@bluemonday ,
bom, mas se o colega concorda que o papel e a actuação de Montenegro são censuráveis e que seria preferível um outro candidato... para quê a defesa? Concordo, apenas não procuro atenuantes.
Para mim, opinião pessoal, Montenegro não mostrou qualquer estatura ética e moral em todo este processo. A sua recandidatura ao cargo é, portanto, atirar pela janela quaisquer preocupações dessa natureza. Não creio ser uma afirmação particularmente polémica. Afinal, reconhece-se a Montenegro problemas dessa ordem ou não? Podemos afirmar, estupidamente, creio, que a ética republicana é a lei. Se acreditamos nisso, temos de estar preparados para as previsíveis consequências. Entre elas, a degradação de todo o sistema. Preocupante. Uma vez mais, opinião pessoal, a figura de Montenegro não é digna do desempenho de funções tão elevadas. Mal estaríamos se não houvesse candidatos mais aptos, inclusive dentro do próprio PSD. Não falamos propriamente de um político ímpar, extraordinário ou insubstituível.
Sublinho, com essa demora e renitência, o padrão de comportamento de Montenegro: ocultar, tergiversar, protelar. Divulgar em último recurso e à última da hora, mas não de livre vontade nem por iniciativa própria. Falamos de informação que devia, há muito, ser pública e que o primeiro-ministro, perante a falta, foi "convidado a apresentar".
Parece-me absurdo, algo kafkiano até, pretender transformar um problema de retenção de informação que devia ser pública, mas que se mantinha secreta por responsabilidade do primeiro-ministro, numa questão de divulgação indevida. Afinal, convém recordar, foi a Entidade para a Transparência que solicitou esclarecimentos a Montenegro acerca da sua declaração. E Montenegro, após todas as recusas e demoras, entregou finalmente uma nova declaração, na qual incluiu a informação relativa aos clientes da empresa. Sem a divulgação nos média, pelo prazo normal dos procedimentos, Montenegro, tendo atrasado os esclarecimentos que se lhe impunham, veria a sua declaração publicamente escrutinada em data posterior às eleições. É isto o que se defende? O primeiro-ministro não revela (... e não tomou posse ontem, refira-se), revela apenas sob solicitação e no último dia do prazo de modo a não possibilitar o acesso à declaração em tempo pré-eleições. Os jornalistas fizeram muitíssimo bem em publicar a informação, pois é politica e eleitoralmente relevante. Não me compadeço pelas dores de Montenegro, que se preparava para mais uma das suas manhas. Agora vem chorar o quê? A divulgação de informação que tinha obrigatoriamente de declarar... no início da legislatura, não agora... e que não o fez? Esta indignação do partido não passa de mais um truque muito poucochinho.
Não sabemos se haverá ou não problema. Esse é, em si mesmo, o problema. Não sabemos se os motivos serão estritamente processuais, decorrentes do procedimento do concurso de concessão, ou se outros interesses pesarão também na decisão final. Convém, por isso, não ter um primeiro-ministro na posição de Montenegro, de potencial conflito de interesses. O mesmo serve em relação às empresas que fornecem serviços ao Estado. Sim, já mantinham contratos públicos antes de Montenegro. A notícia traz-nos, porém, informação relevante: dois dos maiores contratos foram fechados com Montenegro no governo. Contrato mais avultado da ITAU com o estado português: firmado sob chefia de Montenegro. Contrato mais avultado da INETUM com o estado: idem aspas. E agora? Tal foi consequência exclusiva do concurso público? Espero que sim, mas fica a dúvida. Não seria preferível que nenhuma dessas empresas partilhassem negócios prévios com o primeiro-ministro? Diria que sim. E não sabia Montenegro que tudo isto era relevante e devia ser partilhado?...
O que de resto escrevo serve para ilustrar a neblina em torno da pessoa e compor o ramalhete. Reafirmo que não aponto ilegalidades a Montenegro. ... mas a conduta ética não é irrelevante e pode ser um indício de algo pior. Como foi no caso de Sócrates. ... cada eleitor sabe de si e saberá daquilo que valoriza ou não. Não tenho qualquer ilusão quanto a isso. Seja como for, o PSD não precisava de Montenegro para vencer estas eleições.