenses apenas fizeram uma troca: Arcanjo por Guerreiro, aos 21 minutos.
O Vitória marcou no primeiro minuto: Jacinto João centrou. Rui saiu e socou de forma a desviar apenas a bola. A defesa do F.C. Porto não foi suficientemente rápida para afastar o perigo e Tomé, do lado direito, centrou rasteiro. VÍTOR BAPTISTA rematou forte e por alto.
O segundo ponto dos setubalenses surgiu aos 13 minutos. O F. C. Porto ensaiou uma jogada de ataque. A defesa adiantou-se no apoio da jogada, ficando, porém Albano em posição mais recuada em relação aos companheiros e a VÍTOR BAPTISTA, que também se deixou ficar para trás, metido, por assim dizer, numa zona entre os defesas. Oportunamente José Maria endossou-lhe a bola e o «ponta-de-lança» do Vitória só teve que correr uns metros esperar a saída de Rui e rematar, aliás bem.
Aos 36 minutos, 3-0. Tomé levou a bola pelo corredor lateral direito e foi centrar à linha de cabeceira. O centro saiu rasteiro, Vítor Baptista foi impedido, ilegalmente, de disputar o lance, mas o árbitro não assinalou a falta, o esférico correu para a esquerda de onde foi centrado por Jacinto João. E GUERREIRO, oportuno, atirou forte surpreendendo Rui que, de resto, se encontrava tapado por um grupo de jogadores.
Um jogo de futebol é sempre em qualquer circunstância qualquer coisa que nos impressiona e nos apaixona e somos dos que gostam de chegar aos estádios uma hora antes do início da partida porque a movimento das pessoas, nos seus comentários, no amontoado de ideias que saem desta e daquela frase está o princípio do espectáculo que se presenciar. Aliás, isso até sucede em relação aos jogadores que se vêem e ouvem antes das peripécias do desafio confirmarem ou desmentirem as suas convicções.
Ontem, na cabina do F. C. Porto, uns minutos largos antes dos futebolistas nortenhos se começarem equipar, um jogador que não podia alinhar por se encontrar lesionado desde quarta-feira, disse-nos que «Mr. Doc», como ele gosta, familiarmente de ser tratado, «porque é mais simples, porque é mais fácil», tinha dado doses fortíssimas de preparação física aos jogadores e que, de princípio, todos se tinham ressentido de forma espectacular, mas que, hoje, os resultados começam a aparecer e já não existe nenhum futebolista que pense ser excessiva a preparação física importada dos cacimbados rectângulos de Inglaterra.
Deu-nos a impressão pelo que ouvimos ao forçado ausente da equipa, e, também, pelo que apanhámos no ar quando, pachorrentamente, percorríamos a praça fronteira ao Estádio das Antas por entre grupos de indivíduos mais ou menos crentes nas possibilidades do novo «mister» que, por acaso, até é mesmo «mister», que os processos basilares do futebol inglês estavam a entrar por ali dentro sem grande cerimónia.
E ficámos a pensar se «Mr. Doc» estava a tentar injectar no F. C. Porto apenas preparação física em doses que muitos jogadores lusitanos podem considerar industriais e que no fundo representam um pouco mais de trabalho e mais horas de permanência no emprego, dotando os jogadores de uma condição atlética um tanto estranha ao portuguesinho que detesta quebrar os rins e pensa que o futebol é só o pontapé na bola, ou se, a correr paralelamente com a preparação, o novo treinador também desejava insuflar na equipa das Antas o tipo de futebol inglês, com toda aquela gama de recursos físico-técnicos que envolvem o procedimento dos jogadores dentro de um figurino desabitual das equipas portuguesas e íamos mesmo a dizer das equipas latinas.
Não tirámos completamente as dúvidas, pois, francamente, tanto nos pareceu que «Mr. Doc» pretende pôr o F. C. Porto a jogar largo, bola ao primeiro toque, rapidez nas desmarcações, baliza como objectivo quase único ou como meta infalível das jogadas como nos pareceu que a turma portista se deixou cair num futebol «embrulhado» que não era de corte inglês, nem de corte nacional. Trata-se, certamente, de um período de transição e parece-nos que vamos assistir a uma corrida tipo contra-relógio, com o técnico britânico a querer acertar as agulhas, a querer pôr o relógio da Torre dos Clérigos pelo meridiano londrino e os associados do prestigioso e glorioso clube da cidade Invicta a desejarem que as coisas melhorem de vez e o F. C. Porto seja uma equipa capaz, ao menos no seu campo, de defrontar de igual para igual o famoso e excelentemente organizado «team» do Vitória Futebol Clube, legítimo orgulho desportivo da cidade de Setúbal.
Pois, aí reside a dúvida. Trabalho de um que exige muita atenção, muita preocupação e algum tempo. Desejos de outros, que, como todos os movimentos associativos, pretendem que o seu clube seja o melhor ou, pelo menos, ganhe os jogos
A primeira ideia que a equipa do F.C. Porto nos ofereceu, não obstante se apresentar sem elementos que, neste momento, são essenciais à equipa, uma vez que se perdeu aspirações a um lugar «decente» no Campeonato, não as perdeu, lógicamente, na Taça de Portugal que há-de suceder a este sensacional torneio, foi a de que tentou jogar a bola sem rodriguinhos, sem paragens desnecessárias, sem o desejo de alindar os lances, de os adornar, de os tornear como a uma peça de arte. Rumo a baliza de Vital, três homens na frente apoiados por três médios, quatro defesas que começaram o jogo bastante bem (tão bem como acabaram mal) e simplicidade de métodos e de sistemas de progressão.
Pensámos que estava ali a mão do «chefe» britânico. Para que o futebol do F.C. Porto se assemelhasse ainda mais ao que, por norma, assinam as turmas da velha Albion só faltaram os constantes lançamentos largos sobre a baliza, mas, mesmo assim, ainda vimos Pinto, Eduardo e Acácio tentá-los, cruzando a bola para a grande área na expectativa de uma cabeça preciosa que a levasse para além da linha de golo.
Era um F.C. Porto aparentemente dinamizado, jogando um futebol que se percebia incipiente na sua tentativa de transformação, de salda de um estilo para outro. Mas pode-se dizer que durante meia hora os portistas conseguiram fazer esse tipo de jogo sem que, porém lhe notássemos a profundidade do futebol naturalmente liso e aberto. Jogadores habituados a dominar a bola com certo tempo, a prepará-la a fazer-lhe «festas», a endossá-la só depois de um lapso de meditação ou de uma corrida não se adaptam a figurino que lhes exige raciocínio rápido e sentido prático que pode levar a bola de um extremo ao outro do campo, a virar o jogo, ou de um defesa ao espaço vazio na frente do «ponta-de-lança» ou do extremo. Não é numa, nem em duas, nem em três semanas que um grupo de futebolistas pode sair, com êxito, do peso excessivo para o peso normal de um atleta, que pretende ser profissional de futebol, e, ao mesmo tempo, forçar a perda de hábitos antigos, quase ancestrais.
Depois, é preciso que, morfológicamente, o jogador tenha poder de receptividade ao padrão de jogo que tem exigências específicas. Como se pode pretender que futebolistas tipo Pavão, Chico, Pinto, João, Eduardo, Valdemar, ao fim e ao cabo, a maioria esmagadora da turma portista, sejam capazes de pôr em prática, sem dar cabo de tudo quanto reconhecemos de bom e habilidoso aos jogadores das suas características, um sistema para o qual não estão, nem podem estar fadados? Exceptuando Rolando e, vamos lá, Séninho, quem é que, no F. C. Porto, pode sustentar o futebol que nos pareceu estar a ser introduzido na equipa? É evidente que o futebol apoiado está mais no temperamento e, sobretudo, na inteligência dos jogadores portugueses que foram, até há bem pouco tempo improvisadores do futebol; mas acreditamos que não se possa sair de repente, sem transição, de um tipo para outro sem que se encontrem muitas dificuldades, nalguns casos, intransponíveis, especialmente no que diz respeito repetimos, à condição, às características, ao tipo do jogador.
É verdade que jogar a bola ao primeiro toque, exige uma completa simplificação de métodos de transposição e de ataque. A nossa dúvida está nisto as linhas média e dianteira do F. C. Porto têm capacidade atlética para adoptar esses métodos? Podem jogar sem o compasso de espera, sem recorrer a dribles, a fintas, a todo um outro tipo de futebol, porventura até mais lento e mais trabalhado? A oficina das Antas pode virar potência industrial de um minuto para o outro? Vamos a ver até onde a conduz o treinador inglês e os seus processos de trabalho, muito úteis, muito a-propósito para os atletas britânicos habituados ao esforço combinado desde mocinhos, habituados a regras alimentares, habituados à ginástica e mentalizados nos seus deveres. É provável que a sua teimosia, a sua insistência acabe de dar lucros num pormenor ao menos: na preparação física dos jogadores que, francamente, não nos pareceu má, salvo um ou dois casos.
Vitória, tipo S. Lourenço de Almagro, agarrou a bola e nunca mais ninguém de «azul-e-branco» lhe tocou.
Durou meia hora o jogo escorreito dos nortenhos, uns rapazes esforçados, sempre desejosos de executar depressa e bem, sempre tementes às censuras do seu técnico. Essa meia hora, a inicial, está bem de ver, trouxe ao encontro das Antas a luta entre o novato, que quer dar nas vistas, quer sobressair, e o maduro, que espera pela oportunidade de virar tudo aquilo e pôr na mesa, de forma irresistível, o seu jogo bem recheadinho de trunfos.
Pareceu que a equipa de José Maria Pedroto não tinha rei nem roque, nesse tempo quase de euforia, ao menos de esperança, das bancadas soalheiras das Antas, o F.C.PORTO jogava a favor do vento, não perdia tempo, tentava alicerçar o seu futebol e a verdade é que o esférico corria sem tropeções desde a defesa à linha média. Quando saia dos pés de Rolando, João e Pinto sucedia uma de duas coisas ou era cortado pelas antecipações dos defesas forasteiros ou era jogado, no mesmo estilo simples, para a grande área e então estabelecia-se um género de luta corpo-a-corpo entre os atacantes das Antas e os defensores da turma sadina. Invariavelmente, os setubalenses ganhavam os lances ou as ressacas, até porque, no aspecto físico e aqui está a razão do nosso reparo de há pouco), os jogadores de Setúbal são mais fortes do que os portuenses e conseguem ir mais acima ganhar bolas altas. Logo nos parece que a melhor forma do F. C. Porto atacar, com aqueles jogadores de estatura média, não seria pelo ar, mas com jogadas rentes á relva. E se estas, para serem dinâmicas, necessáriamente dinâmicas, devem ser executadas com rapidez, ninguém deve ignorar que a imaginação, um dos grandes dotes do futebolista lusitano, não deve andar desligada da actuação dos jogadores.
Não nos admirou absolutamente nada o inêxito do F. C. Porto, no que diz respeito à luta na área do setubalense, pois se nós já vimos, no «inferno» de Liverpool contra jogadores três palmos mais altos que os portistas, aquela defesa ganhar uma eliminatória europeia...
De qualquer forma, admitimos que essa meia hora conteve elementos de comparação para quem, habitualmente, vê o F. C. Porto. A equipa que vimos em Copenhaga e no Barreiro corria menos, mas jogava mais. Todavia, é natural que tivéssemos tido o azar de ir ao Porto numa tarde aziaga para os «azuis-e-brancos», equipa que nos habituámos a ver discutir todos os jogos em que intervinham e em todas as circunstâncias.
Se quisermos especular, poderemos extrair desses trinta minutos de domínio portuense retalhos de sensação. Uma soberba jogada de João, por exemplo, que colocou o esférico nos pés de Sèninho para este não conseguir nada de proveitoso, lances ligados do meio campo, uma certa segurança defensiva, num resumo, um futebol que pretendia ser alegre e contundente e só era a primeira das coisas.
Depois, o Vitória agarrou no jogo. Ainda não tinha terminado o primeiro tempo quando isso aconteceu e pode-se dizer que as redes de Rui correram logo perigo, mais perigo num quarto de hora de futebol argentino do que as de Vital em meia hora de sóbrio «corte» inglês. E um remate de Vítor Baptista esbarrou na barra, sobressaltando as Antas.
A seguir? A seguir, os acontecimentos precipitaram-se. Até parecia que não tinha havido intervalo e que o remate devolvido pela barra da baliza portista havia impulsionado os sadinos. Vítor Baptista, outra vez, fez um golo no minuto inaugural da segunda parte.
E o Vitória lançou-se naquele seu temível jogo que parece um turbilhão. Nessas alturas, o futebol sadino corre sobre esferas e faz lembrar, palavra que faz, em nova edição, porventura mais «picante» mais actualizada, a famosa e inesquecível equipa argentina de S. Lourenço de Almagro quando, um belo domingo, veio à sala de visitas do futebol português e, também, ao Porto esbugalhar os olhos dos que tiveram a felicidade de os ver jogar e a infelicidade de jogar contra eles.
A máquina pôs-se em funcionamento. Apareceu um segundo golo, surgiram oportunidades de mais (Tomé, numa delas, ficou deslumbrado com tanta facilidade e acabou por «emprestar» a bola a Rui), os setubalenses pareciam um comboio rápido. Desmarcações sucessivas perturbavam a marcação do adversário, os defesas saíam para o ataque, os médios metiam-se pelos flancos, a bola girava e tanto aparecia na retaguarda, mansinha, dominada, acarinhada pelos pés dos jogadores de Setúbal que pareciam apenas querer recrear-se com ela como surgia, num golpe de força, de audácia, de inteligência lá na frente com Vítor Baptista, no seu encalce, com Arcanjo a acompanhar, com Tomé a infiltrar-se.
E isso sim foi futebol com duas facetas que, quando se ligam, tornam o jogo da bola no mais brilhante dos desportos bonito e eminentemente perigoso.
O F. C. Porto quis reagir. Já lhe faltava, porém, o discernimento. A saída do adversário de um futebol mastigado, que foi a sua característica no primeiro tempo, altura em que o vento soprava forte e contra, para uma ofensiva em larga escala que envolve o movimento de todos os jogadores, aturdiu a turma nortenha e quase a fez em farrapos.
A primeira grande quebra da equipa ocorreu no meio campo. A defesa acabou por se ressentir do grande volume de jogo «comandado» que o adversário lhe opunha e o ataque morreu de morte natural, morreu, pode-se dizer, à míngua de recursos. Pinto não durou o suficiente em pleno, João ainda foi o que conseguiu ir mais além e Rolando foi substituído por um jogador demasiadamente lento para poder marcar qualquer jogador de Setúbal ou desmarcar-se, lá na frente.
Houve, de qualquer maneira, reacção do F. C. Porto, uma reacção honesta que pretendeu ainda segurar aqueles diabos que se tinham separado do espartilho e cometiam toda a espécie de «tropelias» técnicas que se podem imaginar. Talvez que se o árbitro tem marcado a grande penalidade por mão de Cardoso dentro da área claro, em vez de ter puxado a bola mais para trás, a fim de transformar falta grave num livre fora da zona de rigor, as coisas se tivessem modificado um pouco, na eventualidade do castigo ser transformado. Mas acreditamos que, mesmo assim, o Vitória seria capaz de continuar no comando, de tal forma a sua superioridade era notória.
O F. C. Porto acabou por se perturbar completamente e consentir que os dianteiros e médios (José e Tomé) infiltrram na zona defensiva como faca quente em manteiga. No amontoar de jogadas ofensivas executadas ora com a equipa em movimentação, isto é da forma clássica de atacar em massa, com os médios e os laterais envolvidos na manobra atacante, ora pelo lance rápido de contra-ataque a solicitar a estupenda forma de Vítor Baptista e, depois, de Guerreiro, que substituiu Arcanjo, o Vitória pôs sempre a inteligência que deve andar ligada aos esquemas, a imaginação, que nunca um jogador deve perder, a noção exacta do tempo de passe ou de remate e toda essa mecanização incrivelmente subtil, na medida em que, por vezes, até exige força e temperamento, se tornou problema demasiadamente complexo para a fragilidade de um conjunto que nos pareceu ainda indeciso no caminho a percorrer.
O público das Antas não viu o futebol inglês que espera poder ver um dia no seu conjunto de tão belas tradições, mas viu e pensamos que seja justo ao ponto de o reconhecer, toda a latinidade, toda a exuberância tecnicista de uma equipa tipicamente portuguesa servida por uma coisa que corre nas nossas veias e nos dá a vida, sangue.
Segundo lugar para o Vitória? A equipa está no bom caminho.
Já nos detivemos bastante nos processos de jogo da equipa, portuense para continuarmos por muito mais tempo a falar dela. Insistimos na ideia de que nos pareceu com a lição decorada mas não apreendida. Quer dizer, assim no estilo de menino que sabe fazer o problema, mas que será capaz de descarrilar se lhe perguntam a origem das coisas, lhe exigem o raciocínio. Assim, à primeira contrariedade, o conjunto desarmou-se e mostrou aquilo que, na verdade, é «timinho» arranjadinho, talvez de recurso, convencido de que tem de jogar de tal maneira e fazendo por isso mas longe de se tornar adversário à altura do Vitória actual.
Em preparação física, quebras de Pinto e, ao que nos pareceu, de Rolando ainda não completamente «rodado». De resto, a turma nortenha deu-nos ideia de que está, fisicamente, melhor, exceptuando os casos apontados.
Rui, com uma percentagem de culpas no primeiro golo, não teve nenhumas no segundo, nem no terceiro, pois não viu partir a bola. Saiu há, pouco de um período largo de paragem e recupera com certo ritmo. Aliás, não comprometeu. O mesmo não se pode dizer de uma defesa sem inspiração e que abre por todos os lados. Pavão, foi o melhor. Todavia, faz pena ver um elemento, com as suas qualidades, num papel que não lhe está a calhar.
Linha média com meia hora em pleno. Depois, um período instável. Finalmente, o colapso. Rolando, enquanto teve forças, foi útil. João jogou bem em quase todo o tempo. Promete.
Na frente, Eduardo, um ex-júnior, parece com condições para substituir, um dia, Nóbrega, mas Nóbrega continuará a ser titular, se quiser. Chico, mexido no primeiro tempo, não manteve o ritmo, no segundo, e deixou-se cair em constantes situações de «fora-de-jogo».
Sèninho não conseguiu bater a defesa do Vitória uma só vez Ronaldo e Cibrão... não demos por eles no campo.
O Vitória caminha para o segundo lugar. E tem o caminho aberto, segundo parece. O seu comportamento, ontem, nas Antas, foi magnífico e é fora que os lugares se conquistam.
Vital desempenhou-se bem do seu lugar, a defesa teve, como habitualmente, nos laterais, os homens mais decididos a marcar e mais imaginativos a entregar e a explorar espaços.
A linha média, famosa pelo seu poder de execução e inteligência de jogo, manteve-se um tanto parada e cautelosa, na primeira parte, para um futebol alegre, rapidíssimo e variado, na segunda parte, Tomé teve, até, dois golos feitos e acabou por os perder espectacularmente, quando tinha o mais difícil já feito. José Maria foi estupendo a meter a bola nos companheiros e que o diga Vítor Baptista, a quem ofereceu o segundo ponto. Vagner, excelente a «segurar» o esférico, jogou numa missão menos ofensiva.
As honras da linha avançada vão para Vítor Baptista, que marcou dois excelentes golos, e voltou a jogar muito bem. A sua «forma» é notável e os seus remates, por norma, levam força e colocação. Não há dúvida de que está a fazer carreira num lugar difícil, cada vez mais difícil.
Arcanjo, com a sua habitual intuição, não foi, todavia, o elemento de outros jogos, isto sem que lhe possamos assacar culpas de falta de rendimento do sector, que não houve. Guerreiro, que o substituiu, trouxe velocidade e encontrou oportunidade de fazer um golo com o qual delirou. Jacinto João passou o tempo entre dois tipos de intervenções para a equipa e para a galeria. Felizmente, que as primeiras foram em maior número.
A arbitragem
O Sr. José Alexandre teve intervenções pouco felizes algumas delas na lei da vantagem. Vítor Baptista tem razões para se queixar e Eduardo também. Não assinalou como devia uma grande penalidade contra o Vitória por mão de Cardoso, preferindo puxar a bola para posição mais cómoda... para si. E, depois, acabou por perdoar aos portistas castigo igual, quando o n.º 9 do Vitória foi impedido, ilegalmente, por Valdemar, de se fazer a um lance que parecia destinado a golo. Aliás, na sequência da jogada, depois da bola ir ao flanco esquerdo e voltar, Guerreiro acabaria por fazer justiça.
É foi pena o árbitro ter-se consentido aqueles deslizes porque nos parece homem com qualidades para «segurar» um jogo e interpretar as leis do futebol.