Actualidade Nacional

Tails

Tribuna Presidencial
6 Janeiro 2013
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Tracking poll da Pitagórica pode vir a ter problemas com a justiça..apolícia já está a investigar.

Bloco com 1,5 %, Livre e PC a nem chegarem aos 4 % (salvo erro), PS nem os 28 % atinge.

PSD com 34 %, Chega com 16 %, IL 6 %.

Acho que é isto, mais coisa menos coisa.

Conclusão: ou estamos perante o maior desvio de votos da extrema esquerda para o PSD, ou então há muito votante feito refém em casa.

P.S: a Pitagórica é das boas certas ? É das que é para se levar a sério, certo ?
 
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Tribuna Presidencial
7 Abril 2012
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  • Alfredo Quintana
@bluemonday ,

bom, mas se o colega concorda que o papel e a actuação de Montenegro são censuráveis e que seria preferível um outro candidato... para quê a defesa? Concordo, apenas não procuro atenuantes.

Para mim, opinião pessoal, Montenegro não mostrou qualquer estatura ética e moral em todo este processo. A sua recandidatura ao cargo é, portanto, atirar pela janela quaisquer preocupações dessa natureza. Não creio ser uma afirmação particularmente polémica. Afinal, reconhece-se a Montenegro problemas dessa ordem ou não? Podemos afirmar, estupidamente, creio, que a ética republicana é a lei. Se acreditamos nisso, temos de estar preparados para as previsíveis consequências. Entre elas, a degradação de todo o sistema. Preocupante. Uma vez mais, opinião pessoal, a figura de Montenegro não é digna do desempenho de funções tão elevadas. Mal estaríamos se não houvesse candidatos mais aptos, inclusive dentro do próprio PSD. Não falamos propriamente de um político ímpar, extraordinário ou insubstituível.

Sublinho, com essa demora e renitência, o padrão de comportamento de Montenegro: ocultar, tergiversar, protelar. Divulgar em último recurso e à última da hora, mas não de livre vontade nem por iniciativa própria. Falamos de informação que devia, há muito, ser pública e que o primeiro-ministro, perante a falta, foi "convidado a apresentar".

Parece-me absurdo, algo kafkiano até, pretender transformar um problema de retenção de informação que devia ser pública, mas que se mantinha secreta por responsabilidade do primeiro-ministro, numa questão de divulgação indevida. Afinal, convém recordar, foi a Entidade para a Transparência que solicitou esclarecimentos a Montenegro acerca da sua declaração. E Montenegro, após todas as recusas e demoras, entregou finalmente uma nova declaração, na qual incluiu a informação relativa aos clientes da empresa. Sem a divulgação nos média, pelo prazo normal dos procedimentos, Montenegro, tendo atrasado os esclarecimentos que se lhe impunham, veria a sua declaração publicamente escrutinada em data posterior às eleições. É isto o que se defende? O primeiro-ministro não revela (... e não tomou posse ontem, refira-se), revela apenas sob solicitação e no último dia do prazo de modo a não possibilitar o acesso à declaração em tempo pré-eleições. Os jornalistas fizeram muitíssimo bem em publicar a informação, pois é politica e eleitoralmente relevante. Não me compadeço pelas dores de Montenegro, que se preparava para mais uma das suas manhas. Agora vem chorar o quê? A divulgação de informação que tinha obrigatoriamente de declarar... no início da legislatura, não agora... e que não o fez? Esta indignação do partido não passa de mais um truque muito poucochinho.

Não sabemos se haverá ou não problema. Esse é, em si mesmo, o problema. Não sabemos se os motivos serão estritamente processuais, decorrentes do procedimento do concurso de concessão, ou se outros interesses pesarão também na decisão final. Convém, por isso, não ter um primeiro-ministro na posição de Montenegro, de potencial conflito de interesses. O mesmo serve em relação às empresas que fornecem serviços ao Estado. Sim, já mantinham contratos públicos antes de Montenegro. A notícia traz-nos, porém, informação relevante: dois dos maiores contratos foram fechados com Montenegro no governo. Contrato mais avultado da ITAU com o estado português: firmado sob chefia de Montenegro. Contrato mais avultado da INETUM com o estado: idem aspas. E agora? Tal foi consequência exclusiva do concurso público? Espero que sim, mas fica a dúvida. Não seria preferível que nenhuma dessas empresas partilhassem negócios prévios com o primeiro-ministro? Diria que sim. E não sabia Montenegro que tudo isto era relevante e devia ser partilhado?...

O que de resto escrevo serve para ilustrar a neblina em torno da pessoa e compor o ramalhete. Reafirmo que não aponto ilegalidades a Montenegro. ... mas a conduta ética não é irrelevante e pode ser um indício de algo pior. Como foi no caso de Sócrates. ... cada eleitor sabe de si e saberá daquilo que valoriza ou não. Não tenho qualquer ilusão quanto a isso. Seja como for, o PSD não precisava de Montenegro para vencer estas eleições.
 
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Cheue

12 Maio 2016
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A diferença é que os casos e casinhos de antigamente assentavam em ilegalidades. Hoje em dia, já é relevante a parte ética.

O facto altamente criticável e perigoso de o Montenegro andar a 200km/h na A1, quando isso é algo transversal na política e perfeitamente conhecido pelos jornalistas do Expresso, que só agora mencionam a propósito da campanha. O PNS anda. O Costa andava. A única referência no passado a uma situação destas foi com o Cabrita, uma vez que houve a morte de uma pessoa por causa disso.

A questão das várias contas abaixo do limite máximo que o Montenegro tem, algo que foi altamente publicitado, quando o Costa fez o mesmo durante anos e tal não foi divulgado pela comunicação social.

A percepção criada pela imprensa de que o Costa foi uma vítima do MP (realmente, o parágrafo foi vergonhoso, mas o Costa nunca foi nem é sério) e que era um homem sério, enquanto tenta passar hoje a imagem de um Montenegro corrupto (este meteu-se a jeito).

O facto de terem deixado um gajo que tentou interferir na justiça num processo de pedofilia chegar a PM, isto sem ele saber se o seu companheiro de partido era realmente culpado.

A passividade da comunicação social no tempo do Sócrates (exceto a TVI, o SOL e o CM).
ó, então é só ver o grande caso que se fez do WhatsApp do PNS (até hoje) e é um caso em que não há ilegalidades nem suspeitas possíveis disso...

isso do Cabrita que referes também foi caso, só faltava pedirem que fosse preso por homicídio...
aproveitamento até algo nojento.

são 'casos' que até tiram importância aos casos a serio.
são as novelas que a CS gosta e precisa.

em relação ao Costa é normal, até hoje não se sabe do que é que foi acusado,
mesmo que provavelmente se demitisse à mesma pela questão do Escaria e do € - isso sim, caso a sério.
 
31 Julho 2024
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Tracking poll da Pitagórica pode vir a ter problemas com a justiça..apolícia já está a investigar.

Bloco com 1,5 %, Livre e PC a nem chegarem aos 4 % (salvo erro), PS nem os 28 % atinge.

PSD com 34 %, Chega com 16 %, IL 6 %.

Acho que é isto, mais coisa menos coisa.

Conclusão: ou estamos perante o maior desvio de votos da extrema esquerda para o PSD, ou então há muito votante feito refém em casa.

P.S: a Pitagórica é das boas certas ? É das que é para se levar a sério, certo ?
A esquerda toda junta teve 40% nas ultimas eleições. Isso tudo junto dá cerca de 37/38% para a esquerda. Nada de anormal, perto dos valores das ultimas eleições. Tirando o livre, a esquerda esta em decadência.
 

bluemonday

Tribuna
4 Maio 2024
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  • Reinaldo Teles
  • José Maria Pedroto
@bluemonday ,
bom, mas se o colega concorda que o papel e a actuação de Montenegro são censuráveis e que seria preferível um outro candidato... para quê a defesa? Concordo, apenas não procuro atenuantes.
Sinceramente, uma vez que não raras vezes aponto o mesmo que o PSD aponta, compreendo que possa parecer uma defesa ao Montenegro, quando de facto não o é. Trata-se de uma crítica aos padrões duplos adotados, nomeadamente pela comunicação social. Padrões duplos que já apontava ainda antes de Montenegro ser relevante politicamente.

Luís Montenegro foi provavelmente o pior líder da oposição de que tenho memória. Fraco, fraquinho. Em 2023, face a um eventual confronto entre PNS e LM, apostava na vitória daquele. Só a partir de janeiro de 2024 comecei a ver um lado diferente do atual PM, levando-me a crer que seria possível uma vitória à rasca - aliando-se a esse fator o facto de PNS ser péssimo.

Surpreendeu-me como PM, porquanto as minhas expectativas eram muito baixas. Reconheço-lhe um mínimo de competência, mas creio que existam outras pessoas no PSD igualmente ou até mais competentes com mais ética.

No entanto, sou realista e entre os dois candidatos a PM - PNS e LM -, não havendo qualquer ética, prefiro aquele que cumpra o nível mínimo de competência. Além disso, não me revejo mesmo nada na ala dominante do PS; são piores do que os atuais membros do governo. O elenco governativo hodierno é francamente positivo, excetuando certos casos (ministra da saúde, ministra da administração interna...).

Num cenário ideal, LM seria escorraçado da política. No entanto, houve casos piores - todos os PM deste século, menos Santana Lopes surpreendentemente, possuem piores problemas éticos que Montenegro - que não sofreram as devidas consequências. A política é assim desde os tempos da monarquia - não mudará abruptamente.

Tenho três escolhas nestas eleições: AD, IL e voto em branco. Todas elas provavelmente conduzirão ao mesmo resultado.

Tudo isto para dizer que não defendo Montenegro.

Podemos afirmar, estupidamente, creio, que a ética republicana é a lei. Se acreditamos nisso, temos de estar preparados para as previsíveis consequências. Entre elas, a degradação de todo o sistema
O sistema já está degradado. Sempre foi esse o padrão. Culpa da comunicação social e dos intervenientes políticos - a drástica mudança de critério não corresponde a um "acordar para vida", e sim a uma necessidade - ideológica ou financeira (grupo Impresa) - de promover um certo candidato de um determinado partido.

Uma vez mais, opinião pessoal, a figura de Montenegro não é digna do desempenho de funções tão elevadas.
Concordo, num cenário ideal seria assim. Contudo, não vivemos numa utopia. Nunca a população, os intervenientes políticos e a comunicação social quiseram saber da ética de um candidato. É uma absoluta novidade.

Sublinho, com essa demora e renitência, o padrão de comportamento de Montenegro: ocultar, tergiversar, protelar. Divulgar em último recurso e à última da hora, mas não de livre vontade nem por iniciativa própria. Falamos de informação que devia, há muito, ser pública e que o primeiro-ministro, perante a falta, foi "convidado a apresentar"
As últimas novidades (clientes da Spinumviva) não foram reveladas por Montenegro por uma questão estritamente eleitoral. A ideia assentava no desejo de que essas novas revelações não afetassem a campanha. Não é propriamente um temor relativamente a estas informações (neste caso, não assim noutros).

Parece-me absurdo, algo kafkiano até, pretender transformar um problema de retenção de informação que devia ser pública, mas que se mantinha secreta por responsabilidade do primeiro-ministro, numa questão de divulgação indevida.
Absurdo é defender uma possível ilegalidade de um deputado e braço-direito do atual secretário-geral do PS, que divulgou essa informação sob sigilo para os media de forma a prejudicar o opositor direto e a beneficiar o líder do seu partido no debate. Não só é uma possível ilegalidade de Pedro Delgado Alves, mas inequivocamente um grave problema ético.

Existe um sigilo de 30 dias, até porque o PM podia alterar a declaração se assim entendesse nesse prazo. O caríssimo parece não relevar esse grande problema ético, o que me leva a questionar se a sua preocupação se prende com esse âmbito ou com uma questão mais política.

O facto de o conteúdo da declaração poder ser gravoso - o que não parece ser, leia o artigo que enviou para aqui - não influi na idêntica severidade do ato de Pedro Delgado Alves.

Agora vem chorar o quê? A divulgação de informação que tinha obrigatoriamente de declarar... no início da legislatura, não agora... e que não o fez? Esta indignação do partido não passa de mais um truque muito poucochinho.
A elevada preocupação do caríssimo com a ética dos intervenientes políticos parece mudar conforme as cores políticas. É uma mera percepção.

Não sabemos se haverá ou não problema. Esse é, em si mesmo, o problema. Não sabemos se os motivos serão estritamente processuais, decorrentes do procedimento do concurso de concessão, ou se outros interesses pesarão também na decisão final
Uma vez que a empresa já não é de LM, não poderá existir um conflito de interesses - que é uma questão legal, realço. No domínio da ética será decerto diferente.

Contrato mais avultado da ITAU com o estado português: firmado sob chefia de Montenegro. Contrato mais avultado da INETUM com o estado: idem aspas.
ITAU: em 2021, 22 milhões de euros. Com o ajuste da inflação, seriam 25 milhões hoje em dia. Em 2024, o contrato por concurso público (sim, concurso público, não ajuste direto) foi de 32 milhões. A discrepância não parece assim tanta. 1.181 contratos desde 2008.

INETUM: em 2022, 21 milhões. Ajuste para a inflação, 22.5 milhões. Em 2025, 27 milhões. A discrepância não parece gravosa. 1.439 contratos celebrados desde 2011

Quer pegar o prezado em coisas que não têm qualquer sentido. Fale dos casos de Espinho, são muitíssimo mais relevantes.

Convém, por isso, não ter um primeiro-ministro na posição de Montenegro, de potencial conflito de interesses
Mesmo que existisse um conflito de interesses declarado de Montenegro, tal não implicaria, conforme o regime legal vigente, a demissão do PM. A questão de responsabilidade política é distinta. Por mera curiosidade: o caríssimo era a favor da demissão de António Costa, no momento em que aconteceu?


Não seria preferível que nenhuma dessas empresas partilhassem negócios prévios com o primeiro-ministro?
Ora, ora. Uma coisa será receber alegadas avenças da Solverde quando se é PM. Outra coisa bem distinta é ter negócios com certas empresas antes de ser PM, ter uma profissão.

O que o meu caro está a dizer é que um PM não pode ter vida profissional antes de assumir o cargo. Quer políticos profissionais a liderar o executivo. Note-se que o argumento da vida profissional se aplica tão só na parte em que o meu estimado amigo invoca imbróglios em negócios prévios; em casos de avenças não há razão para chamar à colação esse argumento.

mas a conduta ética não é irrelevante e pode ser um indício de algo pior. Como foi no caso de Sócrates.
Já pairavam suspeitas criminais sobre Sócrates antes de ser PM (Freeport e não só). Não há comparação possível. O caso de Montenegro é, até ver, estritamente ético.
 

bluemonday

Tribuna
4 Maio 2024
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  • José Maria Pedroto
ó, então é só ver o grande caso que se fez do WhatsApp do PNS (até hoje) e é um caso em que não há ilegalidades nem suspeitas possíveis disso...

isso do Cabrita que referes também foi caso, só faltava pedirem que fosse preso por homicídio...
aproveitamento até algo nojento.

são 'casos' que até tiram importância aos casos a serio.
são as novelas que a CS gosta e precisa.

em relação ao Costa é normal, até hoje não se sabe do que é que foi acusado,
mesmo que provavelmente se demitisse à mesma pela questão do Escaria e do € - isso sim, caso a sério.
Mas a questão do Whatsapp do PNS não se prende com uma tremenda incompetência e com uma grande leviandade na gestão dos assuntos de Estado? Nunca vi qualquer ilegalidade associada.

Como é que a questão de Cabrita não é relevante? Tivemos uma morte e supostamente teria ordenado o motorista a conduzir a essa velocidade na AE.
 

bluemonday

Tribuna
4 Maio 2024
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  • José Maria Pedroto
Tracking poll da Pitagórica pode vir a ter problemas com a justiça..apolícia já está a investigar.

Bloco com 1,5 %, Livre e PC a nem chegarem aos 4 % (salvo erro), PS nem os 28 % atinge.

PSD com 34 %, Chega com 16 %, IL 6 %.

Acho que é isto, mais coisa menos coisa.

Conclusão: ou estamos perante o maior desvio de votos da extrema esquerda para o PSD, ou então há muito votante feito refém em casa.

P.S: a Pitagórica é das boas certas ? É das que é para se levar a sério, certo ?
A Pitagórica, sendo geralmente fiável, deve ser encarada com um pé atrás, dado que o seu líder é do PSD.
 
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Tribuna Presidencial
7 Abril 2012
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  • Alfredo Quintana
@bluemonday ,

e mais se degrada com este espectáculo desolador. Imagine-se um sopro desfavorável da conjuntura internacional, longe de improvável. A pretensa competência de Montenegro varrer-se-á em menos de três tempos. Montenegro vai contribuindo, da maneira que encontrou, para o esboroamento da política nacional: arrastou o país para mais uma eleição por puro cálculo político. Não lhe posso dedicar uma ovação, por engenhosa que seja a manobra. Revela-se um bom político no sentido mais subterrâneo do termo, um sujeito habilidoso, o que também é útil. Quanto ao resto...

A comunicação social não mudou. Não se entrevê nada de distinto quanto à cobertura do caso Spinumviva, nem pior forma nem maior intensidade. Esperar-se-ia o quê ao certo? Que não se procurasse apurar o que Montenegro teimava em esconder? Matérias envolvendo um primeiro-ministro em funções, com claros problemas de transparência, são furos jornalísticos como poucos. Em qualquer circunstância. O próprio expôs-se ao exame mediático ao não optar desde logo pela transparência. Caso se decidisse por uma postura própria de um governante, e partilhasse o que acabou por ter de partilhar, como era óbvio que teria de fazer, poupar-se-ia em parte à imagem que se gerou. Não se pode ser simultânea e obstinadamente opaco e barafustar contra os esforços por clarificação. Ou revela-se ou esconde-se, e Montenegro recalcitrou e escondeu. Divulga sob pressão dos média, cujo trabalho se revela fundamental.

Não é verdade que a população, os média, os actores políticos... jamais tenham passado cavaco ao carácter e à ética dos políticos. As discussões sobre ética são recorrentes, cíclicas, contínuas, ... Ou julgar-se-á que há algo de único com Montenegro? Trata-se apenas de mais um político envolvido em coisas estranhas, esmiuçado pelos média, comentado pelos eleitores, criticado pelos adversários.... Porventura a sua posição seja uma originalidade: um governo cai em função dos problemas do primeiro-ministro e o mesmo transforma-se de imediato em candidato ao lugar. Incomum. Claro que o problema, que o próprio tratou com os pés, se transformaria num tema mediático de relevo. Crê mesmo no que está a escrever? Que os média nunca se interessaram por problemas de ética? Que os eleitores nunca disso quiseram saber?...

Lamento não poder condenar de forma veemente a tal divulgação quanto aos clientes de Montenegro. Talvez possa dispensar uma condenaçãozinha... mas não mais que isso. Montenegro não cumpriu as suas obrigações de transparência. Que são devidas a todos os titulares de cargos públicos ( Governo falha em publicar registo de interesses conforme obrigação legal ). Montenegro não prestou as informações devidas até aos dias de ontem. Caso tivesse feito, como lhe era há muito exigido, condição aliás necessária ao desempenho de um cargo público, não se colocaria qualquer problema. Não brinquemos com coisas sérias: o primeiro-ministro sabia perfeitamente que, dado o seu histórico, teria de ser especialmente rigoroso na declaração de interesses. Sabia que contactou com empresas sensíveis e que essa informação era deveras relevante. Optou por esconder e protelar para que a informação não fosse conhecida antes do dia das eleições. A divulgação da informação pelos jornalistas encontra-se legalmente protegida. Se Montenegro acha-se violentado, que recorra a quem de direito, não o censurarei por isso.

Talvez seja mera percepção do colega, talvez não seja. Há muito que teço considerações éticas neste espaço sobre os mais variados actores políticos. São muitos anos a virar frangos, como diz o outro. Como é notório, tão-pouco sou imparcial ou procuro sequer aparentar essa imagem. Quanto a Montenegro e ao PSD, o colega tem claramente uma posição apologética, não obstante os reparos que faz, enquanto eu tenho uma posição de censura. Faz parte e dá até um certo colorido à coisa.

O conflito de interesses mantém-se, pois várias empresas que no passado trataram com a Spinumviva podem ainda necessitar de decisões do governo. O caso da Solverde é o mais gritante. Quão fácil seria se bastasse passar a empresa aos filhos, como se com isso Montenegro apagasse as relações passadas com os clientes e as eventuais decisões futuras respeitantes aos mesmos. Os problemas mantêm-se e manter-se-ão enquanto Montenegro ocupar o cargo. A ponto de o próprio afirmar que não participará em decisões relacionadas com a Solverde, admitindo assim a sensibilidade da coisa. A solução de entregar a empresa aos filhos está longe de ser airosa, pois essa posse poderá constituir o motivo pelo qual determinado cliente recorre à Spinumviva e não a outro prestador de serviços.

... Montenegro não podia ter vida profissional? Poderá haver quem, pela sua vida profissional, esteja em posição delicada para o exercício de funções governativas? Seguramente. Faça-se uma outra pergunta: considerando a actividade empresarial de Montenegro, será que o próprio tomou todos os cuidados necessários para afastar de si interrogações legítimas e previsíveis? Actuou de forma a colocar-se à margem de suspeições, conflitos de interesse, embaraços... ? Se a sua actividade empresarial em nada empecilha a condução do país, por que motivo persistiu na falta de transparência? Como pode Montenegro esperar maior bondade quando recusou repetidas vezes ajudar-se a si próprio? O seu comportamento suscita incerteza.

Costa fez bem em demitir-se, a meu ver. Pouca margem de manobra lhe restava. Tal como Montenegro teria feito bem em afastar-se. No mínimo, em esforçar-se por maior honestidade. Nem uma coisa nem outra. Se por um lado não pretendia retirar-se, por outro, não desejava revelar os clientes nem queria participar numa comissão de inquérito... Com que cara pedia então confiança política aos demais partidos?

Como referi, não coloco a coisa no plano da legalidade. Teço um juízo ético em muito desfavorável acerca do primeiro-ministro e aponto questões sensíveis que ficarão por resolver, justamente por quedarem-se irremediavelmente em zonas cinzentas. A questão da ITAU e da INETUM ficará no limbo por mais que se argumente. A relação anterior com Montenegro teve alguma influência nos novos contratos com o Estado?... limitamo-nos a esperar que não. A futura decisão quanto à concessão dos casinos será de alguma forma condicionada pela relação de Montenegro e da Spinumviva com a Solverde? Repete-se a resposta, esperemos que não. Montenegro, consciente da situação em que se encontrava, agiu de forma a afastar de si quaisquer suspeitas?... Não, infelizmente não. Nenhuma vitória eleitoral exorcizará estes fantasmas. Parece-me natural que se torça o nariz.
 
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Manageiro de futból

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O pessoal fala da comunicação social como se não houvesse um governo com maioria absoluta que caiu depois de meses de notícias diárias sobre casos polémicos, como se não tivessem andado a falar do caso das gémeas durante anos e consequentemente a destruir a popularidade do político mais popular do país, e como se não houvesse um partido de extrema direita que passou de 1 a 50 deputados em 3 ou 4 anos e cuja campanha é alicerçada unicamente em reagir às notícias mais polémicas do dia.

mas estou a curtir a discussão, como se houvesse puros no meio disto tudo e a esquerda, que se prepara para ter o pior resultado em eleições dos últimos 50 anos, controlasse esta merda toda.
 
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Miguel Alexandre

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  • José Maria Pedroto
Eu não sei que tipo de promessas o PNS andou a fazer à comunicação social se formar governo. É que esta ânsia por sangue tão gigante.. É Expresso, Público, Correio da Manhã, Now, SICN, CNN.. A ver se daqui a uns largos dias não há suicídios naquelas redações
A imprensa sobreviveu à pandemia com subsídios de Costa. Conselho de ministros dele chegava a "sugerir" as linhas editoriais.

Mas não nos enganamos, farão o mesmo com Montenegro é só dar tempo.
O jornalismo tal como existe não é financeiramente sustentável e vive como aparatchik de quem pagar.

Há excepções. Poucas.

Um dos maiores actos de filantropia era alguém fundar um canal de jornalismo sério, autónomo, adulto.

Nunca foi tão importante termos capacidade de pensar pela nossa cabecinha.
Numa aldeia global o ruído come-te e apaga-te.

Atentos e a pensar pela nossa cabeça.
 
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Miguel Alexandre

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PSD com 34 %, Chega com 16 %, IL 6 %.

Acho que é isto, mais coisa menos coisa.

Conclusão: ou estamos perante o maior desvio de votos da extrema esquerda para o PSD, ou então há muito votante feito refém em casa.

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Há boas? Alguém liga um peido a isso?
 

Miguel Alexandre

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e mais se degrada com este espectáculo desolador. Imagine-se um sopro desfavorável da conjuntura internacional, longe de improvável. A pretensa competência de Montenegro varrer-se-á em menos de três tempos. Montenegro vai contribuindo, da maneira que encontrou, para o esboroamento da política nacional: arrastou o país para mais uma eleição por puro cálculo político. Não lhe posso dedicar uma ovação, por engenhosa que seja a manobra. Revela-se um bom político no sentido mais subterrâneo do termo, um sujeito habilidoso, o que também é útil. Quanto ao resto...

A comunicação social não mudou. Não se entrevê nada de distinto quanto à cobertura do caso Spinumviva, nem pior forma nem maior intensidade. Esperar-se-ia o quê ao certo? Que não se procurasse apurar o que Montenegro teimava em esconder? Matérias envolvendo um primeiro-ministro em funções, com claros problemas de transparência, são furos jornalísticos como poucos. Em qualquer circunstância. O próprio expôs-se ao exame mediático ao não optar desde logo pela transparência. Caso se decidisse por uma postura própria de um governante, e partilhasse o que acabou por ter de partilhar, como era óbvio que teria de fazer, poupar-se-ia em parte à imagem que se gerou. Não se pode ser simultânea e obstinadamente opaco e barafustar contra os esforços por clarificação. Ou revela-se ou esconde-se, e Montenegro recalcitrou e escondeu. Divulga sob pressão dos média, cujo trabalho se revela fundamental.

Não é verdade que a população, os média, os actores políticos... jamais tenham passado cavaco ao carácter e à ética dos políticos. As discussões sobre ética são recorrentes, cíclicas, contínuas, ... Ou julgar-se-á que há algo de único com Montenegro? Trata-se apenas de mais um político envolvido em coisas estranhas, esmiuçado pelos média, comentado pelos eleitores, criticado pelos adversários.... Porventura a sua posição seja uma originalidade: um governo cai em função dos problemas do primeiro-ministro e o mesmo transforma-se de imediato em candidato ao lugar. Incomum. Claro que o problema, que o próprio tratou com os pés, se transformaria num tema mediático de relevo. Crê mesmo no que está a escrever? Que os média nunca se interessaram por problemas de ética? Que os eleitores nunca disso quiseram saber?...

Lamento não poder condenar de forma veemente a tal divulgação quanto aos clientes de Montenegro. Talvez possa dispensar uma condenaçãozinha... mas não mais que isso. Montenegro não cumpriu as suas obrigações de transparência. Que são devidas a todos os titulares de cargos públicos ( Governo falha em publicar registo de interesses conforme obrigação legal ). Montenegro não prestou as informações devidas até aos dias de ontem. Caso tivesse feito, como lhe era há muito exigido, condição aliás necessária ao desempenho de um cargo público, não se colocaria qualquer problema. Não brinquemos com coisas sérias: o primeiro-ministro sabia perfeitamente que, dado o seu histórico, teria de ser especialmente rigoroso na declaração de interesses. Sabia que contactou com empresas sensíveis e que essa informação era deveras relevante. Optou por esconder e protelar para que a informação não fosse conhecida antes do dia das eleições. A divulgação da informação pelos jornalistas encontra-se legalmente protegida. Se Montenegro acha-se violentado, que recorra a quem de direito, não o censurarei por isso.

Talvez seja mera percepção do colega, talvez não seja. Há muito que teço considerações éticas neste espaço sobre os mais variados actores políticos. São muitos anos a virar frangos, como diz o outro. Como é notório, tão-pouco sou imparcial ou procuro sequer aparentar essa imagem. Quanto a Montenegro e ao PSD, o colega tem claramente uma posição apologética, não obstante os reparos que faz, enquanto eu tenho uma posição de censura. Faz parte e dá até um certo colorido à coisa.

O conflito de interesses mantém-se, pois várias empresas que no passado trataram com a Spinumviva podem ainda necessitar de decisões do governo. O caso da Solverde é o mais gritante. Quão fácil seria se bastasse passar a empresa aos filhos, como se com isso Montenegro apagasse as relações passadas com os clientes e as eventuais decisões futuras respeitantes aos mesmos. Os problemas mantêm-se e manter-se-ão enquanto Montenegro ocupar o cargo. A ponto de o próprio afirmar que não participará em decisões relacionadas com a Solverde, admitindo assim a sensibilidade da coisa. A solução de entregar a empresa aos filhos está longe de ser airosa, pois essa posse poderá constituir o motivo pelo qual determinado cliente recorre à Spinumviva e não a outro prestador de serviços.

... Montenegro não podia ter vida profissional? Poderá haver quem, pela sua vida profissional, esteja em posição delicada para o exercício de funções governativas? Seguramente. Faça-se uma outra pergunta: considerando a actividade empresarial de Montenegro, será que o próprio tomou todos os cuidados necessários para afastar de si interrogações legítimas e previsíveis? Actuou de forma a colocar-se à margem de suspeições, conflitos de interesse, embaraços... ? Se a sua actividade empresarial em nada empecilha a condução do país, por que motivo persistiu na falta de transparência? Como pode Montenegro esperar maior bondade quando recusou repetidas vezes ajudar-se a si próprio? O seu comportamento suscita incerteza.

Costa fez bem em demitir-se, a meu ver. Pouca margem de manobra lhe restava. Tal como Montenegro teria feito bem em afastar-se. No mínimo, em esforçar-se por maior honestidade. Nem uma coisa nem outra. Se por um lado não pretendia retirar-se, por outro, não desejava revelar os clientes nem queria participar numa comissão de inquérito... Com que cara pedia então confiança política aos demais partidos?

Como referi, não coloco a coisa no plano da legalidade. Teço um juízo ético em muito desfavorável acerca do primeiro-ministro e aponto questões sensíveis que ficarão por resolver, justamente por quedarem-se irremediavelmente em zonas cinzentas. A questão da ITAU e da INETUM ficará no limbo por mais que se argumente. A relação anterior com Montenegro teve alguma influência nos novos contratos com o Estado?... limitamo-nos a esperar que não. A futura decisão quanto à concessão dos casinos será de alguma forma condicionada pela relação de Montenegro e da Spinumviva com a Solverde? Repete-se a resposta, esperemos que não. Montenegro, consciente da situação em que se encontrava, agiu de forma a afastar de si quaisquer suspeitas?... Não, infelizmente não. Nenhuma vitória eleitoral exorcizará estes fantasmas. Parece-me natural que se torça o nariz.
Uma coisa certa, ouço mais sobre os problemas do Montenegro (coitadinho) do que sobre os meus.

Farto de palhaçada.

Digo o mesmo de PNS q coitadinho tem tido uma vida difícil.

Portugal vive-se cada vez pior, é um país em colapso. Esta classe política devia era começa a levar na cara.

Coitadinho do Costa, do Barroso, do Guterres, Portas, do Cavaco...do Montenegro e do PNS.

Todos tão mal...e o país nisto a engolir mais novela de merda.
 

J | [Ka!s3r^].

Tribuna Presidencial
7 Abril 2012
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  • Alfredo Quintana
Uma coisa certa, ouço mais sobre os problemas do Montenegro (coitadinho) do que sobre os meus.

Farto de palhaçada.

Digo o mesmo de PNS q coitadinho tem tido uma vida difícil.

Portugal vive-se cada vez pior, é um país em colapso. Esta classe política devia era começa a levar na cara.

Coitadinho do Costa, do Barroso, do Guterres, Portas, do Cavaco...do Montenegro e do PNS.

Todos tão mal...e o país nisto a engolir mais novela de merda.

Sim... creio que também por isso se dará a vitória ao governo e, eventualmente, uma votação semelhante à última a Ventura. As pessoas estão cansadas e frustradas. Mais que compreensível.
 

bluemonday

Tribuna
4 Maio 2024
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  • Reinaldo Teles
  • José Maria Pedroto
@bluemonday ,

e mais se degrada com este espectáculo desolador. Imagine-se um sopro desfavorável da conjuntura internacional, longe de improvável. A pretensa competência de Montenegro varrer-se-á em menos de três tempos. Montenegro vai contribuindo, da maneira que encontrou, para o esboroamento da política nacional: arrastou o país para mais uma eleição por puro cálculo político. Não lhe posso dedicar uma ovação, por engenhosa que seja a manobra. Revela-se um bom político no sentido mais subterrâneo do termo, um sujeito habilidoso, o que também é útil. Quanto ao resto...

A comunicação social não mudou. Não se entrevê nada de distinto quanto à cobertura do caso Spinumviva, nem pior forma nem maior intensidade. Esperar-se-ia o quê ao certo? Que não se procurasse apurar o que Montenegro teimava em esconder? Matérias envolvendo um primeiro-ministro em funções, com claros problemas de transparência, são furos jornalísticos como poucos. Em qualquer circunstância. O próprio expôs-se ao exame mediático ao não optar desde logo pela transparência. Caso se decidisse por uma postura própria de um governante, e partilhasse o que acabou por ter de partilhar, como era óbvio que teria de fazer, poupar-se-ia em parte à imagem que se gerou. Não se pode ser simultânea e obstinadamente opaco e barafustar contra os esforços por clarificação. Ou revela-se ou esconde-se, e Montenegro recalcitrou e escondeu. Divulga sob pressão dos média, cujo trabalho se revela fundamental.

Não é verdade que a população, os média, os actores políticos... jamais tenham passado cavaco ao carácter e à ética dos políticos. As discussões sobre ética são recorrentes, cíclicas, contínuas, ... Ou julgar-se-á que há algo de único com Montenegro? Trata-se apenas de mais um político envolvido em coisas estranhas, esmiuçado pelos média, comentado pelos eleitores, criticado pelos adversários.... Porventura a sua posição seja uma originalidade: um governo cai em função dos problemas pessoais e a pessoa que se encontra no olho do furacão mantém-se na pele de candidato. Incomum. Claro que o seu problema, tratado com os pés pelo próprio, se transformaria num tema mediático de relevo. Crê mesmo no que está a escrever? Que os média nunca se interessaram por problemas de ética? Que os eleitores nunca disso quiseram saber?...

Lamento não poder condenar de forma veemente a tal divulgação quanto aos clientes de Montenegro. Talvez possa dispensar uma condenaçãozinha... mas não mais que isso. Montenegro não cumpriu as suas obrigações de transparência. Que são devidas a todos os titulares de cargos públicos ( Governo falha em publicar registo de interesses conforme obrigação legal ). Montenegro não prestou as informações devidas até aos dias de ontem. Caso tivesse feito, como lhe era há muito exigido, condição aliás necessária ao desempenho de um cargo público, não se colocaria qualquer problema. Não brinquemos com coisas sérias: o primeiro-ministro sabia perfeitamente que, dado o seu histórico, teria de ser especialmente rigoroso na declaração de interesses. Sabia que contactou com empresas sensíveis e que essa informação era deveras relevante. Optou por esconder e protelar para que a informação não fosse conhecida antes do dia das eleições. A divulgação da informação pelos jornalistas encontra-se legalmente protegida. Se Montenegro acha-se violentado, que recorra a quem de direito, não o censurarei por isso.

Talvez seja mera percepção do colega, talvez não seja. Há muito que teço considerações éticas neste espaço sobre os mais variados actores políticos. São muitos anos a virar frangos, como diz o outro. Como é notório, tão-pouco sou imparcial ou procuro sequer aparentar essa imagem. Quanto a Montenegro e ao PSD, o colega tem claramente uma posição apologética, não obstante os reparos que faz, enquanto eu tenho uma posição de censura. Faz parte e dá até um certo colorido à coisa.

O conflito de interesses mantém-se, pois várias empresas que no passado trataram com a Spinumviva podem ainda necessitar de decisões do governo. O caso da Solverde é o mais gritante. Quão fácil seria se bastasse passar a empresa aos filhos, como se com isso Montenegro apagasse as relações passadas com os clientes e as eventuais decisões futuras respeitantes aos mesmos. Os problemas mantêm-se e manter-se-ão enquanto Montenegro ocupar o cargo. A ponto de o próprio afirmar que não participará em decisões relacionadas com a Solverde, admitindo assim o problema. A solução de entregar a empresa aos filhos está longe de ser airosa, pois essa posse poderá constituir o motivo pelo qual determinado cliente recorre à Spinumviva e não a outro prestador de serviços.

... Montenegro não podia ter vida profissional? Poderá haver quem, pela sua vida profissional, esteja em posição delicada para o exercício de funções governativas? Seguramente. Faça-se uma outra pergunta: considerando a actividade empresarial de Montenegro, será que o próprio tomou todos os cuidados necessários para afastar de si interrogações legítimas e previsíveis? Actuou de forma a colocar-se à margem de suspeições, conflitos de interesse, embaraços... ? Se a sua actividade empresarial em nada empecilha a condução do país, por que motivo persistiu na falta de transparência? Como pode Montenegro esperar maior bondade quando recusou repetidas vezes ajudar-se a si próprio? O seu comportamento suscita incerteza.

Costa fez bem em demitir-se, a meu ver. Pouca margem de manobra lhe restava. Tal como Montenegro teria feito bem em afastar-se. No mínimo, em esforçar-se por maior honestidade. Nem uma coisa nem outra. Se por um lado não pretendia retirar-se, por outro, não desejava revelar os clientes nem queria participar numa comissão de inquérito... Com que cara pedia então confiança política aos demais partidos?

Como referi, não coloco a coisa no plano da legalidade. Teço um juízo ético em muito desfavorável acerca do primeiro-ministro e aponto questões sensíveis que ficarão por resolver, justamente por quedarem-se irremediavelmente em zonas cinzentas. A questão da ITAU e da INETUM ficará no limbo por mais que se argumente. A relação anterior com Montenegro teve alguma influência nos novos contratos com o Estado?... limitamo-nos a esperar que não. A futura decisão quanto à concessão dos casinos será de alguma forma condicionada pela relação de Montenegro e da Spinumviva com a Solverde? Repete-se a resposta, esperemos que não. Montenegro, consciente da situação em que se encontrava, agiu de forma a afastar de si quaisquer suspeitas?... Não, infelizmente não. Nenhuma vitória eleitoral exorcizará estes fantasmas. Parece-me natural que se torça o nariz.
A minha posição é apologética e eu não a escondo, mas não é por simpatia pelo Montenegro. É um especial apreço pela ação governativa que, apesar de ter um falhanço grande (saúde), considero globalmente positiva. Pelo menos gabo a coerência do colega em admitir a demissão de Costa, pese embora não saiba propriamente como interpretar a "pouca margem de manobra" - refere-se à ética de AC ou ao célebre parágrafo do MP? Lamento que o prezado continue a omitir ou a revogar qualquer referência à falta de ética de Pedro Delgado Alves. Subentende-se que defende que os "fins justificam os meios", o que circunda de todo o modo numa posição também apologética.

Quanto à comunicação social, acho que é um debate perdido. Acompanho política há muito, sei perfeitamente o que a casa gasta e a forma como eram reportadas as notícias nos governos de Guterres (+-), Durão Barroso, Santana Lopes, Sócrates, Passos Coelho, Costa e Montenegro. Afirmo sem pudor que nunca houve uma tónica tão grande na ética dos governantes como está a existir hodiernamente. A bitola sempre foi o cumprimento de um princípio de legalidade, sempre. Tudo o que não envolvesse legalidade ou não era reportado, ou não merecia referência de maior. É a minha experiência.

Não, a posição de Luís Montenegro não é uma originalidade. Sá Carneiro sofreu o mesmo, com uma campanha vil (ao nível daquilo que hoje associamos ao Chega) por parte do PS e do PCP. Vir-se-ia a descobrir que FSC estava inocente e que a sua ética era irrepreensível enquanto governante. Longe de mim comparar Montenegro com Sá Carneiro, até porque, como já admiti, existe mesmo um problema ético com Montenegro.

Sobre a questão da entidade da transparência: Montenegro cumpriu o prazo, pelos vistos. Fê-lo no último dia por taticismo político, mas cumpriu o prazo. As informações que advieram dessa nova declaração demonstram que não foi propriamente o medo que motivou a decisão de LM, porém uma questão estritamente eleitoral.

Repito: legalmente, a questão do conflito de interesses com a Solverde foi ultrapassada. O conflito de interesses é um instituto legal, não é algo definido com as orientações pessoais de cada um. Condeno a decisão de passar a empresa para os filhos; todavia, a partir desse momento, qualquer decisão que o governo tome sobre uma dessas empresas deixa de relevar para os olhos da lei. Responsabilidade política ou ética? Sim, claro.

O colega inquina o que eu disse sobre a atividade profissional quando o ponto é muito simples: não pode o PM ter uma vida profissional anterior à política? O que afirma dá a entender que não, porquanto faz uma associação entre os contratos celebrados com empresas clientes da Spinumviva e a atividade de LM nesta mesma empresa. Ora, tal argumento não colhe. Enfatizo que não insiro aqui a questão das alegadas avenças da Solverde - a sua resposta neste tocante só se refere a isso, porque não vejo como a atitude de Montenegro possa interessar para a maior parte dos clientes da Spinumviva, sem quaisquer irregularidades.

«Crê mesmo no que está a escrever? Que os média nunca se interessaram por problemas de ética? Que os eleitores nunca disso quiseram saber?...»

No que concerne aos media, a resposta está dada acima. Em relação aos eleitores: em 2011, 1.5 milhões de portugueses votaram no PS de José Sócrates. Em 2022, 2.3 milhões deram uma maioria absoluta ao PS de António Costa. Os estudos demonstram que os eleitores, na hora de votar, não se importam assim tanto com a ética - são de mor importância outros domínios.
 
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