Na altura em que o Anselmi chegou, fim de Janeiro, o FC Porto estava a 6 pontos do primeiro. Até agora, perdeu 15 pontos no Campeonato.
Nessa mesma altura, fim de Janeiro, com o Sérgio Conceição, o FC Porto estava a 5 pontos. E acabou a 18.
E depois de estar a 5 pontos do primeiro, empatou em casa com o Rio Ave do Luís Freire, perdeu com o Arouca do Daniel Sousa, empatou com o Gil Vicente do Vitor Campelos, perdeu com o Estoril do Vasco Seabra, perdeu em casa com o Guimarães do Álvaro Pacheco, empatou em casa com o Famalicão do Armando Evangelista e empatou em casa com o Sporting. Perdeu 17 pontos nas últimas 14 jornadas.
O FC Porto da época passada não tinha plantel para ganhar ao Arouca, ao Estoril e ao Rio Ave? O Sérgio Conceição levou baile do Armando Evangelista e do Daniel Sousa?
Se compararmos a única coisa que pode ser comparada, a partir da entrada do argentino, o Anselmi perdeu 15 pontos e o Sérgio Conceição 17 no mesmo período.
Se ganhar os dois jogos que faltam, o Anselmi fará mais 2 pontos do que o Sérgio Conceição no mesmo período.
Só com os pontos do Anselmi, o FC Porto estaria em 5. a duas jornadas do fim. Com os pontos do Sérgio Conceição na mesma altura, o FC Porto teria ficado em 4. lugar.
Logo, no Campeonato, o Anselmi não está a fazer pior do que o Sérgio Conceição.
Não quero saber do Anselmi para nada, a não ser enquanto treinador que é do FC Porto e que pode vir a continuar a ser.
Aliás, tinha vergonha de ser um matulão e ainda andar a idolatrar treinadores.
Mas quero saber ainda menos do Sérgio Conceição. Ou melhor, não quero saber nada, porque no FC Porto é zero.
Acusar o Anselmi de ter estado mal nas últimas 14 jornadas do Campeonato quando se ignora que o Sérgio Conceição esteve ainda pior...
E o Sérgio Conceição estava cá há 7 anos, punha e dispunha da SAD como queria, um plantel que escolhera e que mantinha há muito. Era português, não caíra aqui do Equador em finais de Janeiro sem conhecer o país, a cidade e os jogadores com quem ia trabalhar. Não perdera o melhor jogador da equipa dias depois de chegar.
O Anselmi não é uma ilha, a partida qual tem de se esquecer tudo o que está para trás.
Não se vê melhorias com o Anselmi ao fim de 3 meses? E via-se melhorias com o Vitor Bruno ao fim de 7 meses? E via-se melhorias com o Sérgio Conceição ao fim de 7 anos?
Tal como o Sérgio Conceição estava a 5 pontos a 14 jornadas do fim e acabou a 18, tal como o Vitor Bruno estava a 4 pontos quando saiu mas os últimos resultados eram cada vez piores, também o Anselmi encontrou uma equipa em decadência, um plantel descrente. Com o Vitor Bruno, os resultados futuros iriam ser iguais ou piores do que foram. Como também foram com o Sérgio Conceição no mesmo período do Anselmi.
Desculpa, mas esse tipo de comparação é, no mínimo, intelectualmente desonesta. Com todo o respeito.
É fazer mal ao futebol.
Os pontos do Conceição vs os do Anselmi no mesmo número de jornadas?
Sim, ambos fizeram más campanhas.
Mas há uma diferença gigantesca: o Sérgio Conceição entrou no seu sétimo ano, a carregar uma equipa esgotada, um ciclo evidentemente a pedir fim.
O que se viu foi um fim de ciclo, sim. Mas com um contexto que até o mais míope via que não dava mais.
A direção e a SAD implodiu, muitos jogadores estavam a meio gás, e ainda assim, ganhou uma Taça de Portugal.
Agora vamos ao Anselmi.
Chegou fresco, semanas limpas para treinar, com a nova direção a dar-lhe confiança total — e o que é que trouxe?
Nenhuma melhoria visível. Nenhuma identidade. Nenhum padrão.
A equipa regrediu.
Comparar uma equipa a morrer com 7 anos de desgaste, com uma equipa acabada de mudar de treinador, com entusiasmo renovado, é falso.
É fingir que as condições eram iguais — quando não podiam ser mais diferentes.
“Se ganhar os dois jogos que faltam, faz mais dois pontos que o Conceição”?
E então? Vai isso apagar:
A derrota humilhante com o Estrela?
A nulidade em vários jogos?
O desastre tático com o Regime?
As constantes falhas defensivas sistemáticas jogo após jogo?
Futebol não é só soma de pontos.
É evolução, é organização, é saber reagir.
E a verdade é esta: em nenhum jogo — NENHUM — o FC Porto de Anselmi foi uma equipa que soubesse ao que jogava.
"Não se viu melhorias com Vítor Bruno nem com Conceição, por isso Anselmi está igual"?
Não. Está pior.
Porque com o Vítor Bruno ainda viste pressão alta bem feita em alguns jogos.
Com Conceição, viste uma equipa morta — mas sabias que havia uma base que em dias bons era competitiva.
Com Anselmi, não tens nada. Nem identidade. Nem reação. Nem estrutura.
“Não teve pré-época, perdeu jogadores, etc.”
Claro. E não se lhe pediu que fosse campeão.
Pediu-se que desse sinais. Que organizasse a equipa. Que escondesse o que os jogadores têm de pior — e desse confiança para mostrarem o que têm de melhor.
E para mim falhou em tudo isso.
E o insulto final aos adeptos: "matulões a idolatrar treinadores"?
No meu caso, não se trata de idolatrar ninguém.
Trata-se de perceber quem já deu muito ao clube — e quem ainda não mostrou nada.
Colocar Anselmi e Conceição na mesma frase é esticar muito a história e contribuições dos mesmos para o FC Porto.
Um tem mais títulos e apresentou trabalho.
O outro ainda anda a experimentar onde é que o lateral deve estar quando a bola entra na zona 14.
Sustentar a continuidade de um treinador apenas porque o antecessor fez pior na última época é não perceber o básico do que é um clube como o FC Porto.
É como manter um funcionário que está a falhar o trabalho só porque o anterior também já o fazia mal — não é critério nenhum.
O que conta não é quem falhou mais — é quem está a mostrar que pode corrigir, organizar, evoluir.
E se o presente não dá sinais disso, não se continua com base nas falhas do passado.
E manter um treinador só porque “o outro também perdeu pontos” é a forma mais rápida de institucionalizar a mediocridade.