São muitas coisas a dizer. Acerca do futebol e além dele.
Vamos em partes, a tentar concatenar ideias e apresenta-las de forma coesa, em meio a azia e da desilusão apesar da vitória. Não estou feliz, óbvio que não. Safa-se o resultado, os três pontos. E só.
A começar pelo modelo de jogo. Não é de todo negativo tentar mudar o esquema tático e buscar novas variações. Há peças para isso e, sejamos sinceros, estávamos fartos daquele 4-4-2 engessado e previsível. O problema nasce quando mudamos o esquema, mas não mudamos as dinâmicas e a mentalidade. Quando cá chegou, sete anos atrás, SC foi categórico: "prefiro ganhar 1-0 do que ganhar 4-3". E isto é catedrático da sua mentalidade. Ocorre que o faz, coloca em prática esta mentalidade, da forma mais arcaica e simplória possível. Não pode ver-se em vantagem no placar hora alguma, que logo recua as linhas, oferece a bola ao adversário e passa a defender o resultado. Seja aos 80, aos 50 ou aos 20 minutos.
É arcaico e simplório pois não há uma mudança de dinâmicas. Todos continuam em seus papéis e posições, sem variações. Muda-se apenas a postura, passando-a para um modo mais defensivo e que abdica da bola. Nota-se quando nos vemos a defender o resultado, mas a oferecer espaços, com a defesa aos papéis e um meio campo todo esburacado. O Varela (e foi assim com o Uribe, e com o Danilo, e com o Herrera, e com todos que ocuparam aquela posição na era Sérgio) vê-se aos papéis, sem a cobertura da defesa e sem a dobra do seu companheiro de linha - este ocupado com a segunda bola, a pensar num passe rápido para quebrar linhas e quase sempre ineficiente, hoje no papel do Eustáquio.
E isto cria um paradoxo na fala do Sérgio quando cá chegou, pois se o adversário tem 60 minutos de posse de bola e com alguns espaços, certamente marcará um golito ou outro, obrigando-nos a ir buscar novamente a vantagem. Prova disto está nesse arranque de época: em 8 jogos, só não sofremos golos contra o Estrela - e não foi por falta de oportunidades.
Isto não pode ser uma troca simples, onde muda-se o esquema tático mas os papéis, a mentalidade e as dinâmicas permanecem as mesmas. Será sempre a sofrer? Será sempre este futebol paupérrimo? Vamos sempre nos sujeitar a tomar golos onde muitas vezes não teremos tempo para recuperar?
Depois, as opções do treinador. Ou a teimosia deste - e aqui alguns vão escusa-lo de qualquer coisa sob o argumento de que estou atacando o homem, e não falando de futebol (o que é falso, uma vez que as opções e a teimosia impactam diretamente no futebol paupérrimo). O Nico possui as características e qualidades necessárias para ser este segundo homem, que busca o passe vertical, que busca quebrar linhas numa bola mais alongada em contra ataque. Mas é preterido pelo Eustaquio que, em que pese o golo de hoje, foi um dos culpados pelo golo sofrido. E também por alguns erros que se encaixam de forma anatômica naquele tripé de dinâmica, mentalidade e posicionamento. O Jaime é sacado para dar lugar ao Toni sendo que era o único jogador em condições e com técnica para fazer a bola chegar no Toni. O Zaidu é o primeiro lateral que vejo na vida que não sabe fazer um cruzamento (o fato de ter três anos de casa e não ter uma mão cheia de assistências nesse tempo não é mera coincidência).
E, finalmente, todo o resto. Podem lá dizer que o plantel não tem qualidade (discordaremos em partes). Podem dizer que o treinador não erra golos ou que ele não tem culpas pelo mal posicionamento da defesa. Mas é ele quem os treina, é ele quem os coloca para jogar. E, principalmente, foi ele quem referendou este elenco, quem avalizou as movimentações - ele mesmo o disse, a público, mais de uma vez neste começo de temporada.
Se a equipa não funciona, é culpa SIM do treinador, que não está a ver qualquer coisa. Se há erros simples de posicionamento, é culpa SIM do treinador, que os treina e os acostuma a tais dinâmicas. O golo sofrido hoje é sintomático: o Carmo várias vezes saiu jogando com estes passes visando quebrar linhas. E isto tornou-se previsível em determinado momento. O que faz o treinador? Mantem a mesma dinâmica, a ponto de o meio campo do Gil ler o movimento, anula-lo e acabar a marcar o golo de empate.
Treinadores a este nível precisam ler o jogo, precisam saber o momento de mudar as dinâmicas, alterar os papeis. E, principalmente, precisam ter humildade de reconhecer e aprender. Mais uma vez, algo que vai de encontro com o discurso do treinador, que "veio para ensinar, não para aprender". E, no fim, ele mesmo dispara para tudo e para todos, as culpas. É preciso assumi-las, para poder corrigi-las.
Até vamos tendo estrelinha aqui e ali. Mas, da forma em que está, não vamos lá. É um circo a arder e, mais dia menos dia, o fumo será evidente e grande demais para disfarça-lo.