"No meio desta pandemia, o André Ventura viu o seu tempo de antena reduzido e, como é uma espécie de girassol de populismo, sem estar no radar do público começa a murchar.
Desta vez, depois de um brainstorming intenso chegou à ideia genial e inovadora de voltar a falar mal de ciganos. Sugeriu que a comunidade cigana devia ter um plano de confinamento específico. Já tem, André, é esse um bocado o problema, até tem um nome técnico: guetização e diz que não costuma ajudar à integração. Como é que o nosso caracol que põe os pauzinhos ao sol mediático quer confinar os ciganos? Ninguém sabe, porque o André manda bitaite, mas soluções concretas é como campeonatos do Sporting, são sempre para o ano.
Talvez a ideia do André seja obriga-los a provar do próprio veneno e obriga-los a usar máscaras da 3N que têm o tecido tão permeável que até dá para comer e beber sem tirar a máscara. Uma coisa é certa, as crianças ciganas foram as menos afectadas com o fecho das escolas, especialmente as mulheres. Agora posso fazer estas piadas à vontade porque ando de máscara na rua e ninguém me reconhece para me dar uma facada.
Enquanto o André confundia conversa de café com discurso político, apareceu alguém improvável a fazer-lhe peito: o único cigano português que sabemos o nome, Ricardo Quaresma. Escreveu um texto bem elaborado e sem erros, o que mostra logo que não foi ele que escreveu e atenção que isto não é preconceito contra ciganos, é só preconceito contra jogadores de futebol. Nisto, o André Ventura, o pseudo-bastião anti-politicamente correcto, ficou ofendido, feito coninhas. Exigiu que as autoridades do futebol entrem em cena para calar o Quaresma porque o futebol e a política não se devem misturar. Para quem não percebeu a fina ironia que só a realidade nos dá, eu repito mais devagar: o André Ventura, deputado/comentador de futebol, diz que a política e o futebol não se devem misturar. Ele até tem razão, pena é não dar o exemplo.
Fiquei ali a olhar para as declarações do Ventura e do Quaresma, um literal olho no burro e outro no cigano, mas a verdade é o assunto do racismo não é política, é direitos humanos. E o Quaresma não é futebolista, é um cidadão que por acaso é futebolista e não sei se o André sabe, mas os ciganos também podem opinar, eu sei que no mundo perfeito dele isso não aconteceria, mas é o Portugal que temos, faz falta um Salazar.
Estamos numa fase em que devíamos estar unidos, mas há sempre alguém como o Ventura a tentar dividir para conquistar. Percebo o lado dele, estamos à beira de uma crise económica sem precedentes e eu ainda me lembro bem da de 2009: das falências dos bancos; dos banqueiros e governantes corruptos; dos lesados que perderam poupanças de vida inteira. Da austeridade. Das reformas cortadas para resgatar bancos. Ahhhh
Cabrões dos ciganos."