Pereira da Costa, CFO do FC Porto, a O JOGO: "Entraremos num novo capítulo, passando a operar de forma distinta"
Como foram as negociações com a Ithaka? Foi simples restabelecer um novo acordo?
-Foi um processo longo. Ao contrário do que a administração anterior referia, não bastava devolver o dinheiro, até porque esse dinheiro nunca entrou. Não era bem devolver o dinheiro e rescindir contrato, porque havia cláusulas de saída bastante onerosas para o clube e a negociação a que chegámos foi possível porque também encontrámos, da parte da Ithaka, bastante flexibilidade. Tendo em conta que iriam celebrar uma parceria de 25 anos com o FC Porto, quiseram assegurar que também ficaríamos confortáveis durante esse período. Demonstraram flexibilidade no sentido de acumular aquilo que, para nós, eram as condições fundamentais. Mas é certo que a negociação que concluímos teve esse ponto prévio de haver já um acordo assinado. Diria que, se tivéssemos feito tudo desde o momento zero, outras questões poderiam ter sido, eventualmente, melhor acauteladas.
Fica a ideia de que o contrato anterior foi negociado por baixo...
-A prova disso mesmo é que conseguimos melhores condições, não só de valor global, mas também potencial. Estamos convictos de que vamos conseguir ter um incremento bastante relevante face aos 65 milhões de euros anteriormente negociados, como também nas próprias condições de pagamento. Atendendo à situação financeira do clube, também é bastante relevante termos um incremento de 40 para 50 M€ no pagamento imediato. É mais 25%, que nos dá claramente a possibilidade de entrarmos numa nova vida em termos de pressões de tesouraria, que são grandes. Penso que entraremos num novo capítulo, passando a operar como uma empresa normal, de forma distinta no mercado, com outra capacidade e com outra solidez financeira e também com os nossos parceiros a olharem para o FC Porto de outra forma.
Quais foram as condições colocadas pelo FC Porto para a renegociação?
-Em primeiro lugar, uma revisão global do valor. Sempre dissemos que achávamos que os 65 M€ não refletiam o potencial de negócio das operações comerciais do Estado do Dragão. E faço aqui um parêntesis: o perímetro do negócio é exatamente o mesmo que estava no acordo anterior. Não incluímos mais coisas para conseguir mais valor. Mantivemos os pressupostos. Bilhética, "corporate hospitality", "naming rights", o museu, as visitas guiadas... Exatamente o mesmo conjunto de linhas de receita. Para o mesmo conjunto de negócios, achávamos que o potencial era superior e pedimos uma revisão substancial do valor, que conseguimos, de 65 M€ para 100 M€. Uma revisão que está sujeita ao atingimento de determinados objetivos, mas que não se concretizam numa base de zero ou um. Não é binário, não vamos ganhar 65 M€ ou 100 M€. Chegar aos 100 M€ será a perspetiva ótima, mas se ficarmos um pouco aquém dos objetivos, vamos ficar entre os dois valores e, claramente, com bastante mais valor do que tínhamos no acordo anterior.