É difícil não concordar com as tuas análises.
Mas se tiveres razão quando dizes que este esquema do Anselmi não funcionaria nem que lhe dessem dois Nunos Mendes para as laterais, um Vitinha e um grande central, fica por responder a pergunta de um milhão de dólares:
O que é que AVB, Jorge Costa e Zubi (que juntos têm 120 anos de futebol ao mais alto nível) viram em Anselmi? Ou por outras palavras, como é que eles chegaram à conclusão de que o Anselmi era o homem certo para liderar uma equipa que tem de ganhar "sempre"?
O AVB, o Jorge Costa e o Zubizarreta têm passado, têm mundo, têm experiência.
Mas nem isso os impede de falhar. E aqui, parece-me, falharam na leitura de contexto — não na intenção.
Acredito que o que viram foi:
Um treinador jovem, com discurso fluido, ideia de jogo moderna e alinhada com o futebol de posse, posicional, apoiado.
Um perfil que, na teoria, representava uma rutura com o passado recente — com um futebol mais controlado, mais ofensivo, mais ligado à escola Guardiola/Bielsa.
Alguém com fama de bom comunicador, metódico, com um projeto desportivo atrativo no papel.
E isso — na teoria — encaixa no desejo de AVB de virar a página em relação à era VB.
O erro aqui não foi ir buscar alguém com ideias novas.
O Anselmi pode ter uma ideia moderna — mas o futebol não se faz só de ideias.
Faz-se de leitura, adaptação, pragmatismo.
E se há coisa que o FC Porto não permite é tempo infinito para aprender.
Aliás, não é a primeira vez que o clube tenta algo “fora da caixa” e falha.
Depois de ganhar a Liga dos Campeões com Mourinho em 2004, Pinto da Costa escolheu Luigi Del Neri — treinador italiano com estatuto, currículo na Série A, e com uma proposta táctica até muito séria.
Mas bastaram poucos treinos e uma pré-época para perceber que o homem não encaixava no clube, nem no contexto, nem no balneário.
Saiu antes de começar a época.
Pinto da Costa — com todo o seu historial — errou. E corrigiu a tempo.
Isto só prova que ninguém é infalível.
A diferença está em reconhecer o erro e ter coragem para o assumir.
Vamos ver.