... tratou-se de uma intervenção feliz por parte do director da PJ. Os dados disponíveis não mostram qualquer associação entre imigração e criminalidade, por motivos mais ou menos óbvios: quem entra no país vem em busca de uma vida melhor, entra para trabalhar e não para o fantasioso "viver à custa dos portugueses" e receia, por isso, incorrer em comportamentos que inviabilizem esse objectivo. Raciocínio de aplicação geral. São essas as conclusões que nos chegam dos Estados Unidos: Do Immigrants Threaten US Public Safety? - The CGO , Immigrants less likely to commit crimes than U.S.-born : NPR ; e que, de alguma forma, encontram eco nos números referidos pelo director da PJ. Cabe-nos porventura melhorar a qualidade da informação disponível, tendo presente a proposta lançada pela Iniciativa Liberal (imagine-se!... que merecerá discussão).
Sem ilusões quanto ao valor da informação, dado que a própria realidade já não mobiliza por aí além. Não tem o sexy nem o appeal das percepções e exige tempo, esforço e conhecimento... o que vai igualmente caindo em desuso. A persistência da atenção e do discurso públicos nas temáticas da imigração e da criminalidade revela, entre outras coisas: a decadência intelectual da sociedade; a incapacidade dos cidadãos para actuar politicamente e transformar a realidade; a facilidade com que a opinião é manipulada, o debate sequestrado e a agendas política e mediática definidas; a incapacidade ou até mesmo a recusa dos actores políticos em encontrar soluções para os problemas estruturais e sistémicos do país e dos seus contextos internacionais; o cinismo, o oportunismo, etc. etc. etc., daqueles que aqui encontraram o seu filão. Portugal tem cento e poucos homicídios anuais... dá um a cada três dias e qualquer coisa. Há sempre matéria para encher programas da manhã e fóruns da internet. E sempre haverá. ... mas depois dos comentários e das postagens, os problemas que afectam as vidas dos portugueses continuarão no mesmo sítio. E com isto não digo que não há, de facto, problemas dessa natureza. Existem em qualquer país.
Portugal ainda é um dos países onde a população estrangeira menos pesa - Emprego - Jornal de Negócios . O que acontece em Portugal acontece noutros países da OCDE com maior intensidade. O peso da população estrangeira é, em Portugal, inferior à média da OCDE; o mesmo servindo quanto à dimensão do aumento dessa população. O fenómeno é global e não lhe será estranha a situação demográfica do mundo desenvolvido. Isto deveria dar que pensar. O sistema não estimula a produção de pessoas. Portugal não é a Suíça nem o Luxemburgo, países com capacidade para atrair imigração europeia inclusive para posições pior remuneradas. Os nossos imigrantes trarão talvez diferenças mais acentuadas... é uma hipótese admissível. Temos, em todo o caso, a CPLP, e com ela um conjunto de países com quem partilhamos história, cultura, vivência e língua. Convém não ter pruridos com a cor da pele, ou correr-se-á o risco de não se encontrar o "imigrante ideal". Tudo isto pensando dentro do actual estado de coisas.
Claro que a imigração tem de ser regulada, não havendo outra forma de garantir o acesso a direitos e o cumprimento de deveres. Deixar entrar sem políticas adequadas, mecanismos de integração, igualdade formal... não mais será que disponibilizar mão-de-obra barata aos empregadores, com consequências negativas para todo o trabalho. E, no entanto, o sistema vive muitíssimo bem com a exploração destas pessoas. Não se trata de uma qualquer conspiração, eis as palavras de um dos principais ideólogos do neoliberalismo:
É até bastante engraçado: livre circulação de mercadorias e serviços sim, de fluxos financeiros também!, claro, mas de pessoas... enfim, mais ou menos. Talvez seja aqui o ponto em que o estado entra e regula (ou fecha os olhos e permite a exploração). Quanto ao resto, o estado é o demónio.
Porque motivo o senhor Moedas não se interessa por fiscalizar as condições de lotação e salubridade da Mouraria, Alfama, da zona do Martim Moniz... ? Talvez porque a cidade precisa daqueles desgraçados para a hotelaria, restauração, comércio, serviços, distribuição... e não há respostas no plano das políticas de habitação. Mas, em compensação, abrirá um hotel de luxo muito bonito e vistoso na Graça: Não ao Quartel da Graça como hotel de luxo. Grupo de cidadãos quer "usos comunitários" para o monumento nacional e construir-se-á mais um condomínio, de semelhante luxo, em Alcântara: Alcântara vai ter mais um empreendimento de luxo que inclui apartamentos turísticos | Urbanismo | PÚBLICO . Não admira que a cidade continue a perder população. E quem para lá vai trabalhar arrisca-se a não conseguir entrar no comboio ou a desmaiar durante a viagem.
Que se regule e garanta segurança, dentro do que é legítimo. Não se pode é querer manter o sistema inalterado, deixar entrar pessoas e, posteriormente, ao constatar-se a mesmíssima estagnação, desigualdade, baixos salários e outras coisas que tais... apontar então o dedo a quem entrou. Como se isso resolvesse o que quer que seja.
Sem ilusões quanto ao valor da informação, dado que a própria realidade já não mobiliza por aí além. Não tem o sexy nem o appeal das percepções e exige tempo, esforço e conhecimento... o que vai igualmente caindo em desuso. A persistência da atenção e do discurso públicos nas temáticas da imigração e da criminalidade revela, entre outras coisas: a decadência intelectual da sociedade; a incapacidade dos cidadãos para actuar politicamente e transformar a realidade; a facilidade com que a opinião é manipulada, o debate sequestrado e a agendas política e mediática definidas; a incapacidade ou até mesmo a recusa dos actores políticos em encontrar soluções para os problemas estruturais e sistémicos do país e dos seus contextos internacionais; o cinismo, o oportunismo, etc. etc. etc., daqueles que aqui encontraram o seu filão. Portugal tem cento e poucos homicídios anuais... dá um a cada três dias e qualquer coisa. Há sempre matéria para encher programas da manhã e fóruns da internet. E sempre haverá. ... mas depois dos comentários e das postagens, os problemas que afectam as vidas dos portugueses continuarão no mesmo sítio. E com isto não digo que não há, de facto, problemas dessa natureza. Existem em qualquer país.
Portugal ainda é um dos países onde a população estrangeira menos pesa - Emprego - Jornal de Negócios . O que acontece em Portugal acontece noutros países da OCDE com maior intensidade. O peso da população estrangeira é, em Portugal, inferior à média da OCDE; o mesmo servindo quanto à dimensão do aumento dessa população. O fenómeno é global e não lhe será estranha a situação demográfica do mundo desenvolvido. Isto deveria dar que pensar. O sistema não estimula a produção de pessoas. Portugal não é a Suíça nem o Luxemburgo, países com capacidade para atrair imigração europeia inclusive para posições pior remuneradas. Os nossos imigrantes trarão talvez diferenças mais acentuadas... é uma hipótese admissível. Temos, em todo o caso, a CPLP, e com ela um conjunto de países com quem partilhamos história, cultura, vivência e língua. Convém não ter pruridos com a cor da pele, ou correr-se-á o risco de não se encontrar o "imigrante ideal". Tudo isto pensando dentro do actual estado de coisas.
Claro que a imigração tem de ser regulada, não havendo outra forma de garantir o acesso a direitos e o cumprimento de deveres. Deixar entrar sem políticas adequadas, mecanismos de integração, igualdade formal... não mais será que disponibilizar mão-de-obra barata aos empregadores, com consequências negativas para todo o trabalho. E, no entanto, o sistema vive muitíssimo bem com a exploração destas pessoas. Não se trata de uma qualquer conspiração, eis as palavras de um dos principais ideólogos do neoliberalismo:
É até bastante engraçado: livre circulação de mercadorias e serviços sim, de fluxos financeiros também!, claro, mas de pessoas... enfim, mais ou menos. Talvez seja aqui o ponto em que o estado entra e regula (ou fecha os olhos e permite a exploração). Quanto ao resto, o estado é o demónio.
Porque motivo o senhor Moedas não se interessa por fiscalizar as condições de lotação e salubridade da Mouraria, Alfama, da zona do Martim Moniz... ? Talvez porque a cidade precisa daqueles desgraçados para a hotelaria, restauração, comércio, serviços, distribuição... e não há respostas no plano das políticas de habitação. Mas, em compensação, abrirá um hotel de luxo muito bonito e vistoso na Graça: Não ao Quartel da Graça como hotel de luxo. Grupo de cidadãos quer "usos comunitários" para o monumento nacional e construir-se-á mais um condomínio, de semelhante luxo, em Alcântara: Alcântara vai ter mais um empreendimento de luxo que inclui apartamentos turísticos | Urbanismo | PÚBLICO . Não admira que a cidade continue a perder população. E quem para lá vai trabalhar arrisca-se a não conseguir entrar no comboio ou a desmaiar durante a viagem.
Que se regule e garanta segurança, dentro do que é legítimo. Não se pode é querer manter o sistema inalterado, deixar entrar pessoas e, posteriormente, ao constatar-se a mesmíssima estagnação, desigualdade, baixos salários e outras coisas que tais... apontar então o dedo a quem entrou. Como se isso resolvesse o que quer que seja.
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