Deixar claro que quando falei em futebol, referia-me ao nosso futebol de iniciativa, em posse. Sem bola estivemos relativamente competentes, ainda que dentro de um posicionamento competitivo de total cedência de controlo. Quando percebemos que a nossa pressão não estava a ser eficaz e os nossos triggers tinham counters bem afinados do Braga para saltar a nossa pressão, cedemos por completo o controlo da posse, abdicando sequer de fazer o Braga atirar-se para zonas de igualdade numérica, inicialmente com 3x3 na pressão aos centrais, com perseguições individuais aos alas que baixavam para sair a 5, e nós sem conseguir bloquear a entrada da bola lateral/médio ou bolas diretas a sair para Zalazar/Horta mais baixos a sair com apoio frontal dos dois médios.
E lá está, a partir dos 50 e tal minutos em bloco baixo, e mesmo que não permitindo grandes ações de penetração para dentro do nosso bloco, sem arte para meter o Braga em sentido na ativação de transições rápidas.
30% de posse no Dragão é algo que não tenho como aceitável, aconteça por falta de engenho ou estratégia, fora jogos frente a colossos onde a disparidade de qualidade individual e rotação é tal que nos subjuga no terreno tamanha a decalage competitiva. Não estou sequer seguro se contra o City aqui tivemos estes 30%. Para mim, mantenho, é inaceitável. Mas secalhar sou eu que sou um proponent excessivo de uma ideia de controlo pela posse.
Com bola, absolutamente vergonhoso e de cariz Anselmiano ou abaixo, mantenho o que disse, o que vi ontem. E já nem falo nos índices de criação miseráveis no último terço (mesmo com um golo a surgir em 1 para 0 num momento em que o Braga lá fechou o olho e permitiu um 4x4 em zona avançada, acabámos com um xG inferior a 1.0), mas na incapacidade em gerar vantagens posicionais, inaptidão total em ligar em progressão, em engrenar combinações, em sair em apoio a rasgar a pressão do Braga, em promover momentos de consolidação de posse no meio-campo adversário. Repito novamente este dado que para mim é revelador, o maior número de passes ligados no mc adversário foi de 4 passes aos 80 e tal minutos. Se a defender não houve caos Anselmiano e houve, pelo menos, solidez dentro de um papel, para mim, submisso, a atacar foi absolutamente desastroso.
E não contem comigo para passar um pano por cima da equipa e de uma exibição que considero indigna do FC Porto só porque o objetivo vitória foi conseguido, ou porque estamos em sequência muito positiva de resultados neste início de época.
		
		
	 
Percebo a tua leitura, e concordo com a maior parte da caracterização factual do jogo.
Mas não consigo ver a exibição como “indigna” nem como um abandono de princípios. Para mim, o que se viu foi um ajuste consciente e premeditado, ainda que feio à vista, àquilo que o jogo "foi pedindo".
Sim, é verdade que o Porto abdicou da iniciativa com bola e passou a reagir ao Braga, mas para mim, isso foi menos “cedência” e mais adaptação estratégica. O Farioli percebeu que o Braga tinha preparado bem os nossos triggers de pressão (como disseste, a forma como eles conseguiam sair com Zalazar ou Horta a dar apoio frontal era estudada) e decidiu não continuar a bater de frente num jogo que estava a ser-lhes favorável nesse registo. Continuar teria sido suicídio.
A partir daí, o Porto baixou o bloco por decisão e não por impotência, o que é diferente. A entrada do Rosário foi o "joker" do jogo.
Controlou a profundidade, cortou linhas de passe interiores e reduziu o Braga a circulação estéril.
O jogo passou a estar “bloqueado”, sem brilho, mas controlado.
É inegável que faltou critério com bola, e o aparecem os 30% de posse. Mas para mim esse número não traduz submissão total, traduz a escolha de um modelo circunstancial, típico de equipas que começam a compreender diferentes “formas de ganhar”.
Não é bonito, não é o Porto que o pessoal gosta, mas é um Porto que se adapta, que lê o jogo e o momento.
E há aqui algo que não se pode ignorar.
Nos últimos anos, quantas vezes vimos o Porto cair precisamente por não ter a capacidade de ser pragmático? A época passada fomos goleados 2 vezes com o rival por não o termos sido. Contra o Estrela fomos "papados" assim, contra este mesmo Braga tivemos bola e não conseguimos fazer nada.
Por insistir no “controlo pela posse” quando o jogo pedia contenção e bloco compacto?
Em suma, não foi um jogo bonito, nem um Porto dominante, mas foi um Porto maduro, tático e eficaz, que percebeu que há dias em que os jogos também podem ser ganhos sem bola.
E isso, em termos de cultura competitiva, é crescimento.