Defour usou o preço de Witsel para forçar saída para o Dragão
Companheiros de clube e de seleção, Defour e Witsel viram as suas carreiras afastar-se no último verão, mas até na divergência de rotas houve um ponto comum no trajeto dos dois médios. Aliás, a transferência de Defour para o Dragão esteve encravada até o nome de Witsel vir à baila. Confuso? É o próprio portista quem agora o revela na sua biografia, "O meu caminho".
Recuemos até aos primeiros dias de agosto: Defour é informado pelo empresário, Paul Stefani, de uma proposta de 4,5 milhões de euros a que acresceriam 1,5 milhões de bónus. Tendo confrontado o diretor do Standard, Pierre François, ficou surpreendido ao ouvi-lo dizer que a proposta era baixa: "Como baixa? Eu respondi-lhe logo: 'Então o Axel Witsel, que estava a partir tudo, pôde sair para o Benfica por seis milhões e para mim, que estive lesionado, seis milhões não chegam."
Os clubes atingiriam o acordo controlando a tal parcela variável, mas Defour não esquece a ansiedade vivida e um jogo que teve de fazer em Gent dias antes de viajar para Portugal: "Ao intervalo, disseram-me que ia entrar. Só pensava que não me podia lesionar nos meus últimos 45 minutos pelo Standard, mas no final do jogo recebi uma mensagem de um diretor do FC Porto: 'Parabéns. Vejo-te na segunda-feira."
No capítulo sobre os dragões, o mais pequeno do livro (naturalmente), Defour lembra que teve uma proposta muito mais vantajosa para assinar pelo Lokomotiv de Moscovo, orientado por José Couceiro. "Ainda assim, o FC Porto foi uma escolha peculiar. Ia receber muito mais no Lokomotiv, mas segui os meus instintos", começa por escrever no capítulo 12, intitulado "FC Porto, um clube que me cai como uma luva".
O médio recorda as dificuldades iniciais no grupo, mas também lembra as palavras do diretor-geral Antero Henrique. "Pôs-me logo à vontade: Steven, nós quisemos mesmo ter-te aqui, por isso leva o teu tempo porque vais certamente ter as tuas oportunidades", cita o belga, para quem o estilo dos dragões vai de encontro às suas preferências. "Tenho o tipo de jogo do FC Porto escrito em mim: muita movimentação, bola sempre na relva, muito futebol de tic-tac", descreve Defour, que não queima etapas: "Tenho cinco anos de contrato e logo veremos. O facto é que os jogadores que saem daqui vão para clubes europeus de topo."
"O meu caminho"
Lançada apenas em neerlandês, a biografia deve ter uma edição em francês até final da temporada. Foi escrita em colaboração com o jornalista Luc Martens e aborda o percurso futebolístico e alguns pormenores da vida privada do jogador.
Dois telemóveis e dez casas à escolha
Defour revela ter-se apercebido da dimensão do FC Porto mal pisou solo nacional. "No aeroporto estava uma grande delegação do clube", conta quem recebeu dois telemóveis. "Um para uso privado e outro para me comunicar com o clube. O FC Porto envia o planeamento semanal por SMS e até recebemos o recibo de vencimento através do telemóvel", revela quem também não teve dificuldade em instalar-se na nova cidade. "Eles também têm dez casas mobiladas que podemos escolher", insiste.
Defour já tinha contado que teve de usar aparelho depois de ter consultado o dentista do FC Porto. Na biografia, descreve toda a bateria de exames. "Sabiam tudo sobre a fratura que tinha tido no pé e o tratamento a que tinha sido submetido", conta, regressando ao trabalho no relvado: "Percebi logo que a velocidade de execução era muito maior. Sempre a um ou dois toques, tudo em movimento..."
Defour direto ao assunto...
Fim de ciclo
"Após cinco anos no Standard, era tempo de sair. Ganhei tudo, vivi todas as sensações, mas mudou uma geração no clube, já não havia ninguém daquele jogo com o Liverpool a 28 de agosto de 2008. Foi o fim de uma geração."
Escolhas
"O FC Porto foi mais uma decisão inesperada, na linha das anteriores. Quando fui para o Genk, podia ter ido para o Anderlecht; quando saí para o Standard, tinha o Ajax; agora escolhi o FC Porto, mas podia ganhar mais dinheiro no Lokomotiv."
D'Onofrio
"É claro que Luciano D'Onofrio teve influência na minha transferência para o FC Porto. Como conselheiro, porque é um grande amigo de Pinto da Costa, o presidente, e disse-lhe que eu tenho qualidades para estar na sua equipa."
Concorrência
"O FC Porto foi um começar de novo para mim. Um começar complicado, porque olhas para o plantel e é só internacionais, há uma grande competitividade. Ainda por cima, ninguém saiu da época passada, em que ganharam tudo."