Ainda hoje de manhã, o Jorge Costa sorria.
Assinou camisolas, tirou fotografias com adeptos, trocou palavras rápidas mas cheias de significado para quem o admirava. Deu uma entrevista a um canal desportivo, falou do presente e do futuro, com aquela segurança de quem sempre viveu o futebol como missão. E, no entanto, poucas horas depois… o futuro deixou de existir para ele. Uma dor, um mal-estar, uma paragem cardíaca. O corpo que tantas batalhas aguentou, dentro e fora de campo, rendeu-se. E, de repente, o Jorge Costa deixou de estar aqui.
O choque não vem apenas da perda de um homem do futebol, de um capitão, de um símbolo. O choque vem do vazio que fica quando percebemos que a vida é mesmo isto: um instante. Hoje, aqui. Amanhã, talvez não. Uma manhã inteira a viver como sempre viveu, a trocar gestos e palavras, sem saber que estava a viver as últimas horas. É cruel pensar que, por vezes, nem o último “até amanhã” chega a ser possível.
O legado dele é feito de títulos, vitórias, liderança e respeito. Mas acima de tudo, deixa uma história. Uma vida que inspirou dentro e fora de campo. E a morte, mais uma vez, vem repetir a verdade que teimamos em esquecer: as pessoas não são eternas. Não basta gostar delas, é preciso dizê-lo. Não basta admirá-las, é preciso estar presente. O tempo é um luxo que julgamos ter, mas não controlamos.
Quantas vezes deixamos para depois aquela visita? Quantas mensagens ficam por responder? Quantas vezes trocamos o abraço pelo “quando tiver tempo”? A vida não espera. E quando ela decide levar alguém, não pede autorização nem avisa.
Fica a pergunta que não quer calar: estamos a viver de forma correta? Ou estamos a gastar a vida em coisas que, daqui a uns anos — ou amanhã mesmo —, não terão qualquer importância? A morte de Jorge Costa, tão repentina, é um murro no estômago. Um aviso. Uma nota de que as memórias que ficam são feitas de presença, não de promessas.
Hoje, o “Bicho” deixou de estar no relvado da vida. Mas o exemplo dele — de garra, entrega e paixão — continuará. Desde que não nos esqueçamos de viver. Hoje. Agora. Enquanto ainda dá tempo.