Apesar de ser bastante critico para com o treinador, não concordo nada com o seu despedimento. A verdade é que temos uma equipa mais fraca que os principais rivais e jogadores muito novos, sem grande experiência, o que faz com que estejam nervosos em jogos grandes.
O treinador tem cometido erros? Sim, claramente. É um treinador sem qualidade? Ainda não sei mas o que tenho visto mostra que tem alguma qualidade, apenas tem de melhorar algumas questões. Também não podemos esquecer que alguns jogadores apenas vieram no final do período de transferências e que a equipa ainda não teve tempo para consolidar processos.
Vamos com calma, mas sem deixar de ser críticos quando é necessário. O objetivo é a melhoria da equipa, tornando-a competitiva e a lutar pelo título, mesmo sabendo que não nos podemos comparar com os principais rivais.
O futebol não se resume apenas à comparação entre jogadores de forma isolada, posição por posição. Há muitos outros aspetos que influenciam o desempenho da equipa, e é precisamente aí que o FC Porto tem falhado em momentos-chave.
Houve reforços importantes, mas também saídas que retiraram algumas peças-chave. No entanto, apesar de não haver uma diferença qualitativa gritante, é inegável que há lacunas que persistem há vários anos e que, por muito que se trabalhe no mercado, não se resolvem apenas com novas aquisições. Estas deficiências estruturais, como a falta de uma identidade de jogo consistente ou a dificuldade em definir um estilo claro de construção ofensiva, continuam a ser um problema.
O ponto crucial, e o que realmente justifica a nossa frustração, é que o FC Porto tem sido uma equipa que, apesar de ter contrato bons jogadores e uma estrutura competente, não tem conseguido alcançar o seu pleno potencial. O que vimos contra o Regime não foi uma simples derrota por falta de qualidade individual – foi uma falha tática e de preparação, que se reflete na ausência de processos bem definidos, tanto defensivamente como ofensivamente. A equipa tem as armas, mas não sabe como usá-las de forma eficaz e coordenada. A qualidade de muitos dos jogadores é inegável, mas os processos, as dinâmicas de grupo e a forma como a equipa é treinada para reagir em campo têm sido desorganizadas.
O verdadeiro problema é a falta de um trabalho sistemático e eficaz na construção de uma ideia de jogo sólida. Por muito que o plantel tenha qualidade, ele não se transforma num vencedor só porque tem bons jogadores. O Regime do Lage, por exemplo, tem processos relativamente simples e diretos (fáceis de serem anulados basta ver como fez o Feyenoord ), mas pelo menos esses processos estão bem definidos, têm sido trabalhados constantemente, e foram implementados rapidamente. Eles sabem o que fazer quando a equipa está sem bola e como explorar as fragilidades do adversário quando a têm. Por outro lado, o FC Porto parece carecer de uma ideia clara de como quer jogar, não só na defesa, mas também na transição ofensiva e na construção a partir da linha defensiva.
A maior diferença entre o FC Porto e os rivais está, sem dúvida, naquilo que está (ou não está) no banco. O treinador é o elo que falta, e a falta de uma visão clara e de um processo de evolução contínuo tem sido evidente. Enquanto os outros rivais têm algo fundamentalmente importante: um plano de jogo bem trabalhado, com automatismos que fazem com que a equipa funcione como uma máquina coordenada. Isso permite-lhes aproveitar as oportunidades e minimizar os erros, mesmo quando as individualidades não aparecem.
É preciso, por isso, que se invista naquilo que realmente faz a diferença: na construção de uma identidade de jogo sólida, em processos táticos bem definidos e em potenciar as qualidades individuais dentro de um esquema coletivo coeso. O plantel do FC Porto pode ser competitivo, mas se continuar a ser mal gerido em termos táticos e estratégicos, continuará a cair nas mesmas armadilhas que vimos no último domingo.