"O FC do Porto na Luz, para além de ter revelado muitas dificuldades a sair a jogar fruto da pressão exercida pelo Benfica, não foi organizado, nem competente, voltando a cometer inúmeros erros posicionais pouco admissíveis a este nível (veja-se, a título de exemplo, o segundo e terceiro golos do Benfica, em que a bola entrou sempre no enorme espaço entre o lateral e o central do lado esquerdo), teve pouco critério e qualidade com bola e revelou-se sempre demasiado amorfa e macia nos duelos, raramente conquistando as segundas bolas dado o distanciamento dos jogadores face à bola.
O resultado acabou, infelizmente, por reflectir o naufrágio do FC do Porto em campo e provocou um autêntico terramoto nas nossas hostes.
É que, pior do que perder um jogo contra o nosso maior rival, sobretudo por aqueles números, foi a forma como se perdeu – sendo manifestamente incompetentes e não transpondo para dentro de campo as marcas distintivas que caracterizam o ADN do FC do Porto – e isso os adeptos não perdoam, nem esquecem.
Se é verdade que os adeptos do FC do Porto são muito exigentes, por vezes até demasiado exigentes, não é menos verdade que também sabem lamber as feridas de uma derrota e relegar a mesma quando reconhecem que a equipa foi audaz, competente, abnegada e solidária, tendo deixado o que tinha e o que não tinha dentro do campo.
Quando isso não sucede, como foi o caso do último jogo, e o resultado acaba por ser vexatório fruto da ausência desses princípios e valores de uma equipa à Porto, o Tribunal do Dragão é implacável com os seus, não sendo fácil restaurar a relação de confiança.
2. Na segunda feira afirmei na CMTV que Vítor Bruno estava, por tudo isto, ferido de morte dado o divórcio latente entre os adeptos e a equipa técnica.
Esta afirmação forte mas verdadeira, levou a que vários adeptos portistas se sentissem indignados por um apoiante confesso da actual Direção ter sido tão cáustico perante o treinador escolhido pela mesma para liderar o novo projecto desportivo do FC do Porto.
Ora, perante isto, cumpre-me aclarar que o facto de me rever totalmente no trabalho desenvolvido pela Direcção do FC do Porto não significa que tenha de ser acrítico ou que essa qualidade me deva ser imposta só porque tenho palco mediático para expressar o meu pensamento livre.
A Direcção do FC do Porto tem toda a legitimidade em defender e apoiar o treinador do FC do Porto, o que é, até, compreendido por todos, assim como eu tenho o direito em expressar o meu juízo acerca do seu trabalho e o meu desagrado relativamente ao mesmo.
Durante muitos anos fui objecto desse tipo de comentários e reações vindos de pessoas afectas à anterior Direção que não sabiam conviver com a crítica, pelo que também neste campo devemos mudar definitivamente a página.
Foi, precisamente, essa falta de massa crítica que esteve na base do estado a que o FC do Porto chegou.
O apoio e o espírito crítico não são nem devem ser tidos como incompatíveis, pois unidade não é unanimismo nem cinismo.
E, contrariamente ao que alguns apregoam, não é a unidade que nos leva ao sucesso, é a competência do trabalho dentro e fora de campo.
Dependesse o sucesso da equipa da tal unidade e de estarmos todos mudos e quedos perante este quadro inaceitável e íamos todos em redor do Estádio do Dragão acender umas velas, dar as mãos e cantar o kumbaya. "
(Tiago Silva, Opinião, in sabado.pt))