É muito fácil ser partidário da resolução de conflitos de interesses através da violência indiscriminada quando sabemos que não corremos o risco de levar com uma bomba em cima. É aliás por isso que a guerra é tão popular entre o povo americano. Sabem que estão a uma distância segura dos países que bombardeiam, e que o pior que lhes pode acontecer é terem de pagar mais pela gasolina no posto de combustível.
Mas gostava de saber se a tua retórica belicista seria igual se um Herr Ventura decidisse bombardear Badajoz para tentar recuperar Olivença. Aí se calhar punhas-te a olhar para o mapa, percebias que a tua casa estava na rota dos mísseis castelhanos, e do dia para a noite passavas de falcão a pombinha.
Quanto ao resto, o teu discurso não faz sentido nenhum. Os EUA não tem absolutamente nada contra regimes "obscurantistas". Dão-se lindamente com a Arábia Saudita, por exemplo, que em matéria de costumes é muito mais retrógada do que o Irão.
E estás enganado quando falas em "luta de civilizações". Isso não existe, o que existe são interesses económicos, políticos e geoestratégicos do tipo: o führer Netaniau precisa de desviar as atenções do genocídio em Gaza e de salvar politicamente a pele; e os EUA gostariam muito de voltar a ter um governo pró-americano em Teerão para tornar a controlar o petróleo do país e enfraquecer a aliança russo-chinesa.
Só que não vai acontecer, em primeiro lugar porque a China e a Rússia vêm o Irão como um aliado estratégico, em segundo lugar porque Israel sozinho não tem força para derrubar o regime iraniano, e convidar os EUA para se juntarem à sua festa também está fora de questão, porque aí a Rússia e a China teriam de intervir, correndo-se o risco de um estado de guerra generalizada, que em teoria não interessa a ninguém. A não ser, claro, que americanos e israelitas, como bons fanáticos do Antigo Testamento que são, anseiem por um apocalipsezinho que traga de volta o Messias (que neste caso seriam dois messias, um para cada um), mas eu quero acreditar que os falcões apocalípticos em Israel e nos EUA são uma minoria.