Quem é o homem que vive e trabalha na China a quem Marega recorreu para acelerar uma recuperação inicialmente prevista de dois meses e que promete colocar o maliano em campo já na terça-feira, na primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal, com o SC Braga, escassos 23 dias depois da rotura muscular sofrida numa coxa?
Os jogadores que passaram pelas mãos de Eduardo Santos (já foram inúmeros, muitos deles figuras planetárias no futebol) adoram-no. Os médicos, muitos, e especialmente os franceses, desconfiam dos seus tratamentos, apelidando-o de curandeiro, charlatão ou, de forma mais debochada, de doutor milagre, depois de Edu, como carinhosamente é tratado por atletas e treinadores que o conhecem bem, ter reabilitado David Luiz em tempo recorde.
A história dessa recuperação fez correr muita tinta e projetou Eduardo Santos a uma escala inaudita. Em 2015, o internacional brasileiro era referência no PSG. Contrariando diagnósticos clínicos e exames na capital francesa, onde faziam adivinhar interrupção de um mês, Eduardo Santos, rezam as notícias da altura e a confissão do próprio David Luiz, precisou de apenas 13 dias para pôr como novo o atual jogador do Chelsea e que se deu a conhecer na Europa ao serviço do Benfica. Ainda a tempo de defrontar o Barcelona, na Champions, num jogo de má memória para os franceses (1-5).
De imediato, em França e Espanha se tentou adivinhar o tipo de tratamentos e produtos utilizados na cura surpreendentemente rápida do defensor. Que tudo tinha sido feito à base de injeções ou de baba de caracol ou de placenta de égua, foi sugerido. Nada disso, explicou, na ocasião, Eduardo Santos, numa das poucas vezes em que aceitou falar com jornalistas, encontrava-se ainda vinculado ao Zenit (Rússia). «Não fiz nenhuma injeção nem recorri ao método do plasma enriquecido. Essa técnica (conhecida como método PRP, Plasma Rico em Plaquetas) pode ser interessante, mas não para lesões como a de David Luiz», garantiu, em entrevista, ao Le Parisien.
«Com o passar dos anos, desenvolvi um método que permite reduzir em 50% o tempo de recuperação em relação a um tratamento básico. Criei a minha própria caixa de ferramentas com a qual trabalho. Para David Luiz, por exemplo, usei uma agulha muito fina, sem produtos, e elétrodos. Simplesmente, limpei o músculo antes de fortalecê-lo, principalmente com eletroestimulação. Ao invés de esperar uma semana entre uma fase e outra, fizemos tudo ao mesmo tempo. Não é uma receita de cozinha que funciona seguindo o passo a passo, é também uma questão de feeling», procurou desfazer as dúvidas, recusando-se a partilhar muito mais.
Em sua defesa saiu David Luiz: «Trabalhei com um fisioterapeuta fantástico. Sacrifiquei-me todos os dias por mais de 12 horas para poder jogar esse jogo. Fiquei na Rússia durante cinco dias. Foi um ótimo trabalho. Podem ver os exames médicos se quiserem, a previsão de quatro semanas de repouso não era mentira.»
A BOLA procurou seguir o rasto desse fisioterapeuta brasileiro, de 39 anos, com curso tirado na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, e que exerce funções, desde 2016, no Shanghai SIPG, campeão da China, treinado pelo português Vítor Pereira. Mas as funções que ocupa no clube chinês impõem respeito: é o chefe do departamento clínico do Shanghai. Sim, leram bem: Eduardo Santos lidera o corpo médico sem ter tirado qualquer curso de medicina. E em território chinês tenta combinar «técnicas ocidentais com orientais», haveria de reconhecer à agência France Press.
Marega limitou-se apenas a repetir a escolha de muitos companheiros de profissão e, com a autorização do FC Porto (aliás, os dragões fizeram questão de informar a Autoridade Antidopagem de Portugal), atravessou o mundo para se colocar à disposição das mãos milagrosas de Eduardo Santos, tendo os portistas quase como garantida a presença do africano no primeiro dos dois duelos da Taça com o SC Braga, que antecede o clássico frente ao Benfica, para a Liga. Entre o Dubai, onde o Shanghai SIPG preparou o arranque da nova época, e a China, o maliano passou os últimos dias aos cuidados de Eduardo Santos. Hoje volta a Portugal e amanhã já se deve treinar no Olival.