Caro Sérgio,
Podia escrever-te depois do último jogo contra o Chaves. Podia escrever-te depois do jogo em que ganhamos ao Sporting para a Taça de Portugal. Podia escrever-te depois do jogo fora contra o Mónaco. Felizmente, haveria muitos jogos em que eu te podia escrever. Mas não o fiz. Vou fazê-lo hoje. Sim, hoje. Depois de perdermos 5-0 em casa, contra o Liverpool. A maior derrota europeia de sempre no nosso estádio. E vou escrever-te apenas para te dizer obrigado. Sem ironia. E acredita, eu desejei muito que não viesses (desculpa, eu não sabia o que dizia). Mas hoje, eu agradeço muito por seres o treinador da equipa principal de futebol do FC Porto. Sinceramente, nunca pensei que hoje estaria na frente do campeonato português, nunca pensei estar ainda a disputar a Taça de Portugal e até contava ser a equipa portuguesa com pior prestação na Liga dos Campeões. Desculpa, Sérgio. É a verdade. Mas hoje, eu quero-te dizer obrigado. Obrigado por teres vindo para o meu clube. Por teres assumido um desafio completamente minado por decisões incompetentes. Por teres prescindido de uma cadeira confortável que até então tinhas, por um banco a arder. Por apesar de todas as dificuldades que te fizeram passar (interna e externamente ao clube), tu estares a mostrar ser um de nós (ou alguns de nós). Não concordo com todas as tuas decisões. E até percebo que te critiquem também (há uns tempos, as expetativas estavam tão baixas que até diziam que não te podiam criticar). Quero dizer-te que podes continuar a contar com o meu apoio. Tu e esses jogadores, dos quais me sinto orgulhoso. A diferença entre os grandes e os outros é apenas a forma como se levantam depois de caírem. Eu não sei como se vão levantar. Mas uma coisa eu sei e por isso quero, por último, agradecer-te: vocês fizeram-me de novo acreditar que o FC Porto não morreu, vocês fizeram-me de novo crer que o que sustenta o clube é o que nos vai levar (novamente) aos títulos.
Um grande abraço.