Não tenho por hábito seguir este tópico, mas por curiosidade e para ver onde a discussão sobre o caso Marega já anda não resisti, e não me posso dizer surpreendido com o que por aqui leio.
Em primeiro lugar, quero realçar aquilo que já disse no tópico do Marega, que a questão com os adeptos do Guimarães é apenas um sintoma de um problema maior, e que toda a gente tem telhados de vidro neste aspecto.
No entanto não posso deixar de criticar a ideia cada vez mais presente em certos defensores do anti-racismo ou de qualquer outro tipo de anti-descriminação, a que todas as discussões que envolvem o tema e que não seguem determinada narrativa devem ser automaticamente censuradas, as coisas não são assim tão lineares.
Eu aliás ao mesmo tempo que sou forte critico de certos comportamentos discriminatórios também sou defensor da liberdade de expressão, o que para muitos é uma enorme contradição, embora para mim obviamente não seja, o direito mais essencial é o de pensar o que se quer, direito inalienável, e o segundo maior é o de se exprimir, que só devia poder ser restrito em situação de directo incitamento à violência.
Isto obviamente coloca-me numa sempre inconfortável posição de defender que (por exemplo) o comportamento dos adeptos do Guimarães ontem é moralmente reprovável, mas não devia ser criminalizado, embora possa e deva ser objecto de interdição do estádio, pois o acesso ao mesmo não é indiferente ao comportamento que lá se tem e está longe de ser um direito que tem que ser garantido por qualquer clube.
No que se refere ao Ventura, obviamente que sou critico da personagem, é repugnante por várias razões sendo este tipo de colagem a discursos identitários apenas uma delas, no entanto ele tem que ser combatido dentro daquilo que são as regras da democracia liberal, onde por muito que não se goste do que ele diz, ele tem direito a expressar a sua opinião restando a quem se opõe ao mesmo desconstruir e dar réplica eficaz ao seu discurso acéfalo.
E certamente ajudaria que houvessem menos temas fracturantes na nossa sociedade tais como a corrupção generalizada, para que ele não pudesse cavalgar essa onda, fingindo ser solução do problema.