Estórias da nossa história

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Entregar o ouro ao bandido

A semana e meia do jogo do título, contra o Benfica, Pinto de Magalhães demitiu Pedroto. Para dar mais calor humano aos jogadores, disse ele

Após o jogo da Luz, Pedroto obrigou todos os seus pupilos a permanecerem em estágio até à partida seguinte, no Lar do Jogador. Em regime de clausura. Custódio Pinto, Américo, Gomes e Alberto desobedeceram, dizendo que não podiam deixar os seus negócios tantos dias ao abandono, porque patrão fora, dia santo na loja... A sorrir o disseram. Pedroto levou a recusa à conta de afronta. E, no dia seguinte, Pinto, Gomes e Alberto treinaram-se com a equipa de reservas, enquanto Américo era sujeito a exames médicos.
De fora ficaram no dia em que a «maré negra». A Académica ganhou nas Antas, por 1-0, com golo de Manuel António que no princípio da época deixara o Porto e regressara a Coimbra. E, oito dias depois, o empate fatal, outra vez nas Antas, com o União de Tomar, que deixaria o título hipotecado e praticamente sem hipótese de resgate...
Assim, a 11 de Abril, a Direcção do F. C. Porto decidiu, unilateralmente, afastar José Maria Pedroto do comando técnico da equipa. Flávio do Amorim foi igualmente demitido de chefe do Departamento de Futebol, entrando para o seu lugar Miguel Pereira. Afonso Pinto de Magalhães dirigiu-se à cabina, antes do treino e disse aos futebolistas: «A Direcção dispôs-se. finalmente, a arejar o Departamento de Futebol, depois de calma e pacientemente ter tentado levar a cruz ao calvário, abriu, assim, as janelas do Departamento. falaram-me vocês na falta de calor humano que sentiam. Tereis esse calor humano na pessoa do dr. Miguel Pereira. O treinador Morais que conheceis deve sempre merecer-vos todo o respeito e colaboração. Será auxiliado pelo professor Otakar (que era o treinador de atletismo do clube) e que estará o lado do Morais para o auxiliar. Estamos a uma semana e meia de um jogo decisivo. Tereis de ir para esse encontro nas melhores condições. A Direcção estará permanentemente ao vosso lado. Podeis perder na Luz, mas podeis também demonstrar que o Benfica é também uma equipa que pode perder. Durante estes dois anos futuros faremos muitos jantares, repetiremos esse jantar que tanta celeuma deu. Haverá um contacto permanente com o futebol. Podereis contar comigo, sempre comigo».

Pedroto exigiu 452 contos...

António Morais, na altura de receber o testemunho, não deixou, com alguma coragem, de expressar (nas entrelinhas) solidariedade a Pedroto: «lamento tudo o que se passou desde o jogo com o Benfica para a Taça de Portugal, porque a equipa estava numa condição psicológica magnífica. Mas o que lá vai, lá vai, acredito que podemos vencer na Luz e... não alterarei nada á orientação seguida por Pedroto, até porque não há tempo, senão para sossegarmos o espírito»...
Pedroto foi dizendo que o jogo da Luz seria a glória ou a morte de três anos de trabalho, que tinha já como ganho uma Taça de Portugal e que ainda poderia culminar com a conquista de um Campeonato. Por isso estaria na Luz. A sofrer por fora...
Antes da partida para Lisboa e de uma homenagem na Régua e em Lamego, promovida por portistas que se tinham solidarizado consigo, Pedroto entregou no Tribunal do Trabalho do Porto um requerimento para a tentativa de reconciliação. No caso de se gorar tal intento, a acção judicial prosseguiria, exigindo ele 452 contos, sendo 52 de ordenados de quatro meses (ainda por saldar), de 100 contos pela conquista do Campeonato (que com ele no comando seria uma possibilidade...) e de 300 contos por danos morais.

10 contos valia a vitória na Luz

Afonso Pinto de Magalhães prometeu a cada um dos jogadore do F. C. Porto um prémio de 10 contos pela vitória sobre o Benfica. No dia do jogo do título, uma farândola de portistas na Luz. Era azul a esperança apesar de todas as peripécias, dos estrondos sísmicos que tinha deflagrado no seio do grupo de trabalho — e que talvez o tivessem condenado. Os bilhetes de bancada central custavam 50 escudos, as laterais 35, as superiores 25 e as gerais 15. Dos 13.047 bilhetes a que o F. C. Porto teve dirieto não sobrou um só, tendo sido todos vendidos por 361.890 escudos.
O resultado é que não foi lisonjeiro. Zero-zero. Bastaria apenas que o Benfica ganhasse em Tomar para se sagrar campeão. Ganhou e... no Porto continuaram os lamentos, o jogo cruzado das acusações, dos sarcasmos, das solércias, das velhacarias.
António Morais humildemente considerou que o afastamento de Pedroto prejudicou o F. C. Porto.
Otto Glória, treinador do Benfica, queixou-se dos disparates do árbitro e atirou: «O jogo só não degenerou em batalha campal porque os jogadores e dirigentes o evitaram».
Um mês depois, a Comissão Central de Árbitros suspendia Manuel Fortunato por 90 dias, «devido à sua desastrada actuação no Benfica-F. C. Porto».
Foi por essa altura que afirmou que decidira afastar Gomes, Pinto e Américo por ter detectado que eram «cabecilhas de rebelião», lamentando que o presidente, «roendo a corda», em vez de castigá-los de imediato, os convidasse para um «jantar íntimo» em que participaram mais 13 futebolistas, permitindo até que discutissem os seus métodos e os de Flávio de Amorim.
Em «A Bola», a propósito do caso que apaixonou o País, em jeito de novela pícara, escreveu Pedroto: «Conversou-se amigavelmente, discutiu-se livremente a personalidade e acção de superiores hierárquicos dos jogadores, e após a retirada dos jogadores em estágio no lar, o presidente ficou a conversar com os jogadores apontados como cabecilhas de rebelião!!! O jogador Atraca, ao chegar ao Lar desobedece a uma ordem do seu treinador Morais para recolher ao quarto, pois eram horas de o fazer e teve como resposta: «ainda não fiz a digestão, se quiser vá fazer queixa ao presidente». A maneira como Atraca diz estas palavras merece a intervenção rápida e enérgica do Director da Secção que o ameaça de expulsão imediata. Mais tarde, o presidente diz que a reacção do rapaz era natural pois ele não tinha a culpa de ter jantado tarde...»
Tudo isso antes do jogo fatal com o União de Tomar.
E, asseverou Pedroto, por tudo isso pedira demissão, mas Afonso Pinto de Magalhães não lha dera, se calhar, aquiesceu, para «ter o prazer de o demitir depois»!

O estado perturbado de Pedroto na tarde do empate fatal

O presidente do F. C. Porto, apesar de assumir que replicaria porque «o diálogo ao nível a que desceu o ex-técnico só é desprestigiante para as pessoas e para o clube», acabaria por desvendar alguns mistérios numa Assembleia Geral, marcada para 19 de Maio de 1969, com o intuito de decidir posições contra Pedroto. «Não restam dúvidas de que a atitude dos jogadores foi para com o seu técnico e para com mais ninguém. E não é verdade o que o técnico afirma falando na ‘existência de possível insubordinação de alguns jogadores’. Foi uma insubordinação colectiva, como prova a carta assinada por todos e enviada à Direcção, não se justificando de forma alguma a suspensão de três jogadores indicados pelos técnico sem ser averiguado convenientemente o caso. Foi o que fez a Direcção, mandando proceder ao inquérito. A esta determinação sensata chama o técnico ‘fraqueza’ e diz que por isso apresentou a sua demissão. Ao presidente nunca foi apresentada, formalmente a demissão. Vi na minha frente um homem perturbado, afirmando que tinha recebido a maior lição da sua vida, que o tinham queimado, que só lhe restava ir-se embora, etc. etc. Isto não é pedir a demissão».
Nada mais quis dizer Afonso Pinto de Magalhães sobre a polémica que estalara. Também não era preciso. Bastou para que os sócios em peso e em turba demonstrassem «a sua solidariedade para com o presidente da Direcção e o repúdio pelos insultos de que foi vítima» e determinassem que «no futuro ao técnico José Maria Pedroto fosse impedida a entrada neste clube, como funcionário, sem a expressa autorização desta Assembleia Geral».
Aprovado o escarnamento, com a voz entaramelada pela emoção, Afonso Pinto de Magalhães afiançou: «Estou profundamente sensibilizado sobre o modo como V.exas. se comportaram comigo nesta Assembleia Geral. É indubitável que não bastava ter a consciência tranquila. Era, no entanto, preciso algo mais. Era preciso, sem falsas modéstias, o calor dos vossos aplausos».
É assim a psicologia das massas. E por essa altura os portistas não perceberam que tinham condenado vários anos o seu futuro.
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O mais negro ano da história

Para substituir Pedroto, um treinador que já levara o Benfica à final da Taça dos Campeões. Passou mais tempo na cama que no campo...

Mais que as habituias trapaças, desta feita o F. C. porto deitou-se a perder por causa do ambiente de putrescibilidade quer criara dentro de si próprio, nessa tragicómica guerrilha entre Pinto de Magalhães e Pedroto, que foi a razão para que o título nacional se esgueirasse por uma nesga. Na amaldiçoada campanha de 69 contara o F. C. Porto com Américo, Bernardo da Velha, Valdemar, Rolando, Sucena, Pavão, Custódio Pinto, Jaime, Djalma, Gomes, Nóbrega, Malagueta, Atraca, Acácio e Lisboa. Foi esse lote quase sem excepção que recebeu Elek Schwartz, que em Maio assimou contrato com o F. C. Porto para treinar o clube durante a época de 1969/70, por 380 contos. Tinha cartel na Europa, levara já o Benfica à final da Taça dos Campeões, por isso...
Dias depois, da assinatura do contrato, afirmaria: «Vou para o F. C. Porto porque gosto de correr riscos». O destino trocar--lhe-ia as voltas...
Por essa altura, Américo decidiu pôr fim à sua carreira. Tinha 36 anos. Na hora da despedida disse, sem poalha de nostalgia, ao treinador Schwartz: «’Mister’, tem quatro guarda-redes para me fazerem esquecer depressa». Mal sabia que se estava a livrar de agruras como nunca passara.
Na última semana de 1969, com 11 jornadas já cumpridas, o F. C. Porto em... 10.º lugar, somando 11 pontos, menos nove do que o Sporting!!! Acometido de doença, Schwartz passava mais tempo na cama, carpindo mágoas, do que no campo, preparando futebolistas. Por vezes dava a táctica pelo telefone, se dizia na cidade.

O mago escocês e os problemas passionais

Tudo continuou pelas ruas da amargura e em finais de Fevereiro de 1970, depois de o F. C. Porto ter perdido, no Bessa com o Boavista (então em último lugar), por 2-3 — Pinto de Magalhães decidiu rescindir amigavelmente o contrato com o treinador doente, dando, interinamente, o comando da equipa a Vieirinha. O presidente sabia que não bastava. Que era preciso timoneiro com mais talento para segurar a nau que já vogava no mar encapelado da angústia, com os marinheiros todos de ânimos violentados pelas derrotas que se sucediam. Soube que o escocês Tommy Docherty, popularizado como Tommy Doc, deixara o Manchester United, onde ganhara fama, por problemas relacionados com questões... pas- sionais e amargava no desemprego. Lançou-lhe o canto de sereia. Doc veio e encontrou António Teixeira como treinador adjunto. Gostou dele. Mas a equipa estava destroçada... Na estreia de Vieirinha, mais uma derrota, nas Antas, com o Sporting: 0-1. Ivo de Araújo, vice-presidente do F. C. Porto, sardónico, comentou: «Nem sequer nos podemos desculpar com o árbitro...
Angústia maior, já com Tommy Doc, na última semana de Março: na sexta eliminatória da Taça de Portugal, o Tirsense sacudiu com o F. C. Porto da prova, ganhando nas Antas(!!!) por 1-0, com golo de António Luís. Todavia, a fleuma e a teimosia de Tommy Doc pareciam persistentes: «Vamos manter os mesmos métodos de trabalho com vista à nova época e assim com a eliminação da Taça de Portugal vamos entrar de férias mais cedo, os jogadores precisam disso para limpar a cabeça. Para o ano cá estaremos...»
Cinco dias depois, o Benfica ganhou nas Antas, por 2-1. Não admirou que em Assembleia Geral polémica alguém pronunciasse o seguinte juízo, que era mais cruciante de dor: «Alguns jogadores do F. C. Porto não têm lugar na II Divisão». Houve quem não poupasse os treinadores, mas a maioria esmagadora continuava com o presidente: «O sr. Pinto de Magalhães não pôde meter golos ao Tirsense».
E como há mais marés do que marinheiros, houve quem pensasse que com um craque se afastariam os ventos de desgraça — e propusesse: «Se os 6000 associados que disseram sim à Direcção se susbscreverem com mil escudos cada um, poderemos comprar não o Eusébio, mas um jogador de real valor». No plantel do F. C. Porto figuravam Rui, Aníbal, Gualter, Vieira Nunes, Leopoldo, Pavão, Lisboa, Gomes, Pinto, Sucena, Marques, Hélder, Ernesto, Vaz, Acácio, Albano e Eduardo. Havia, de facto, falta de lustro.
O F. C. Porto quedou-se no Campeonato pelo... nono lugar, a sua pior classificação de sempre, somando 22 pontos em 26 jornadas, sofrendo 37 golos e marcando apenas 30, ficando a 24 pontos do Sporting (!), averbando oito vitórias, seis empates e 12 derrotas. À sua frente, para além dos sportinguistas, o Benfica (38 pontos), o Vitória de Setúbal (36), o Barreirense (28), o Vitória de Guimarães (28), o Varzim (28), o Belenenses (23) e CUF (23).
Afonso Pinto de Magalhães continuava, contudo, a aposta na política de valorização do património, por defender que um clube não se podia medir apenas pelo valor da sua equipa de futebol e muito menos pelos seus resultados. Confidenciou: «No arranjo e na decoração da sede gastaram-se cerca de 800 contos. Mas nem um tostão lhe foi debitado! Não se tem feito qualquer obra sem orçamento, sem que sobre ela se pense a sério. O F. C. Porto não é um clube sem organização». Pagara ele, do seu próprio banco, todas essas despesas, para não agravar a situação de tesouraria e para dar ao clube sede mais condigna. Ficou-lhe bem e os consócios, sensibilizados, agradeceram.
O Estádio das Antas comaçava a ser um pouco a imagem da equipa de futebol. Pinto de Magalhães não se poupou a esforços e agiu. «Fizemos a impermeabilização da cobertura das bancadas que ameaçava ruir num futuro muito próximo. O F. C. Porto é um clube para ficar, para sempre, e não para cair assim aos bocadinhos... Nós desejamo-lo forte, nós queremos que seja eterno, e para que tal suceda só procedendo desta maneira: segurando o que não está seguro...»
Pois, pois, mas o futebol continuava de ilusões esfareladas. Que sim, aquiesceu, Pinto de Magalhães, mas curou de acentuar que isso não se devera a desinvestimento em jogadores, gastando em cimento o que se deveria gastar em futebolistas. «Não é verdade o que alguns sócios menos esclarecidos possam pensar. O dinheiro que se tem gasto a enriquecer o clube, a torná-lo verdadeiramente grande, como todos devem desejar, não tem faltado no futebol. E em que poderia a expansão do F. C. Porto prejudicar o futebol? Uma coisa não invalida a outra. Não se lhe nega nada, mesmo nada, mas depende de muita coisa, muitos resultados, daquilo que se chama vulgarmente sorte e azar. Mas o F. C. Porto vai ser clube e há-de ter uma equipa de que todos nos possamos orgulhar, pensando que não era sonho, era realidade pura e indesmentível».
Por vezes, a equipa de futebol do F. C. Porto conseguia faiscar na penumbra em que caíra. Por exemplo, no dia 25 de Janeiro de 1970, foi convidada para a inauguração do Estádio Cícero Pompeu de Toledo, em São Paulo, que famoso ficaria como do Morumbi — e empatou com o São Paulo, que era então a mais forte formação brasileira, a um golo, dando um tom ainda mais vivo à festa em que se utilizaram 30 mil rolos de serpentinas e 10 mil balões.

11 mil contos por um sonho chamado... Cruyff!

Preparando nova época, a 3 de Junho, os dirigentes do F. C. Porto anunciaram ter feito diligências no sentido de contratar um bom avançado estrangeiro e, nessa linham haviam contactado o Ajax e... Cruyff. O Ajax só por si pediu 8000 contos e, com a verba que o jogador exigia para si, a transferência ascendia a 11 mil contos. Os números foram desencorajadores e os portistas desistiram, para mais até porque as perspectivas de disputarem qualquer prova europeia estavam desfeitas.
Apesar da trágica campanha no futebol, facto que não deixa de impressionar: no final do ano de 1970, o F. C. Porto possuia 40.829 sócios (entre os quais 1163 sócios-atletas), registando-se, assim, um aumento da massa associativa superior a 10 mil nesse ano mais triste da vida do clube!
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Um resumo da época 1969/70:

1969

Maio
2 — Depois de um longo namoro com o Benfica, o F. C. Porto, o V. Guimarães e o Sporting, o clube de Alvalade contratou o avançado angolano Dinis, do ASA. O presidente do clube da ex-colónia portuguesa não gostou e demitiu-se, já que existia um pré-acordo com o Benfica. A transferência custou aos leões 550 contos.
4 — Continuou a desilusão. A Selecção portuguesa não foi além de um empate (2-2) com a sua congénere grega, em mais um encontro de apuramento para o «Mundial-70», disputado no Estádio das Antas. Eusébio e Peres marcaram, já na segunda parte, os golos portugueses, recuperando da desvantagem de 2-0. Os quatro golos foram apontados em 16 minutos, mas nem a emoção dos tentos camuflou a desilusão. «Ao que nós chegámos! Empatar no Porto gera desilusão na Grécia», mandou dizer de lá, Severiano Correia, que por essa altura treinava (com espectacular sucesso) o Aris, de Salónica. A dor e a incredulidade eram por demais evidentes e lia-se: «Não há dúvida, perdeu-se o respeito pelo futebol português. Custou, mas a nossa Selecção, os seus responsáveis, conseguiram o milagre de o fazer em menos de três anos. Pobres magriços que agora até já têm que perder com a Grécia...» A equipa portuguesa alinhou: Damas; Conceição, Pinto, Joaquim Jorge e Carriço; Jacinto (Manuel António), Rolando e Peres; Pinto, Eusébio e Jacinto João (Figueiredo).
5 — O húngaro Elek Schwartz assinou contrato com o F. C. Porto para treinar o clube durante a época de 1969/70, por 380 contos. Dias depois, afirmou: «Vou para o F. C. Porto porque gosto de correr riscos.»

Junho
6 — Américo, guarda-redes do F. C. Porto, pôs fim à sua carreira de futebolista, aos 36 anos. Na hora da despedida, disse ao treinador Elek Schwartz: «Mister, tem quatro guarda-redes para me fazerem esquecer depressa.»
25 — Artur Jorge, aos 23 anos, transferiu-se da Académica para o Benfica. O Sporting também entrara na corrida, oferecia-lhe 1300 contos, mas o jogador preferiu o Benfica, apesar, segundo ele, de ir ganhar... um pouco menos.

Setembro
7 — Arrancou o «Nacional» de futebol da I Divisão e, logo na jornada inaugural, a primeira grande surpresa: em Matosinhos, o Leixões venceu o Benfica, por 2-0.
10 — E, finalmente, depois de um longo período de indefinição, Eusébio, a «pantera negra», assinou novo contrato com o Benfica. Foi um caso que, durante meses, apaixonou a opinião pública. Com a duração de três anos, os números do novo acordo eram as seguintes: Luvas, 3076 contos; ordenados, 324 contos; festa (mínimo), 600 contos. No total, quatro mil contos para os bolsos de Eusébio, que afirmou: «Vou comprar um prédio com o dinheiro do meu contrato.»

Outubro
1 — As provas europeias arrancaram alguns dias antes e Portugal apresentou-se com seis representantes: Benfica (Taça dos Campeões), Académica (Taça das Taças), Sporting, F. C. Porto e V. Guimarães (Taça das Feiras) e todas elas passaram à segunda elimanatória das respectivas competições.
12 — A esperança, se ainda existia, ficou enterrada em Bucareste. Em mais um encontro de apuramento para o «Mundial-70», Portugal perdeu, 1-0, ante a Roménia e disse, definitivamente, adeus ao México. Pouco mais de três anos depois de ter surpreendido o Mundo, com o terceiro lugar em Inglaterra, voltou tudo ao triste fado, às vitórias adiadas. Mais, a Selecção das «quinas» já não vencia há quase um ano. A última vitória tinha surgido, precisamente, diante da Roménia, por 3-0, em 27 de Outubro de 1968.
19 — Joaquim Agostinho, em Paris, foi o quinto classificado no Grande Prémio das Nações, quando se apresentava como um dos grandes favoritos. Uma queda, na parte final da prova, desfez-lhe o sonho.
— Em Alvalade, o Sporting continuava imparável e venceu o F. C. Porto, por 2-1, em jogo a contar para a quinta jornada. Foi o primeiro golo consentido por Damas nesse Campeonato. Pinto rompeu a inviolabilidade das suas redes. Mesmo assim, os leões registavam um saldo impressionante: 16-1!
30 — Iniciou-se a segunda eliminatória das competições europeias e, em Alvalade, o Sporting empatou 0-0 com o Arsenal. Uma curiosidade: das seis equipas nacionais em prova, cinco delas defrontaram formações britânicas. Benfica-Celtic; V. Setúbal-Liverpool; V. Guimarães-Southampton; Newcastle-F. C. Porto e Sporting-Arsenal. Apenas a Académica escapou, ao defrontar os alemães do Magdeburgo. Coincidências do sorteio...

Novembro
2 — Imparável, também, continuou Joaquim Agostinho. Formando equipa com Van Springel, venceram o Troféu Barachi, disputado em Bérgamo, Itália. Fizeram os 120 quilómetros do percurso a uma média de 46,220 km/h e tiveram direito a um prémio de meio milhão de liras para cada um (cerca de 22 contos).
— Em Berna, ante a Suíça, Portugal encerrou, sem qualquer brilho, honra ou glória, a sua participação no «Mundial-70». Um empate a um golo, consentido a dois minutos do final, foi o resultado possível, numa campanha para esquecer: em seis jogos, Portugal apenas logrou vencer uma vez, empatou duas e averbou três derrotas. Como estavam distantes os tempos dos «Magriços»...
9 — Na 7.ª jornada do «Nacional», Alvalade foi o palco do grande derby. Sporting e Benfica estavam separados, antes do encontro, por apenas um ponto, mas o golo de Marinho e a tarde inspirada de Damas aumentaram a vantagem para três pontos.
12 — Quarta-feira negra para as equipas portuguesas envolvidas nas competições europeias. Portugal esteve representado em quatro frentes e o saldo foi desastroso: uma vitória e três derrotas: Celtic-Benfica, 3-0; Magdeburgo-Académica, 1-0; Southampton-V. Guimarães, 5-1; e Setúbal-Liverpool, 1-0. Uma semana depois, nas Antas, o F. C. Porto também não se deu muito bem com o futebol britânico e não foi além de um empate a zero golos, com o Newcastle.
26 — Os três grandes do futebol português disseram adeus à Europa. O Sporting foi derrotado em Londres, pelo Arsenal, por 3-0; o F. C. Porto, em Newcastle, perdeu por 1-0; e o Benfica, na Luz, venceu por 3-0, o Celtic, anulando a desvantagem trazida de Glasgow, mas acabou derrotado por... uma moeda. Apenas a Académica, que em Coimbra venceu os alemães do Magdeburgo por 2-0, e o Setúbal, que apesar de ter perdido por 3-2, em Liverpool, lograram seguir em frente. Os sadinos assinaram, dessa forma, uma das páginas mais brilhantes do seu historial, ao fazer dobrar os joelhos ao poderoso Liverpool, na altura terceiro classificado no Campeonato inglês.
30 — Os estudantes atravessavam um momento de forma impressionante. Receberam o Sporting e bateram o líder por 3-0, na 10.ª jornada do «Nacional». Com 17 pontos, mesmo assim, a turma de Alvalade manteve um confortável avanço sobre Benfica (menos um jogo) e Varzim, que somavam 12.

Dezembro
3 — O Benfica realizou o encontro em atraso do Campeonato e cilindrou, na Luz, o U. Tomar, por 6-0. Vítor Martins, conhecido também por «Garoupa» — «nome que me foi posto por Malta da Silva e Calado, por acharem que tenho os olhos saídos», segundo confessou —, era um jovem que despontava no futebol. Marcou um golão e confessou, no final: «Tinha os pés gelados quando atirei ao golo.» Era não-amador e recebia 2.500 escudos por mês. Deixou de estudar porque, segundo revelou, «não tinha cabecinha».
10 — Cerca de três anos e meio depois de ter perdido com a Inglaterra, por 2-1, nas meias-finais do «Mundial-66», a Selecção portuguesa voltou a Wembley para defrontar a Inglaterra. E o destino repetiu-se: nova derrota, desta feita por 1-0.
21 — O F. C. Porto não se conseguia encontrar. Foi jogar à Luz e perdeu por 2-0, com golos de Simões e Eusébio. Na tabela classificativa, os portistas ocupavam um lugar pouco habitual: 10.º lugar, com 11 pontos, a nove do primeiro, que era o Sporting.

1970

Janeiro
4 — Começou a segunda volta do «Nacional» com o Sporting, como comandante, a ir a Braga e a contornar difícil obstáculo, vencendo por 3-1, debaixo de intensa chuva. O F. C. Porto empatou nas Antas com o Belenenses (0-0), o Benfica despachou o Leixões (3-0) e o Varzim esmagou o Vitória de Guimarães: 4-1. Joaquim Meirim, que estava à frente dos poveiros, bem ao seu jeito, aproveitou o lance para declarar: «Se não o for comigo, o Varzim não será campeão com mais ninguém.»
7 — Na saga europeia, o Setúbal viajou até Berlim, onde defrontou o Hertha, acabando por perder na segunda mão dos oitavos-de-final da (ainda) Taça das Feiras, por 1-0.
— Afonso Pinto de Magalhães, presidente do F. C. Porto, anunciou que Schwartz continuava doente, sem se saber quando regressaria ao desempenho das suas funções, pelo que Vieirinha fora investido como técnico principal, cargo que manteria enquanto o treinador principal estivesse afastado.
18 — Em maré de feição, o Sporting recebeu o Setúbal para o «Nacional» e ganhou por 3-1 e o êxito leonino foi dedicado por inteiro a Mário Moniz Pereira. Como o Benfica perdeu, em Guimarães, por 1-2, o clube de Alvalade ficou com cinco pontos de avanço do seu rival da Luz.
— O Belenenses recebeu o Varzim e venceu por 1-0. O insólito sucedeu no final da partida: cerca de mil pessoas perseguiram o técnico varzinista, mas Meirim, sem ligar à turba ululante, recusou-se a abandonar discretamente o Restelo, mostrando-se um homem sem medo, saindo de ar imponente e cabeça levantada apesar dos piropos, gritados em coro, «pa-lha-ço! pa-lha-ço!». E o técnico foi peremptório: «Não quero que digam que eu alguma vez tenha fugido fosse do que fosse.» Não muito tempo depois, seria treinador do... Belenenses.

Fevereiro
1 — Chegou-se à 17.ª jornada a não se sabia quantos pontos de avanço levava o Sporting, pois faltava conhecer-se o veredicto federativo sobre os graves acontecimentos da Luz... Os leões, apesar de bem lançados, viram-se em palpos de aranha para ultrapassar o último reduto do Barreirense e só por uma única vez furaram as redes de Bento. O tento foi rubricado por Peres. A surpresa da ronda surgiu no Bessa, onde um Boavista, em último lugar e quase condenado, conduzido por Luís Villa, bateu o F. C. Porto, por 3-2, com Vieirinha a confessar: «O resultado apareceu inesperadamente. Depois de termos chegado aos 2-1 contava, na verdade, com a vitória, mas a nossa defesa permitiu muitas facilidades.»
4 — O F. C. Porto anunciou que o técnico Schwartz rescindira o contrato com o clube. E, para o susbstituir, já que Vieirinha se encontrava em funções em regime transitório, os dirigentes portistas chamaram o técnico escocês Tommy Docherty, popularizado por Tommy «Doc».
8 — Precisamente a oito jornadas do final do Campeonato, o Sporting teve de deslocar-se às Antas e adregou um saboroso triunfo por 1-0, com o único tento da partida a ser apontado por Lourenço. Os sportinguistas tiveram uma explosão de contentamento, manifestada em grito alegre de Nélson: «Somos campeões!», mas Fernando Vaz recomendou calma e ponderação. O vice-presidente do F. C. Porto, Ivo de Araújo, comentara: «Nem sequer nos podemos desculpar com o árbitro...» Entretanto, o Benfica, a actuar no Estádio Nacional, baqueou frente à CUF (1-0), mais contribuindo para a euforia dos leões. E o Setúbal subiu ao segundo lugar.
11 — A grande sensação da semana foi a chicotada havida no Benfica, com a saída do treinador Otto Glória e do adjunto Fernando Cabrita. A técnico principal foi promovido José Augusto.
20 — A Direcção da FPF decidiu homologar o resultado do jogo Benfica-Belenenses (0-0) e o empate causou inconformismo mútuo, enquanto o Estádio da Luz foi interditado por quatro jogos e o clube multado em três contos.

Março
22 — Na sexta eliminatória da Taça, o Tirsense sacudiu com o F. C. Porto da prova, ganhando nas Antas por 1-0, com um golo de António Luís. Todavia, a fleuma e a teimosia de Tommy Docherty seriam persistentes: «Vamos manter os mesmos métodos de trabalho com vista à nova temporada. Vamos entrar em férias mais cedo.» A reacção e a euforia do Tirsense não se fizeram esperar pela voz do técnico Ramin: «E agora, queria que viesse o Sporting!» Por sua vez, o Benfica desembaraçou-se do V. Setúbal, ganhando por 2-0, revelando as duas turmas que estavam saturadas uma da outra...
29 — Amêndoas negras na festa do campeão: Sporting, 2-Académica; 1. Nené abriu o activo (31 minutos) e os «leões» só lograram o empate a treze minutos do final, por intermédio de Pedras, e Dinis adregou o triunfo (2-1) cinco minutos depois. Fernando Vaz reconheceu: «A Académica deu uma lição de brio e pundonor.» O internacional brasileiro Garrincha (pela terceira vez em Portugal) assistiu à partida e confessou: «Gostava de jogar em Portugal. Aqui a gente se sente em casa.»

Abril
12 — Na penúltima ronda do «Nacional», o Benfica foi às Antas vencer o F. C. Porto por 2-1, com os encarnados a chegarem a 2-0 (Simões e Artur Jorge), antes do intervalo. Entretanto, em Alvalade, o Sporting limitou-se a assinar o ponto e venceu, tardiamente, o Boavista por 3-0, pois os axadrezados jogavam para sair da fossa da descida. As festas maiores aconteceram em Faro e em Santo Tirso, visto os seus representantes terem garantido a subida à I Divisão.
17 — Em maré de agitação, os clubes que não atingiram o plano ambicionado pelos sócios davam sintomas de incomodidade. É o caso do grémio das Antas, pois em Assembleia Geral foi pronunciado o seguinte juízo: «Alguns jogadores do F. C. Porto não têm lugar nem na II Divisão», ao mesmo tempo que outros sócios atacaram o treinador, mas a maioria defendeu a Direcção: «O sr. Pinto de Magalhães não pode meter golos ao Tirsense.» Outra afirmação: «Se os 6000 associados que disseram sim à Direcção se subrescreverem com mil escudos cada um, poderemos comprar não o Eusébio, mas um jogador de real valor.»
19 — Terminou o «Nacional», o Sporting, como se esperava, conquistou o título de campeão, com 46 pontos, mais oito do que o Benfica e mais dez do que o V.Setúbal. Os leões foram até ao Estádio do Mar e destroçaram o Leixões por 5-2. O Sporting teve o melhor ataque (61 golos), mas a melhor defesa foi a do Benfica (só 14 golos sofridos). O melhor marcador foi Eusébio: 20 tentos (sexto triunfo). Sp. Braga e Sp. Tomar foram os despromovidos à II Divisão. Palavras de Fernando Vaz: «Admirável gente do Norte, na festa do futebol.». Os bracarenses que careciam vencer o Boavista no Bessa (perderam por 2-0) pediram a «interferência» de Joaquim Meirim para tentar a salvação, oferecendo ao técnico a quantia de 70 contos pelo feito, pois na jornada anterior (Varzim) já lhe haviam entregue outro cheque de 50 contos! A contratação do feiticeiro acabou por ser apenas simbólica, uma vez que os bracarenses não se salvaram. Houve outras negociações em jogo, os boatos fervilharam, mas não existiu qualquer milagre.

Junho
3 — Os dirigentes do F. C. Porto anunciaram ter feito diligências no sentido de contratar um bom avançado estrangeiro, e, nessa linha, haviam contactado o Ajax e... Cruyff. O Ajax, só por si, pediu 8000 contos e, com a verba que o jogador exigia para si próprio a transferência ascendia a 11 mil contos! Os números foram desencorajadores e os portistas desistiram, para mais porque até as perspectivas de disputarem qualquer prova europeia estavam desfeitas.

Julho
8 — Pavão assinou contrato por três épocas com o F. C. Porto, tendo também ingressado no clube da Antas, Abel (ex-Benfica) e Manuel Duarte (ex-Sporting).
22 — Cubillas pretendido pelo Sporting pedia 5500 contos por três épocas e Cruyff queria 3000 contos por duas temporadas. Para além disso mais 8000 contos para o Ajax. Um pouco mais do que fora pedido, semanas antes, ao F. C. Porto.

Classificação do Campeonato:

Clube J V E D G P

1 Sporting 26 21 4 1 61 17 46
2 Benfica 26 17 4 5 58 14 38
3 Vit. Setúbal 26 16 4 6 58 26 36
4 Barreirense 26 11 6 9 42 33 28
5 Vit. Guimarães 26 12 4 10 38 36 28
6 Varzim 26 10 8 8 31 26 28
7 Belenenses 26 9 5 12 23 34 23
8 CD Fabril (CUF) 26 9 5 12 34 38 23
9 FC Porto 26 8 6 12 30 37 22
10 Académica 26 8 6 12 42 46 22
11 Leixões 26 10 1 15 33 47 21
12 Boavista 26 6 6 14 35 61 18
13 Sp Braga 26 6 5 15 25 52 17
14 U. Tomar 26 5 4 17 20 53 14

Resultados, jornada a jornada:
Jorn. 1 = Belenenses 1-1 FC Porto (E) – 2ªvolta - Jorn. 14 = FC Porto 0-0 Belenenses (E)
Jorn. 2 = FC Porto 3-3 Académica (E) – 2ªvolta - Jorn. 15 = Académica 1-2 FC Porto (V)
Jorn. 3 = CD Fabril (CUF) 2-1 FC Porto (D) – 2ªvolta - Jorn. 16 = FC Porto 2-0 CD Fabril (CUF) (V)
Jorn.4 = FC Porto 2-1 Boavista (V) – 2ªvolta - Jorn. 17 = Boavista 3- 2FC Porto (D)
Jorn. 5 = Sporting2-1FC Porto (D) – 2ªvolta - Jorn. 18 = FC Porto 0-1 Sporting (D)
Jorn. 6 = FC Porto 2-0 Sp Braga (V) – 2ªvolta - Jorn. 19 = Sp Braga 1-1 FC Porto (E)
Jorn. 7 = Vit. Setúbal 5-0 FC Porto (D) – 2ªvolta - Jorn. 20 = FC Porto 0-3 Vit. Setúbal (D)
Jorn. 8 = FC Porto 2-0 U. Tomar (V) – 2ªvolta - Jorn. 21 = U. Tomar 3-0 FC Porto (D)
Jorn. 9 = Barreirense 1-1F C Porto (E) – 2ªvolta - Jorn.22 = FC Porto 1-1 Barreirense (E)
Jorn. 10 = FC Porto 5-1 Leixões (V) – 2ªvolta - Jorn. 23 = Leixões 2-0 FC Porto (D)
Jorn. 11 = FC Porto 0-1 Varzim (D) – 2ªvolta - Jorn. 24 = Varzim 0-2 FC Porto (V)
Jorn. 12 = Benfica 2-0 FC Porto (D) – 2ªvolta - Jorn. 25 = FC Porto 1-2 Benfica (D)
Jorn. 13 = FC Porto 1-0 Vit. Guimarães (V) – 2ªvolta - Jorn. 26 = Vit. Guimarães 1-0 FC Porto (D)
*/*/*/*
1ª volta - FC Porto 6º 13j 5 v 3 e 5 d 19 gm 19gs 13p ------ 2ªvolta – 9º FC Porto 13j 3v 3e 7d 11gm 18gs 9p

Isto sim, era miséria. Um pormaior destes resultados, Pedroto, despedido, vai treinar o V. Setúbal e nos dois jogos do campeonato vence o FC Porto por 5-0 no Bonfim e 3-0 nas Antas.

Eis uma crónica do jogo realizado nas Antas:

F. C. PORTO, 0 V. SETÚBAL, 3
O «ALMAGRO SADINO» DESTROÇOU 0 «FUTEBOL INGLÊS»
Data: 2 De Março de 1970

Estádio das Antas.
Árbitro: José Alexandre, de Santarém.
F. C. PORTO - Rui (1) ; Acácio (1), Valdemar (1), Pavão, «cap.» (2) e Albano
(1): Rolando (2). João (2) e Pinto (1); Chico (2), Sèninho (1) e Eduardo (2).

V. SETÚBAL - Vital (2); Conceição. «cap»,(3), Cardoso (2), Alfredo (2) e Carriço (3); Tomé (2). José Maria (2) e Vagner (2): Vítor Baptista (3). Arcanjo (2) e Jacinto João (2).
Ao intervalo: 0-0.
Segunda parte: 0-3.
Substituições: Aos 13 minutos, a coincidir com o segundo golo sadino, Rolando cedeu o lugar a Ronaldo. O F.C.Porto ainda fez uma segunda alteração na equipa, aos 32 minutos, pois Ronaldo saiu e Cibrão preencheu a vaga. Os setubalenses apenas fizeram uma troca: Arcanjo por Guerreiro, aos 21 minutos.

O Vitória marcou no primeiro minuto: Jacinto João centrou. Rui saiu e socou de forma a desviar apenas a bola. A defesa do F.C. Porto não foi suficientemente rápida para afastar o perigo e Tomé, do lado direito, centrou rasteiro. VÍTOR BAPTISTA rematou forte e por alto.

O segundo ponto dos setubalenses surgiu aos 13 minutos. O F. C. Porto ensaiou uma jogada de ataque. A defesa adiantou-se no apoio da jogada, ficando, porém Albano em posição mais recuada em relação aos companheiros e a VÍTOR BAPTISTA, que também se deixou ficar para trás, metido, por assim dizer, numa zona entre os defesas. Oportunamente José Maria endossou-lhe a bola e o «ponta-de-lança» do Vitória só teve que correr uns metros esperar a saída de Rui e rematar, aliás bem.

Aos 36 minutos, 3-0. Tomé levou a bola pelo corredor lateral direito e foi centrar à linha de cabeceira. O centro saiu rasteiro, Vítor Baptista foi impedido, ilegalmente, de disputar o lance, mas o árbitro não assinalou a falta, o esférico correu para a esquerda de onde foi centrado por Jacinto João. E GUERREIRO, oportuno, atirou forte surpreendendo Rui que, de resto, se encontrava tapado por um grupo de jogadores.

Um jogo de futebol é sempre em qualquer circunstância qualquer coisa que nos impressiona e nos apaixona e somos dos que gostam de chegar aos estádios uma hora antes do início da partida porque a movimento das pessoas, nos seus comentários, no amontoado de ideias que saem desta e daquela frase está o princípio do espectáculo que se presenciar. Aliás, isso até sucede em relação aos jogadores que se vêem e ouvem antes das peripécias do desafio confirmarem ou desmentirem as suas convicções.

Ontem, na cabina do F. C. Porto, uns minutos largos antes dos futebolistas nortenhos se começarem equipar, um jogador que não podia alinhar por se encontrar lesionado desde quarta-feira, disse-nos que «Mr. Doc», como ele gosta, familiarmente de ser tratado, «porque é mais simples, porque é mais fácil», tinha dado doses fortíssimas de preparação física aos jogadores e que, de princípio, todos se tinham ressentido de forma espectacular, mas que, hoje, os resultados começam a aparecer e já não existe nenhum futebolista que pense ser excessiva a preparação física importada dos cacimbados rectângulos de Inglaterra.

Deu-nos a impressão pelo que ouvimos ao forçado ausente da equipa, e, também, pelo que apanhámos no ar quando, pachorrentamente, percorríamos a praça fronteira ao Estádio das Antas por entre grupos de indivíduos mais ou menos crentes nas possibilidades do novo «mister» que, por acaso, até é mesmo «mister», que os processos basilares do futebol inglês estavam a entrar por ali dentro sem grande cerimónia.

E ficámos a pensar se «Mr. Doc» estava a tentar injectar no F. C. Porto apenas preparação física em doses que muitos jogadores lusitanos podem considerar industriais e que no fundo representam um pouco mais de trabalho e mais horas de permanência no emprego, dotando os jogadores de uma condição atlética um tanto estranha ao portuguesinho que detesta quebrar os rins e pensa que o futebol é só o pontapé na bola, ou se, a correr paralelamente com a preparação, o novo treinador também desejava insuflar na equipa das Antas o tipo de futebol inglês, com toda aquela gama de recursos físico-técnicos que envolvem o procedimento dos jogadores dentro de um figurino desabitual das equipas portuguesas e íamos mesmo a dizer das equipas latinas.

Não tirámos completamente as dúvidas, pois, francamente, tanto nos pareceu que «Mr. Doc» pretende pôr o F. C. Porto a jogar largo, bola ao primeiro toque, rapidez nas desmarcações, baliza como objectivo quase único ou como meta infalível das jogadas como nos pareceu que a turma portista se deixou cair num futebol «embrulhado» que não era de corte inglês, nem de corte nacional. Trata-se, certamente, de um período de transição e parece-nos que vamos assistir a uma corrida tipo contra-relógio, com o técnico britânico a querer acertar as agulhas, a querer pôr o relógio da Torre dos Clérigos pelo meridiano londrino e os associados do prestigioso e glorioso clube da cidade Invicta a desejarem que as coisas melhorem de vez e o F. C. Porto seja uma equipa capaz, ao menos no seu campo, de defrontar de igual para igual o famoso e excelentemente organizado «team» do Vitória Futebol Clube, legítimo orgulho desportivo da cidade de Setúbal.

Pois, aí reside a dúvida. Trabalho de um que exige muita atenção, muita preocupação e algum tempo. Desejos de outros, que, como todos os movimentos associativos, pretendem que o seu clube seja o melhor ou, pelo menos, ganhe os jogos

A primeira ideia que a equipa do F.C. Porto nos ofereceu, não obstante se apresentar sem elementos que, neste momento, são essenciais à equipa, uma vez que se perdeu aspirações a um lugar «decente» no Campeonato, não as perdeu, lógicamente, na Taça de Portugal que há-de suceder a este sensacional torneio, foi a de que tentou jogar a bola sem rodriguinhos, sem paragens desnecessárias, sem o desejo de alindar os lances, de os adornar, de os tornear como a uma peça de arte. Rumo a baliza de Vital, três homens na frente apoiados por três médios, quatro defesas que começaram o jogo bastante bem (tão bem como acabaram mal) e simplicidade de métodos e de sistemas de progressão.

Pensámos que estava ali a mão do «chefe» britânico. Para que o futebol do F.C. Porto se assemelhasse ainda mais ao que, por norma, assinam as turmas da velha Albion só faltaram os constantes lançamentos largos sobre a baliza, mas, mesmo assim, ainda vimos Pinto, Eduardo e Acácio tentá-los, cruzando a bola para a grande área na expectativa de uma cabeça preciosa que a levasse para além da linha de golo.

Era um F.C. Porto aparentemente dinamizado, jogando um futebol que se percebia incipiente na sua tentativa de transformação, de salda de um estilo para outro. Mas pode-se dizer que durante meia hora os portistas conseguiram fazer esse tipo de jogo sem que, porém lhe notássemos a profundidade do futebol naturalmente liso e aberto. Jogadores habituados a dominar a bola com certo tempo, a prepará-la a fazer-lhe «festas», a endossá-la só depois de um lapso de meditação ou de uma corrida não se adaptam a figurino que lhes exige raciocínio rápido e sentido prático que pode levar a bola de um extremo ao outro do campo, a virar o jogo, ou de um defesa ao espaço vazio na frente do «ponta-de-lança» ou do extremo. Não é numa, nem em duas, nem em três semanas que um grupo de futebolistas pode sair, com êxito, do peso excessivo para o peso normal de um atleta, que pretende ser profissional de futebol, e, ao mesmo tempo, forçar a perda de hábitos antigos, quase ancestrais.

Depois, é preciso que, morfológicamente, o jogador tenha poder de receptividade ao padrão de jogo que tem exigências específicas. Como se pode pretender que futebolistas tipo Pavão, Chico, Pinto, João, Eduardo, Valdemar, ao fim e ao cabo, a maioria esmagadora da turma portista, sejam capazes de pôr em prática, sem dar cabo de tudo quanto reconhecemos de bom e habilidoso aos jogadores das suas características, um sistema para o qual não estão, nem podem estar fadados? Exceptuando Rolando e, vamos lá, Séninho, quem é que, no F. C. Porto, pode sustentar o futebol que nos pareceu estar a ser introduzido na equipa? É evidente que o futebol apoiado está mais no temperamento e, sobretudo, na inteligência dos jogadores portugueses que foram, até há bem pouco tempo improvisadores do futebol; mas acreditamos que não se possa sair de repente, sem transição, de um tipo para outro sem que se encontrem muitas dificuldades, nalguns casos, intransponíveis, especialmente no que diz respeito repetimos, à condição, às características, ao tipo do jogador.

É verdade que jogar a bola ao primeiro toque, exige uma completa simplificação de métodos de transposição e de ataque. A nossa dúvida está nisto as linhas média e dianteira do F. C. Porto têm capacidade atlética para adoptar esses métodos? Podem jogar sem o compasso de espera, sem recorrer a dribles, a fintas, a todo um outro tipo de futebol, porventura até mais lento e mais trabalhado? A oficina das Antas pode virar potência industrial de um minuto para o outro? Vamos a ver até onde a conduz o treinador inglês e os seus processos de trabalho, muito úteis, muito a-propósito para os atletas britânicos habituados ao esforço combinado desde mocinhos, habituados a regras alimentares, habituados à ginástica e mentalizados nos seus deveres. É provável que a sua teimosia, a sua insistência acabe de dar lucros num pormenor ao menos: na preparação física dos jogadores que, francamente, não nos pareceu má, salvo um ou dois casos.

Vitória, tipo S. Lourenço de Almagro, agarrou a bola e nunca mais ninguém de «azul-e-branco» lhe tocou.

Durou meia hora o jogo escorreito dos nortenhos, uns rapazes esforçados, sempre desejosos de executar depressa e bem, sempre tementes às censuras do seu técnico. Essa meia hora, a inicial, está bem de ver, trouxe ao encontro das Antas a luta entre o novato, que quer dar nas vistas, quer sobressair, e o maduro, que espera pela oportunidade de virar tudo aquilo e pôr na mesa, de forma irresistível, o seu jogo bem recheadinho de trunfos.

Pareceu que a equipa de José Maria Pedroto não tinha rei nem roque, nesse tempo quase de euforia, ao menos de esperança, das bancadas soalheiras das Antas, o F.C.PORTO jogava a favor do vento, não perdia tempo, tentava alicerçar o seu futebol e a verdade é que o esférico corria sem tropeções desde a defesa à linha média. Quando saia dos pés de Rolando, João e Pinto sucedia uma de duas coisas ou era cortado pelas antecipações dos defesas forasteiros ou era jogado, no mesmo estilo simples, para a grande área e então estabelecia-se um género de luta corpo-a-corpo entre os atacantes das Antas e os defensores da turma sadina. Invariavelmente, os setubalenses ganhavam os lances ou as ressacas, até porque, no aspecto físico e aqui está a razão do nosso reparo de há pouco), os jogadores de Setúbal são mais fortes do que os portuenses e conseguem ir mais acima ganhar bolas altas. Logo nos parece que a melhor forma do F. C. Porto atacar, com aqueles jogadores de estatura média, não seria pelo ar, mas com jogadas rentes á relva. E se estas, para serem dinâmicas, necessáriamente dinâmicas, devem ser executadas com rapidez, ninguém deve ignorar que a imaginação, um dos grandes dotes do futebolista lusitano, não deve andar desligada da actuação dos jogadores.

Não nos admirou absolutamente nada o inêxito do F. C. Porto, no que diz respeito à luta na área do setubalense, pois se nós já vimos, no «inferno» de Liverpool contra jogadores três palmos mais altos que os portistas, aquela defesa ganhar uma eliminatória europeia...

De qualquer forma, admitimos que essa meia hora conteve elementos de comparação para quem, habitualmente, vê o F. C. Porto. A equipa que vimos em Copenhaga e no Barreiro corria menos, mas jogava mais. Todavia, é natural que tivéssemos tido o azar de ir ao Porto numa tarde aziaga para os «azuis-e-brancos», equipa que nos habituámos a ver discutir todos os jogos em que intervinham e em todas as circunstâncias.

Se quisermos especular, poderemos extrair desses trinta minutos de domínio portuense retalhos de sensação. Uma soberba jogada de João, por exemplo, que colocou o esférico nos pés de Sèninho para este não conseguir nada de proveitoso, lances ligados do meio campo, uma certa segurança defensiva, num resumo, um futebol que pretendia ser alegre e contundente e só era a primeira das coisas.

Depois, o Vitória agarrou no jogo. Ainda não tinha terminado o primeiro tempo quando isso aconteceu e pode-se dizer que as redes de Rui correram logo perigo, mais perigo num quarto de hora de futebol argentino do que as de Vital em meia hora de sóbrio «corte» inglês. E um remate de Vítor Baptista esbarrou na barra, sobressaltando as Antas.

A seguir? A seguir, os acontecimentos precipitaram-se. Até parecia que não tinha havido intervalo e que o remate devolvido pela barra da baliza portista havia impulsionado os sadinos. Vítor Baptista, outra vez, fez um golo no minuto inaugural da segunda parte.

E o Vitória lançou-se naquele seu temível jogo que parece um turbilhão. Nessas alturas, o futebol sadino corre sobre esferas e faz lembrar, palavra que faz, em nova edição, porventura mais «picante» mais actualizada, a famosa e inesquecível equipa argentina de S. Lourenço de Almagro quando, um belo domingo, veio à sala de visitas do futebol português e, também, ao Porto esbugalhar os olhos dos que tiveram a felicidade de os ver jogar e a infelicidade de jogar contra eles.

A máquina pôs-se em funcionamento. Apareceu um segundo golo, surgiram oportunidades de mais (Tomé, numa delas, ficou deslumbrado com tanta facilidade e acabou por «emprestar» a bola a Rui), os setubalenses pareciam um comboio rápido. Desmarcações sucessivas perturbavam a marcação do adversário, os defesas saíam para o ataque, os médios metiam-se pelos flancos, a bola girava e tanto aparecia na retaguarda, mansinha, dominada, acarinhada pelos pés dos jogadores de Setúbal que pareciam apenas querer recrear-se com ela como surgia, num golpe de força, de audácia, de inteligência lá na frente com Vítor Baptista, no seu encalce, com Arcanjo a acompanhar, com Tomé a infiltrar-se.

E isso sim foi futebol com duas facetas que, quando se ligam, tornam o jogo da bola no mais brilhante dos desportos bonito e eminentemente perigoso.

O F. C. Porto quis reagir. Já lhe faltava, porém, o discernimento. A saída do adversário de um futebol mastigado, que foi a sua característica no primeiro tempo, altura em que o vento soprava forte e contra, para uma ofensiva em larga escala que envolve o movimento de todos os jogadores, aturdiu a turma nortenha e quase a fez em farrapos.

A primeira grande quebra da equipa ocorreu no meio campo. A defesa acabou por se ressentir do grande volume de jogo «comandado» que o adversário lhe opunha e o ataque morreu de morte natural, morreu, pode-se dizer, à míngua de recursos. Pinto não durou o suficiente em pleno, João ainda foi o que conseguiu ir mais além e Rolando foi substituído por um jogador demasiadamente lento para poder marcar qualquer jogador de Setúbal ou desmarcar-se, lá na frente.

Houve, de qualquer maneira, reacção do F. C. Porto, uma reacção honesta que pretendeu ainda segurar aqueles diabos que se tinham separado do espartilho e cometiam toda a espécie de «tropelias» técnicas que se podem imaginar. Talvez que se o árbitro tem marcado a grande penalidade por mão de Cardoso dentro da área claro, em vez de ter puxado a bola mais para trás, a fim de transformar falta grave num livre fora da zona de rigor, as coisas se tivessem modificado um pouco, na eventualidade do castigo ser transformado. Mas acreditamos que, mesmo assim, o Vitória seria capaz de continuar no comando, de tal forma a sua superioridade era notória.

O F. C. Porto acabou por se perturbar completamente e consentir que os dianteiros e médios (José e Tomé) infiltrram na zona defensiva como faca quente em manteiga. No amontoar de jogadas ofensivas executadas ora com a equipa em movimentação, isto é da forma clássica de atacar em massa, com os médios e os laterais envolvidos na manobra atacante, ora pelo lance rápido de contra-ataque a solicitar a estupenda forma de Vítor Baptista e, depois, de Guerreiro, que substituiu Arcanjo, o Vitória pôs sempre a inteligência que deve andar ligada aos esquemas, a imaginação, que nunca um jogador deve perder, a noção exacta do tempo de passe ou de remate e toda essa mecanização incrivelmente subtil, na medida em que, por vezes, até exige força e temperamento, se tornou problema demasiadamente complexo para a fragilidade de um conjunto que nos pareceu ainda indeciso no caminho a percorrer.

O público das Antas não viu o futebol inglês que espera poder ver um dia no seu conjunto de tão belas tradições, mas viu e pensamos que seja justo ao ponto de o reconhecer, toda a latinidade, toda a exuberância tecnicista de uma equipa tipicamente portuguesa servida por uma coisa que corre nas nossas veias e nos dá a vida, sangue.
Segundo lugar para o Vitória? A equipa está no bom caminho.

Já nos detivemos bastante nos processos de jogo da equipa, portuense para continuarmos por muito mais tempo a falar dela. Insistimos na ideia de que nos pareceu com a lição decorada mas não apreendida. Quer dizer, assim no estilo de menino que sabe fazer o problema, mas que será capaz de descarrilar se lhe perguntam a origem das coisas, lhe exigem o raciocínio. Assim, à primeira contrariedade, o conjunto desarmou-se e mostrou aquilo que, na verdade, é «timinho» arranjadinho, talvez de recurso, convencido de que tem de jogar de tal maneira e fazendo por isso mas longe de se tornar adversário à altura do Vitória actual.

Em preparação física, quebras de Pinto e, ao que nos pareceu, de Rolando ainda não completamente «rodado». De resto, a turma nortenha deu-nos ideia de que está, fisicamente, melhor, exceptuando os casos apontados.

Rui, com uma percentagem de culpas no primeiro golo, não teve nenhumas no segundo, nem no terceiro, pois não viu partir a bola. Saiu há, pouco de um período largo de paragem e recupera com certo ritmo. Aliás, não comprometeu. O mesmo não se pode dizer de uma defesa sem inspiração e que abre por todos os lados. Pavão, foi o melhor. Todavia, faz pena ver um elemento, com as suas qualidades, num papel que não lhe está a calhar.

Linha média com meia hora em pleno. Depois, um período instável. Finalmente, o colapso. Rolando, enquanto teve forças, foi útil. João jogou bem em quase todo o tempo. Promete.

Na frente, Eduardo, um ex-júnior, parece com condições para substituir, um dia, Nóbrega, mas Nóbrega continuará a ser titular, se quiser. Chico, mexido no primeiro tempo, não manteve o ritmo, no segundo, e deixou-se cair em constantes situações de «fora-de-jogo».

Sèninho não conseguiu bater a defesa do Vitória uma só vez Ronaldo e Cibrão... não demos por eles no campo.

O Vitória caminha para o segundo lugar. E tem o caminho aberto, segundo parece. O seu comportamento, ontem, nas Antas, foi magnífico e é fora que os lugares se conquistam.

Vital desempenhou-se bem do seu lugar, a defesa teve, como habitualmente, nos laterais, os homens mais decididos a marcar e mais imaginativos a entregar e a explorar espaços.

A linha média, famosa pelo seu poder de execução e inteligência de jogo, manteve-se um tanto parada e cautelosa, na primeira parte, para um futebol alegre, rapidíssimo e variado, na segunda parte, Tomé teve, até, dois golos feitos e acabou por os perder espectacularmente, quando tinha o mais difícil já feito. José Maria foi estupendo a meter a bola nos companheiros e que o diga Vítor Baptista, a quem ofereceu o segundo ponto. Vagner, excelente a «segurar» o esférico, jogou numa missão menos ofensiva.

As honras da linha avançada vão para Vítor Baptista, que marcou dois excelentes golos, e voltou a jogar muito bem. A sua «forma» é notável e os seus remates, por norma, levam força e colocação. Não há dúvida de que está a fazer carreira num lugar difícil, cada vez mais difícil.

Arcanjo, com a sua habitual intuição, não foi, todavia, o elemento de outros jogos, isto sem que lhe possamos assacar culpas de falta de rendimento do sector, que não houve. Guerreiro, que o substituiu, trouxe velocidade e encontrou oportunidade de fazer um golo com o qual delirou. Jacinto João passou o tempo entre dois tipos de intervenções para a equipa e para a galeria. Felizmente, que as primeiras foram em maior número.

A arbitragem

O Sr. José Alexandre teve intervenções pouco felizes algumas delas na lei da vantagem. Vítor Baptista tem razões para se queixar e Eduardo também. Não assinalou como devia uma grande penalidade contra o Vitória por mão de Cardoso, preferindo puxar a bola para posição mais cómoda... para si. E, depois, acabou por perdoar aos portistas castigo igual, quando o n.º 9 do Vitória foi impedido, ilegalmente, por Valdemar, de se fazer a um lance que parecia destinado a golo. Aliás, na sequência da jogada, depois da bola ir ao flanco esquerdo e voltar, Guerreiro acabaria por fazer justiça.

É foi pena o árbitro ter-se consentido aqueles deslizes porque nos parece homem com qualidades para «segurar» um jogo e interpretar as leis do futebol.
 
H

hast

Guest
O que valeram 4 golos ao Benfica

Lemos, quando era pequenino, chorava com as derrotas do Benfica. O F. C. Porto descobriu-o em Luanda e... zás!, marcou quatro históricos golos a José Henrique

Mesmo sem Cruyff, para o Campeonato de 1970-71, tentou o F. C. Porto renovação na equipa de futebol, como não acontecia havia muito. De tal forma que o plantel ficou assim formado: Rui, Armando, Gualter, Armando II, Vieira Nunes, Pavão, Bené, Abel, Pinto, Nóbrega, Ernesto, Manhiça, Leopoldo, Valdemar, Ricardo e Joaquinzinho e... Lemos, um angolano que com quatro remates apenas entraria para a história do futebol português...
Depois de ter empatado nas Antas com o Benfica (2-2), em Novembro, já com 11 jornadas disputadas, o F. C. Porto perdeu em Alvalade, por 1-2. Os portistas debitaram largos lamentos. António Teixeira acusou o árbitro de estar nos dois golos do Sporting e Lemos, muito mais contundente denunciou: «O árbitro (César Correia) confessou-nos que o primeiro golo do Sporting fora obtido em fora-de-jogo»... Depois de arrastada tempestade, pareceu que voltara a bonança às Antas. E que nascera uma nova «estrela». O Benfica foi esmagado, numa tarde fria e de invernia, pelo F. C. Porto. 4-0. Com quatro golos de Lemos. Que dois marcara já na Luz em desafio anterior entre benfiquistas e portistas.
Nos balneários, o capitão Pavão (o pivot dos portistas) reconheceria: «O Benfica não merecia derrota tão severa, pois podia ter marcado um ou dois golos»

Porque a mãe de Lemos ficou a detestar benfiquistas...

Em Luanda, o pai de Lemos desabafaria: «O raio do miúdo foi um descaradão, pois ele sempre foi do Benfica! Até chorava quando o Benfica perdia». E a mãe ajuntou: «Tal como ele, sempre fui benfiquista e a sério. Mas agora já não sou... Os malandros aleijaram o meu filho e, mesmo assim, ele ainda foi lá dentro e fez mais um golo. Ora toma! Deram no meu filho, para mim o Benfica acabou-se!»
Apesar de herói na humilhação do super-Benfica, que campeão haveria de tornar a ser, Lemos não embandeirou em arco: «Tudo resultou de uma tarde de inspiração, que se tem apenas uma vez na vida».
Ganhava 30 contos por mês no F. C. Porto. De luvas arrecadara, nesse ano, 100 contos. Pela magia daquela tarde, recebeu, para além de oito contos de prémio de vitória, um televisor, uma máquina de lavar roupa, um gira-discos, várias latas de tinta, 25 contos de prémio de um director e duas mesinhas de cabeceira em mármore. «Só fiquei com as mesas. Tudo o resto foi vendido e o dinheiro repartido por toda a equipa». Era o valor da solidariedade no F. C. Porto de Tommy Doc e António Teixeira, que estava já, outra vez, de passo acertado.
Em Fevereiro, na 19.ª jornada, os portistas quedavam-se a apenas dois pontos do Sporting, que somava 29, repartindo o segundo posto com o Benfica e o Vitória de Setúbal.
Só a 28 de Março, o sonho (uma vez mais...) se dissiparia, com a derrota, no Barreiro, com a CUF (0-1). Com o Benfica e o Sporting a três pontos, os portistas atiraram frases faulhantes de revolta, falando, em uníssono, do «escândalo do Barreiro» que os lançara ao tapete.
A gota de água na mágoa foi a expulsão de Lemos, que se defendeu assim da «arbitrariedade do árbitro»: «Não tenho dúvidas em dizer que fiz falta mas, para além disso, nada mais houve. Não agredi ninguém. Fui expulso pelos jogadores da CUF, que rodearam o arbitro. É de lamentar que um futebolista seja expulso sem qualquer motivo».
A vitória rendeu a cada um dos cufistas o prémio de 4000 escudos. Pelo menos, porque por saber ficou se o Benfica e o Sporting também não enviaram envelopezinhos então tão em voga...
Pouco depois, batendo o Sporting, nas Antas, por 2-1, os portistas ofereceram, em bandeja de prata, o 18.º título ao Benfica, mas, não conseguiram, na ponta final, ultrapassar o Sporting. Contudo, o terceiro lugar, a apenas quatro pontos do campeão era, novamente, garantia de que (ao menos) o sonho se poderia acalentar.

2375 contos para o Fluminense e mais 725 para Flávio

Em Agosto de 1971, o «internacional» brasileiro Flávio, que fulgurara como «estrela» do Fluminense foi, sebastianicamente, apresentado nas Antas, como provável valor acrescentado de génio num clube que continuava desesperadamente em luta pela reconquista do fastígio. Para contratar Flávio, o F. C. Porto pagou 2375 contos ao Fluminense — e mais 725 contos de luvas ao jogador, garantindo-lhe ainda um ordenado mensal de 10 contos. E com Flávio chegara também... Flávio Costa, cujo prestígio só fora avergoado pela descoroçoante campanha do Brasil no «Mundial» de 1966. Já quase ninguém se lembrava disso, logo...
Apesar das esperanças que depressa se acastelaram não começou bem o Campeonato de 1971/72 para o F. C. Porto. Nas Antas, derrota com o Benfica, por 1-3. Abel abriu o activo, mas dois golos de Eusébio e outro de Artur Jorge consolidaram o triunfo benfiquista. Bem pior a estreia na Taça UEFA, perdendo com o Nantes por 0-2 nas... Antas, baqueando apesar do empate a um golo, em França.
Na quinta jornada, a 17 de Outubro, o Atlético foi às Antas ludibriar o F. C. Porto, ganhando por 3-1. O treinador na corda-bamba.
Não muito depois, Flávio Costa partiu. Uma vez mais, amargurado. O seu talento não se dava bem com aqueles ares. Foi substituído por Paulo Amaral, brasileiro como ele, que, em Janeiro, perdeu na Luz: 0-1, mas ficou feliz: «Batendo-se como se bateu com o Benfica, a minha equipa provou que se pode bater, emocionantemente, com qualque equipa do Mundo». O F. C. Porto estava em sexto lugar a seis pontos do Sporting, a sete do Vitória de Setúbal e a 14(!) do Benfica. Com apenas 16 jornadas disputadas...
Afonso Pinto de Magalhães dissera já, também, que não se recandidataria. Sucessor não havia. Apesar de convites incessantes, ninguém queria ser presidente. E ainda não se sabia que só no ano anterior o futebol tivera um prejuízo de 5096 contos e o ciclismo de 933 contos!

Paulo Amaral deixou ficar um rapazinho de braço arqueado

A 28 de Janeiro, finalmente um presidente para o F. C. Porto: Américo de Sá, que, a 7 de Março, decidiu rescindir contrato com o brasileiro Paulo Amaral, passando Feliciano a técnico principal e Manuel Puga a preparador físico. Queixume do treinador chicoteado: «Não esperava essa atitude dos dirigentes do F. C. Porto, embora já me tivesse apercebido de que não estavam satisfeitos com o meu trabalho, tanto assim que já me haviam proposto a colaboração do professor Puga, primeiro a título de sugestão, depois como imposição. Nunca o aceitei e disso nasceu a causa da rescisão. Lamento que isso tenha acontecido, pois gostaria de ter acatado o pedido que me fizera Afonso Pinto de Magalhães: construir uma equipa para o futuro. Estou de consciência tranquila, não tive tempo de fazer obra, mas não estou descontente comigo próprio, porque quando cheguei apanhei a equipa em sexto lugar e deixo-a em quinto, muito perto da Cuf».
O último lançamento de Paulo Amaral fora um rapazinho de Penafiel, de nome António Oliveira, que seu irmão Joaquim e sua mãe tinham levado às Antas para que Artur Baeta fizesse dele jogador de futebol. Tinha um braço arqueado, que partira aos sete anos, a brincar aos «cow-boys», recusou ser de novo operado para o endireitar, mas tinha, também, uns pés mágicos, que haveriam de fazer de si um dos maiores futebolistas portugueses da sua geração. Por essa altura, só gostaria de ser como... Coluna.
Já no Brasil, Paulo Amaral garantiu que fora dispensado de treinador do F. C. Porto porque o presidente Américo de Sá considerava que «dava treino físico em excesso», preterindo o «treino psicológico». E que por isso os portistas iam acabar muito mal...
Já com António Feliciano e Manuel Puga no comando técnico, as Antas à beira de um ataque de nervos: o Vitória de Guimarães de Mário Wilson foi lá vencer por 2-1. Feliciano lamentou-se: «É o enguiço que se mantém. Só perdemos porque Leopoldo, com a bola dominada, escorregou, caiu e deixou o ouro nos pés do bandido»...
Na jornada seguinte, o F. C. Porto perdeu em Alvalade por 1-2 e Feliciano continuou a queixar-se da falta de sorte...
Um mês volvido, a 30 de Abril, nas meias-finais da Taça de Portugal, um resultado-escândalo: o F. C. Porto esmagado na Luz por 6-0. E os portistas até contavam com inédito «trabalho psicológico» da responsabilidade do professor Puga. De nada lhes valeu. António Feliciano, o treinador, tentou dourar a pílula: «Pena foi que a lesão de Leopoldo (em lance dramático com Nené, fracturando o menisco do joelho direito) tivesse afectado toda a equipa, até porque estávamos a jogar de igual para igual. E o estado do terreno também nos afectou, já que os meus jogadores são leves e jogam mais em técnica e em habilidade»...

Sangue e vidros partidos no regresso de Pedroto às Antas

Em Maio, foi sem surpresa que correu o rumor de que Américo de Sá envidava esforços no sentido de contratar Fernando Riera para treinador do F. C. Porto. Disposto estava a oferecer-lhe 1000 contos por um ano de contrato...
Mas, cada vez mais agreste a premonição de Paulo Amaral, em meados de Maio, o Vitória de Setúbal de... Pedroto foi ganhar às Antas por 1-0. Feliciano já não lamentava a falta de sorte — atirava-se aos árbitros como gato a bofe: «O arbitro jogou pelo Vitória e deixou os meus jogadores descontrolados e irreconhecíveis».
Pedroto, em regresso turbulento ao estádio que conhecia bem, denunciou: «Houve cenas lamentáveis, a principal das quais a agressão de Rodolfo ao sr. Francisco Nascimento, causando-lhe grave ferimento no nariz. Quanto ao golo do Vitória? Não houve falta nenhuma, jogámos inteligentemente, ganhámos bem». Rodolfo defendeu-se: «Se o sr. Nascimento foi agredido, não foi por mim, sou incapaz de tomar atitudes dessas»...
À saída das Antas, o autocarro do V. Setúbal foi apedrejado, ficando com alguns vidros estilhaçados. Uma das pedras atingiu José Mendes na cabeça. Jorrou sangue abundantemente, Um quilómetro adiante, já longe da turba, o autocarro parou para que Gaston de Sousa, médico setubalense, lhe suturasse a ferida com quatro pontos.
O F. C. Porto acabaria por manter o quinto lugar, com 33 pontos, a quatro da CUF (de Fernando Caiado), a nove do Sporting, a 12 do Setúbal e a... 22 (!!!) do Benfica (de Hagan)...
A 28 de Maio (pois então!...) de 1972, Américo Tomaz colocou, simbolicamente, a primeira pedra do Pavilhão das Antas, que era o último sonho de Afonso Pinto de Magalhães. Ficara por fazer, mas Américo de Sá assumira-o.
Para compensar as agruras do futebol, o F. C. Porto, que se sagrara campeão nacional de bilhar, contando com Mário Machado, Wilson Neves e Luís Azevedo, classificou-se em terceiro lugar no Campeonato da Europa, obtendo, assim, a melhor classificação de sempre de uma equipa portuguesa na competição.
in«abola»
 
H

hast

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A respeito do Lemos:

O «fuzilador» de Zé Gato

Depois de arrastada tempestade, pareceu que voltara a bonança às Antas. E que nascera uma nova estrela. O Benfica foi esmagado, numa tarde fria e de invernia de Janeiro, pelo F.C.Porto. 4-0. Com quatro golos de Lemos. Que dois marcara já, na Luz, em desafio anterior entre benfiquistas e portistas. Nos balneários, o capitão Pavão (o pivot dos portistas) reconheceria: «O Benfica não merecia derrota tão severa, pois podia ter marcado um ou dois golos.»

Em Luanda, o pai de Lemos desabafaria: «O raio do miúdo foi um descaradão, pois ele sempre foi do Benfica! Ele até chorava quando o Benfica perdia.» E a mãe ajuntou: «Tal como ele, sempre fui benfiquista e a sério. Mas, agora, já não sou... Os malandros aleijaram o meu filho e, mesmo assim, ele ainda foi lá dentro e fez mais um golo. Ora toma! Deram no meu filho. Para mim, o Benfica acabou-se!»

Bastaram esses quatro golos ao Benfica para que o «fuzilador» de «Zé Gato» entrasse na história do futebol português, mas, apesar de herói na humilhação do super-Benfica, que campeão haveria de tornar a ser, Lemos não embandeirou em arco: «Tudo resultou de uma tarde de inspiração, que se tem apenas uma na vida.» Ganhava 30 contos por mês no F. C. Porto. De luvas recebera, nesse ano, 100 contos. Pela magia daquela tarde, recebeu, para além de oito contos de prémio de vitória, um televisor, uma máquina de lavar roupa, um gira-discos, várias latas de tinta, 25 contos de prémio de um director e duas... mesinhas de cabeceira, em mármore. «Só fiquei com as mesas. Tudo o resto foi vendido e o dinheiro repartido por toda a equipa». Era o valor da solidariedade no F. C. Porto de António Teixeira e Tommy Doc.
 
H

hast

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Um resumo da época 1970/71

Setembro
14 — Abriu o «Nacional» da I Divisão. O campeão atravessou o Tejo e deu 3-0 ao Barreirense. Houve caso no Barreiro, pois os jogadores Nelinho e Câmpora não puderam alinhar por não estar regularizada a respectiva inscrição. Todavia, a Direcção do clube, através de comunicado lido no Estádio, antes do início da partida, acusou a FPF de falta de isenção, considerando os jogadores mal inscritos, e de... medo do Sporting.
16 — Começaram as provas europeias. O Sporting deu 5-0 ao Floriana (Malta), na Taça dos Campeões. O Benfica empatou 1-1 com Ljubljana (Jugoslávia), para a Taça das Taças. V. Setúbal ganhou (2-0) ao Lausane, V. Guimarães venceu (3-0), o Angoulème e o Barreirense, como caloiro, não se ficou atrás: 2-0 ao Dínamo de Zagreb. Estes três encontros foram para a Taça das Feiras.

30 — Portugal ainda estava bem representado nas Taças Europeias. Na dos Campeões, o Sporting voou até Malta e superou o Floriana por 4-0. Na Taça das Taças, o Benfica encheu o papo com 8-1 ao Olimpija (Jugoslávia). Na Taça das Feiras, o Vitória sadino escorregou por 3-1, frente ao Angoulème (França), mas passou a eliminatória. Já o Barreirense foi goleado em Zabreb (Jugoslávia) pelo Dínamo por 6-1 e o técnico da margem sul, Edsel Fernandes, indignado com a arbitragem do alemão oriental Helmut Bader, disparou: «Trouxemos 11 jogadores em vez de 11 pugilistas.»

Outubro
14 — Para o Campeonato da Europa, a selecção portuguesa foi até Copenhaga e suplantou a da Dinamarca por 1-0, perdendo até o ensejo de um brilharete, pois, contentou-se com o triunfo pela margem mínima, tendo o golo português sido apontado por Jacinto João. Para a Taça das Feiras, o V. Guimarães deslocou-se a Edimburgo, perdendo com o Hibernian por 2-0, com os tentos dos escoceses a serem obtidos ao findar de cada metade do encontro.
18 — Prosseguiu o «Nacional» com um clássico: Benfica, 2-F. C. Porto, 2, em que Lemos chegou a desbaratar a defensiva encarnada. Além do desfecho, a curiosidade maior residiu no facto dos manos Abel e Zeca, depois de terem militado juntos, apareceram com camisolas opostas. O resultado da Luz, isolou o Sporting no comando, pois os leões venceram na Póvoa de Varzim (5-0).
21 — Nova jornada de provas europeias. O Sporting (Taça dos Campeões) viajou até Jena (Alemanha Oriental) e resistiu ao Carl Zeiss, perdendo por 1-2. O Benfica (Taça das Taças) recebeu, na Luz, o Vorwarts (Alemanha Oriental), a quem venceu por 2-0. O V. Setúbal (Taça das Feiras) houve-se o contento com o Hajduk (Jugoslávia) e ganhou por 2-0.
25 — O «Nacional» continuou com embates de peso. Com três golos de Abel, o F. C. Porto bateu o Leixões, por 4-1 e, no Restelo, o Belenenses de Meirim empatou, a uma bola, com o Benfica. Comentário do impagável técnico azul: «Os canibais estavam de folga. Esquecemo-nos de comer os adversários, de lhes fracturar os crânios, de lhes partir as pernas.» O tento dos azuis foi obtido por Estêvão, de penalty, mas Humberto Coelho disse que foi a bola que lhe foi ter à mão...
28 — Prosseguiram as provas europeias. O V. Guimarães ganhou o jogo (2-1) mas perdeu a eliminatória com o Hibernian, da Escócia.

Novembro
4 — Bem negra a jornada europeia dos portugueses, pois dos cinco grupos em prova apenas o V. Setúbal se qualificou, enquanto os restantes ficaram pelo caminho. Sporting, 1-Carl Zeiss, 2 (Taça dos Campeões); Vorwarts, 2-Benfica, 0 (Taça das Taças); e Hajduk, 2-V. Setúbal, 1 (Taça das Feiras).
29 — Novo clássico em Alvalade, na 11.ª ronda: Sporting, 2-F. C. Porto, 1, com os portistas a debitarem largos lamentos. António Teixeira acusou o árbitro de estar nos dois golos do Sporting e Lemos, muito mais contundente, denunciou: «O árbitro (César Correia) confessou-nos que o primeiro golo do Sporting foi obtido em fora-de-jogo.» O Benfica viajou até Setúbal e perdeu por 2-0, tendo ambos os golos pertencido a Vítor Baptista. E ficou a seis pontos do Sporting.

Dezembro
7 — A estrela do Sporting começou a empalidecer. Na deslocação ao Restelo, empate a zero. Joaquim Meirim, apesar de muito vitoriado pelos adeptos do Belenenses, postou-se, paradoxalmente, no muro das lamentações: «Por que haveria de estar feliz? Sem possibilidade de lutar pelo título, que era a minha grande ambição, só lamento que se tenham desperdiçado ingloriamente onze jornadas do Campeonato.» A dez minutos do fim, o árbitro (Mário Alves, de Beja) deixou passar em claro uma falta para grande penalidade contra o Sporting. Mas disso não se queixou muito Meirim, que era outra a sua onda.
9 — Em Bruxelas, a contar para a Taça das Feiras, o V. Setúbal perdeu (2-1) com o Anderlecht.
13 — Terminou a primeira volta do «Nacional». A Académica, ao empatar, em Coimbra, com o Benfica(0-0), manteve o segundo lugar, com 19 pontos, menos quatro do que o Sporting, mais um do que o Setúbal, mais dois do que o Benfica.
20 — Aconteceu o imprevisto: o Sporting recebeu, em Alvalade, o Barreirense e baqueou por 1-0, com tento de Serafim, após Bento ter feito uma exibição extraordinária. Os sportinguistas lamentaram-se de cinco bolas na trave, enquanto os barreirenses se admiravam de estar em último lugar, pois haviam superado o líder no seu próprio reduto. No mesmo dia, o Benfica foi até ao Barreiro vencer a CUF por 2-0. E na festa do Natal, realizada em Carcavelos, até foi feito o «desagravo dos jogadores», depois de terem sido acusados de menos desportivismo...
23 — O Vitória de Setúbal teve excelente prenda no sapatinho, pois venceu (e eliminou) o Anderlecht por 3-1 para a Taça das Feiras (dois tentos de Guerreiro e um de Vítor Baptista).
27 — Foi a debácle do Sporting , que não suportou a ida à Luz e baqueou por 5-1, revelando a sombra do campeão, com Artur Jorge (três golos) a entrar na história dos derbies e Nené a fazer em tiras a defesa do Sporting. Fernando Vaz reconheceu: «O ataque do Benfica justificou uma bela vitória, sendo de destacar as exibições de Artur Jorge, que ganhou todas as bolas por alto, e de Nené. De agora em diante, vamos ver, de entre as equipas candidatas ao título, quais são aquelas que, na realidade, têm estrutura e estatura de campeão.» Jimmy Hagan, por sua vez, justificou, assim, a vitória da sua equipa: «Velocidade, golos e futebol, além de... um Damas magnífico.» A lotação esgotou (72 mil espectadores) e a receita foi de 1.574.580$00 de bilhetes vendidos e 2.100 contos do «dia do clube»

1971

Janeiro
10 — O Sporting (26) manteve o comando com mais um ponto do que o V. Setúbal e mais três do que o Benfica (menos um jogo).
18 — Noticiou-se pela primeira vez o interesse do Sporting num futebolista argentino, do Independiente, de seu nome Hector Yazalde, na altura com 25 anos. A notícia causou natural sensação nos meios futebolísticos, muito em especial entre os adeptos do Sporting. A contratação atingiria a quantia de 4200 contos (150 mil dólares), valor correspondente a um jogador de eleição. As negociações foram desenvolvidas com celeridade e certo sigilo. Abraham Sorim, vice-presidente do Sporting (em S. Paulo, na ocasião), voou de imediato para Buenos Aires para fechar o negócio. O único óbice era o acordo entre o clube e o jogador, dado que Yazalde pretendia 20 por cento da verba. A transferência seria confirmada, com um custo algo superior a 3500 contos.

Fevereiro
7 — O Sporting deslocou-se a Coimbra e voltou com um nulo (0-0). O Benfica recebeu o Belenenses e venceu por 3-1. O F. C. Porto deslocou-se a Matosinhos e superou o Leixões por 2-1. O Campeonato, após a 19.ª ronda, continuava ao rubro, com o Sporting a liderar (29) com mais dois pontos do que o triunvirato formado pelo Vitória de Setúbal, F. C. Porto e Benfica. O encontro de Coimbra ficou esmaltado por três casos bem polémicos. A um minuto do final, o árbitro César Correia expulsou o guarda-redes Melo, por agressão a Dinis, sendo rendido na baliza dos estudantes por Cardoso. Os nervos à flor da pele traíram Melo. Eram já efeitos das emoções quentes que se viviam, após a anulação de um golo a António Jorge. O ponta-de-lança da Académica garantiu que o esférico entrou na baliza mais de meio-metro, mas... Por sua vez, Fernando Vaz, não calaria a mágoa: «Só o árbitro não viu o penalty de Rui Rodrigues.»
17 — Para o Campeonato da Europa, a Selecção portuguesa perdeu com a Bélgica, em Bruxelas, por 3-0. Para Eusébio, fora o penalty que nos matara. A derrota, para além de hipotecar, quase em definitivo, as esperanças de apuramento, custou 10 contos a Damas; Malta da Silva (Rebelo), Humberto Coelho, Rolando e Hilário; Rui Rodrigues (Guerreiro), Pavão e Peres; Simões, Eusébio e Vítor Baptista.

Março
10 — A contar para a Taça das Feiras, o V. Setúbal, o único sobrevivente português, perdeu em Inglaterra, frente ao Leeds, por 2-1. Os setubalenses chegaram a dar show e revelaram maturidade, sendo até os primeiros a marcar, com um tento de antologia de Vítor Baptista. Pedroto, no final, atacou: «O primeiro golo do Leeds nasceu de falta hipotética e o penalty de que resultou o segundo golo não existiu.»
21 — Depois de um fim-de-semana explosivo, no Porto, o Benfica assumiu o comando do «Nacional», à 22.ª jornada, graças ao Boavista (que bateu o Sporting, por 1-0) e à Académica (que empatou com o F. C. Porto, 0-0). No final do jogo das Antas, Afonso Pinto de Magalhães, presidente do F. C. Porto, anunciou que o clube portista fizera declaração de protesto, por o guarda-redes Melo não ter cumprido o castigo que lhe fora imposto, pela expulsão frente ao Sporting. O triunfo dos axadrezados rendeu mais de cinco contos a cada jogador do Bessa. Valentim Loureiro, vice-presidente do Boavista, esclareceu: «A minha firma atribuiu um prémio de 30 contos à equipa, enquanto a Direcção do clube decidiu pagar 1500$00 a cada jogador, havendo a registar a oferta, de um anónimo, de mais mil escudos a cada um.»
24 — Acabou-se o «sonho europeu» dos portugueses. O V. Setúbal, no jogo da segunda mão, frente ao Leeds, para a Taça das Feiras, não logrou mais do que um empate (1-1).
28 — Perdendo no Barreiro, com a CUF, por 1-0, o F. C. Porto ficou de sonho particamente desfeito, com o Benfica e o Sporting a três pontos. Queixas veementes lançaram os portistas, que, descabelados, falaram do escândalo do Barreiro. A gota de água que transbordou o cálice da decência foi a expulsão de Lemos, que se defendeu assim da «arbitrariedade do árbitro»: «Não tenho dúvidas em dizer que fiz falta, mas, para além disso, nada mais houve. Não agredi ninguém. Fui expulso pelos jogadores da CUF, que rodearam o árbitro. É de lamentar que um futebolista seja expulso sem qualquer motivo!» A vitória rendeu a cada um dos cufistas o prémio especial de quatro mil escudos. Pelo menos, porque por saber ficou se o Benfica e o Sporting também não mandaram envelopezinhos, então, tão em voga.

Abril

2 — A primeira transferência para a nova temporada, com o seu quê de sensação, foi protagonizada por Rui Rodrigues, que trocou a Académica pelo Benfica. Para isso, teve de anular o compromisso com a Briosa, à qual estava preso até aos 35 anos! Rui Rodrigues havia também subscrito um contrato (sem data) com o Sporting, que foi considerado sem efeito pelos serviços jurídicos do Benfica. Os números da transferência: 1800 contos por três anos, distribuídos por 300 contos anuais (luvas) e 25 contos de ordenado mensal.
4 — E, com o contributo do F. C. Porto, o Benfica ainda mais descansado, de passo estugado, a caminho do título. Os portistas bateram, nas Antas, o Sporting, por 2-1. Na cabina do Sporting, Fernando Vaz denunciaria: «Até acabámos por obter o empate, que seria justo, mas o sr. Mário Jorge resolveu tirar-nos. Foi nítida a intenção do árbitro em prejudicar o Sporting, que o havia vetado havia três anos, por ser adepto do Benfica. E, como é proibido dizer o que sentimos, fico-me por aqui.»
21 — Para o Campeonato da Europa, a Selecção portuguesa recebeu a da Escócia, no Estádio da Luz, e venceu por 2-0, com um autogolo de Stanton e outro de Eusébio. O moçambicano alcançou o seu 33.º golo com a camisola das quinas. Fernando Peres, que esteve para não alinhar, desabafaria: «Os escoceses jogaram aterrorizados, exagerando no ferolho.» O jovem Nené, que se estreou na Selecção «A», diria: «Estive, de início, um pedacinho nervoso. Depois, à medida que o tempo ia decorrendo, tudo se normalizou. Fartei-me de correr. De tal maneira, que perdi três quilos.»
25 — O Benfica ganhou, na Póvoa, ao Varzim, por 4-0, garantindo virtualmente o título. Mas, em turbulência começou a jornada para os benfiquistas, cujos jogadores foram vítimas de tentativas de agressão... Os ventos mudaram, até um penalty lhes foi perdoado, agravando, ainda mais, o clima deplorável em que o jogo foi disputado

Maio
2 — Acabou o «Nacional» da I Divisão, com o Benfica a consagrar o seu 18.º título na competição. Sporting e F. C. Porto, segundo e terceiro classificados, ficaram, respectivamente, a três e quatro pontos. Os encarnados tiveram a sua apoteose na última ronda, frente à Académica, por números esclarecedores (5-1). O troféu «A Bola de Prata», que vinha a ser dirimido palmo a plamo entre Artur Jorge (Benfica) e Vítor Baptista (V. Setúbal), foi conquistado pelo benfiquista, mercê dos dois golos obtidos, um deles nos derradeiros segundos do confronto com os estudantes. Os melhores marcadores foram: Artur Jorge (Benfica), 23 golos; Vítor Baptista (V. Setúbal), 22; Eusébio (Benfica), 19; Lemos (F. C. Porto), 18.
 
H

hast

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Morte de Pavão com mago no banco

O Manchester lançara-lhe o canto de sereia. O F. C. Porto não aceitou negociar por menos de 5000 contos. Pouco depois, Pavão morria no estádio. Misteriosamente...

Américo de Sá convenceu Fernando Riera a treinar o F. C. Porto, aceitando abrir os cordões à bolsa. Fulgurante seria a sua estreia europeia. Para a Taça UEFA, o F. C. Porto atacou, jogou e brilhou — 3-1 ao Barcelona. E, 15 dias depois, nova vitória, na Catalunha, por 1-0. Parecia redescoberto o trilho da glória, mas no regresso de Barcelona os portistas fizeram escala em Setúbal e escorregaram: 0-3. Para Riera os pupilos acusaram o desgaste da viagem a Barcelona e caíram rotundamente. Só por isso.
A 5 de Novembro, o F. C. Porto de Riera deixou a Luz à beira de um ataque de nervos, mas, por essas teias com que se tece a magia do futebol, despedaçado de lá sairia o chileno e os seus jogadores. Estiveram a ganhar por 2-0, os benfiquistas pareceram à beira do precipício, mas conseguiram equilibrar-se e de lá sair a salvo, vencendo por 3-2, mercê de um golo de Humberto Coelho, a três minutos do final.
Para Fernando Riera a culpa foi do juiz: «A vencermos por 2-0, só foi pos- sível termos sido derrotados pelas incongruências do árbitro. Por exemplo, o segundo golo do Benfica foi precedido de falta...»
Na Taça UEFA tudo continuava um mar de rosas: o F. C. Porto eliminou o Bruggeois, mas, de súbito, começaram a sentir-se, outra vez, sinais de tempestade...
A 26 de Novembro os portistas perderam, nas Antas, com o Leixões. O golo de Horácio desfez a tradição de 36 anos. Riera arranjou desculpa para o fiasco, pareceu de mau pagador, mas enfim... «Incrível perdermos com o Leixões, mas se não fosse o jogo da próxima eliminatória da Taça UEFA teríamos ganho...»
Na Taça UEFA, o futuro hipotecado, três dias depois, com derrota por 1-2, ante o Dínamo de Dresden...
A 1 de Abril, na 24.ª jornada, o Benfica escorregou mas não caiu. Para os portistas um simbólico prémio de consolação: os benfiquistas perderam, enfim, o seu primeiro ponto no Campeonato! Perante 50 mil espectadores, numa das maiores lotações de sempre no Estádio das Antas. Empate a dois golos — e o segundo golo do F. C. Porto apontado por Flávio, na transformação de uma grande penalidade, que abespinhou Hagan e seus pupilos. José Henrique bradou: «Este árbitro estragou a carreira 100 por cento vitoriosa do Benfica, cortando-lhe a hipótese de um ‘record’ que levaria muitos e muitos anos a bater. O ‘penalty’ foi uma invenção...» O Benfica acabaria por perder o segundo ponto na Tapadinha, empatando a zero com o Atlético, somando, assim 58 pontos no Campeonato. O Belenenses, segundo classificado, ficou a 18 pontos — «record» de diferença entre os dois primeiros — o Vitória de Setúbal foi terceiro, com 38 pontos, mais um do que o F. C. Porto, e o Sporting, que, assim, se quedaram a 21 pontos do Benfica!
Nos quartos de final da Taça de Portugal, em Maio, o F. C. Porto perdeu com o Farense por 0-1. Era o fim de Riera, que por mil contos por ano teria de mostrar mais trabalho e, sobretudo, maior fulgor.
Por essa altura, o Manchester United continuava em conversações com o F. C. Porto, desejando fazer de Pavão o substituto do mítico Bobby Charlton. Os dirigentes portistas cuidando que pudesse ter descoberto a solução para a crise não admitiam sequer discutir proposta que envolvesse menos de 5000 contos. Logo...

O «mago intrujão», o chá e a obssessão das... «putanas»!

Para o lugar de Riera, Américo de Sá contratou Béla Guttmann, que na sua estreia no F. C. Porto se sagrara campeão nacional, mas que deixara a cidade como um trapaceiro, sobretudo por se saber que sempre que os dirigentes do F. C. Porto lhe pediam para renovar o contrato, retorquia que havia tempo, mas até já tinha casa alugada em Lisboa e compromisso fechado com o Benfica — de tal forma que o alcunharam de «mago intrujão». Mas o tempo tudo apaga. Até a «estrela» de um treinador de sucesso, que ao Porto chegou claramente ultrapassado. Antes de tudo, o aviso: «Não sou, por natureza, um homem de chicote, mas castigarei severamente todos os que faltarem aos seus deveres.»
Depressa se veria que, afinal, o feitiço de Guttmann se perdera já. Mas os métodos mantinham-se. Insistia na abstinência dos pupilos, porque via no sexo maldição e não parava de decretar a toda a horas, como num disco riscado: «Putanas não, putanas nuca». Acreditava cegamente que era na falta de sexo que as equipas encontravam o sucesso. E não pelo que se dizia ser a razão principal, oculta, perversa, da sua glória: o misterioso chazinho de Guttmann. Eusébio juraria um dia que o chá de Guttmann era apenas chá de limão aquecido e muito açucarado, mas... José Águas haveria de garantir que a história dos comprimidos metidos na sopa era imaginação, mas...
No seu primeiro jogo para o Campeonato, derrota no Restelo, por 0-1. Não era grave, mas...
Na jornada número nove do Campeonato, nas Antas, receita de 700 contos na bilheteiras — empate a um golo entre o F. C. Porto e o Sporting. E, não muito depois, a tragédia...

A adrenalina que matou Pavão e os comprimidos na sopa

Ao minuto 13 da jornada 13 daquele frio mês de Dezembro de 1973. Decorria o F. C. Porto-Vitória de Setúbal. De súbito, Pavão estatelou-se no relvado. Fulminado, José Santana, médico portista pressentiu, no «banco», o drama. «Reparei que caíra de bruços. Era homem que não fazia fitas. Portanto, tive logo a percepção de que era grave. Entrei no relvado e reparei que estava em estado de coma. Levei-o de imediato ao Hospital de São João. Tentou-se tudo. Fizeram-lhe electrochoques, mas era uma hemorragia cerebral. Hora e meia depois, tinha falecido. Poderia ter sido rotura de um vaso sanguíneo, talvez em virtude de uma cabeçada na bola.»
Era treinador do F. C. Porto, Béla Guttmann. Adquirira fama de dar aos seus jogadores um comprimido ao almoço. Dizia que eram vitaminas. Talvez fossem, só que em torno de si acastelaram-se suspeitas. E, de boca em boca, não parava de correr a rábula da mulher de Costa Pereira: em vésperas de um Benfica-Manchester, para a Taça dos Campeões, decidira levar os jogadores ao cinema, mas a caminho da sala, surgira-lhe a senhora, descabelada, acusando-o de lhe estar a destruir o marido, que mal conseguia dormir, que tinha pesadelos, estranhas euforias...
Talvez por isso, muita gente tomasse o drama de Pavão como consequência dramática do «doping». Para isso contribuiu também o facto de os resultados da autópsia terem sido mantidos no segredo dos deuses.
No entanto, em surdina foi-se dizendo que a necrópsia revelara derrames das cápsulas suprarenais, provocadas, possivelmente, por uma descarga brusca de adrenalina, produzida em excesso. Porquê a descarga brusca de adrenalina? Isso nunca ninguém explicaria.
A mulher de Pavão, que, ficando com filha pequenina para criar, acabaria por ter de empregar-se numa casa comercial para se sustentar, sendo-lhe negada indemnização que reclamou pela morte do marido ter sido devida a acidente de trabalho, garantiria, ainda em estado de choque: «Ele nunca tomou qualquer medicamento, muito menos estimulantes, exceptuando vacinas contra a gripe. Levava vida regradíssima, como profissional respeitador da sua actividade.»
Nascera em Chaves e Pavão lhe começaram a chamar nos jogos de rua, no Tabolado, por fintar de braços abertos, em jeito de pavão. Pouco antes da tarde trágica decidira que as suas poupanças seriam aplicadas na abertura de um pub na Praça Velasquez, mesmo à beirinha do Estádio das Antas. O sonho morreu com ele. Aos 26 anos. Misteriosamente.
in«abola»
 
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hast

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O dia 16 de Dezembro de 1973, foi um dos momentos mais trágicos da história do Estádio das Antas.O F.C. Porto jogava em casa com o V. Setúbal. Fernando Pascoal das Neves, conhecido por Pavão (por fintar os adversários de braços abertos) fez mais um dos seus passes de mestre para Oliveira e, inesperadamente, caiu no relvado. Quando entrou no campo para socorrer o atleta, o médico José Santana viu que ele estava em coma; os colegas de equipa e os espectadores não se terão apercebido da gravidade da situação e o encontro prosseguiu. Pavão foi levado para o Hospital de São João, mas apesar de todas as tentativas de reanimação, não foi possível salvá-lo.
Ao intervalo, os altifalantes das Antas procuraram sossegar todos os que se encontravam no estádio, transmitindo a informação de que se tratara de uma congestão, mas os jogadores que estavam no banco de suplentes já sabiam a verdade. No final do encontro, alguém gritou para dentro de campo a trágica notícia. Não se celebrou a vitória e em vez de sorrisos foram lágrimas que se viram no relvado, nos bancos e nas bancadas.
A morte tinha entrado no estádio levando consigo um dos melhores centro campistas do futebol português. O número que vestia cruza-se com o de outro jogador também falecido no auge da sua carreira - Rui Filipe - 21 anos depois... O número 6, o número do médio defensivo que deve trabalhar para que os outros brilhem, o jogador que tem de deixar tudo em campo. Pavão deixou, deixou mais ainda...
Foi a vitória mais amarga de sempre do FC Porto (2-0). O nosso grande Pedroto era nesse dia o treinador adversário. São dois nomes eternos no Futebol Clube do Porto.
 
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Dinheiro sentimental por Cubillas!

O F. C. Porto pagou pelo passe de Cubillas 5600 contos. Um «record» em Portugal. Grande parte da maquia destinou-se a apoio a crianças doentes mentais

Nos primeiros dias de 1974, os portistas andavam como que emparedados entre a desilusão e a descrença. Na ânsia de sofrear misérias, a Direcção de Américo de Sá tentou a contratação de uma «estrela» internacional. Em Basileia, Teófilo Cubillas penava por mudar de ares, por não se sentir bem num futebol repassado de amadorismo. O rumor do seu desejo chegou ao Porto. Era o homem...
O certificado internacional estava na posse do presidente de uma associação de crianças desprotegidas e diminuídas mentais, que pela sua cedência exigia 5600 contos, garantindo que parte substancial do pecúlio seria para financiar a sua instituição. Para Basileia correu o director do F. C. Porto, Jorge Vieira. Não demorou muito a fazer negócio, pagando exactamente 5600 contos pelo passe internacional de Cubillas e garantindo-lhe um ordenado mensal de 125 contos. Se o F. C. Porto ganhasse o Campeonato receberia mais 100 e se conquistasse a Taça de Portugal mais 75. Prémios em provas da UEFA: em cada eliminatória até aos oitavos-de-final 50 contos; nos quartos-de-final 75; nas meias-finais 100 e na final 125.
Considerou-se contrato das arábias. O maior do futebol português até então, isso era, sem sombra de dúvida.

A Judiciária no jogo da morte – ou ainda o mistério de Pavão!

Por esse tempo, a causa da morte de Pavão continuava enrodilhada em cortinas de fumo — servindo de pábulo para suspeições e ruídos vagos e incertos que se iam sussurrando um pouco por todo o lado, mas sobretudo pelas congostas da má-língua. Uma pontinha se levantou, entretanto, ao véu que aconchegava o mistério: os médicos rejeitaram a hipótese de o seu falecimento se dever a uma estenose aórtica, que fora, precisamente, a causa apontada para a tragédia. A Polícia Judiciária resolveu entrar em jogo. Dez meses volvidos, a PJ concluiria, sem esconder algumas sinuosidades de linguagem, que por isso mesmo não afastaram todas as cortinas de fumo, que não se poderia asseverar que a morte de Pavão se devera ao uso de estimulantes, lançando, a talho de foice, cruciante, o alerta: «A medicina desportiva não pode continuar desprezada em Portugal.»
Teófilo Cubillas chegou messianicamente ao Porto, a 12 de Janeiro de 1974. Para que se facilitasse a sua contratação, abrira-se um «fundo para a aquisição de Cubillas», 500 escudos custava cada bilhete. Soubera-se já que Pavão, no dia da sua trágica morte em serviço, ficara com 17 bilhetes de contribuição, que não chegaria, naturalmente, a pagar. A viúva haveria de devolvê-los ao clube, poucos dias depois.
A rentabilização do investimento-Cubillas começou logo a notar-se: o Barcelona ofereceu 20 mil dólares — cachet que era pago apenas a grandes equipas europeias — para o F. C. Porto jogar em Nou Camp. Apenas com uma condição: levar Cubillas.
O peruano estreou-se, nas Antas, a 28 de Janeiro, contra a Portuguesa dos Desportos, rubricando excelente exibição. Otto Glória, treinador do mais português clube de São Paulo, considerou que Cubillas era, de facto, uma magnífica aquisição. E que poderia desequilibrar. Como Eusébio...
Assim, no fascínio que Cubillas despertara, os portistas começaram a crer que chegara o fim da hora dos terrores — sentimento que mais se aqueceu quando, a 11 de Março, o F. C. Porto venceu o Benfica, nas Antas, por 2-1, e Cubillas, genial, forjou a vitória por «KO»! Cinco contos recebeu cada jogador pela vitória, que permitiu que os portistas, de novo em segundo lugar, a dois pontos do Sporting, continuassem a sonhar...

Estranha jura de árbitro!

Dois dias depois da intentona das Caldas, o jogo do título. O Sporting bateu o F. C. Porto por 2-0, reforçando o seu favoritismo. Para desencanto de Guttmann, que sentia que o seu feitiço cada vez mais se evolava. Mas foi de revolta a reacção portista ao desaire. Abel, num tom acusador, atiçou: «Se querem que o Sporting seja campeão, dêem-lhe já o título, escusam de andar, aos poucos, a fazer favores. Por que não mandaram outro árbitro para jogo tão importante? César Correia até fazia sinais para os jogadores do Sporting! Incrível, mas verdadeiro. Aquele segundo golo é inacreditável. Nem sei como o árbitro pôde jurar pelos filhos que não tinha havido falta.»
Tibi, o guarda-redes portista, sobre o primeiro golo: «A bola partiu de Baltasar, bateu em Bené e apanhou o Dinis em posição feliz. Foi um golo de sorte. Eu não vi como foi, mas ele também não.» Revoltante foi o segundo golo do Sporting... «Esse foi um escândalo, saltei para a bola e, quando a tinha na mão, Dinis deu-me uma sapatada e larguei-a. Foi esse golo que nos matou. E perante isso só tenho de pensar que o sr. César Correia é do Sporting...»
Na história da democracia ficaria essa partida, já que a sua crónica publicada no «Diário de Lisboa» serviu de mensagem de nova esperança aos militares que continuavam empenhados em afastar Marcelo Caetano e que receberam no texto sinais de que era preciso voltar a crer e a lutar. A 25 de Abril seria...

Guttmann destroçado pelo Benfica e as balizas exóticas da América

Mas antes ainda da queda de Marcelo, o Sporting venceu em Guimarães com mais um golo «súcio» apontado por Nélson, que até se encolheu, antes do remate, julgando-se em posição de «off-side». O F. C. Porto perdera já, desgraçadamente, o sonho e os sportinguistas, apesar de derrotados pelo Benfica, em Alvalade, por 3-5, no jogo em que Marcelo acabaria por viver o seu «último banho de multidão», poucos dias antes do 25 de Abril, somaram 49 pontos, mais dois do que o Benfica, mais quatro do que o Vitória de Setúbal e mais seis do que o F. C. Porto, que depois da derrota em Alvalade vacilou... e nunca mais acertou o passo.
A 3 de Junho, o Benfica, ao vencer o F. C. Porto, por 3-0, no Estádio das Antas, garantiu a presença na final da Taça de Portugal, frente ao Sporting, Béla Guttmann, despedaçado pelo desaire que o impediu de «salvar a época», partiria no dia seguinte, abruptamente, para Viena, para não mais voltar.
Antes ainda do fecho da época, o Sporting venceu o F. C. Porto, por 2-1, em encontro a contar para a Taça 25 de Abril, que se disputou em Bridge Port, nos Estados Unidos. Estranhas eram as balizas: carpinteiros... portugueses tiveram de adaptar os postes do futebol... americano a balizas de... soccer, com enxertos em madeira e redes. Os jogadores ficaram estupefactos a olhar para as balizas. Mas aquilo era América.
O F. C. Porto entrara de facto em fase de renovação, contratando, para além de Cubillas, Tibi (que ganhou o Prémio Somelos Helanca referente à temporada de 1973/74), Aylton, Carlos Simões, Adelino Teixeira e Alfredo Murça.
Para substituto de Guttmann foi escolhido o brasileiro Aimoré Moreira. Pouco feliz foi, despertando, cada vez com mais ardor, o desejo do regresso de José Maria Pedroto.
in «abola»
 
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Um pequeno apontamento sobre esta génio da bola peruano:

Teófilo Cubillas nasceu a 8 de Março de 1949 no distrito de Lima, Puente Piedra. Começou a jogar futebol nos escalões jovens do Alianza Lima, já nessa altura “El Nene”, como era apelidado, dava nas vistas pela técnica invulgar com que se exibia em campo…um verdadeiro talento.

Em 1965, aos 16 anos de idade, fez a sua estreia como profissional na equipa sénior do Alianza Lima. Na primeira época, Cubillas não se intimidou e foi logo o melhor marcador do campeonato peruano, feito que repetiu em 1971. Um ano depois “El Nene” foi eleito o melhor jogador da América do Sul. Era a confirmação daquilo que todos já sabiam. Estávamos perante um génio.

Teófilo jogou na equipa branca e azul até 1973, altura em que foi vendido ao Basileia da Suiça. Seis meses após a chegada ao país helvético, o jogador peruano foi transferido para Portugal, mais concretamente para o Futebol Clube do Porto. Aqui, Cubillas fez duas épocas de grande nível onde foi o melhor marcador. Em 1976 regressou ao Alianza Lima onde venceu o bicampeonato de 1977 e 1978. Em todo o percurso pelo clube de “La Victoria”, Cubillas apontou 295 golos.

Mas a aventura de “Teó” pelo futebol ainda não chegara ao fim. Em 1979 foi contratado pelos Strikers de Lauderdale, onde em cinco temporadas fez 120 jogos e marcou 59 golos. Com esta bela soma, tornou-se o melhor marcador de sempre da história do clube americano. Outro recorde obtido foi contra o Aztecas de Los Angeles, ao marcar três golos em apenas sete minutos.

Cubillas retirou-se em 1985, com 36 anos de idade, depois de vinte anos a jogar futebol profissional. Mas ainda não era um abandono definitivo…em 1987, depois do acidente de avião que vitimou todos os jogadores do Alianza Lima, “El Nene” decide regressar ao seu clube de sempre para ajudar à recuperação, completando uma época e em seguida retirando-se definitivamente.

SELECÇÃO NACIONAL
Teófilo Cubillas estreou-se na selecção peruana com 20 anos, aquando da participação nas eliminatórias para o Mundial México 70. Na fase final desse Campeonato do mundo, “El Nene” marcaria cinco golos sagrando-se o melhor marcador da equipa nacional. A partir daí consolidou-se como o “10” da selecção. Em 1975, o médio criativo fez parte da histórica equipa que venceu a Copa América. Três anos depois, no Mundial da Argentina marcou cinco golos cotando-se como o segundo melhor marcador da competição, atrás do ponta-de-lança argentino Mário Kempes. O “Espanha 82” foi o último mundial de Cubillas. Uma despedida amarga, pois os peruanos não conseguiram passar a fase de grupos e a grande estrela não obteve qualquer tento na competição.

Em jogos oficiais pela selecção, Teófilo Cubillas marcou 26 golos em 86 presenças, mas se contabilizarmos também os jogos particulares disputados pela equipa nacional chegamos à bonita marca de 45 golos em 117 jogos. Números que fazem de Cubillas o maior goleador de sempre da história desta equipa.

MAIOR GOLEADOR CENTROCAMPISTA EM MUNDIAIS

Os dez golos apontados em três mundiais, colocam “El Nene” como o máximo goleador peruano nos mundiais e o privilégio de ser o sétimo goleador da história desta competição. Um dado pouco mencionado, mas bastante importante é que Cubillas é o maior goleador centrocampista dos mundiais e tem a melhor média de golos por jogo de todos os médios da competição mais importante a nível mundial, acima de génios como Diego Armando Maradona, Zico e Johan Cryff, para citar apenas alguns. Os seis jogadores que superaram Teófilo em golos em campeonatos do mundo jogaram não só maior número de partidas, como eram todos avançados e não médios.

Os sul americanos defendem que as estatísticas e o talento de “El Nene” não só comprovam que ele foi o melhor jogador de todos os tempos do Perú, mas também um dos 5 melhores de todos os tempos na América do Sul.

PRÉMIOS

-Cubillas tem a honra de fazer parte da “FIFA 100”, lista que distingue os 125 melhores futebolistas de todos os tempos.
-Destacado como um dos 11 melhores jogadores de todos os tempos segundo a revista argentina “El Gráfico”.
-Melhor jogador da América do Sul em 1972.
-Melhor médio atacante da liga dos Estados Unidos em 1981.
-Integrou a equipa de todas as estrelas da liga dos Estados Unidos em 1981
-Bota de Prata no Mundial Argentina 78 por ser o segundo melhor marcador do torneio.
-Considerado o segundo melhor jogador jovem a nível mundial (ao nível da performance), depois de Pelé.

Foi apresentado à massa associativa Portista, num jogo com a Portuguesa dos Desportos de S.Paulo, Brasil, e desde logo se viu que se tratava de um autêntico fora de série.
Três momentos inolvidáveis de Teofilo Cubillas em Portugal:
Estreia em Guimarães (0-0), a 27/01/1974, com penalti atirado à estátua do D. Afonso Henriques; um golo fabuloso no estádio do Mar contra o Leixões (1-0), num autêntico slalom fintando todos os adversários que o enfrentavam, inclusivé o guarda-redes Alberto; e dois fabulosos golos, num minuto, em Coimbra (2-1), virando um resultado adverso num campo na altura dificílimo; foi o melhor estrangeiro que passou por Portugal, e, sobretudo, grande profissional.
Fez 157 jogos e marcou 91 golos, com a camisoal azul e branca vestida. Na 1ª elim. (ainda em 76) da Taça de Portugal, o FC Porto ganhou em Viseu 2-0 com dois golos de Cubillas. O último jogo do peruano em Portugal.

http://www.youtube.com/watch?v=vJxpwi9NOVI
http://cuscovideos.com/index.php?en=youtube&q=te%C3%B3filo
 
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Amnistia para Pedroto!

Pinto da Costa nem sequer foi dos mais truculentos intervenientes na Assembleia que revogou a moção que impedira Pedroto de entrar nas Antas

Pedroto estava proscrito por uma Assembleia Geral realizada no rescaldo fumegante da polémica que abrira com Afonso Pinto de Magalhães. Mas servir de pandeiro em festa alheia irrita. Por isso, um grupo de associados do F. C. Porto decidiu convocar, para 21 de Março de 1975, uma Assembleia Geral que (sem lhe citar o nome, para não ferir muitas suceptibilidades) amnistiasse Pedroto. Muito mais contundente do que Jorge Nuno Pinto da Costa foi, então, Strecht Teixeira, que acusou: «Há homens no F. C. Porto para os quais foi pedida a irradiação. Essas irradiações foram pedidas por agentes mandatários. As Assembleias Gerais e Delegadas foram sempre comandadas por cabeças-de-cartaz que pôem e dispõem das Assembleias. No caso de José Maria Pedroto suponho que não lhe foi, sequer, facultada a hipótese de defesa. Que na vida do F. C. Porto não haja mais necessidade de se realizarem Assembleias para se recuperarem homens que não tiveram possibilidade de se defender.»
Sebastião Ribeiro, que fora o autor da proposta que visava que Pedroto não mais fosse funcionário do F. C. Porto, ainda tentou a sua defesa. No rosto, gaifonas de mágoa, no tom de voz, sinais de orgulho ferido. «Os insultos soezes, baixos, sem qualificação, não impediram nem impedem aquilo que o coração e a razão determinam que eu diga. Nunca me pautei senão pela única razão de me guiar pelos interesses do F. C. Porto. Fui eu que apresentei a moção que impedia que determinado treinador servisse o F. C. Porto. Moção aprovada, por unanimidade, por milhares...»
Irritação de ânimos. Tropel. Sebastião Ribeiro teve de calar-se, ante a vozearia e o estrépito que se sentiam na sala. O sinal estava dado. E o homem que propusera que Pedroto se tornasse, cinco anos antes, persona non grata para o F. C. Porto e que se propunha escabichar o passado, não quis dizer muito mais, mesmo depois de Ponciano Serrano ter amainado a tempestade que parecera de turba.
De nada valeria, de facto. Sem surpresa — e até com o voto em jeito de catarse de Sebastião Ribeiro — a proposta apresentada por Joaquim Carvalho, tendo como poderosíssima «quinta coluna» Jorge Nuno Pinto da Costa, Fernando Cabral, Neivas dos Santos, Pôncio Monteiro, Artur Santos Silva, Augusto Silva, José Alcino, José Maria dos Santos, Luís Mota de Freitas e Vítor Cardoso, foi aprovada por... unanimidade. Pedroto estava perdoado. E podia regressar.
Nesse comenos, Américo de Sá mandou emissários a Pedroto, mas, subitamente, a 31 de Março, a notícia correu como bicha de rabiar, para desencanto dos portistas: Pedroto acabara de renovar o contrato com o Boavista. Fê-lo por uma questão moral, mas não era, claramente, esse o desejo do seu coração: «Muito me custa contrariar todos aqueles bons amigos portistas que tanto fizeram pelo meu regresso ao F. C. Porto, mas há um compromisso de ordem moral que me faz continuar onde estou. O Boavista fez sacrifícios de toda a ordem para uma tarefa de valorização do seu futebol e não me ficaria bem abandonar o clube quando esse esforço não pôde ainda dar todos os frutos possíveis.»
Vendo as suas diligências baldadas, a Direcção do F. C. Porto, anunciando que o contrato com Pedroto seria assinado no dia seguinte, lançou a toalha ao tapete, mas sem um sinal de crítica ou de remoque ao treinador, deixando, claramente, uma porta aberta ao futuro. Se desistiam dele era porque «o F. C. Porto só contratava profissionais desde que viessem para o clube livres de qualquer condicionalismo», compreendendo até o passo dado por Pedroto, para alegria de Valentim Loureiro, e sublinhando «a verticalidade do técnico nos compromissos morais para com os dirigentes e a massa associativa do clube vizinho».
 
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> Pedroto estava proscrito por uma Assembleia Geral realizada no rescaldo fumegante da polémica que abrira com Afonso Pinto de Magalhães. Mas servir de pandeiro em festa alheia irrita. Por isso, um grupo de associados do F. C. Porto decidiu convocar, para 21 de Março de 1975, uma Assembleia Geral que (sem lhe citar o nome, para não ferir muitas suceptibilidades) amnistiasse Pedroto. Muito mais contundente do que Jorge Nuno Pinto da Costa foi, então, Strecht Teixeira, que acusou: «Há homens no F. C. Porto para os quais foi pedida a irradiação. Essas irradiações foram pedidas por agentes mandatários. As Assembleias Gerais e Delegadas foram sempre comandadas por cabeças-de-cartaz que pôem e dispõem das Assembleias. No caso de José Maria Pedroto suponho que não lhe foi, sequer, facultada a hipótese de defesa. Que na vida do F. C. Porto não haja mais necessidade de se realizarem Assembleias para se recuperarem homens que não tiveram possibilidade de se defender.»

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A balbúrduia que o 25 de Abril tinha gerado em Portugal (era um fartar vilanagem), não tinha lugar no FC PORTO. Este deve ser um dos momentos-chave, que lançaria o clube para a alta roda Europeia. Outro? Obviamente o regresso do Mestre Pedroto às Antas.

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> ... poderosíssima «quinta coluna» Jorge Nuno Pinto da Costa, Fernando Cabral, Neivas dos Santos, Pôncio Monteiro, Artur Santos Silva, Augusto Silva, José Alcino, José Maria dos Santos, Luís Mota de Freitas e Vítor Cardoso

Isto é gente que, já na altura, não brincava em serviço.
 
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Sindicato vetou Stankovic

Joaquim Meirim preocupou-se com as divisas que fugiam do País e como o «turista» que estava a roubar o pão aos trabalhadores portugueses! Era o tempo do PREC no futebol...

Durante as férias do futebol, o Estádio das Antas foi transformado em cinema. Américo de Sá descobriu, enfim, o substituto para Aimoré, desfeita a esperança de Pedroto: o jugoslavo Branko Stankovic. Sinais dos tempos: o Sindicato dos Treinadores, com Joaquim Meirim à cabeça, vetou a sua contratação, lançando à liça frases então muito em voga nos dias quentes da Revolução. Apesar de a FPF lhe ter, inclusivamente, recusado o cartão que lhe permitia sentar-se no banco dos suplentes, Stankovic assumiu o comando técnico do F. C. Porto. Sem grande felicidade...

Meirim e os desvios revolucionários

Mas, antes ainda de ter caído em desgraça, perante a investida sindicalista, Alfredo Borges, director do Departamento de Futebol, saltou a terreiro em defesa do clube e da sua honra beliscada: «O F. C. Porto está farto de ser enxovalhado. O meu clube limitou-se a proceder como sempre tem feito quando contrata um treinador estrangeiro. Stankovic não é um turista em Portugal. Tem licença de residência no Porto e todo o processo autorizado pelo Ministério do Trabalho. A ilegalidade em todo esse processo é da parte do Sindicato Nacional dos Treinadores, quando, através de alguns plenários, passa por cima do seu próprio estatuto, que não recusa aos técnicos estrangeiros poderem trabalhar em Portugal. Ilegalidade, também, da parte da própria Federação, quando nos recusa a emissão do cartão identificativo do treinador, para que Stankovic possa permanecer no «banco», depois de saber que ele tem um diploma que o habilita, passado pela sua congénere jugoslava.»
De Stankovic disseram os oficiais do mesmo ofício conchavados no Sindicato que «era um turista que não poderia treinar em Portugal», que era «um estrangeiro que estava a tirar o pão aos trabalhadores portugueses» — e outros que tais desmandos que alguns anos depois só poderiam ser santo e senha de Le Pen ou de seus próceres. Dos dirigentes do F. C. Porto disseram desrespeitarem os ventos da Revolução, os sinais dos tempos, «os direitos dos trabalhadores portugueses». Assuadas que Alfredo Borges considerou «tristes e demagógicas».
Joaquim Meirim preocupou-se, também, com o facto de o F. C. Porto estar a desbaratar divisas contratando Stankovic, alertando as autoridades para esse «desvio revolucionário». Replicou Alfredo Borges: «Pobre presidente do Sindicato que passa noites sem dormir, preocupado com a saída de divisas, as quais tanto podem prejudicar o nosso país! Será que ele não sabe que o F. C. Porto não participa em jogos dúbios e mais que ninguém está interessado no engrandecimento de Portugal e, como tal, paga a Stankovic em escudos?»
Quando o Sindicato cedeu e arriou pendão, Fernando Vaz estranhou que Joaquim Meirim capitulasse, mas houve logo quem lembrasse que não se poderia afrontar assim um clube com mais de 50 mil sócios. Pois.
Outra frente de batalha se abrira, entretanto. O angolano Dinis decidira assinar contrato com o F. C. Porto. Acordaram, sem grandes complicações, o negócio entre as partes. E, imolada que estava a Lei de Opção no fogo da Revolução, fizeram--no sem dar patavina ao Sporting.
Perdido, irremediavelmente, o jogador, João Rocha e seus pares saltaram a terreiro e exigiram aos portistas 600 contos, que fora a quantia despendida com a aquisição da carta do jogador ao ASA de Luanda.
No Porto fizeram ouvidos de mercador. Nunes dos Santos, vice-presidente do Sporting, acusou a Direcção de Américo de Sá de «actos de gangsterismo». Retorquiu o presidente do F. C. Porto, com ironia ácida: «Impecável a conduta do Sporting? Que o digam o Vitória de Guimarães («caso» José Morais), o Belenenses («caso» Carlitos), a Académica («caso» Alhinho) e o F. C. Porto («casos» Manuel Gomes e Pedras).» Só quando Setembro chegou e o Campeonato, após um estágio na serra da Estrela, durante o qual os portistas se espantaram com a obsessão do jugoslavo pelo trabalho físico, arrancou, se desviaram atenções do público do desaforado defeso. Os portistas, já com Dinis, já com Stankovic, já com Octávio, entraram nele sob o signo da goleada: 6-1 ao União de Tomar.
Octávio Machado, que brilhara no Setúbal, era a última conquista de Américo de Sá. Fora cobiçado pelo Atlético de Madrid. Viajou para Espanha na ânsia de assinatura de contrato que envolvia 3500 contos, deixou-se fotografar na sala de troféus do Atlético, mas não ficou por lá porque, na versão oficial de Vicente Calderón, o clube não aceitava ser obrigado a dispensá-lo para a Selecção. O Saragoça ultrapassou a verba do Atlético, mas quando tudo parecia resolvido surgiu o F. C. Porto com uma proposta irrecusável e...
Na Taça UEFA, o F. C. Porto eliminou o Avenir Beggen (Luxemburgo), o Dundee United (ganhando na Escócia por 3-1) e só na terceira eliminatória baqueou, frente ao Hamburgo. Sem cinco titulares, na 2.ª «mão», vitória nas Antas, por 2-1, mas o resultado da 1.ª (0-2) deitara tudo a perder e mágoa se sentia ainda por o segundo golos dos alemães ter sido apontado a dois minutos do fim, na transformação de uma grande penalidade com a marca de injusta na ourela.
Stankovic começava a sentir o chão fugir-lhe de debaixo dos pés. E a 29 de Janeiro de 1976, a derrota do F. C. Porto no Restelo apenas precipitou o seu despedimento. Oliveira desvendou: «Não nos conseguimos adaptar aos métodos de Stankovic. Nós gostamos de iniciativa, de dispor de uma certa liberdade de movimentos e Stankovic cultivava um processo de jogo onde o jogador era apenas uma peça, um autómato. Foi, sobretudo, por isso que ele falhou no F. C. Porto, como teria falhado em qualquer equipa portuguesa.» Rodolfo, considerando-o um «grande preparador físico, duro, mas muito respeitador», contestou-lhe os métodos, dizendo, ironicamente, que, por vezes, marcavam «os adversários pelo número das camisolas»...
Foi a primeira «chicotada psicológica» de Branko Stankovic. Treinador de prestígio. Por isso, desolado, deixou a sua casa em Gaia e nunca mais apareceu... Não quis sequer que o F. C. Porto lhe pagasse o que poderia exigir pela rescisão.
Monteiro da Costa regressou a treinador principal, mas dolorosa foi a estreia, perdendo em Alvalade por 1-5! A 31 de Maio, no último dia do Campeonato, o F. C. Porto foi ganhar à Luz por 3-2, mas isso não bastou para fazer do Boavista de Pedroto campeão. Poderiam tê-lo sido se não tivessem perdido nas Antas, algumas (poucas) semanas antes. Nesse dia, F. C. Porto, Benfica, Sporting e Belenenses completaram o seu milésimo jogo no Campeonato e «A Bola» ofereceu medalhas comemorativas a todos os seus jogadores. O 4.º lugar foi a consolação possível. Não muito doce, obviamente...
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Largos dias tem 100 anos...

Pinto da Costa saiu de orgulho ferido da pastelaria onde jogava cartas até de madrugada com Pedroto. Pouco depois, em sua casa, a assinatura com que tanto sonhara

Ao serviço do Boavista, Pedroto mantivera quase até à última jornada acesa a chama do título. O Benfica acabou por ganhar ao sprint. Mas Pedroto venceu a Taça de Portugal. Na Pastelaria Petúlia, a euforia dos boavisteiros atingia o clímax. Pinto da Costa estava entre amigos, à mesa do café, jogando cartas até de madrugada, mas era portista e sofria. Naquele dia, as piadas e os remoques deixaram-no em dorido silêncio horas a fio. Hernâni Gonçalves estranhou e perguntou-lhe o que se passava. Pinto da Costa disse apenas que «largos dias tem 100 anos», levantou-se, saiu e prometeu que, no dia seguinte, falaria com Américo de Sá. Falou e recebeu luz verde para tentar convencer Pedroto. Convenceu. Com uma condição imposta pelo técnico: que ele fosse o director de futebol. Foi. E, na casa de Pinto da Costa, Pedroto assinou contrato, batido à máquina ali mesmo por Álvaro Clemente. Depois da histórica assinatura, simbolicamente, Pedroto deixou-se fotografar com Alexandre Pinto da Costa. E não escondeu o caminho que era preciso trilhar, custasse o que custasse: «Chegou a altura de estarmos de sobreaviso e verificar que a infelicidade dos árbitros já ultrapassou os limites e que, eventualmente, tenhamos de adoptar medidas de autodefesa, mas que possam definitivamente acabar com o gozo a que vamos estando sujeitos por aqueles que, não sendo do F. C. Porto, gozam, semana a semana, com as grandes penalidades que nos são sonegadas e os golos irregulares que nos são marcados. Trata-se, realmente, de um gozo, até humilhante, e que em defesa da nossa dignidade não poderemos deixar que continue.»

O novo contrato de Cubillas e Pedroto disfarçado de polícia

Não muito depois, a 1 de Agosto de 1976, Cubillas assinou novo contrato com o F. C. Porto. Válido até 31 de Julho de 1978. Diferente do anterior, que não contemplava qualquer tradicional esquema de prémios em jogos nacionais. Desta feita teria um ordenado de 80 contos por ano e mais 60 de «luvas», prémios rigorosamente iguais a todos os seus companheiros, em todos os jogos, subsídio de férias de 80 contos e subsídio de Natal de 40 e duas viagens de ida e volta em primeira classe para o Peru, para si, para a mulher e para a filha recém-nascida...
Para o F. C. Porto vieram ainda Freitas e Duda, que depressa se transformariam em peças preponderantes no esquema arquitectado por Pedroto, à conquista do sucesso. Montar a máquina leva tempo. Por isso, à entrada para 1977 o F. C. Porto estava a sete pontos do Sporting. Se ainda ardia um fogo de esperança, era ténue. Por essa altura, no Bonfim, Pedroto em bolandas. O F. C. Porto ganhara por 1-0, golo de Cubillas, mas o treinador portista, intempestivo, dirigiu-se, em jeito de mata-mouros, a um dos fiscais de linha do lisboeta Adelino Antunes. Altercação e nervos à flor da pele. De Pedroto se abeirou Diamantino (esse mesmo que haveria de brilhar como jogador do Benfica), disse ele com o intuito de o acalmar. Confusão ainda mais grossa, bancadas em ebulição, uma bofetada do técnico portista no jogador sadino!
A irritação dos ânimos assoprada pelo desejo quente de vingança. Os adeptos do Vitória montaram cerco à cabina do F. C. Porto. Deixaram que os seus jogadores saíssem sem os incomodar, mas Pedroto, esse, pressentindo a borrasca, ficou retido na cabina, não fosse o Diabo tecê-las.
Muito tempo depois, o treinador do F. C. Porto acabaria por abandonar o Bonfim disfarçado de polícia! Foi a sua sorte. O incidente não o atemorizou. E garantiu logo que continuaria a fazer tudo para defesa do F. C. Porto, naquele jeito guerreiro que abrira.
Por essa altura se ficou a saber que o passivo do F. C. Porto era de 68.557 contos. Contudo, segundo Américo de Sá, não havia razão para dramatismos, a sua gerência endividara o clube em apenas 34.927 contos, já que herdara 33.630 contos de défice quando, em 1971, Afonso Pinto de Magalhães lhe deixou a presidência do F. C. Porto.
No futebol profissional, em 1975, as despesas eram de 13.748 contos e as receitas eram de apenas... 4813 contos! Um anos depois, a despesas de 17.385 contos corresponderam receitas de 10.053 contos. Ou seja, para um aumento de despesas de 26,5 por cento, um acréscimo de receitas de 108,9 por cento! Era sinal de esperança, asseveraram os dirigentes do F. C. Porto.
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Taça que Cubillas não pôde ganhar

Pedroto espalhou depressa o seu fascínio pelas Antas. E, e, 1977, o F. C. Porto ganhou a Taça, com Mário Soares na festa. Cubillas não esteve, por causa de 6380 contos!

Nos primeiros dias de Janeiro de 1977, Pedroto perdeu uma das suas pérolas. Não se impacientou, nem sequer lhe passou pela cabeça que a sua equipa se pudesse amodorrar por isso. Cubillas partia, mas tinha já na manga trunfo para lançar, definitivamente: Fernando Gomes...
O peruano partiu numa manhã de morrinha, depois de, na véspera, se ter despedido de todos os companheiros e técnicos, em jantar sentimental no restaurante de... António Oliveira, em Rio Tinto. Os colegas ofereceram-lhe uma salva de prata, houve discursos que vincaram o seu coração bom e a sua conduta humana e na hora do adeus lágrimas rorejaram nos olhos de quase todos.
Do Alianza do Lima, que contratara Cubillas, o F. C. Porto recebeu (em dólares) 6380 contos e deixou de pagar de ordenados e prémios pelos menos 2720 contos. Por isso, Jorge Vieira, o homem que o contratara, afirmou: «Cubillas foi grande em tudo; pela sua técnica, pelo seu aprumo. Quem quis aprender, muito aprendeu com ele. Era um modelo de disciplina e a melhor prova disso é que depressa chegou, democraticamente, a «capitão» do F. C. Porto. Que pena não ter sido possível pôr lado a lado Cubillas e Pavão. Que prejuízo incalculável para o F. C. Porto a morte do transmontano ter ocorrido pouco antes de Cubillas vir... E, por outro lado, ainda ficámos a ganhar. Cubillas acaba de ser vendido por mais 780 contos do que custou e, entretanto, levou para os cofres do clube milhares de contos, não será exagero afirmá-lo. Houve uma subscrição pública e um jogo de apresentação que renderam 1200 contos, houve outros jogos com equipas nacionais e internacionais e com tudo isso somado pode dizer-se que Cubillas ficou de graça ao F. C. Porto. Nestes três anos Cubillas terá recebido 4700 contos e não é caricato dizer que muito mais que isso recebeu o F. C. Porto graças a Cubillas.»
Pelo F. C. Porto, Cubillas fez 157 jogos e apontou 91 golos. Só não ganhou nada em títulos. Mas se tivesse ficado mais algumas semanas...

Pedroto, a humildade e o murro que o árbitro levou!

Perdido o Campeonato, Pedroto apostou tudo na Taça de Portugal. E ganhou. Na final, F. C. Porto e Sporting de Braga. Nas Antas, como fora já a final do ano anterior, entre o Boavista e o Vitória de Guimarães. Os portistas ganharam, mas não deslumbraram. José Maria Pedroto aquiesceu: «Não jogámos bem, jogámos, fundamentalmente, com muita humildade. Comparo a humildade dos meus jogadores àquela com que o Benfica ganhou o Campeonato.» Foi um jogo sem casos, marcado, sobretudo, por um golo monumental de Fernando Gomes, aos 52 minutos, numa altura em que o Braga jogava com 10 unidades, por Manaca estar a receber assistência, após choque com Rodolfo, que em «A Bola» se considerou ocasional, mas que o arsenalista entreviu de outro modo: «Rodolfo agrediu-me barbaramente, é um mau profissional, habitual em atitudes destas.» Minutos depois, um espectador entrou em campo e agrediu Porém Luís, deixando a partida interrompida durante três minutos. «Levei um murro cobardemente, pelas costas. Nem tive tempo de ver quem foi, pois caí logo. Mas também aí os jogadores de ambas as equipas foram extraordinários, acorrendo em meu auxílio. Mas foi pena, pois o espectáculo estava maravilhoso. Apesar de tudo, sinto-me orgulhoso pelos elogios que, no final do encontro, os jogadores me fizeram.»
Mário Soares, na sua condição de primeiro-ministro, entregou a taça a António Oliveira. Nas bancadas levantou-se o tropel do júbilo, gargantas abertas, gritando Porto! Porto! Porto! — como se nesse ruído, nesse frémito, nessa vertigem, nesse baile, se fizesse a festa do triunfo e, mais que isso, o sinal da conquista de um novo tempo, com o F. C. Porto resgatado, definitivamente, às teias de desgraça em que andara ilaqueado anos a fio. Era o perfume de Pedroto, o fascínio que inebriava toda aquela mole de gente.
 
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A conquista desta Taça representa a luz que iluminou o longo e tenebroso túnel das derrotas e das amarguras. Pedroto finalmente acendeu-a.

18 de Maio de 1977

F.C. Porto - Torres; Gabriel, Carlos Simões, Freitas e Murça; Octávio, Rodolfo e Taí (Seninho); Duda (Celso), Gomes (1) e Oliveira.
Sp. Braga - Fidalgo; Artur, Serra, Ronaldo e Manaca; Pinto, Beck (Caio) e Marinho; P. Rocha, Chico Gordo e Chico.

A final da 37ª edição da Taça de Portugal ficou marcada por três factos relevantes: este encontro teve lugar antes do Campeonato da Primeira Divisão terminar, contrariando a ideia consensual que a ‘Taça’ deveria ser sempre o fecho condigno e festivo de cada época, o jogo foi marcado para uma quarta-feira e, finalmente, o estádio não foi neutro, ainda que a sua escolha tenha tido a aceitação prévia de ambos os contendores.
O F.C. do Porto acabou por conquistar o seu quarto troféu, através de um golo de Gomes, após uma jogada de insistência de Duda?.
O percurso de ambos finalistas:
1/16 de Final - FC Porto 7-1 Montijo * Sp. Braga 5-0 Olhanense
Oitavos de Final - FC Porto 9-0 Aliados Lordelo * Almada 0-2 Sp. Braga * (Sporting 3-0 Benfica)
Quartos de Final - FC Porto 3-0 Sporting * Famalicão 0-1 Sp. Braga
Meia Final - FC Porto 3-0 Fafe * Sp. Braga 0-0 Gil Vicente * Desempate - Sp. Braga 4-1 Gil Vicente
Final - FC Porto 1-0 Sp. Braga
Fonte: pt.wikipedia.org/wiki
 
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Estofo de campeão e roubos de igreja

19 anos depois, o F. C. Porto campeão. Os benfiquistas, em desespero, queixaram-se do árbitro, dizendo que era «compadre» de Pedroto...

José Maria Pedroto e Pinto da Costa tinham aberto, sem tibiezas, a guerra psicológica com que desejavam destruir os «baluartes da supremacia lisboeta». No arranque para o Campeonato de 1977/78, afinavam-se botas e afiavam-se gargantas. O então ainda chefe do Departamento de Futebol lançou o remoque: «Não há nenhum jogador no F. C. Porto a ganhar, anualmente, mais de mil contos entre ordenados e luvas.» Era o comentário à contratação de Jordão pelo Sporting. E metralhou mais: «O Sporting pagou a Ailton mais do triplo do que nós pagávamos... Por isso, milionários são os senhores do Sporting.» E, célere, na entreajuda, afirmou o treinador: «F. C. Porto campeão? Depende dos árbitros.» Para Pinto da Costa retorquir: «O critério de nomeação dos árbitros, se não é uma palhaçada, o que é que é?» Estava dado o mote e lançada a corrida para o título. Numa estratégia de guerra-fria — ou de divisão do País e de reinvenção de fantasmas, se preciso fosse...

Roubos de igreja e o prisioneiro da PIDE

Em Setembro de 1977, por alturas em que o F. C. Porto eliminara o Colónia da Taça das Taças, José Maria Pedroto chegou com os seus pupilos do F. C. Porto com um atraso de duas horas em relação á hora marcada para uma concentração da Selecção Nacional, antes de jogo com a Dinamarca. Por atraso do avião do Porto, se disse. Falou com os dirigentes da FPF, reuniu os jogadores e... pediu a demissão de seleccionador nacional. Tudo porque os treinadores de futebol não tinham livre-trânsito para assistir aos jogos de futebol que quisessem. E como era candidato à presidência do Sindicato tinha de dar o exemplo. Deu.
O F.C. Porto foi jogando e livrando-se de tropeços vários. Em Janeiro de 1978, Benfica e F. C. Porto defrontaram-se nas Antas. Na véspera da partida que poderia decidir o título, Pedroto saiu-se com frase que haveria de ficar na história do futebol português: «Temos de lutar contra os roubos de igreja.» Fez-se o desafio, o F. C. Porto empatou e o nulo teve sabor a vitória. Encabelaram-se os benfiquistas, sentindo o sonho a evolar-se e Toni foi o porta-voz desse estado de espírito: «Lamento que o F. C. Porto, com o plantel que tem, necessite de estratagemas de bastidores para discutir o título... Até sonhei, esta noite, que o F. C. Porto ia ser campeão com os benefícios da arbitragem. O cavalo-de-batalha passou a ser os árbitros que deram 23 Campeonatos ao Benfica.» O árbitro foi Alder Dante e dele disse Pedroto: «Impecável.»
A 9 de Fevereiro, Óscar, que fora libertado das garras da PIDE após o 25 de Abril, estava com um pé no Sporting. «Sportinguista desde pequenino», sentia o mel da esperança. João Rocha man- dou-o esperar. Esperou. Mas Américo de Sá e Pinto da Costa foram à sua procura e mandaram-no... assinar. Assinou. «Sou sportinguista, mas também sou profissional, logo...»
No Estoril, Óscar ganhava 25 contos por mês. Para o F. C. Porto foi ganhar 92 e mais cinco para «subsídio de residência».
Não se esquecera ainda (antes pelo contrário) do degredo por que passara na prisão: «Em oito meses no Campo de São Nicolau, no sul de Angola, perdi apenas 26 quilos. Tomava banho no rio povoado de jacarés só para ver se algum me pegava. Sou um jogador triste porque deixei de acreditar nos homens — foi o meu maior amigo que me mandou para a cadeia, acusando-me de pertencer ao PAIGC, fui expulso do exército, já estive em Caxias no Tarrafal, em São Nicolau.»

A Europa e o «árbitro comprado»

Por essa altura, para os quartos-de-final da Taça das Taças, o F. C. Porto bateu o Anderlecht, por 1-0, com um golo de Gomes. Pedroto queixou-se do árbitro: «Tão espalhafatoso, só poderia ser para dar nas vistas que roubou um penalty do tamanho da Torre dos Clérigos ao F. C. Porto.» Rodolfo queixou-se da areia que «fora colocada, pela tarde, por causa da chuva — e, por isso, quando tentávamos arrancar, enterrávamos os tornozelos e ficávamos quase presos».
Na segunda «mão», em Bruxelas, o F. C. Porto perdeu por 0-3. Oliveira não calou a sua revolta: «Um árbitro comprado para nos eliminar.» Tudo porque a vitória do Anderlecht começou a desenhar-se com uma grande penalidade apontada pelo holandês Resenbrink, que deixou os próprios belgas com esgares de espanto!

O compadre (?) de Pedroto

Na primeira semana de Abril, o F. C. Porto, com estrelinha, sim, mas com estofo (de campeão, obviamente), também ganhou em Alvalade, por 3-2. O golo da vitória foi apontado por Duda, com um remate de 30 metros, considerado «frango monumental» de Botelho.
Rodolfo e Artur foram expulsos por Raul Nazaré, que entendeu que se tinham agredido mutuamente, deixaram o campo... abraçados e o portista aventou: «Foram expulsões ridículas. Como \'capitão\' tentei serenar os ânimos e o desaguisado entre Artur e Gomes, mas o sr. Nazaré estava cheio de medo e expulsou-nos, lamentavelmente.»
A três jornadas do final do Campeonato, Benfica e F. C. Porto lado a lado. Como dois «irmãos siameses» na classificação. Nas Antas, em jornada exaltada e prenhe de emoções, o «jogo do título» gerou um empate. Primeiro marcou o Benfica, por Simões, defesa portista, na própria baliza, logo aos três minutos de jogo. «Aquilo foi uma tortura! Apertou-me o estômago e senti-me só e desesperado.» O F. C. Porto, já em desespero, só conseguiu empatar, por Ademir, a oito minutos do fim. Toni atirou: «Foi a Providência que salvou Pedroto. O F. C. Porto há-de ser campeão, mas gorou-se o desejo de massacrarem, nas Antas, este... Benficazinho.» Pedroto comentou: «Uma vitória do Benfica seria o crime do século.» Mortimore respondeu: «O F. C. Porto? Não joga nada.» E Romão Martins denunciou: «Se o árbitro [Manuel Vicente] não é compadre de Pedroto, como tal se tratam. E um é da Régua e o outro de Lamego. O livre de que resultou o golo do F. C. Porto não existiu. Estranho que se soubesse no Porto há três dias que o árbitro seria esse senhor Vicente, que contra o Portimonense nos castigou com um penalty que só ele viu. Contestá-lo ou protestar o jogo não valeria de nada, pelo que...»
Eram já os desabafos de quem sentira fugir a última tábua de salvação. Os portistas à beira de esbandalharem esse terrível jejum de 19 anos, que já incomodava, como «suplício de Tântalo».

Falcões e ainda não... dragões

Campeão haveria de ficar o F. C. Porto, apenas, na última jornada, mercê de uma vitória, por 4-0, sobre o Sporting de Braga.
Pedroto andou em ombros, na festa do orgulho portista redescoberto, até que, trémulo e arquejante — afinal, a felicidade também abala —, pediu, humildemente, a todos aqueles ululantes adeptos que o deixassem ir para as cabinas, descansar. Mal entrou, antes ainda de começar a jorrar o champanhe que guardara no seu cacifo, deixou descair, em palavras entarameladas pela emoção: «Passámos de pombinhos provincianos a falcões moralizados.» Por essa altura os portistas ainda não tinham descoberto que eram dragões...
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Um resumo da época que marcou o fim da longa travessia do deserto


1977

Setembro
1 — Jordão ganhou a guerra com o Saragoça e ingressou no Sporting. O clube espanhol ficou aliviado: «Jordão intratável só nos arranjou problemas.» E o dr. Sousa Marques confessa: «Pescar um espadarte não teria sido mais difícil.»
5 — Abertura do Nacional da I Divisão, com um clássico: Sporting-Benfica, com Jordão de verde e reentradas de Humberto Coelho e de Vítor Baptista na equipa encarnada. Aos 5 minutos, o fabuloso Chalana marcou, de cabeça (era o jogador mais beixo dos vinte e dois). Os leões empataram ainda no primeiro tempo. Em Setúbal, o F. C. Porto venceu, por 3-0. Fernando Gomes, autor de dois golos, confirmava-se como goleador.
12 — A segunda jornada do «Nacional» mostrou em Coimbra, um Sporting agressivo, (5-1) e um F. C. Porto apoquentado pelos pombinhos de Torres, tão apoquentado que perdeu, na Amoreira (2-0), e mostrou ainda o clássico Benfica-Belenenses (2-0) todo decorado a vermelho.
15 — A primeira quarta-feira europeia da época deixou os portugueses carregadinhos de dúvidas. Na Taça dos Campeões, o Benfica não teve empenho para perfurar o aço do Torpedo de Moscovo (0-0); Em Colónia, a contar para a Taça das Taças, as coisas correram melhor, em teoria, claro, e o F. C. Porto empatou (2-2) com o Köln; na Taça UEFA, o Sporting perdeu em Bastia (2-3) e o Boavista ganhou (1-0) ao Lazio.
22 — José Maria Pedroto chegara com os seus pupilos do F.C.Porto com um atraso de duas horas em relação à hora marcada para uma concentração da Selecção Nacional. Por atraso no avião do Porto, se disse. Chegou falou com os dirigentes da FPF, reuniu os jogadores e... pediu a demissão de seleccionador. Tudo porque os treinadores de futebol não tinham livre-trânsitos para assistirem aos jogos de futebol que quisessem. E como era candidato à presidência do Sindicato tinha de dar o exemplo. Deu.
29 — A «Europa» escolheu apenas duas equipas portuguesas — Benfica e F. C. Porto. As outras, Sporting e Boavista despediram-se logo ao segundo jogo. Em Moscovo, ao fim de 90 minutos da praxe, o resultado era igual ao de Lisboa: 0-0. O prolongamento não desfez a sensaboria. E recorreu-se aos famigerados penalties com a vantagem de 4-1 para os portugueses, golos de Pietra, José Luís, Chalana e Bento. Belenkov foi o único moscovita capaz de bater Bento. Para a Taça das Taças, ao F. C. Porto bastou o solitário golo de Murça. Em Alvalade, o Bastia, venceu, por 2-1, o Sporting, e em Roma o Lázio Goleou o Boavista (5-0). Leões e bessas fora de combate.

Outubro
1 —Dos jogadores convocados para os treinos das Selecções A e «Esperanças» só compareceram catorze na concentração. Alguns dos faltosos nem sequer telefonaram a dar explicações.
10 — A Selecção Nacional, convalescente da crise, brilhou em Copenhague, ao vencer, por 4-2!, a equipa dinamarquesa, em desafio a contar para a fase preliminar (Grupo I) do Campeonato do Mundo. Humberto Coelho e Octávio foram considerados os melhores entre os portugueses. E a euforia substituiu o pessimismo inicial: «Só falta agora ganhar à Polónia.» Foi esta a marcha do marcador: 13 minutos, 0-1, por Jordão; aos 33 m, 0-2, ainda por Nené; aos 37 m, 1-2, por Roentevd. Na segunda parte, 1-3, por Manuel Fernandes, aos 16 minutos. Octávio fez 1-4, aos 33 minutos e a 3 minutos do fim, 2-4, por Kristesen. Foi esta a equipa da vitória inesperada: Bento; Gabriel, Humberto Coelho, Laranjeira e Murça; Octávio, Toni e Alves; Nené, Jordão e Chalana.
— Na Taça dos Clubes Campeões Europeus de Andebol, o Belenenses venceu Strasbourg, por 24-16 e, assim, cometeu proeza considerada de vulto.
17 — A Federação Internacional de Andebol anulara o jogo do Restelo entre o Belenenses e o Racing Strasburg, pelo que considerou irregularidade no recinto do jogo — uma questão de haver ou não tabelas. Apagou deste modo a frustração do campeão francês, que considerou ganho o confronto, eliminado que foi o resultado de Lisboa. Mas sucedeu o inesperado e os azuis venceram, por 16-14, o seu atónito adversário.
19 — Caiu chuva, abundante, no Estádio da Luz, sem impedir o triunfo do Benfica (1-0) sobre o BS 1903 — vinte minutos à antiga mas sem a estrelinha de outrora e um único golo, de Pietra, de grande penalidade, aos 47 minutos.
24 — Foi um desastre para o Sporting o desafio da 6.ª jornada com o F. C. Porto. Octávio, inspiradíssimo, e Duda marcaram três golos aos leões, que passaram à 5.ª posição na tabela, a 3 pontos do Benfica.
27 — A lista A, liderada por Joaquim Meirim ganhou as eleições no Sindicato dos Treinadores, por 37 votos da vantagem, mas a candidatura de José Maria Pedroto ameaçou impugnar o acto eleitoral. E enquanto se faziam esforços para elaborar uma lista única, Meirim contra-atacou: «Não negociamos uma lista única com pessoas comprometidas com o 24 de Abril.»
31 — Portugal empatou (1-1) na Polónia para o «Mundial» da Argentina. Era o tal jogo de perder, mas a Selecção Nacional até podia ter ganho. A Polónia marcou no primeiro tempo, aos 36 minutos, por Deyna e os portugueses empataram, aos 16 minutos da segunda parte, por Manuel Fernandes. O resultado chegou à Polónia para se qualificar. Quanto a nós, «Adios, pampa mia», como o inconfundível Martins, anedotizaria na 1.ª página de «A Bola». Foi esta a Selecção que jogou em Chorzöw: Bento; Gabriel, Humberto Coelho, Laranjeira e Murça; Octávio, Toni, Alves e Chalana; Manuel Fernandes e Oliveira.

Novembro
3 — Aos quatro minutos do segundo tempo do jogo BS 1903-Benfica, no Idratspark de Copenhaga, Pietra fez o único golo do desafio e todos respiraram aliviados porque os dinamarqueses jogaram e correram como uns danados. O campeão nacional passou, assim, aos quartos-de-final da Taça dos Campeões.
17 — O futebol português passou pela primeira jornada da Taça sem que as disputas tivessem afectado os grandes clubes. E, na quarta-feira seguinte, encontrou-se, na forma de Selecção, com o Chipre, no Estádio de S. Luís, em Faro. Dia de goleada em perspectiva? Sim, mas não tão evidente como isso. Não passámos dos 4-0, golos de Toni, Chalana, Vital e Manuel Fernandes. E na tabela do Grupo I também não passámos do frustrante 2.º lugar, nem podíamos ter passado. Foi esta a Selecção Nacional no derradeiro jogo dos preliminares para o «Mundial» da Argentina: Bento; Artur, Humberto Coelho, Laranjeira e Murça; Pietra, Alves e Toni; Seninho, Manuel Fernandes e Chalana.
26 — A decisão da DGD, ao ordenar uma sindicância à Comissão Central de Árbitros causou efervescência. E mais polémica foi ainda a anulação da irradiação do árbitro Manuel Poeira, havia ano e meio fora dos campos. Manuel Poeira reagiu assim à notícia que o absolvia: «Fui o primeiro a dar a cara, mas, finalmente, as pessoas parecem convencer-se da podridão que reina na arbitragem.»

Dezembro
3 — Arbitragem em polvorosa e o futebol correu o risco de parar: a Comissão Central, face aos despachos da DGD, demitiu-se e cancelou a nomeação dos árbitros para as provas nacionais. Mas uma reunião conjunta DGD-FPF tornou possível a renomeação dos árbitros para as jornadas de sábado e domingo.
4 — Só não se efectuou um jogo de juniores (Arrifanense-Lamas) dos 104 programados em todas as Divisões. Portanto, os árbitros, compareceram em massa às convocatórias, contrariando a Comissão Central ameaçada de ser invadida por um grupo coordenador. No encontro mais importante do «Nacional» da I Divisão, o Sporting ganhou ao Belenenses (3-1), o Benfica empatou (0-0) em Braga e o F. C. Porto também empatou, nas Antas, com o Boavista (0-0). Exultaram os leões.

1978

Janeiro
14 — À vista o «jogo do ano», no Estádio da Luz, entre o Benfica e o F. C. Porto. Na véspera da partida, Pedroto saiu-se com frase que haveria de ficar na história do futebol português: «Temos de lutar contra os roubos de igreja no Estádio da Luz.» O desafio ficaria, contudo, muito aquém da expectativa, a começar pelo resultado. Talvez porque à guerra das estrelas faltaram as estrelas. E os golos. Toni, capitão do Benfica, disparou: «Lamento que o F. C. Porto, com o plantel que tem, necessite de estratagemas de bastidores para discutir o título... Até sonhei, esta noite, que o F. C. Porto ia ser campeão com os benefícios da arbitragem. O cavalo de batalha do sr. Pedroto passou a ser os árbitros que deram 23 Campeonatos ao Benfica.» O árbitro foi Alder Dante e dele disse Pedroto: «Impecável.» O Benfica manteve, assim, um avanço de dois pontos em relação aos portistas. Mas quem mais ganhou foi o seu tesoureiro, arrecadando 7000 contos de receita.

Fevereiro
9 — Óscar, que fora libertado da garras da PIDE, após o 25 de Abril, estava com um pé no... Sporting. «Sportinguista desde pequenino», sentia o mel do sonho. João Rocha mandou-o esperar. Esperou. Mas Américo de Sá e Pinto da Costa foram à sua procura e mandaram-no... assinar. Assinou. «Sou sportinguista, mas também sou profissional, logo...» No Estoril, Óscar ganhava 25 contos por mês. Para o F. C. Porto foi ganhar 92 e mais cinco contos para «subsídio de residência».
13 — No II Meeting Internacional de Lisboa, ao qual concorreram 400 nadadores de Portugal, Espanha, Holanda, Irlanda, Israel e Inglaterra, Rui Abreu demonstrou a sua classe internacional. Foi excepção na equipa portuguesa, ao vencer os 100 metros-livres, em 52,89 segundos.
— Valentim Loureiro, que era apontado como futuro presidente do Boavista, sofreu, no Porto, um enfarte de miocárdio. E, apesar de estar a recuperar bem, no leito do Hospital de Santo António, no ar ficou a hipótese de os boavisteiros perderem o presidente em quem depositavam muitas esperanças...

Março
1 — No Porto, para a Taça das Taças, o F. C. Porto, em derrapagem devido ao «pressing» do Anderlecht, suspirou de alívio quando o árbitro decidiu interromper o jogo, após o intervalo, devido ao estado do terreno.
2 — No desafio da repetição, nas Antas, o F. C. Porto bateria o Anderlecht, por 1-0, com um golo de Gomes. Pedroto queixou-se do árbitro: «Tão espalhafatoso, só poderia ser para dar nas vistas que roubou um penalty do tamanho da Torre dos Clérigos ao F. C. Porto.» E Rodolfo queixou-se da areia «que fora colocada, pela tarde, por causa da chuva — e, por isso, quando tentávamos arrancar, enterrávamos os tornozelos e ficávamos quase presos.»
6 — Pela terceira vez consecutiva, o Sporting eliminou o Benfica (definitivamente, sem Vítor Baptista) da Taça de Portugal (3-1, em Alvalade). O F. C. Porto venceu, por 3-0, o Gil Vicente; o Varzim bateu o Riopele, em casa deste clube (2-1); e o Sp. Braga, em Faro, ganhou por 3-1. O Norte conseguiu, assim, um lugar na final. Pelo menos...
16 — Nos quartos-de-final, Benfica (Taça dos Campeões) e F. C. Porto (Taça das Taças) disseram adeus às competições europeias. O F. C. Porto perdeu em Bruxelas por 0-3 e Oliveira não calou a sua revolta: «Um árbitro comprado para nos eliminar.» Tudo porque a vitória do Anderlecht começou a desenhar-se através de um golo de Rensenbrink, na cobrança de uma grande penalidade que o próprio astro holandês considerou... discutível! O Benfica baqueou em Liverpool: 1-4. E, resignado, Toni reconheceu: «Um resultado que espelha a diferença entre as duas equipas.» Bob Paisley bem poderia ter jogado mais na simpatia, mas... «Foi um bom treino para a final da Taça da Liga».

Abril
3 — Com estrelinha sim, mas também com estofo (de campeão, obviamente), o F. C. Porto de Pedroto ganhou em Alvalade, por 3-2, desfecho que colocou portistas e benfiquistas lado a lado, no topo da tabela. Com 2-2 no marcador, o guarda-redes sportinguista, Botelho, permitiu que uma bola, chutada de uns 30 metros, por Duda, entrasse na sua baliza. Um... frango, para felicidade de Pedroto. E o Sporting, que já estava em contacto com Milovad Pavic, apressou-se a fechar contrato com o treinador, que servira o Benfica, em 1974. Rodolfo e Artur foram expulsos, por o árbitro, Raul Nazaré, entender que se tinham... «agredido mutuamente». Deixaram o campo... abraçados. E o portista foi o porta-voz da denúnica: «Foram expulsões ridículas. Como capitão tentei serenar os ânimos e o desaguisado entre Artur e Gomes, mas o sr. Nazaré estava cheio de medo e expulsou-nos, lamentavelmente.» Em Belém, após o empate com o Estoril (0-0), um grupo de inconformados belenenses agrediu o treinador do clube, António Medeiros. A Direcção do Belenenses, indignada com o procedimento daqueles consócios, considerou-se demissionária, os jogadores ameaçaram com a greve e Medeiros declarou: «Se não demovermos a Direcção, no jogo com o Feirense, terão de jogar os jumentos que arranjaram esta situação.»

Maio
8 — À 25.ª jornada, mais um arranque do F. C. Porto, que venceu, no Bessa, o Boavista, já com Hagan como treinador, por 2-0, enquanto o Benfica, na Luz, empatava (0-0) com o Sp. Braga e o Sporting vencia no Restelo (1-0). Salto importante dos portistas quando o Campeonato entre na recta final.
15 — As equipas iniciam o sprint para o título, no «Nacional» de futebol. Os portistas, na frente, jogaram, nas Antas, com o Sp. Espinho (4-0), mas estavam atentos ao Bonfim, onde o rival Benfica era visita. As arbitragens, acusadas de favorecer a equipa de Pedroto, estavam na ordem do dia e, por isso, causou muita discussão a expulsão de Bento, a oito minutos do fim, por ter empurrado, ou socado ou fosse lá o que fosse, um adversário. Toni ironizou: «O fiscal de linha merece uma faixa de campeão.» E Bento protestou: «Eu é que fui o agredido.»
— O Sporting ganhou ao Ginásio Figueirense, por 96-95, e conquistou o título de campeão nacional de basquetebol.
25 — António Medeiros, castigado e multado pela Federação Portuguesa de Futebol, desabafou: «Paguei a multa para que a FPF paque o que deve, há três meses, aos jogadores do Belenenses.»

Junho
5 — Na penúltima jornada do «Nacional», o F. C. Porto empatou, em Coimbra, com o Académico: 0-0. Como o Benfica venceu o Feirense (2-0), as faixas de campeão ficaram à espera...
— Ao derrotar o Belenenses, por 17-15, o Sporting conquistou o título nacional de andebol.
12 — Hora de felicidade na «Invicta» com a conquista, pelo F. C. Porto, do título de campeão nacional. Os nortenhos, nos derradeiros 90 minutos de um Campeonato longo, competitivo e conflituoso, bateram o Sp. Braga por 4-0, golos de Oliveira, Octávio e Gomes (2). Confirmando a superioridade dos portistas, foi ainda confirmada pelos triunfos de Fernando Gomes, em «A Bola de Prata», e de António Oliveira, no «Somelos Helanca», premiando o mais regular jogador do Campeonato. Pedroto andou em ombros, na festa do orgulho portista redescoberto. Pediu, humildemente, que o poupasse um pouco, que o deixasse ir para as cabinas. Onde, mal entrara, deixou descair: «Passámos de pombinhos provincianos a falcões moralizados.»
19 — A final da Taça de Portugal, no Jamor, entre o Sporting e o F. C. Porto, foi feita de cenas eventualmente chocantes no relvado e nas bancadas. O empate (1-1) resistiu ao prolongamento e a decisão ficou adiada por oito dias. Gomes marcou para o F. C. Porto, Meneses empatou, de grande penalidade (legítima), muito protestada pelos portistas, os ânimos azedaram e o resto foram agressões, expulsões, picardias, acusações, enfim, um rosário de tristezas de mútuas acusações.
26 — Na jornada de repetição da final da Taça, ou melhor, na finalíssima, o troféu caiu nas garras verdes, desta vez não houve batalha no campo nem brigas na bancada, ninguém soube porquê, uma vez que a arbitragem de Mário Luís, de Santarém, validando o primeiro golo «leonino», forjado num lance irregular. Os golos foram marcados por Vítor Gomes, Manuel Fernandes e Seninho, prestes a encetar nova vida, no Cosmos, põs o dedo na ferida: «O árbitro entregou a Taça ao Sporting.» O treinador, Rodrigues Dias, sempre honesto e humilde, disse apenas: «O corolário de um trabalho de seis meses.» Apresentamos os intérpretes dessa dramática finalíssima: Sporting — Botelho; Artur, Laranjeira, Meneses e Inácio; Ademar, Vítor Gomes, Ailton e Keita; Manoel e Manuel Fernandes. F. C. Porto — Fonseca: Gabriel, Teixeira I, Simões e Taí; Brandão, Teixeira II, Duda e Octávio; Seninho e Gomes. O árbitro, Mário Luís, partiu nessa noite para a China, integrando a comitiva do Sporting. Como prémio, bradaram os portistas!
 
H

hast

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... Na jornada de repetição da final da Taça, ou melhor, na finalíssima, o troféu caiu nas garras verdes, desta vez não houve batalha no campo nem brigas na bancada, ninguém soube porquê, uma vez que a arbitragem de Mário Luís, de Santarém, validando o primeiro golo «leonino», forjado num lance irregular.

... O árbitro, Mário Luís, partiu nessa noite para a China, integrando a comitiva do Sporting. Como prémio, bradaram os portistas!

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Que gente tão séria e honrada, e sem descaramento nenhum. ;-)
 
H

hast

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Sporting levou árbitro à China!

Pedroto não logrou a «dobradinha» porque o F. C. Porto foi traído por um árbitro que no dia seguinte partiu para a China, a convite de João Rocha...

A 19 de Junho, uma semana após a festa do título, o F. C. Porto defrontou, no Estádio Nacional o Sporting na final da Taça de Portugal. Gomes apontou o primeiro golo, Menezes empatou de grande penalidade, muito protestada pelos portistas, os ânimos azedaram e o resto foram agressões, expulsões, picardias, acusações, um rosário de tristezas e mútuas acusações ao árbitro Francisco Lobo.
Oito dias depois, a finalíssima da Taça. O troféu caiu nas garras dos «leões», mas por caminhos espúrios, já que o primeiro golo do Sporting foi forjado em lance irregular, que Mário Luís sancionou como bom. Seninho, prestes a partir para a aventura americana, autor do golo do F. C. Porto, pôs o dedo na ferida: «O árbitro entregou a Taça ao Sporting.» Mário Luís defendeu-se assim: «Os protestos dos portistas foram disparatados.» E sobre uma azeda troca de palavras com Fernando Gomes: «Gomes estava muito nervoso. O Campeonato deve ter tido uma acção demolidora em alguns jogadores do F. C. Porto. Gomes, após o único golo do F. C. Porto, gritou para os colegas: estamos a ganhar por 1-0, pretendendo insinuar que os golos do Sporting haviam sido irregulares. Poderia tê-lo expulso, mas...»
No dia seguinte, para espanto de todos, Mário Luís foi, a convite de João Rocha, na comitiva do Sporting que se deslocou à China! E como à mulher de César não bastava ser honesta, as suspeitas dos portistas mais se adensaram...
Nessa partida, o F. C. Porto alinhou com Fonseca; Gabriel, Teixeira, Simões e Taí; Carlos Brandão, Teixeirinha, Duda e Octávio; Seninho e Fernando Gomes.
in«abola»