É uma nova lógica, repara:
Ganhar títulos? Isso só cria tensão. Criar uma equipa competitiva? Isso desestabiliza as boas relações institucionais. O importante não é vencer – é contribuir para um ambiente saudável no futebol português.
Ficar anos sem ganhar? Faz parte do processo.
Perder jogos de forma ridícula? Há coisas mais importantes.
O FC Porto que alguns defendem é um exemplo de boa conduta: não fazer barulho, não incomodar ninguém, participar sem criar problemas e, quando perder, perder sempre com dignidade e educação. Afinal, um clube que se revolta, que exige títulos, que quer estar no topo, só perturba o equilíbrio do FC Porto e até do futebol português. E nós não queremos isso, pois não? É mau para a recuperação.
O futebol português pacífico é que importante. E o "produto" agradece, vão ser filas de chineses nos estádios e nas televisões.
- Nada de um FC Porto agressivo e dominador.
- Nada de um FC Porto que luta contra tudo e contra todos.
- Nada de um FC Porto que se impõe e que não aceita ser passado para trás.
Interessa é ser um clube de bons costumes, de sorrisos institucionais e palmadinhas nas costas. O futebol português agradece a nossa colaboração.
Perdemos? “O importante é apoiar.”
Ficamos a x pontos do primeiro? “Temos de ter paciência.”
Os rivais ganham enquanto ficamos a ver? “As coisas não são como antes. O futebol mudou.”
E financeiramente? Ah, aí então descobrimos uma nova lógica revolucionária:
A única maneira de recuperar financeiramente é não ganhar nada.
Porque, aparentemente, quanto menos se ganha, mais sustentável fica o clube.
- Títulos? São um fardo.
- Vitórias? São um luxo desnecessário.
- Competições europeias? Para quê essa pressão?
O que interessa é manter o clube à tona, sem sobressaltos, sem correr riscos desnecessários, sem chatear ninguém. Ganhar só complica as contas. Perder? Isso sim, traz estabilidade.
E assim, com esta mentalidade de cordeiros resignados, o FC Porto acabava por se tornar irrelevante. Mas pelo menos, havia a tão desejada pacificação do futebol nacional.
Ora com o futebol português pacificado, os rivais já podem ganhar à vontade, o Dragão já não era problema para ninguém. E para os conformados, estava tudo bem assim. Aliás, até viam a Premier League mais tranquilos.