Tu tanto dizes que queres que venham porque é preciso como agora dizes que não queres que venham.Eu não quero que venham.
A minha crítica não está direcionada a quem defende políticas migratórias com critério. Critico é o discurso de ódio promovido pelos mesmos de sempre, sem base económica nenhuma, mas sim em preconceitos relacionados com a cor ou religião e supostas ligações entre imigração, criminalidade ou o colapso da Segurança Social.
Portugal tem uma Lei de Bases das políticas públicas de Turismo e vários instrumentos ao seu dispor para definir cargas turísticas e número de camas a nível nacional e municipal. Vou voltar a referir: o que quero, da parte dos agentes políticos, é que digam como irão agir na vertente económica e não na vertente da imigração, porque essa é um sintoma. Restringir imigração sem mexer nas causas teria um impacto devastador em alguns setores que ficariam incapazes de operar. Essa parte não convém dizer porque retira votos, não é?
Pode ter os instrumentos todos mas isso é irrelevante se não os aplica, como é que se pode ao mesmo tempo andar a falar de uma "crise" na habitação e deixar abrir dezenas de hoteis e deixar que esses hoteis importem mão de obra para pagar o ordenado mínimo que não tem como viver dignamente?
Os setores não ficavam impedidos de operar, haveria uma seleção e só alguns é que sobreviviam e não daria para continuar a crescer, há setores que não interessam. Não estou a ver milhares de pessoas chateadas porque não vão abrir mais hoteis restaurantes e estufas de abacates ao ponto de retirar votos.
E já nem se trata dos trabalhos que os portugueses não querem, a ganancia é tanta que os sul americanos tambem já não querem, foi preciso arranjar outros.
Mas a pergunta essencial é em que é que esta economia beneficia o grosso da população, e se achas que o SNS, Educação Habitação e segurança daqui a 5 anos vão estar melhor. E se vamos ter menos pobres do que agora.
Então se tu referiste isso tudo, foi porque querias ser intelectualmente desonesto ao falar da Dinamarca?..Comparar Portugal à Dinamarca é intelectualmente desonesto. A economia dinarmaquesa é altamente diferenciada, com níveis elevados de produtividade, elevado investimento em inovação e um modelo de bem-estar consolidado. Os empregos indiferenciados conseguem ser atrativos até para nacionais, pois oferecem condições compatíveis com uma vida digna, coisa que não consegues fazer com os 775€. A integração dos migrantes é ativa e planeada, não têm de recorrer à imigração para suprir carências sistémicas. Portugal só teria a aprender com países assim, algo que digo há décadas. Faz lá as tuas pesquisas e vê quantas vezes eu já referi os países nórdicos por aqui.
O ponto é esse é que a Dinamarca planeia as coisas em beneficio da população e aqui não, e o modelo deles não é igual ao da Suécia por exemplo.
Portugal tinha muito mais miséria nos anos 90 do que tinha nos anos 00 e na década 10 nem sequer se compara, Portugal melhorou, tirou muita gente da pobreza, o nível de educação subiu muito. Agora deu-se uma guinada e parece que o que é preciso é trazer novamente a miséria. Não é tudo a mesma coisa, houve uma opção tomada há 5-6 que levou Portugal para outra era.E também já falámos várias vezes sobre a pobreza estrutural em Portugal. E já referi várias vezes que o problema começou com a entrada no Euro, onde Portugal investiu zero em inovação. Temos uma produtividade baixíssima, apesar de sermos um dos países com maior carga horária de trabalho, uma dívida pública demasiado alta e disparidades regionais gritantes. Queres uma economia de valor? Também eu. Vamos com 40 anos de atraso na criação dela, por falta de visão de um suposto economista, mas sempre que abro esse debate aqui, respondem-me com “mas ai o Sócrates”. Os políticos não apresentam soluções, porque o povo também não as quer, quer é ruído e conversas de tasca. E acabam por ter o que merecem.
A questão não é só ter economia de valor é não beneficiar e patrocinar a criação de economia sem valor, e não desvalorizar o trabalho inundado com oferta ao mesmo tempo que se inflaciona tudo e se destrói o estado social.
Destruiu-se Portugal para as novas gerações, porque há 10-15 anos grande parte conseguia fazer vida mesmo ganhando pouco agora não.