Tiago Silva
Sábado online
O bom nome do FCP
O FCP venceu, indiscutivelmente, uma importante batalha mas está longe de vencer a guerra pois as dívidas e o passivo gigantesco subsistem e os efeitos nefastos da gestão passada perdurarão no futuro.
1.Depois de em 19 Abril deste ano a UEFA ter excluído o FCP das competições europeias por uma época, suspendendo a execução dessa pena por duas temporadas, e aplicado uma multa de 1,5 milhões de euros ao clube por incumprimento das regras de fair play financeiro e pela prestação de informação errada e incompleta à Uefa, ficamos a saber esta semana que, sob a égide da nova Direcção, o clube conseguiu passar no controlo financeiro da Uefa ao dar resposta a todos os requisitos e exigências de licenciamento da Uefa que se iniciaram a 30 de junho e terminaram a 15 de Julho, pelo que está assegurada a participação do FCP nas competições europeias da próxima época.
Perante esta notícia, brotaram de imediato da penumbra algumas luminárias que, a galope de uma ignorância atrevida, logo apregoaram que o clube, afinal, não estava financeiramente tão débil como alguns queriam fazer crer e os oito mil euros à ordem indiciavam, pelo que, instavam eles, a bem da transparência, deveria ser revelada a origem e a proveniência do dinheiro que teria permitido ao FCP pagar as suas avultadas dívidas e, com isso, obter o licenciamento junto da UEFA.
Ora bem, se a façanha da (nova) SAD do FCP já provocou tanta urticária fora de portas, nem quero imaginar a reacção quando souberem que aquele feito não foi alcançado pelo vil metal mas através de activos intangíveis como sejam a credibilidade e a perseverança.
Sim, foi a credibilidade e a perseverança da nova SAD do FCP que permitiram que o clube alcançasse um entendimento com diversos credores com vista à reestruturação das suas dívidas, mormente através da fixação de novos prazos de pagamentos, e que levou a SAD do FCP a convencer a UEFA do rigor, da credibilidade e da sustentabilidade dessa reestruturação, do novo plano financeiro do FCP e dos princípios que presidirão ao mesmo, nomeadamente a redução substancial da sua massa salarial.
O FCP venceu, indiscutivelmente, uma importante batalha mas está longe de vencer a guerra pois as dívidas e o passivo gigantesco subsistem e os efeitos nefastos da gestão passada perdurarão no futuro, razão pela qual se afigura fundamental concluir nas próximas semanas o financiamento que permitirá ao clube reestruturar todo o seu passivo, baixar os avultados custos ao serviço da dívida (juros) e ganhar oxigénio para gerir a operação corrente e a vertente desportiva, nomeadamente reforçando o plantel em posições chave.
Ainda que possa constituir uma evidência para muitos nunca será para todos pelo que devemos sempre salientar que o futuro e o bom nome do FCP promove-se e salvaguarda-se desta forma, honrando a palavra e os compromissos assumidos e empregando rigor, competência e transparência nos procedimentos e na gestão levada a cabo.
Branquear a ruptura financeira, os salários e prémios em atraso, os cheques sem provisão, o incumprimento reiterado das regras do fair play financeiro, a antecipação desenfreada de receitas e o colecionar de acções de cobrança de dívidas a que nos conduziram de forma leviana e irresponsável, não é defender o FCP pois só serviria para desculpabilizar toda e qualquer Direcção futura quando a nossa exigência e vigilância devem ser máximas para não voltarmos a esse passado que nos ia deixando sem futuro.
Aqueles, sim, mancharam o bom nome do FCP, não quem os denuncia.
2. A Seleção Espanhola com dois miúdos maravilhosos no onze e vários jogadores de clubes de segunda linha europeia, venceu a Croácia, Itália, Alemanha, França e Inglaterra no espaço de um mês, exibindo sempre uma elevada qualidade de jogo e uma alegria e criatividade em campo que fez com que a conquista do Euro tivesse sido, em boa verdade, uma vitória do futebol.
Não vejo melhor exemplo que ateste que no futebol o que conta mesmo são as boas ideias e a capacidade de as executar.
3. O Benfica foi preparando os sócios para a inevitabilidade da saída de João Neves com as notícias que foi plantando no espaço público que davam conta que o jogador não queria renovar o contrato com o clube encarnado e, mais tarde, que queria sair para o PSG.
Nessa altura percebeu-se que o jogador estava no mercado e que a sua saída era uma questão de tempo, como agora se parece confirmar.
O Benfica precisava de realizar um encaixe financeiro significativo para equilibrar as contas e evitar mais um exercício de fortes prejuízos e João Neves era o único jogador do plantel encarnado com mercado dessa dimensão e capaz de assegurar esse fim.
A venda do jogador ao PSG não será realizada pelo valor da cláusula de rescisão, como tinha garantido o Presidente do Benfica mas 70 Milhões de Euros é um valor irrecusável para um jovem jogador que, tendo bastante talento, não tem golo e está longe de ser um criativo.