«Agora, outra vez, sinto o sabor a fresco. Chama-se Moussa Marega. Disto, confesso, não me lembro.
Passar de unanimemente inútil a unanimemente imprescindível, mesmo que, claro, nunca se agrade a todos, é mais uma página para a história do desporto que mais belas palavras escreve.
Marega não é apenas mais um patinho feio que virou cisne ou, mais ainda, nunca será alguém que num momento feliz tomou a decisão certa. É mais do que isso, porque, ainda hoje, há imensa dificuldade em perceber o fenómeno.
Continua igual, com virtudes e defeitos intactos. Simplesmente, alguém, e honra seja feita a Sérgio Conceição, percebeu como podia capitalizar aquilo em que é ímpar e que para quase todos os outros nunca seria suficiente para merecer a confiança.
Começou a pré-época mais tarde e o treinador lembrou-lhe, publicamente: «Vai ter de correr atrás». Não se percebeu bem o sentido da ideia: era, para todos, óbvio que Marega estava atrás. Estaria sempre atrás. Era vender a quem pagasse algo que se visse. O treinador viu mais à frente, picou-o e colheu os frutos.
Os defeitos continuam lá. Visíveis. As virtudes também. Potenciadas. O valor, esse, subiu vários degraus.
Vi muita coisa no futebol. Bestas passarem a bestiais. Génios eclipsarem-se. David bater Golias. Tarik abrir uma avenida no Marselha. Miguel Garcia juntar Alkmaar ao apelido. Moretto ganhar duelos a Ronaldinho.
Marega, digo-te: história como a tua nunca vi.
Mesmo que um turbilhão mude o que parece o destino traçado de uma época, ninguém, para mim, representará tão bem a Liga 2017/18 como o maliano. É a figura da Liga. O que diz muito de alguém que dificilmente seria o melhor jogador de qualquer equipa. Provavelmente, nunca precisará de ser. E, provavelmente depois deste ano, pode tornar-se para sempre indiscutível.»
(do Jornalista João Tiago Figueiredo do +Futebol)