Todos os negócios no mundo inteiro (uns mais do que outros) crescem com endividamento.
Há uns anos incorríamos em endividamento bancário (muito!). Agora endividamo-nos com fundos (embora tecnicamente seja uma espécie de investimento conjunto com procura de partilha de risco).
A diferença é que antes quem nos emprestava dinheiro não vendia o produto alvo do investimento. Agora há um misto dos dois. E também quem antes emprestava recebia sempre o dinheiro mais juros independentemente do negócio ser bom ou mau.
Mas a questão é que os bancos por estarem fortemente descapitalizados fugiram de indústrias de elevado risco, ou seja, emprestam na mesma mas cobram um prêmio muito maior para esse risco.
E os fundos, face à falta de oportunidades de investimento lucrativas noutros setores, começaram a investir no futebol.
Investir num jogador de futebol, é dos investimentos mais arriscados do mundo (por acaso seria interessante saber, caso houvesse, qual a notação de rating dado pelas agências a empréstimos para o futebol), e é natural que quem invista exigia um prémio consistente com esse risco.
Por outro lado, não é possível estabelecer comparações com a realidade de há 30 anos atrás. É todo um mundo novo.
Há 20 ou 30 anos, o Porto interessava-se por jogadores que se calhar mais ninguém conhecia e a falta de concorrência facilitava o negócio.
Hoje existem bases de dados disponiveis para todos os agentes e clubes com todos os jogadores do mundo, atualizadas estatisticamente ao minuto.
A concorrência para a compra de determinado jogador, ainda por cima se for bom, é incomparavelmente maior.
É claro, para se ganhar um negócio, tem de se untar as mãos a empresários, amigos dos empresários, jogadores, pais, mães , ao cão etc.
É um mundo mais feio, mais sujo e muito menos transparente, mas é nele que vivemos e é com ele que temos de viver.
Eu digo isto há muito tempo e essa decisão um dia vai ter de ser tomada. Eu não acredito num futuro para o Porto e para o futebol em geral onde os clubes sejam maioritariamente dos sócios. Os clubes, mais corretamente as SAD vão ter de se abrir a investimento e vender a maioria do capital.
Já acontece com alguns dos melhores clubes do mundo.
Isto porque eu concordo que o modelo atual dos fundos vai-se esgotar um dia. É aí que o capital para investir vai faltar r os adeptos reclamam com contas e negócios mas na hora em que a bola rola no campo, não estão dispostos à perda de competitividade em nome de contas saudáveis.
E num país periférico como o nosso ou muda o quadro competitivo da Europa ou vamos ter de vender mais de metade do capital a investidores para mantermos a competitividade. Nós e os outros grandes.
O futuro dirá se tenho ou não razão