Eu torço sempre o nariz quando se fala em "criar emprego no interior para que as pessoas se fixem". A agricultura não é um objetivo para as novas gerações e o interior de Portugal não é propriamente cobiçado.
Se não há, e eu sei perfeitamente que nunca haverá, um plano geracional de repovoar o interior, nem vontade para isso, então se não querem repovoar aquelas terras, o país terá que pagar, e pagar bem, a quem cuidar delas.
As pessoas precisam de ter incentivos para cuidar e vigiar os terrenos e não apenas multas quem não os limpar e não é apenas a financiar a "meia dúzia" de pastores que pastam as ovelhas e cabras, que se vai lá.
Quem tem raízes no interior e teve a felicidade de ouvir historias dos avós/tios/pais, percebem que isto é básico e não é nenhum enigma quântico: há décadas atras, até aos anos 60 e o começar em massa da emigração do interior e o abandono progressivo das pessoas da agricultura, o interior estava todo povoado e as pessoas utilizavam praticamente tudo que a terra dava, não havia "combustível" espalhado por toda a parte, à espera de ser usado.
Tudo era usado, praticamente tudo tinha um fim, fosse no inverno fosse no verão, havia muita mais gente a viver, a "vigilância" das matas era feita de uma maneira natural, diária do quotidiano, o equivalente a hoje em dia alguém na cidade ir a um shopping, à padaria ou à papelaria.
Não basta criar uma leia para as pessoas serem obrigadas a limpar os terrenos, quando a maior parte deles nem se sabe quem são os donos, muitos já nem vivos estão; a % de parque publico do Estado em PT é ridícula quando comparada com outros países, salvo erro nem aos 5 % chega e a gestão e planeamento do território é um desastre há décadas.
Se não há, como nunca haverá, coragem nem vontade, politica nem popular arrisco dizer, de ter outro tipo de país, que não exista apenas na linha que vai de Braga a Setúbal, ao final do dia a solução é sempre a mesma: €.
Pagar e pagar bem a quem trate/cuide/vigie essas terras, matos, florestas, etc e quando digo bem é mesmo bem, não são migalhas ou esmolas que é o habitual.