«Boa noite. Não entendo necessariamente o grande imbróglio suscitado por este empate, porquanto considero, sem sombra de dúvidas, que a nossa prestação foi extremamente positiva num cômputo geral.
Se retomarmos a Aristóteles, vemos que o grande objetivo de uma ação, em concreto uma ação moral, não é alcançar um fim específico, mas agir de acordo com a razão e a virtude, encontrando no processo de participação a realização de um bem superior.
Ademais, vejam-se Sartre e Kierkegaard, que tomam uma posição brava contra a ideia de uma vida orientada para a conquista de objetivos externos. Para esses grandes mestres, o Homem é definido pela sua liberdade de escolha e pelo compromisso com o que é autenticamente vivido. Pelejar é, assim, um modo de estar no mundo que permite ao indivíduo afirmar-se perante a sua condição de liberdade e responsabilidade, independentemente de resultados concretos.
Já Kant valorizava muito mais - senão exclusivamente - o cumprimento de um dever, e não uma qualquer consequência daí decorrente. A vitória e o sucesso são meros efeitos de uma presença ativa e dinâmica dentro das quatro linhas, o mesmo é dizer, o que realmente releva é a evolução dos jogadores e a sua luta valente no desporto-rei.
Com tudo isto quero dizer que estou muito orgulhoso da nossa equipa, que vejo abismais progressos na forma como os jogadores pensam o jogo, na sua coesão enquanto coletivo dotado de ímpar qualidade e na concretização das minhas ideias no plano fáctico. Tivemos o azar de enfrentar uma instituição fortíssima, integrada por indivíduos idiossincráticos pela sua fome e ânsia de obter um resultado positivo, ainda que tal não obste à esplêndida exibição do Futebol Clube do Porto.»