Paira uma suspeita insustentável sobre o primeiro-ministro; e esse problema extravasa o domínio da legalidade. Por que motivo os clientes recorriam à empresa de Montenegro? Por que motivo a Solverde, que terá os seus próprios especialistas, decide recorrer à empresa do primeiro-ministro? Primeiro-ministro que trabalhou para e representou, há não muito, a dita Solverde. A empresa, à margem de questões sobre exclusividade e quer se queira quer não, era um meio de acesso a Montenegro. E um primeiro-ministro não se pode colocar nessa posição, pois a dúvida subsistirá sempre. Nada se revolve passando a empresa para os filhos, a empresa é agora a empresa dos filhos do primeiro-ministro. Qualquer potencial cliente saberá isso. O líder do governo pede escusa em matérias relacionadas com os clientes? Como pode um primeiro-ministro abster-se de participar em matérias de governação? Directa ou indirectamente, tudo passa por ele. Que diferença faz?...
Não teria sido mais fácil a Montenegro desfazer-se da empresa quando chegou a primeiro-ministro ou até mesmo a líder do PSD?... Se se tem ambições políticas a cargos fundamentais, talvez seja prudente abdicar de algumas coisas. Não adianta a conversa do não haver ninguém disponível, de se pretender santos nos cargos, de não se poder ter vida profissional... o primeiro-ministro é o primeiro-ministro, não é um cidadão qualquer. Assume o país (ou o partido), desliga-se por completo de qualquer relação empresarial, e retoma a vida profissional quando deixar os altos cargos públicos e políticos. Como lhe deveria ser evidente. E tanto era que tentou encontrar forma de se distanciar, sem nunca o fazer em definitivo. Montenegro, que é formado em direito, não olha para tudo isto e vê situações indesejáveis?...