Boa tarde a todos,
Antes de mais quero apresentar-me, em nome próprio, e não pelo meu username. O meu nome é Ricardo Guimarães, tenho 36 anos e sou associado do FC Porto desde 1987.
Como podem verificar pelo meu historial, não sou um utilizador ativo deste fórum, mas reconheço este espaço como uma das maiores, senão a maior, plataforma agregadora de sócios, adeptos e simpatizantes do FC Porto.
Viajo bastante, por motivos profissionais, e utilizo algum desse tempo a ler, neste espaço, a opinião de outros portistas, que como eu, nutrem uma paixão por um clube, que representa mais do que uma associação desportiva. Com o tempo, aprendi também a reconhecer diversos utilizadores como portistas com conhecimentos profundos do clube, quer ao nível do futebol, quer ao nível das outras modalidades.
Escrevo este post, depois da derrota frente ao FC Krasnodar, não pelo peso da derrota em si, mas por esta ser mais uma evidência de um processo de degradação, e direi mesmo podridão, que vem infetando o nosso clube, há já diversos anos.
Podemos discuir o treinador, as opções tácticas, a qualidade deste ou daquele jogador, mas os problemas são nesta altura bem mais profundos do que qualquer questão individual ou conjectural. Respeito a opinião de outros, que podem identificar diferentes responsáveis pela atual situação do clube, mas creio que a generalidade concorda que algo está bastante mal.
Cresci a olhar para Jorge Nuno Pinto da Costa como alguém quase transcendente, muitas vezes como um herói maior de uma história que conta com Madjer, João Pinto, André, Jardel ou Deco, só para citar alguns. Dito isto, como tudo na vida, creio que chegou a altura de terminar um ciclo. Nunca poderei agradecer, a este presidente, de forma suficiente todas as alegrias que me proporcionou, mas está na altura de proteger esse legado, antes que um dos meu heróis se torne o vilão.
Não conheci durante a minha vida outro presidente, e por isso, o FC Porto e os seus valores sempre se personificaram neste homem, que liderou o clube, muitas vezes, contra tudo e contra todos. Esse é o espirito que sempre nos identificou, a coragem, muitas vezes a rebeldia, o espírito de conquista, o confronto contra o poder central e contra poderes instalados. As lutas e desafios, muitas vezes contra todas as probabilidades, mas com a certeza de que mesmo em inferioridade o espírito de conquista, o cerrar de dentes, a superação, o suor e um incontrolável desejo de vitória fazia de nós um conjunto mais forte do que a soma das partes. Podíamos não ser os melhores, mas éramos os que mais queríamos!
Como eu, creio que existe toda uma geração, que aprendeu a superar-se e a ultrapassar desafios, empoderados por um espírito que se tornou parte de um ADN, do ser Portista. Numa forma de estar, de pensar e de sentir um clube, uma cidade e toda uma região.
Leio e ouço constantemente, que não vale a pena iniciar um projecto alternativo enquanto Pinto da Costa se mantiver no poder. Adicionalmente, existe um medo de avançar contra uma máquina de proteção deste sistema, na qual se destaca a principal claque de apoio ao clube, que com o tempo se tornou, ela própria, uma organização comprada por privilégios, enriquecimento e relações pouco claras com esta administração.
Mas sabem que mais? Não foi contra isto que fomos ensinados a lutar? Não foi este mesmo presidente que nos mostrou como levantar a voz em favor daquilo em que acreditamos?
Estamos há espera de algum putativo candidato, que só estará disponivel quando as condições forem as certas? Quando for cômodo? É este o tipo de projecto e de liderança que precisamos e que os últimos 30 anos demonstraram que um clube como o nosso precisa?
Com tudo isto em mente, aqui estou eu pronto para dar o primeiro passo, e disponibilizar-me para ser a cara de uma alternativa. Acima de tudo para criar um movimento de mudança, que devolva o clube aos seus valores e identidade, e que deixe de ser uma fonte de aproveitamento para alguns.
Como escrevi anteriormente, reconheço neste fórum, diversos utilizadores com um know-how muito superior ao meu em diversas áreas do clube. Se houver interesse, seria óptimo criar um grupo de trabalho que pudesse consolidar uma estratágia de futuro para o nosso clube.
Não tenho de ser eu a encabeçar o projecto, estou certo que existem outros, no universo portista, com enormes capacidades para o fazer, mas chegou a hora de avançar e deixar simplesmente de nos queixarmos. Se outros, mais qualificados aparecerem, deixo aqui a minha disponibilidade para colaborar, da forma que considerem mais útil. Seja intelectualmente, através de ideias, ou até financeiramente.
Nunca tive nenhum tipo de ligação profissional ao futebol. Tenho uma carreira profissional consolidada e lidero, neste momento, uma empresa multinacional com com sede nos Estados Unidos. Passo por isso tempo significativo fora de Portugal. Digo isto para dizer que não preciso do FC Porto para viver, aliás, como fica evidente pela experiência de outros, a exposição associada a um projecto alternativo ao atual, virá certamente com mais aspectos negativos do que positivos. Mas não fazer nada não me parece alternativa. Não foi isso que fui ensinado a fazer.
Tenho para mim que o próximo presidente terá uma missão quase impossível. Primeiro terá sobre si, o legado de Pinto da Costa, o presidente mais vitorioso de sempre. Em segundo lugar, parece-me cada vez mais evidente que a proxima direção irá receber o clube num estado incrivelmente difícil, tanto a nível financeiro, mas mais importante a nível de valores.
Mas sabem que mais? Se não for agora, quando será?
Eu dou o primeiro passo, dou a cara e estou pronto para a luta. Podemos perder? Talvez. Mas como o atual presidente nos ensinou, isso não é razão para deixar de lutar.
Espero acima de tudo que isto possa ser o inicio de um projecto de mudança, seja comigo ou com qualquer outro portista de se reveja na mesma necessidade de recuperar o FC Porto para os valores que nos fizeram uma história de sucesso pelo Mundo inteiro!
Talvez o que proponho seja utópico. Talvez o que escrevi seja uma carta da amor, a essa saudade, de ver o FC Porto a ser o reflexo de uma forma de estar, mas é certamente algo pelo qual estou disponível para lutar!
Vamos a isso?
Um abraço,
Ricardo Guimarães