@bluemonday ,
e mais se degrada com este espectáculo desolador. Imagine-se um sopro desfavorável da conjuntura internacional, longe de improvável. A pretensa competência de Montenegro varrer-se-á em menos de três tempos. Montenegro vai contribuindo, da maneira que encontrou, para o esboroamento da política nacional: arrastou o país para mais uma eleição por puro cálculo político. Não lhe posso dedicar uma ovação, por engenhosa que seja a manobra. Revela-se um bom político no sentido mais subterrâneo do termo, um sujeito habilidoso, o que também é útil. Quanto ao resto...
A comunicação social não mudou. Não se entrevê nada de distinto quanto à cobertura do caso Spinumviva, nem pior forma nem maior intensidade. Esperar-se-ia o quê ao certo? Que não se procurasse apurar o que Montenegro teimava em esconder? Matérias envolvendo um primeiro-ministro em funções, com claros problemas de transparência, são furos jornalísticos como poucos. Em qualquer circunstância. O próprio expôs-se ao exame mediático ao não optar desde logo pela transparência. Caso se decidisse por uma postura própria de um governante, e partilhasse o que acabou por ter de partilhar, como era óbvio que teria de fazer, poupar-se-ia em parte à imagem que se gerou. Não se pode ser simultânea e obstinadamente opaco e barafustar contra os esforços por clarificação. Ou revela-se ou esconde-se, e Montenegro recalcitrou e escondeu. Divulga sob pressão dos média, cujo trabalho se revela fundamental.
Não é verdade que a população, os média, os actores políticos... jamais tenham passado cavaco ao carácter e à ética dos políticos. As discussões sobre ética são recorrentes, cíclicas, contínuas, ... Ou julgar-se-á que há algo de único com Montenegro? Trata-se apenas de mais um político envolvido em coisas estranhas, esmiuçado pelos média, comentado pelos eleitores, criticado pelos adversários.... Porventura a sua posição seja uma originalidade: um governo cai em função dos problemas do primeiro-ministro e o mesmo transforma-se de imediato em candidato ao lugar. Incomum. Claro que o problema, que o próprio tratou com os pés, se transformaria num tema mediático de relevo. Crê mesmo no que está a escrever? Que os média nunca se interessaram por problemas de ética? Que os eleitores nunca disso quiseram saber?...
Lamento não poder condenar de forma veemente a tal divulgação quanto aos clientes de Montenegro. Talvez possa dispensar uma condenaçãozinha... mas não mais que isso. Montenegro não cumpriu as suas obrigações de transparência. Que são devidas a todos os titulares de cargos públicos ( Governo falha em publicar registo de interesses conforme obrigação legal ). Montenegro não prestou as informações devidas até aos dias de ontem. Caso tivesse feito, como lhe era há muito exigido, condição aliás necessária ao desempenho de um cargo público, não se colocaria qualquer problema. Não brinquemos com coisas sérias: o primeiro-ministro sabia perfeitamente que, dado o seu histórico, teria de ser especialmente rigoroso na declaração de interesses. Sabia que contactou com empresas sensíveis e que essa informação era deveras relevante. Optou por esconder e protelar para que a informação não fosse conhecida antes do dia das eleições. A divulgação da informação pelos jornalistas encontra-se legalmente protegida. Se Montenegro acha-se violentado, que recorra a quem de direito, não o censurarei por isso.
Talvez seja mera percepção do colega, talvez não seja. Há muito que teço considerações éticas neste espaço sobre os mais variados actores políticos. São muitos anos a virar frangos, como diz o outro. Como é notório, tão-pouco sou imparcial ou procuro sequer aparentar essa imagem. Quanto a Montenegro e ao PSD, o colega tem claramente uma posição apologética, não obstante os reparos que faz, enquanto eu tenho uma posição de censura. Faz parte e dá até um certo colorido à coisa.
O conflito de interesses mantém-se, pois várias empresas que no passado trataram com a Spinumviva podem ainda necessitar de decisões do governo. O caso da Solverde é o mais gritante. Quão fácil seria se bastasse passar a empresa aos filhos, como se com isso Montenegro apagasse as relações passadas com os clientes e as eventuais decisões futuras respeitantes aos mesmos. Os problemas mantêm-se e manter-se-ão enquanto Montenegro ocupar o cargo. A ponto de o próprio afirmar que não participará em decisões relacionadas com a Solverde, admitindo assim a sensibilidade da coisa. A solução de entregar a empresa aos filhos está longe de ser airosa, pois essa posse poderá constituir o motivo pelo qual determinado cliente recorre à Spinumviva e não a outro prestador de serviços.
... Montenegro não podia ter vida profissional? Poderá haver quem, pela sua vida profissional, esteja em posição delicada para o exercício de funções governativas? Seguramente. Faça-se uma outra pergunta: considerando a actividade empresarial de Montenegro, será que o próprio tomou todos os cuidados necessários para afastar de si interrogações legítimas e previsíveis? Actuou de forma a colocar-se à margem de suspeições, conflitos de interesse, embaraços... ? Se a sua actividade empresarial em nada empecilha a condução do país, por que motivo persistiu na falta de transparência? Como pode Montenegro esperar maior bondade quando recusou repetidas vezes ajudar-se a si próprio? O seu comportamento suscita incerteza.
Costa fez bem em demitir-se, a meu ver. Pouca margem de manobra lhe restava. Tal como Montenegro teria feito bem em afastar-se. No mínimo, em esforçar-se por maior honestidade. Nem uma coisa nem outra. Se por um lado não pretendia retirar-se, por outro, não desejava revelar os clientes nem queria participar numa comissão de inquérito... Com que cara pedia então confiança política aos demais partidos?
Como referi, não coloco a coisa no plano da legalidade. Teço um juízo ético em muito desfavorável acerca do primeiro-ministro e aponto questões sensíveis que ficarão por resolver, justamente por quedarem-se irremediavelmente em zonas cinzentas. A questão da ITAU e da INETUM ficará no limbo por mais que se argumente. A relação anterior com Montenegro teve alguma influência nos novos contratos com o Estado?... limitamo-nos a esperar que não. A futura decisão quanto à concessão dos casinos será de alguma forma condicionada pela relação de Montenegro e da Spinumviva com a Solverde? Repete-se a resposta, esperemos que não. Montenegro, consciente da situação em que se encontrava, agiu de forma a afastar de si quaisquer suspeitas?... Não, infelizmente não. Nenhuma vitória eleitoral exorcizará estes fantasmas. Parece-me natural que se torça o nariz.
e mais se degrada com este espectáculo desolador. Imagine-se um sopro desfavorável da conjuntura internacional, longe de improvável. A pretensa competência de Montenegro varrer-se-á em menos de três tempos. Montenegro vai contribuindo, da maneira que encontrou, para o esboroamento da política nacional: arrastou o país para mais uma eleição por puro cálculo político. Não lhe posso dedicar uma ovação, por engenhosa que seja a manobra. Revela-se um bom político no sentido mais subterrâneo do termo, um sujeito habilidoso, o que também é útil. Quanto ao resto...
A comunicação social não mudou. Não se entrevê nada de distinto quanto à cobertura do caso Spinumviva, nem pior forma nem maior intensidade. Esperar-se-ia o quê ao certo? Que não se procurasse apurar o que Montenegro teimava em esconder? Matérias envolvendo um primeiro-ministro em funções, com claros problemas de transparência, são furos jornalísticos como poucos. Em qualquer circunstância. O próprio expôs-se ao exame mediático ao não optar desde logo pela transparência. Caso se decidisse por uma postura própria de um governante, e partilhasse o que acabou por ter de partilhar, como era óbvio que teria de fazer, poupar-se-ia em parte à imagem que se gerou. Não se pode ser simultânea e obstinadamente opaco e barafustar contra os esforços por clarificação. Ou revela-se ou esconde-se, e Montenegro recalcitrou e escondeu. Divulga sob pressão dos média, cujo trabalho se revela fundamental.
Não é verdade que a população, os média, os actores políticos... jamais tenham passado cavaco ao carácter e à ética dos políticos. As discussões sobre ética são recorrentes, cíclicas, contínuas, ... Ou julgar-se-á que há algo de único com Montenegro? Trata-se apenas de mais um político envolvido em coisas estranhas, esmiuçado pelos média, comentado pelos eleitores, criticado pelos adversários.... Porventura a sua posição seja uma originalidade: um governo cai em função dos problemas do primeiro-ministro e o mesmo transforma-se de imediato em candidato ao lugar. Incomum. Claro que o problema, que o próprio tratou com os pés, se transformaria num tema mediático de relevo. Crê mesmo no que está a escrever? Que os média nunca se interessaram por problemas de ética? Que os eleitores nunca disso quiseram saber?...
Lamento não poder condenar de forma veemente a tal divulgação quanto aos clientes de Montenegro. Talvez possa dispensar uma condenaçãozinha... mas não mais que isso. Montenegro não cumpriu as suas obrigações de transparência. Que são devidas a todos os titulares de cargos públicos ( Governo falha em publicar registo de interesses conforme obrigação legal ). Montenegro não prestou as informações devidas até aos dias de ontem. Caso tivesse feito, como lhe era há muito exigido, condição aliás necessária ao desempenho de um cargo público, não se colocaria qualquer problema. Não brinquemos com coisas sérias: o primeiro-ministro sabia perfeitamente que, dado o seu histórico, teria de ser especialmente rigoroso na declaração de interesses. Sabia que contactou com empresas sensíveis e que essa informação era deveras relevante. Optou por esconder e protelar para que a informação não fosse conhecida antes do dia das eleições. A divulgação da informação pelos jornalistas encontra-se legalmente protegida. Se Montenegro acha-se violentado, que recorra a quem de direito, não o censurarei por isso.
Talvez seja mera percepção do colega, talvez não seja. Há muito que teço considerações éticas neste espaço sobre os mais variados actores políticos. São muitos anos a virar frangos, como diz o outro. Como é notório, tão-pouco sou imparcial ou procuro sequer aparentar essa imagem. Quanto a Montenegro e ao PSD, o colega tem claramente uma posição apologética, não obstante os reparos que faz, enquanto eu tenho uma posição de censura. Faz parte e dá até um certo colorido à coisa.
O conflito de interesses mantém-se, pois várias empresas que no passado trataram com a Spinumviva podem ainda necessitar de decisões do governo. O caso da Solverde é o mais gritante. Quão fácil seria se bastasse passar a empresa aos filhos, como se com isso Montenegro apagasse as relações passadas com os clientes e as eventuais decisões futuras respeitantes aos mesmos. Os problemas mantêm-se e manter-se-ão enquanto Montenegro ocupar o cargo. A ponto de o próprio afirmar que não participará em decisões relacionadas com a Solverde, admitindo assim a sensibilidade da coisa. A solução de entregar a empresa aos filhos está longe de ser airosa, pois essa posse poderá constituir o motivo pelo qual determinado cliente recorre à Spinumviva e não a outro prestador de serviços.
... Montenegro não podia ter vida profissional? Poderá haver quem, pela sua vida profissional, esteja em posição delicada para o exercício de funções governativas? Seguramente. Faça-se uma outra pergunta: considerando a actividade empresarial de Montenegro, será que o próprio tomou todos os cuidados necessários para afastar de si interrogações legítimas e previsíveis? Actuou de forma a colocar-se à margem de suspeições, conflitos de interesse, embaraços... ? Se a sua actividade empresarial em nada empecilha a condução do país, por que motivo persistiu na falta de transparência? Como pode Montenegro esperar maior bondade quando recusou repetidas vezes ajudar-se a si próprio? O seu comportamento suscita incerteza.
Costa fez bem em demitir-se, a meu ver. Pouca margem de manobra lhe restava. Tal como Montenegro teria feito bem em afastar-se. No mínimo, em esforçar-se por maior honestidade. Nem uma coisa nem outra. Se por um lado não pretendia retirar-se, por outro, não desejava revelar os clientes nem queria participar numa comissão de inquérito... Com que cara pedia então confiança política aos demais partidos?
Como referi, não coloco a coisa no plano da legalidade. Teço um juízo ético em muito desfavorável acerca do primeiro-ministro e aponto questões sensíveis que ficarão por resolver, justamente por quedarem-se irremediavelmente em zonas cinzentas. A questão da ITAU e da INETUM ficará no limbo por mais que se argumente. A relação anterior com Montenegro teve alguma influência nos novos contratos com o Estado?... limitamo-nos a esperar que não. A futura decisão quanto à concessão dos casinos será de alguma forma condicionada pela relação de Montenegro e da Spinumviva com a Solverde? Repete-se a resposta, esperemos que não. Montenegro, consciente da situação em que se encontrava, agiu de forma a afastar de si quaisquer suspeitas?... Não, infelizmente não. Nenhuma vitória eleitoral exorcizará estes fantasmas. Parece-me natural que se torça o nariz.
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