TRIBUNA FC PORTO
Eleições José Fernando Rio garante que com ele na presidência os administradores do FC Porto só receberão prémios se o clube for campeão e tiver boas contas. E não haverá negócios em família
As contas da SAD são assustadoras
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TEXTO ISABEL PAULO FOTO RUI DUARTE SILVA
Depois de 29 anos de corrida a solo, o eterno presidente do FC Porto vai ter concorrência nas urnas. José Fernando Rio, 51, anos, jurista e comentador do Porto Canal até há uma semana, é, para já, o desafiador assumido. Rescindiu com a estação do clube dois dias antes de anunciar a candidatura. Não informou Pinto da Costa por este se encontrar nos Açores. Está delirante por a equipa portista estar à frente da Liga, mais ainda se for campeã nacional, mas, a acontecer, será um feito circunstancial, não fruto de uma estratégia num clube sem rumo à vista. Nasceu no Rio de Janeiro, veio para o Porto aos seis meses e tornou-se dragão ferrenho graças ao tio Frederico Martins Mendes, antigo diretor do JN. É sócio há 24 anos.
O que o faz candidatar-se à presidência do FCP contra Pinto da Costa?
Não me candidato contra Pinto da Costa, mas pelo futuro do clube, que não tem um plano desportivo nem de negócios a médio e longo prazo. O que existe é uma gestão diária. Neste último mandato, o FCP venceu um título de campeão nacional e uma Supertaça em 25 troféus possíveis. Há uma clara perda de competitividade desportiva, aliada às contas nada saudáveis.
Candidata-se para marcar posição ou acha que pode ganhar?
Quando se vai à luta é para vencer. Conheço bem o FCP e tenho a apoiar-me sócios de longa data e que partilham comigo a mesma preocupação com o atual rumo do clube. Ganhei visibilidade no Porto Canal, e as pessoas na rua incentivam-me a cada passo a avançar. Nos quase 40 anos à frente do FCP, Pinto da Costa deu-nos anos gloriosos, e a nossa gratidão é enorme. Mas não podemos deixar morrer o clube em nome dessa dívida de gratidão.
O meu Centeno na SAD vai ser um alto quadro de uma grande empresa portuguesa
Não teme que essa memória iniba os sócios de votar no desafiador do eterno líder?
Esse lado emocional será importante na decisão dos sócios. Agora, ninguém pode negar que se assiste a um processo de degradação contínua desta administração e de desgaste da imagem de Pinto da Costa. A impaciência dos adeptos é visível. Olhar só para o passado e o presente não nos leva mais longe. As contas já eram más, agora são assustadoras.
52 milhões de prejuízo, 444 milhões de passivo, quase 90 milhões de capitais próprios negativos, a SAD em falência técnica. Pinto da Costa diz que as contas fazem-se no fim da época...
É verdade. Só que, para acertar contas no relatório anual, vamos ter de desmantelar de novo o plantel. Na época passada, a equipa perdeu quatro titulares: Felipe, Militão, Herrera e Brahimi...
Os dois últimos a custo zero.
Pior: no caso de Brahimi, a SAD teve de indemnizar a Doyen em vários milhões. Um descalabro. O FCP não pode estar dependente das receitas da Liga dos Campeões e da venda sistemática das joias da coroa. Para equilibrar as contas, terá de fazer mais-valias de 100 milhões em transferências.
Qual é a solução? Um investidor externo?
Isso será matar o clube. É a última solução, embora seja para aí que se caminhe, se não mudar o modelo de gestão em curso. Seria dramático. Temos de acabar com o despesismo absoluto de salários, comissões, intermediações... O plano da minha equipa passa por aí. Estancar o despesismo e transparência nos negócios são as minhas primeiras medidas.
Chegam para tirar a SAD do vermelho?
Desde o ano 2000, o FCP fez 1100 milhões em venda de jogadores, que custaram cerca de 500 milhões. Se juntarmos os 444 milhões de passivo aos mais de 500 milhões de mais-valias, temos parte de 1000 milhões investidos no Estádio do Dragão, com a ajuda do Estado, e no pavilhão. O resto foi esbanjado.
Faz sentido dar prémios aos administradores quando não há lucros?
Comigo, só haverá prémios nos anos em que o FCP for campeão e apresentar boas contas. Ponto final.
Alexandre Pinto da Costa já intermediou jogadores do clube. Isso não configura uma situação de conflito de interesses?
Há uma incompatibilidade natural. Jamais um familiar meu fará contratos com o FCP. É uma situação pouco transparente e que incomoda os sócios.
Rui Santos, na SIC, defendeu que Pinto da Costa devia escolher o seu sucessor...
Não faz muito sentido. Não vivemos em monarquia ou em regime de poder absoluto. O sucessor de Pinto da Costa será quem os sócios quiserem e tiver portismo suficiente para ir a votos.
Se vencer, quem vai ser o seu Centeno na Administração da SAD?
O meu Centeno na SAD vai ser um alto quadro de uma grande empresa portuguesa. Na lista para o clube, o candidato a presidente da Mesa da Assembleia-Geral é André Noronha [líder da bancada do movimento independente afeto a Rui Moreira Porto, o Nosso Partido), para o Conselho Fiscal proponho o economista e contabilista certificado José da Costa Veloso, e o cabeça de lista ao Conselho Superior é Álvaro Teles Menezes, sócio nº 90.
E o treinador?
Sérgio Conceição é o meu treinador. O pouco sucesso desportivo que tivemos nos últimos anos deve-se à sua personalidade, combatividade e competência profissional.
Se fosse dono do Porto Canal e presidente do FCP, teria aprovado a divulgação dos e-mails do Benfica, sabendo que eram ilegais?
O seu conteúdo era tão grave e indiciador de tantas ilicitudes que minavam a verdade desportiva que, obviamente, tinham de ser divulgados, em nome do interesse público. Era preciso desmascarar tudo o que se estava a passar nos bastidores do futebol português.
Pinto da Costa é um dos 47 arguidos da Operação Fora de Jogo, por alegada fraude fiscal. Ficou surpreendido por estarem em causa contratos de jogadores como Danilo, Casillas, Falcao ou Mangala?
Quando vejo a Justiça mexer-se, aplaudo sempre. É uma boa notícia para o país. Eu sou pela transparência. A corrupção é um mal que mina a nossa sociedade. A investigação está em curso, e todos os presidentes dos clubes suspeitos de evasão fiscal são arguidos.
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