É seguramente o dia mais triste da história do FC Porto. O vazio é interminável. Critiquei muito o final da presidência de Pinto da Costa, mas aquilo que nos deu é tão maior que chega a bater nas estrelas. E chegam a sítio certo porque a nossa maior estrela é ele. Sempre será.
Foi a única pessoa da cidade do Porto que chegou a ser Deus, porque era isso mesmo que representava para nós. Qual rei! Pinto da Costa era um Deus no meio dos mortais. Tornou a nossa caminhada, durante tantos anos, uma espécie de história divina. Desafiou o impossível, mais do que ter desafiado o centralismo.
Pinto da Costa tornou o nosso orgulho em ser portista algo desmesurável. Tornou-nos no melhor clube português, um gigante com 7 troféus internacionais. Tornou o nosso ego, a nossa confiança e a nossa força algo completamente incontrolável para adversários, jornalistas, inimigos; como um Dragão à solta pela capital. Defendia-o - e defendo - de inimigos como quem defende a própria vida.
Durante tantos anos Pinto da Costa apaziguou as minhas angústias. Recordo quando perdemos a final da Liga dos Campeões em hóquei com o Barcelona, no Rosa Mota, e o meu coração de criança se partiu em pedaços. Enquanto isso partia-se também em pedaços o Rosa Mota, com os adeptos, revoltados, a atirarem cadeiras para o recinto. Dantesco. Estava com a minha mãe cá fora e nisto sai Pinto da Costa de carro: parou, acenou, e deu-me paz. Tínhamos perdido aquele jogo, doeu muito, mas tínhamos algo maior: Pinto da Costa. Seguramente voltaríamos a erguer aquele troféu. E assim foi.
Recordo também com muito carinho a oportunidade que tive - que me deu - de o entrevistar, ainda estudante universitário de jornalismo. Estava eu no meios das trutas, na inauguração do museu, e a multidão à sua volta, entre jornalistas e adeptos, era imensa. Inacessível. Bom, esperei que estes desaparecessem, vi-o sozinho, a apreciar uma das tantas taças que venceu, e abordei-o, tremúlo: "Posso fazer-lhe umas perguntas, presidente?"
Sorriu e disse, "claro!". E ficamos ali a conversar uns minutos, tranquilamente os dois, enquanto cumpria um sonho pessoal e profissional. Foi de uma amabilidade extrema. Esses áudios são o meu ouro no cofre.
Que dizer deste homem? É o maior de sempre. São tantos episódios, tantas glórias, é tanto aquilo que nos deixa. Queria dizer tanta coisa, mas o meu coração hoje está bloqueado, vazio, e com medo. Sim, voltei a ter medo. O nosso maior medo - creio que aqui posso falar por todos - em tempos era ficar sem Pinto da Costa na presidência. Depois quisemos, e bem, que terminasse esse vínculo. Mas hoje não está mais ali e sinto-nos sós. Dá vontade de pedir, só mais uma vez: "continue connosco, presidente..."
Sei que vamos voltar a ser aquilo que Pinto da Costa fez de nós, mas hoje é só o dia, para mim, de mergulhar profundamente nas saudades das tardes solarengas das Antas, dos discursos que deixavam os inimigos amedrontados, das vitórias, dos troféus, da Avenida dos Aliados dos anos 90, com os seus mini jardins cheios de Super Bock, do amor desmedido que tinha ao nosso clube e que nos incutiu como ninguém.
Obrigado, eterno presidente. Obrigado, Jorge Nuno Pinto da Costa. Por tudo, por tanto. Que os olés entoados pelas bancadas durante décadas cheguem ao céu; que as vitórias vindouras o orgulhem; que o FC Porto nunca perca os pilares que o presidente construiu. Também por si, e muito por si, serei "sempre bairrista pelo nosso Porto".